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Dados pessoais e internet
CAPítulo 4 Dados pessoais e internet
Aula 1
Pense em um enorme campo de terra com diversas bandeiras que representam lugares, comidas e objetos. Agora, imagine que um amigo entrou ali e caminhou até seu lugar e comida favoritos, além de escolher um objeto que desejava. Quando seu amigo deixar o campo, você será capaz de identificar cada uma das escolhas que ele fez? Bastaria olhar as pegadas.
A internet funciona assim. Cada vez que você a utiliza, deixa centenas de milhares de pegadas por esse grande “campo virtual”. Cada busca, login, fotos postadas, curtidas, hashtags… Até o horário que você mais utiliza suas redes sociais é uma pegada. Tudo isso pode ser organizado para que supercomputadores que processam essas informações sejam capazes de traçar o detalhado caminho que, pegada por pegada, leva ao seu lugar preferido ou comida mais desejada.
Talvez essa não seja uma informação nova para você ou possa não parecer algo preocupante. Afinal, qual é o problema de o Google e seus computadores saberem que você gosta de sorvete de flocos? Por que vamos nos preocupar com as informações que deixamos na internet se somos apenas uma minúscula parte dela?
Já se perguntou por que as empresas recolhem tantos dados? O que fazem com eles? Como essa coleta de dados pode influenciar o sabor do sorvete que você vai escolher amanhã? Isso mesmo! Os nossos dados podem influenciar na nossa decisão na sorveteria amanhã. Siga o fio desse capítulo e vamos entender como isso acontece.
a) Você sabe que aplicativos ou redes sociais recolhem seus dados? Que dados são esses? b) Você consegue identificar duas situações em que esses aplicativos ou redes fizeram sugestões baseadas nesses dados? Como foi sua interação com essas sugestões?
a) Resposta pessoal. Incentive os estudantes a identificar situações em que fornecem seus dados, como quando se cadastram em um site e fornecem dados pessoais como telefone, e-mail, endereço e nome completo, quando publicam fotos em redes sociais, comentam nas postagens de amigos, adicionam amigos ou interagem com postagens de conhecidos e desconhecidos etc. b) Resposta pessoal. Os estudantes podem comentar sobre sugestões de amigos para serem adicionados, conteúdos como vídeos, músicas e produtos, situações em que reencontraram um amigo nas redes sem ter procurado por ele, em que compraram algo ou descobriram uma banda nova. Estimule-os a debater sobre essas sugestões e interações realizadas, refletindo também sobre sua pegada digital e a utilização de seus dados por parte das empresas de tecnologia.
TRIFONENKOIVAN/SHUTTERSTOCK.COM
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A expressão “pegada digital” surgiu para definir o significado de todos os rastros que deixamos na internet: são como pegadas que permitem identificar nossos gostos, hábitos e preferências.
PROJETO
Neste capítulo, você conhecerá diversas formas como seus dados pessoais são utilizados pelas empresas quando você navega na internet ou nas redes sociais e discutirá algumas maneiras de se proteger, o que ajudará na elaboração do manual de segurança on-line ao final do volume.
Pedestres em rua de Hong Kong, 2019. Quantos smartphones você identifica na foto? Dá para imaginar quantos dados estão sendo coletados?
ESTÁ DADO?
Aulas 2 e 3
As pegadas que deixamos pela internet estão registradas nos sites, aplicativos, em nossos backups, em toda parte. Essas pegadas geram dados e, por isso, são parte de uma discussão muito ampla presente nas redes sociais, na economia e na política. Com frequência ouvimos falar em coleta, venda e proteção de dados, mas… O que são dados exatamente?
O dado é a unidade mínima da informação. Em geral, é um conjunto de dados que nos permite chegar ao conhecimento de algo. Eles podem ser organizados de diferentes maneiras e gerar formas distintas de informação. Podemos dizer que um dado é um elemento objetivo. Já a forma como organizamos e interpretamos um conjunto de dados é influenciada por valores sociais predeterminados.
A análise dos dados que “entregamos” na internet gera informações rentáveis. Ou seja: deixamos por aí muitas pegadas que, juntas, geram informação. Se você pesquisa um tênis de corrida, provavelmente a análise desses dados indicará que você pode estar interessado em esportes. Essa informação, combinada com uma foto da entrada da sua academia, pode sugerir que você também se interessaria por roupas de ginástica. E aí a “mágica” acontece! Aparece um monte anúncios de bermudas de lycra no seu navegador, não é?
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Big Data e Small Data
As empresas têm descoberto a rentabilidade das informações que cedemos nas atividades mais básicas na internet. Os locais que você frequenta, as postagens que você curte, até mesmo aquele banner no meio de uma notícia que prendeu sua atenção e o impediu de continuar rolando a página. Hoje, todas essas informações são coletadas e geram o que chamamos de Big Data. Trata-se de uma quantidade tão grande de dados que só pode ser processada por softwares de análise de dados. Imagine uma planilha eletrônica com milhões de linhas e colunas. Você não consegue organizar isso sozinho, não é? Mas supercomputadores conseguem!
Small Data, ao contrário, são os “pequenos dados”. Trata-se de dados específicos, com recortes mais limitados e que geram uma quantidade muito menor de informações. Por exemplo, em uma campanha de marketing, uma empresa pode preferir usar dados qualitativos de pessoas que efetivamente usam o seu serviço e não uma infinidade de dados coletados de pessoas aleatórias.
Da propaganda ao atendimento médico, praticamente tudo atualmente é pautado na chamada “cultura de dados”. Os dados acumulados e processados nos permitem saber o que funciona melhor e permitem que empresas entreguem serviços e produtos personalizados aos seus clientes e, com isso, vendam com mais facilidade.
1. A comparação está relacionada ao fato de que dados pessoais coletados pelas empresas de tecnologia podem ser muito lucrativos, assim como o petróleo. Além do papel econômico, os dois produtos se destacam na geopolítica global, com capacidade de interferir em governos e decisões políticas. 2. Os dados são digitais e não existem na natureza, são gerados pela atividade dos indivíduos na internet, seja por meio do oferecimento voluntário dos usuários ou da coleta irregular por parte das empresas de tecnologia. Já o petróleo é um óleo de origem natural e sua extração envolve a intervenção direta das pessoas sobre a natureza. 3. Podem ser apontadas situações como rastreio de dados para personalizar anúncios, otimizar a venda de produtos de outras empresas, gerar novos aplicativos e produtos etc. 4. Resposta pessoal. Estimule os estudantes a discutir diferentes estratégias que poderiam ser adotadas por empresas e poder público para a coleta, a proteção e o uso dos dados pessoais coletados pelas empresas de tecnologia.
O novo petróleo?
Esta atividade colabora para o desenvolvimento da habilidade EMIFCG02 dos Itinerários Formativos.
O texto a seguir chama atenção para os aspectos econômicos do uso de dados pessoais na internet. Leia e responda às questões.
Todos os dias, milhões de pessoas se informam, se relacionam e compram na internet. Hoje dados pessoais são tratados como uma verdadeira mercadoria. Tanto que a revista The Economist afirmou que os dados são “o novo petróleo” do século 21, pelo seu valor e influência na economia digital.
Os serviços fornecidos de modo aparentemente gratuito, na verdade são pagos com a troca por um bem altamente valorizado: dados sobre o consumidor.
CUNHA, Carolina. Proteção de dados – a questão da privacidade dos cidadãos na internet. UOL. Disponível em: <https://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/atualidades/protecao-de-dados-a-questao-da-privacidade-doscidadaos-na-internet.htm>. Acesso em: 29 set. 2020.
1. O artigo afirma que os dados pessoais são o “novo petróleo”. Explique essa comparação. Se necessário, pesquise mais informações sobre o papel do petróleo na economia atual. 2. Discuta as diferenças em relação à constituição e produção dessas mercadorias (petróleo e dados pessoais). 3. Identifique algumas maneiras utilizadas pelas empresas para lucrar com a coleta dos dados pessoais. 4. Em sua opinião, como deveria ser regulamentada a coleta de dados pessoais resultante de nossa navegação na internet?
ALEX SILVA
RECOMENDADO PARA VOCÊ Aulas 4 a 7 Você já deve ter visto a frase “recomendado para você” em posts sugeridos nas redes sociais, não é? Você também provavelmente já culpou — ou ouviu alguém culpar — os “algoritmos” por isso. Mas o que são os algoritmos? Os algoritmos são conjuntos de instruções e procedimentos para chegar a uma solução. Se, por exemplo, você perguntar a alguém na rua como chegar até o metrô, as indicações que receber são, estrito senso, um algoritmo. Seria como uma receita? Quando pensamos no campo da ciência da computação, as instruções precisam ser legíveis para o computador, ou seja, precisam ser escritas em linguagem de programação. Essas instruções são desenvolvidas com base em AI nos anos 2000 centenas de milhões de dados recolhidos diariamente na internet. O primeiro passo é identificar um problema a ser resolvido, ou seja, fazer uma pergunta. Um aplicativo que indica trajetos, por exemplo, pergunta como chegar mais rápido a determinado local. Para resolver esse problema, o algoritmo cruza dados dos mapas da área com dados sobre o trânsito e calcula o percurso que levará menos tempo. Essas perguntas estão se tornando cada vez mais complexas. Os algoritmos podem selecionar, por exemplo, candidatos para vagas de emprego sem que seus currículos sequer passem por triagem humana ou responder se determinada pessoa pode ou não receber um empréstimo bancário. Isso quer
Cartaz do filme AI – dizer que estamos mais sujeitos ao poder dos algoritmos do que imaginamos.
Inteligência Artificial, de 2001. Inteligência Artificial O termo Inteligência Artificial (IA) foi cunhado na década de 1950 e se refere a tecnologias que permitem a máquinas ou softwares reproduzir a lógica de raciocínio humana, como a capacidade de antever, planejar e decidir; mecanizando dessa forma o pensamento humano. Os algoritmos são uma forma de desenvolver inteligência artificial, pois orientam uma máquina a resolver um problema com eficiência. Desde a década de 1990, tem havido uma grande expectativa sobre o desenvolvimento da inteligência artificial, inclusive com a criação de cenários amedrontadores de um futuro em que humanos seriam dominados por máquinas. Mas a IA está mais presente nas nossas vidas do que imaginamos, otimizando tarefas básicas do dia a dia. Quando, por exemplo, serviços de streaming como o Spotify sugerem uma lista de música baseada em nossas preferências, está fazendo uso da inteligência artificial fundamentada em algoritmos. O mesmo acontece quando o Gmail sugere respostas rápidas para um e-mail ou quando o Facebook sugere marcar um amigo que aparece em uma foto. Essas aplicações de IA só funcionam graças ao Big Data, à enorme quantidade de dados que a máquina é capaz de acumular e processar.
1. Resposta pessoal. Estimule a discussão sobre as tecnologias apresentadas no filme como previsões para um futuro distante, chamando a atenção para as que são parecidas às que utilizamos atualmente, como a máquina que responde a todas as perguntas e que os estudantes podem identificar com tecnologias atuais. 2. Resposta pessoal. Os estudantes podem comentar sobre o conflito de criar uma máquina que pode amar — sentimento até então exclusivo dos seres humanos — e a possibilidade de a mãe amar o filho-máquina tanto quanto ou mais do que ama seu filho humano. AMBLIN ENTERTAINMENT/STANLEY KUBRICK PRODUCTIONS
AI – Inteligência Artificial é um filme de ficção científica de Steven Spielberg, de 2001.
Ambientado nos anos 2140, um casal vive o drama de ver seu único filho, Martin, entrar em coma e ficar em estado vegetativo. Com a intenção de ocupar o espaço deixado por Martin, o casal adota David, um robô com sentimentos humanos. 1. Assista ao filme de
Spielberg e discuta com os colegas os aspectos imaginados do que seria inteligência artificial no início do século XXI, quando o filme foi lançado. 2. Em seguida, debatam sobre as questões éticas envolvendo o uso da inteligência artificial no filme, trazendo-as para o contexto atual.
Pratique
1. Faça uma lista das atividades da sua rotina otimizadas pelo uso dos algoritmos, explicando o porquê.
Resposta pessoal. Estimule os estudantes a identificar, em suas atividades rotineiras, momentos em que os algoritmos estão
presentes de uma forma positiva.
2. Em 1997, a vitória de uma máquina contra um humano tornou-se emblemática. Não era qualquer máquina, nem qualquer humano. Leia o artigo que conta um pouco do duelo entre o campeão de xadrez Garry Kasparov e o supercomputador Deep Blue.
Kasparov, então campeão mundial de xadrez, foi derrotado por uma máquina, em 1997.
STAN HONDA / AFP https://ftd.li/4d2kxv
a) Com base nas informações da disputa entre Kasparov e Deep Blue, reflita sobre os elementos que permitiram a derrota do homem para o supercomputador.
A capacidade e a velocidade de cálculo alcançados pelo supercomputador Deep Blue são inalcançáveis para um ser humano.
Além disso, os seres humanos apresentam uma variação psicológica que se contrasta com a precisão do supercomputador.
b)Em sua opinião, essa foi uma disputa justa? Discuta com os colegas e o professor.
Resposta pessoal. Estimule os estudantes a refletir sobre os pontos positivos e negativos da disputa realizada entre um
jogador excepcional de xadrez e um supercomputador com um sistema construído especialmente para esse tipo de jogo e que,
por sua vez, também foi programado por seres humanos.
TETIANA YURCHENKO/SHUTTERSTOCK.COM
Nossa pegada digital fornece dados sobre nossas preferências e escolhas, as quais contribuem para a criação e o aperfeiçoamento de algoritmos.
NADIA SNOPEK/SHUTTERSTOCK.COM
A COLETA DOS DADOS
Aulas 8 a 11
Como vimos, os serviços gratuitos da internet não são exatamente gratuitos. Até pouco tempo, muita gente acreditava que as empresas lucravam vendendo essas informações para outras empresas que vendem produtos ou fazem publicidade. Hoje essa ideia não faz mais sentido. O grande X da questão é compreender o que de fato é feito com esses dados, como eles são utilizados pelos algoritmos e quais as consequências disso. Essa não é uma questão simples, porque cada software tem seus próprios procedimentos e lógicas.
Por isso, antes de tudo vamos tentar entender como esses dados são coletados para, em seguida, analisarmos para que eles servem.
Cara, cadê meus dados?
Durante a navegação na internet, ao utilizar o computador, o celular ou o tablet, você recebe dezenas de pedidos de instalação de microprogramas conhecidos como cookies. Os cookies coletam informações sobre nossas atividades na internet como IP, MAC ou IMEI (o número de registro do nosso dispositivo), o tempo que gastamos, o horário em que acessamos e como utilizamos cada site. Eles também mapeiam se abrimos vários sites ao mesmo tempo e quais são eles, a rotina que temos de ir de uma página para a outra, quais endereços usamos com frequência e em quais botões costumamos clicar ao utilizar essas páginas.
Você já deve ter visto alertas de cookies em alguns sites. A legislação brasileira atual exige que haja avisos em diversos casos, para que o usuário saiba que as informações dele estão sendo recolhidas. É por causa dos cookies, por exemplo, que uma pessoa visita uma loja on-line, pesquisa um modelo de geladeira e minutos depois encontra um anúncio da mesma geladeira em outro site com um aviso do tipo “Compre agora e ganhe a garantia estendida”. O que aconteceu é que a loja que registrou a visita também financia a publicidade em outros sites e usa esse registro para direcionar mais propagandas de acordo com o interesse da pessoa. Esse direcionamento planejado especificamente para cada cliente é uma revolução na publicidade. A incrível capacidade que desenvolvemos para coletar dados permite que as propagandas sejam cada vez mais precisas e cirúrgicas. As empresas nos fornecem seus aplicativos em troca dos dados das nossas atividades on-line, informações pessoais, localização, preferências, número do cartão de crédito e muito mais.
Os dados de navegação e o histórico de uso são cookies bem comuns. Uma maneira de resguardar a própria privacidade é limpá-los com frequência.
Tudo é um dado
Os cookies não são a única forma de coleta de dados. O Facebook, por exemplo, desenvolveu dezenas de maneiras de recolher dados. Uma maneira simples de saber quem são os melhores amigos de um usuário é analisar as fotos postadas, certo? Mas isso era pouco, e o Facebook criou a curtida. Ora, a tendência é que o usuário interaja cada vez mais com as pessoas que são mais próximas dele. Mas seria possível fazer ainda mais? Sim! Foi aí que surgiu a marcação nas fotos. Assim, mesmo as fotos que uma pessoa não posta ou não viu os amigos postarem podem ser relacionadas a ela. No início, essa marcação era manual. Era preciso que cada pessoa fosse lá e marcasse a outra. Hoje em dia, a inteligência artificial já reconhece e sugere automaticamente a marcação de quem aparece na foto. Dependendo da configuração de privacidade do usuário, ele pode até ser marcado sem a necessidade de autorização manual.
O mesmo vale para outras empresas que estão diariamente criando serviços que possam gerar mais dados a respeito dos nossos hábitos. É uma corrida por nossa atenção, afinal, quanto mais interagimos no aplicativo, mais informações valiosas fornecemos às empresas. A Amazon, por exemplo, inventou o Kindle, o leitor de livros digitais. Lá, ela pode saber o que lemos, quando e de que maneira: qual é a nossa frequência de leitura, que tipo de livro lemos mais rápido ou mais devagar, que palavras buscamos no dicionário. A empresa também vende livros digitais e impressos por preços muito abaixo do mercado, porque fatura muito com os dados de navegação. O objetivo é que cada compra se desdobre em muitas outras, por isso a empresa é bastante reconhecida por sua capacidade de saber exatamente o que cada usuário deseja comprar.
As possibilidades para as empresas são ainda mais amplas se instalamos seus aplicativos nos celulares. Você já reparou quando um aplicativo pede acesso a sua câmera e ele nem serve para algo relacionado a fotografias? Vários deles podem ativar remotamente nossa câmera ou microfone, acessar nossas fotos, mensagens e assim continuar mapeando detalhadamente nosso perfil.
NYCSTOCK/SHUTTERSTOCK.COM Venda de aparelhos Kindle em loja de Nova Iorque (Estados Unidos), 2018. A Amazon dispõe de uma grande estrutura de comércio digital e de logística, configurando-se como uma das maiores empresas desse ramo no mundo.
ANIKEI/SHUTTERSTOCK .C O M ATEVS .B/SHUTTERSTOCK .C O M
Sorria, você está sendo filmado
Nossos dados são coletados por softwares durante a navegação na internet, mas não é só isso. Hoje, qualquer mediação nas relações humanas feitas por uma máquina gera dados.
Uma Smart TV gera dados sobre os hábitos de seu usuário. As redes de aluguel de bicicletas por aplicativo mapeiam trajetos, horários e perfis dos clientes. As assistentes virtuais, cada vez mais comuns nas residências, além de coletar todo tipo de informação por meio dos comandos dos usuários, podem gravar o som ambiente, por exemplo.
E, até no espaço público, a coleta de dados é intensa. Câmeras de vigilância, dados de geolocalização, lâmpadas inteligentes e sensores deixam nossos passos na rua cada vez menos anônimos. Nas manifestações do movimento Blacklives Matter, nos Estados Unidos, é comum que os organizadores recomendem que as pessoas desliguem a localização do celular para evitar rastreamento.
Dados de localização são informações preciosas e muito solicitados por aplicativos. Já reparou a quantidade de aplicativos que pedem acesso à sua localização?
Pratique
Se, por um lado, não há dúvida de que a tecnologia pode contribuir muito com vários processos da sociedade, como câmeras que auxiliam na identificação de criminosos, por exemplo, por outro lado, no entanto, cresce o receio do que pode acontecer em cenários políticos de governos autoritários com todo esse poder à disposição. É por isso que se amplia também o debate sobre a vigilância e seus riscos. Os dados não são apenas informações valiosas para o consumo, mas também para o controle de populações e podem ser utilizados de maneira errada para a repressão de minorias, opositores políticos, entre outros.
3. Entre os temas tratados no capítulo, que área profissional relacionada mais desperta seu interesse?
Pesquise sobre profissionais que trabalham com dados, algoritmos e inteligência artificial e escolha o que mais chama sua atenção.
Resposta pessoal. Estimule os estudantes a pesquisar diferentes áreas de atuação relacionadas aos temas tratados até este momento do capítulo, como programação, pesquisa, coleta e análise de dados, desenvolvimento de novos produtos, publicidade, mecanismos de proteção da privacidade etc.
4. Escreva um texto curto sobre o profissional escolhido na questão anterior, apresentando sua atuação e importância para a sociedade.
Resposta pessoal. Oriente os estudantes na elaboração do texto. Se julgar pertinente, sugira que enriqueçam a pesquisa com links
de profissionais da área nas redes sociais e outros textos relevantes.
5. Escolha uma pessoa pública que você curte e segue nas redes sociais. Se você não for usuário, faça a atividade com um conhecido ou familiar que seja . Agora, vamos fazer o caminho inverso da criação de um algoritmo. a) Liste tudo que puder encontrar de rastro que você tenha deixado na internet sobre essa pessoa nas últimas duas semanas. Vale tudo: curtidas, buscas, postagens, visitas a sites.
Resposta pessoal. Ao realizar o levantamento, os estudantes podem perceber que o uso das redes sociais gera uma
quantidade muito grande de dados para as empresas. Se considerar pertinente, enfatize que os dados pessoais também são
coletados em outros aplicativos e sites.
b)Essas informações que você listou demonstram que, além dessa determinada pessoa, você tem outros interesses, não? Que outros interesses podem ser mapeados com base nesse levantamento que você fez?
Resposta pessoal. Os estudantes poderão identificar alguns hábitos e interesses com base na maneira como utilizam a
internet no levantamento realizado. Por exemplo, se um estudante escolheu um Youtuber, pode identificar uma tendência nas
curtidas que deixou nas fotos e combinar com outras postagens e buscas. Que interesses aparecem? Viagens? Roupas?
É VOCÊ QUE ESCOLHE?
Aulas 12 e 13
Vimos anteriormente como nossos gostos e hábitos digitais contribuem para o desenvolvimento da inteligência artificial. Com base nisso aplicativos e redes sociais passam a nos sugerir conteúdos que podem nos interessar. Mas os algoritmos são capazes de fazer ainda mais. Os sites de transmissão de filmes e séries utilizam poderosas ferramentas de coleta e análise de dados para superar a concorrência e prender nossa atenção.
Em 2013, foi lançada a série House of Cards, primeira produção independente da Netflix. A empresa não lançou essa série porque achava que poderia ser um sucesso, ela tinha absoluta certeza de que iria estourar. Em mais de uma década recolhendo dados de seus clientes, a Netflix já tinha informação suficiente para saber que seus assinantes apreciavam muito o trabalho de David Fincher, escolhido para dirigir a série. Os dados também demonstravam que Kevin Spacey era um dos atores mais queridos do público e que o interesse por séries sobre política estava em alta. Além disso, estava demonstrado que a versão original de House of Cards, uma minissérie britânica de quatro episódios, havia feito sucesso. Assim, ficou fácil a decisão: era preciso fazer uma série sobre política, dirigida por Fincher, protagonizada por Spacey e que fosse baseada na bem-sucedida original britânica.
O algoritmo da Netflix é bastante preciso em fazer indicações que se moldam ao gosto dos assinantes, mas também é capaz de direcionar a produção de uma variedade de séries e filmes que parecem ter sido pensados sob medida. Ou seja: ele é capaz de estimar os prováveis interesses do público.
O poder que a inteligência artificial passa a deter com o enorme volume de dados de que dispõe levanta muitos debates. Afinal, em que medida o direcionamento de conteúdos de acordo com os gostos do público não possibilita também a manipulação de preferências e ideias?
Cada um com a sua bolha
PAUL DRINKWATER/NBCUNIVERSAL/GETTY IMAGES
No ano seguinte ao lançamento da série, a atriz Robin Wright foi premiada no Globo de Ouro como melhor atriz em séries televisivas por sua atuação em House of Cards. Califórnia (Estados Unidos), 2014.
Eli Pariser é um ativista estadunidense que se tornou conhecido por causa de suas pesquisas sobre filtros e redes sociais. É dele o conceito de filtro bolha, uma característica moderna da internet que não é difícil de notar no Facebook ou no Instagram. Trata-se da capacidade do algoritmo de filtrar conteúdos e mostrar aquilo que identifica como relevante segundo as preferências dos usuários.
Também chamado de bolha social ou bolha de opinião, o filtro bolha faz que as pessoas vejam, ouçam e explorem principalmente os assuntos que conhecem e concordam. Acontece, por exemplo, quando um fato “viraliza” apenas entre as pessoas que você segue. Muito provavelmente sua irmã mais velha nem faz ideia de que aquilo aconteceu, mas você tem a impressão de que todo mundo está sabendo do assunto ao navegar pela sua timeline.
A seleção e a recomendação dos conteúdos que aparecem para os usuários baseando-se nos dados de navegação é um recurso utilizado pelas empresas para prender nossa atenção e lucrar com os acessos e dados coletados. Esses filtros afetam nossa percepção da realidade, já que somos bombardeados por visões de mundo muito similares às que estamos acostumados. O problema é que ficamos cada vez mais sujeitos às informações selecionadas pela inteligência artificial e raramente nos deparamos com argumentos e informações que contradizem nossa visão de mundo.
Pratique
Assista ao vídeo sobre os filtros bolha (bolhas de opinião) e responda às questões 6 e 7.
6. Como se formam os filtros bolha nas redes sociais?
https://ftd.li/nmo2cy
As bolhas de opinião são formadas pelos filtros aplicados pelos algoritmos para priorizar temas e perfis nas redes sociais de
acordo com as preferências dos usuários.
7. Identifique os assuntos e as opiniões predominantes na rede social que você, ou algum conhecido, utiliza. Esses assuntos e opiniões têm afinidade com seus principais interesses? Você considera que eles configuram um filtro bolha?
Resposta pessoal. Incentive os estudantes a refletir sobre os principais assuntos e opiniões com os quais interagem nas redes
sociais e a identificar os possíveis filtros bolha nos quais estão inseridos. Se julgar pertinente, questione-os se consideram que
esses assuntos são predominantes para usuários de outras faixas etárias, de outros grupos sociais ou de outros países.
Espelho, espelho meu
Aulas 14 a 16
CHRISTOPHE LEHENAFF/PHOTONONSTOP/AFP
Os algoritmos passaram a fazer parte do cotidiano de muitas pessoas e a ditar padrões estéticos e de consumo. Uma pesquisa de 2017, da Royal Society for Public Health, do Reino Unido, entrevistou cerca de 1 500 jovens sobre qual seria a rede social mais prejudicial à sua saúde mental. O vencedor foi o Instagram. Ficou surpreso?
O Instagram é um festival de fotos lindas de praias, comidas, famílias, roupas, decoração etc. Aparentemente, todo mundo é bonito, bem-sucedido e feliz. Isso não acontece apenas porque as pessoas decidem postar fotos assim.
A todo tempo, a inteligência artificial privilegia mostrar fotos que gerem mais engajamento. E que fotos são essas? São fotos que seguem determinados padrões de beleza e situações alegres. Ao ver aquelas imagens, a tendência é desejar postar coisas similares, afinal, quem não quer ganhar curtidas e parecer bonito?
Visitantes tiram fotos e selfies no Museu do Louvre, em Paris (França), 2018. As fotos nas exposições de arte são uma febre no Instagram e em outras redes sociais.
A busca por curtidas pode gerar insegurança e prejudicar a autoestima. Muitos estudos demonstram isso e não foi por acaso que, em alguns países, o Instagram deixou de mostrar o número de curtidas nas fotos em 2019. O psicólogo Rodrigo Neim explica a razão disso. Leia a seguir.
É um excesso de pressão social, numa estética do que alguns teóricos chamam de felicidade tóxica ou imperativo da felicidade. No seu extremo, ela passa a ser prejudicial à saúde emocional das pessoas, gerando mal-estar, baixa autoestima e desconforto.
SALGADO, Daniel; CASTRO, Rodrigo. Não deu like: Instagram elimina curtidas para proteger autoestima de usuário. Época, 17 jul. 2019. Disponível em: <https://epoca.globo.com/sociedade/nao-deu-like-instagram-elimina-curtidas-paraproteger-autoestima-de-usuario-23814995>. Acesso em: 1.° out. 2020.
Se por um lado as redes estimulam as pessoas a buscar atingir padrões que parecem fazer sucesso porque geram engajamento, por outro são bombardeadas diariamente por uma quantidade nunca antes vista de anúncios, ofertas e sugestões de compra.
Na internet, para onde seu olho mirar, vai haver uma propaganda. Em sites, em aplicativos, em jogos, nas redes sociais, no e-mail, na plataforma de navegação por GPS, no tocador de podcast. É muita propaganda, direcionada e altamente rentável. E elas também são parte da busca por atingir os padrões difundidos e receber curtidas. Uma pessoa pode ver uma roupa da moda na foto de algum famoso, pesquisar sobre aquela roupa, depois deparar com o anúncio, comprá-la e postar uma foto com a roupa na rede social, fechando o ciclo do consumo determinado pelo algoritmo.
A dismorfia de Snapchat
Dismorfia é um transtorno relacionado à excessiva preocupação pela aparência física. Um fenômeno que passou a preocupar a comunidade médica é a chamada dismorfia de Snapchat, uma vez que cada vez mais jovens procuram cirurgiões com o objetivo de ficar com um rosto parecido com aquele que veem após aplicar filtros em suas fotos. Conheça a história de jovens que fizeram procedimentos estéticos ou cirúrgicos para tornarem-se semelhantes à sua imagem nas redes sociais. 1. Pesquise sobre a dismorfia de Snapchat e alguns danos psíquicos relacionados ao uso das redes sociais. Com base na sua pesquisa e nos exemplos do texto, discuta com os colegas por que a busca por padrões estéticos pode ser prejudicial para a saúde mental das pessoas. 2. Você conhece alguém que já se sentiu afetado de forma negativa pelo uso das redes sociais?
Explique como isso pode se relacionar com o funcionamento dos algoritmos.
https://ftd.li/rhwqzy
Pratique
1.Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes discutam os aspectos negativos da padronização estética impulsionada pelas redes sociais, como crises de autoestima, insegurança, ansiedade e outras interferências que podem prejudicar a saúde mental das pessoas. Se julgar oportuno, estimule a reflexão sobre a desigualdade de gênero na cobrança por manter padrões de beleza.
8. Como o atual padrão de beleza está relacionado à classe social e de que forma os algoritmos contribuem para isso? Discuta com os colegas e o professor.
Resposta pessoal. Incentive os estudantes a discutir criticamente sobre o uso de produtos estéticos, a realização de procedimentos cirúrgicos, a compra de roupas, sapatos e acessórios da moda e a relação desses comportamentos com o acesso desigual a esses procedimentos e produtos de acordo com as classes sociais. Determinados padrões de beleza são excludentes e alcançáveis apenas a pessoas de maior renda. Além disso, uma vez que entendemos determinadas coisas como “boas” e “bonitas”, o algoritmo fará que os padrões de beleza dominantes sejam mais difundidos, excluindo as diversas possibilidades de beleza diferentes daquilo que estamos acostumados a considerar “bom” e “bonito”. Dessa forma, o funcionamento dos algoritmos pode contribuir para a consolidação dos padrões dominantes e, inclusive, dos preconceitos preexistentes das pessoas que navegam na rede, ao excluir da experiência na internet aquilo que é diferente do que geralmente é difundido.
ALGORITMOS A SERVIÇO DOS CLIQUES (OU DO ÓDIO?) Aulas 17 a 19
Yasodara Córdova é uma pesquisadora da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, que programou com os colegas um servidor para se passar por um brasileiro que acessa o YouTube e aceita as recomendações do algoritmo milhares de vezes. O que esses pesquisadores descobriram é que essa rede social se tornou um celeiro para difusão de vídeos de extrema direita e de teorias da conspiração. Por quê? Porque esses conteúdos geram engajamento virtual, ou seja, curtidas, comentários e compartilhamentos.
Após ser comprado pelo Google, o YouTube lançou em 2012 um sistema de recomendações de vídeos para incentivar os usuários a passar mais tempo no site. Esse mecanismo de sugestões direcionava sucessivamente o usuário a vídeos relacionados ao anterior, mas com mais visualizações. Isso criou o chamado “efeito Gangnam Style”: teoricamente, se o mecanismo de sugestões ficasse ligado infinitamente, qualquer vídeo acabaria chegando no vídeo “Gangnam Style”, do cantor sul-coreano Psy, o mais visualizado da plataforma.
Esse algoritmo, contudo, não foi capaz de engajar suficientemente os usuários, já que desfavorecia pequenos produtores de conteúdo e criava uma audiência homogênea, que acabava sempre assistindo aos mesmos vídeos. Em 2015, o sistema de recomendações do YouTube implementou um novo algoritmo que tenta simular o funcionamento de um cérebro humano e prever o tipo de conteúdo que poderia prender a atenção do usuário.
Quando o novo sistema de recomendações foi lançado, produziu resultados imediatos. Na prática, os algoritmos escolhem quais vídeos vamos ver e o objetivo é apenas um: difundir conteúdo que vicie e prenda o usuário na plataforma. No geral, são vídeos com conteúdos nocivos, falsos ou que apresentam ideias fáceis de serem apreendidas, como as teorias da conspiração apresentadas no capítulo anterior.
Isso também ocorre em outras redes sociais. Uma pesquisa nos Estados Unidos, em 2017, comprovou que postagens no Facebook que continham discursos de ódio, mentiras e teorias da conspiração eram as que mais geravam interações. Observe o gráfico.
Estados Unidos: média de interações por postagens no Facebook (2017)
Número de curtidas Número de comentários Número de compartilhamentos
0 0 100 200 300 400 500 20 40 60 80 0 25 50 75 100 125
Discordância indignada Discordância Sem discordância
VANESSA NOVAIS
Fonte: HOW the public reacted on Facebook. Pew Research Center, 23 fev. 2017. Disponível em: <https://www.pewresearch.org/politics/2017/02/23/how-the-public-reacted-on-facebook/>. Acesso em: 2 out. 2020.
O filtro bolha contribui muito para a difusão de conteúdos nocivos. Às vezes, os usuários acabam enredados em uma infinidade de vídeos e imagens que confirmam repetidamente uma ideia, o que dá a impressão de que se trata da verdade absoluta. Quando o algoritmo reconhece que há uma tendência de que uma pessoa que gosta de algo também pode se interessar por outro conteúdo, mais as bolhas se fortalecem e mais a internet constrói muros que fortalecem a polarização de opinião. Isso gera efeitos perversos e não facilita a difusão de conhecimento, que deveria ser uma das principais funções da rede.
YURIY GOLUB/SHUTTERSTOCK.COM
Deu ruim
Os problemas e polêmicas relacionados ao sistema de recomendações do YouTube são discutidos no artigo disponível no QR code. Leia e discuta com os colegas. 1. Quais são as características dos vídeos geralmente recomendados quando você usa o YouTube? Você já recebeu a recomendação de algum vídeo com conteúdo falso ou preconceituoso? 2. No artigo, o ex-funcionário do YouTube Guillaume Chaslot afirma que o uso ideal da inteligência artificial nas recomendações da plataforma seria ajudar o usuário a conseguir o que deseja. Você concorda com a afirmação? Que outros usos ideais você listaria?
https://ftd.li/m882xu 1. Resposta pessoal. Incentive os estudantes a discutir sobre os conteúdos mais recomendados a eles em suas páginas pessoais do YouTube e como eles avaliam criticamente a qualidade desses conteúdos, considerando se os conteúdos recomendados são sensacionalistas, falsos ou preconceituosos, como discute Chaslot no artigo. Se julgar pertinente, comente também que o mecanismo de recomendações pode incentivar um uso viciante dessa plataforma. 2. Resposta pessoal. Estimule o debate sobre outros usos possíveis da inteligência artificial tendo como objetivo diminuir a disseminação de conteúdos nocivos, preconceituosos, falsos ou conspiratórios.
Pratique
9. Um aspecto bastante atual do uso da internet e das redes sociais é a polarização de ideias. Liste e explique os fatores estudados que contribuem para esse processo.
Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes identifiquem o papel dos filtros bolha e dos algoritmos na formação de grupos
polarizados. Isso porque a maior parte das informações recebidas na internet e nas redes sociais está relacionada às próprias
opiniões dos usuários, impedindo que haja um diálogo entre pessoas de opiniões diferentes e reforçando a ideia de verdades
absolutas em grupos com opiniões opostas, fortalecendo a polarização.
https://ftd.li/z5cbmn A TECNOLOGIA É FEITA POR PESSOAS Aulas 20 a 22
Talvez você já tenha ouvido que “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”. É uma frase popularizada pelo Homem Aranha, que encaixa muito bem com o que estamos tratando neste capítulo.
Como já estudamos, as tecnologias não são nem nunca foram neutras. Elas reproduzem padrões desenvolvidos por seres humanos organizados em sociedade e possuem valores éticos e morais específicos. Além do interesse econômico, esses valores influenciam a forma como os recursos tecnológicos são pensados, planejados e criados.
Um bom exemplo disso é o surgimento de filmes coloridos para fotografias analógicas. A imagem usada como padrão para calibrar as cores para a foto era de uma pessoa branca; logo, os produtos químicos utilizados não eram capazes de capturar detalhes físicos de pessoas com tons de pele mais escuros. Você consegue perceber como uma tecnologia pode ser desenvolvida para atender à determinada necessidade em detrimento das demais? Conheça um pouco mais sobre essa história e os debates que se seguiram com o desenvolvimento das técnicas digitais.
Vivemos em uma sociedade que foi estruturada sobre conceitos desiguais de gênero e raça, entre outros fatores de opressão. Essas noções são reproduzidas no desenvolvimento de tecnologias, inclusive porque a maioria das pessoas que as desenvolvem são brancas e do sexo masculino. Por isso, precisamos analisar o desenvolvimento das tecnologias como um processo social, que implica questões éticas que devem ser discutidas por toda a sociedade.
Os algoritmos não são neutros, assim como qualquer outro tipo de tecnologia, pois são desenvolvidos por pessoas dentro de uma sociedade desigual. As plataformas são programadas por pessoas que decidem sobre a estrutura e a configuração dos sites, planejam como será o funcionamento dos algoritmos, quais conteúdos serão recomendados, quem terá acesso às informações etc.
O termo racismo algorítmico é usado para explicar como a opressão racial é reproduzida pelos algoritmos aplicados a sites de busca, redes sociais e até mesmo tecnologias usadas pelo Estado. O Brasil, por exemplo, começou a usar em 2019 a tecnologia de reconhecimento facial na área de segurança pública. O resultado inicial mostrou como pode ser perigosa a reprodução do racismo nessa esfera, já que 90,5% das pessoas presas SOEREN STACHE/DPA/EASYPIX BRASIL por reconhecimento facial no país eram negras e inúmeros casos de reconhecimento foram equivocados. Funcionários em escritório do Facebook em Berlim (Alemanha), 2017. As tecnologias são sempre desenvolvidas por pessoas.
O problema pior é que os erros do reconhecimento facial podem representar constrangimentos, prisões arbitrárias e violações de direitos humanos. Em julho, o sistema utilizado pela polícia do Rio apontou erroneamente, no segundo dia de atividade, uma mulher como procurada pela justiça. Não bastasse a abordagem equivocada, descobriu-se dias depois que a criminosa procurada já estava presa há quatro anos, indício claro de que o banco de dados utilizado à época tinha graves problemas de atualização. […] NUNES, Pablo. Levantamento revela que 90,5% dos presos por monitoramento facial no Brasil são negros. The Intercept Brasil, 21 nov. 2019. Disponível em: <https://theintercept.com/2019/11/21/ presos-monitoramento-facial-brasil-negros/>. Acesso em: 2 out. 2020.
O racismo algorítmico também aparece em buscas simples. Um teste demonstrou que o Google, por exemplo, identificou corretamente em uma fotografia uma ferramenta em uma mão branca, mas a mesma ferramenta em uma mão negra foi reconhecida como uma arma. Outro exemplo é de um estudo publicado nos Estados Unidos que comprovou existirem mais erros em softwares de reconhecimento de voz com vozes de pessoas negras. São inúmeros os exemplos que provam como a desigualdade racial é reproduzida no uso de algoritmos, causando a intensificação de injustiças na vida real.
PretaLab
Em 2010, nos Estados Unidos, mais de 27 mil mulheres negras se formaram como engenheiras ou cientistas, o que representa mais de 10% dos diplomas concedidos a muA tecnologia pode melhorar? lheres no país. Apesar disso,
O maior problema dos algoritmos é que eles menos de 1% dos empregados potencializam a reprodução dos preconceitos, expandindo-os numa velocidade enorme e podendo gerar consequências na vida real das pessoas, de indústrias de tecnologia eram mulheres negras. Esse dado sequer existe no Brasil. E “sem dado não tem política”, como vimos nos exemplos anteriores. Você pode segundo Silvana Bahia, ideaaprofundar esse tema assistindo à palestra de Joy lizadora do PretaLab, um site Buolamwini, uma jovem ganense-americana, que que busca articular mulheres é cientista da computação e ativista digital. negras e indígenas, incentivar sua inclusão nas áreas de desenvolvimento tecnológico e inovação. Visite o site para conhecer os dados e as anáTIBRINA HOBSON/GETTY IMAGES Joy Buolamwini participando de palestra em Utah (Estados Unidos), 2020. lises disponibilizados sobre esse tema.
1. Resposta pessoal. Na investigação, os estudantes podem encontrar inúmeras outras referências e exemplos de racismo algorítmico para conhecer melhor como ele se aplica na realidade e quais são suas consequências. 2. Resposta pessoal. Incentive-os a discutir formas criativas de evitar a reprodução do racismo algorítmico, como ter mais pessoas negras trabalhando em empresas que desenvolvem as tecnologias, garantindo a diversidade de visões de mundo e necessidades; incentivar empresas a organizar processos de formação sobre questões raciais e sociais para seus funcionários, de forma que reflitam sobre isso no momento do desenvolvimento das tecnologias; aumentar a discussão sobre as tecnologias nas escolas e nas formações básicas, de forma que os usuários cada vez mais cedo possam identificar os problemas existentes e discuti-los de maneira coletiva. 3. Resposta pessoal. Estimule os estudantes a apresentar justificativas claras, com exemplos e dados que expliquem as propostas levantadas. https://ftd.li/d4wp7m
1. Em grupo, investiguem sobre o conceito de racismo algorítmico e suas consequências. 2. Depois, discutam com os colegas sobre formas de evitar que o racismo algorítmico se multiplique. 3. Apresentem as conclusões do grupo para a turma, justificando com exemplos e dados.
https://ftd.li/n9n48a
PRETALAB
Mundo: plataformas virtuais utilizadas para cyberbulling (2018) CYBERBULLYING
Aulas 23 e 24
VANESSA NOVAIS 65%
45%
38%
34%
19%
14%
6%
Redes sociais Celular Aplicativos de mensagens Bate-papos virtuais E-mail Outros sites Outras tecnologias
Fonte: CYBERBULLING – A global advisor survey, 2018. IPSOS Publi Affairs. Disponível em: <https://www. ipsos.com/sites/default /files/ct/news/documents /2018-06/cyberbullying_ june2018.pdf>. Acesso em: 2 out. 2020.
Definimos nossos padrões de beleza e de comportamento socialmente. O bullying é uma das formas de agredir pessoas que não se enquadram nesses padrões. Trata-se da prática de intimidações continuadas contra crianças e adolescentes.
Quando essa violência ocorre virtualmente, por meio de tecnologias digitais, chamamos de cyberbullying. Na internet e nas redes sociais, esse tipo de ataque pode se espalhar de formas inimagináveis, já que os algoritmos das plataformas acabam potencializando sua difusão.
O cyberbullying pode ser praticado por meio da exposição de fotos ou mensagens de pessoas sem autorização com o intuito de humilhá-las, do envio de mensagens com ameaças ou injúrias, da produção de imagens relacionadas a alguém com o objetivo de constrangê-la, entre muitas outras coisas.
Os agressores normalmente se escondem no anonimato ou sob perfis falsos nas redes, pois imaginam estar livres de qualquer tipo de punição. No entanto, aplicam-se ao cyberbullying alguns tipos de crime já previstos no código penal brasileiro, como injúria racial, calúnia e difamação. É possível também identificar os agressores por meio da identificação do IP, que é a “identidade” da máquina que difunde essas mensagens. Logo, quem pratica esse tipo de violência no ambiente virtual está tão sujeito a punições quanto quem a pratica fora da rede.
O instituto de pesquisa Ipsos investigou o cyberbullying em 2018 e chegou à conclusão de que o Brasil é o segundo país do mundo no ranking de casos de difamação pela internet — a Índia ocupa o primeiro lugar. No mundo todo, as plataformas mais utilizadas para a prática dos ataques são as redes sociais. Observe o gráfico.
Acesse o infográfico e conheça formas de identificar e combater o bullying e o cyberbullying na campanha da SaferNet, organização não governamental que atua na defesa dos direitos humanos na internet no Brasil, e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
Pratique
https://ftd.li/m3wcfn
10.Discuta as relações entre o cyberbullying e as agressões que ocorrem na “vida real”. É possível afirmar que essas realidades estão separadas?
Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes identifiquem que o que acontece na internet tem consequências na vida real,
tanto para as pessoas que sofrem a difamação quanto para as pessoas que a praticam. Motive os estudantes a discutir sobre
como a internet pode "estimular" ou intensificar as agressões praticadas. É importante vincular também a necessidade de
responsabilização legal das pessoas que realizam as agressões.
11.(Enem/MEC)
O que é bullying virtual ou cyberbullying?
É o bullying que ocorre em meios eletrônicos, com mensagens difamatórias ou ameaçadoras circulando por e-mails, sites, blogs (os diários virtuais), redes sociais e celulares. É quase uma extensão do que dizem e fazem na escola, mas com o agravante de que as pessoas envolvidas não estão cara a cara.
Dessa forma, o anonimato pode aumentar a crueldade dos comentários e das ameaças e os efeitos podem ser tão graves ou piores. “O autor, assim como o alvo, tem dificuldade de sair de seu papel e retomar valores esquecidos ou formar novos”, explica Luciene Tognetta, doutora em Psicologia Escolar e pesquisadora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Disponível em http://revistaescola.abril.com.br. Acesso em: 3 ago. 2012 (adaptado).
Segundo o texto, com as tecnologias de informação e comunicação, a prática do bullying ganha novas nuances de perversidade e é potencializada pelo fato de a) atingir um grupo maior de espectadores. b)dificultar a identificação do agressor incógnito. c) impedir a retomada de valores consolidados pela vítima. d)possibilitar a participação de um número maior de autores. e) proporcionar o uso de uma variedade de ferramentas da internet.
ALGORITMOS DO BEM
Aulas 25 a 27
O desenvolvimento das tecnologias nos leva a uma série de questões éticas acerca dos usos de poderosas ferramentas com grandes capacidades de processamento de dados e sobre como a privacidade das pessoas é invadida. No entanto, devemos também estar atentos para conhecer os avanços científicos que são possibilitados com o uso dos algoritmos.
A inteligência artificial já é usada em inúmeros estudos e ferramentas que buscam otimizar o diagnóstico e o tratamento de doenças, o que pode resultar em grandes ganhos de qualidade de vida. Há algoritmos que auxiliam na análise de exames de imagem, que possibilitam a avaliação e o acompanhamento médico à distância e que contribuem para a sistematização e integração dos dados sobre um grande número de pacientes de determinadas doenças. Isso pode ajudar na análise dos seus efeitos e dos tratamentos em um conjunto maior de pessoas. Trabalhadora de uma empresa chinesa apresenta o sistema de IA criado para acelerar a análise de tomografias computadorizadas de um paciente para diagnosticar covid-19. Hefei (China), 2020. SUN ZIFA/CHINA NEWS SERVICE/GETTY IMAGES
Trata-se de um campo de estudos em grande desenvolvimento e há excelentes perspectivas sobre o uso da inteligência artificial e de algoritmos para o desenvolvimento da ciência na área da saúde. Ainda assim, é preciso que os cidadãos tenham conhecimento e controle a respeito do uso de seus dados, para que as tecnologias possam realmente servir ao bem comum.
Também existem diversas iniciativas no campo das ciências humanas e sociais que buscam utilizar a enormidade de dados coletados sobre nós para fazer, por exemplo, reivindicações políticas. Podemos dizer que o jornalismo de dados integra essas ações. Os jornalistas e analistas de dados criam meios de ler as bases de dados, encontrar informações relevantes e traduzi-las para o público.
Vivemos um momento histórico em que temos de lidar não com a falta de dados e informações, mas com seu excesso. Imagine que é produzida diariamente uma quantidade tão grande de dados — sobre tudo o que acontece e tudo que fazemos — que é quase impossível que pessoas comuns tomem conhecimento de todas as informações contidas neles. Com o uso da tecnologia, o jornalismo de dados também pode otimizar a cobertura e a apuração de temas importantes para a sociedade.
Elas no Congresso
Em 8 de março de 2020, a Revista AzMina lançou um robô chamado “Elas no Congresso”. O objetivo é automatizar o mapeamento de todos os projetos em tramitação no Congresso que tratam de direitos das mulheres, como direitos sexuais, identidade de gênero, violência contra a mulher, feminicídio e outros temas.
O robô seleciona as palavras-chave normalmente usadas em emendas constitucionais, projetos de lei, requerimentos etc. que se enquadram no campo da temática em questão. Diariamente, vasculha os projetos que estão dentro desse escopo e publica os detalhes da iniciativa em um perfil do Twitter criado especialmente para esse fim. Nesse projeto, o uso da inteligência artificial amplia o acesso e o conhecimento sobre o tema para a população em geral e permite que organizações que trabalham com direitos das mulheres e com a luta pela igualdade de gênero possam acompanhar o andamento das políticas.
Visite o perfil desse robô e acompanhe os resultados do uso dessa tecnologia.
https://ftd.li/hjkabx
REVISTA AZMINA
PROSTOCK-STUDIO/SHUTTERSTOCK.COPM
Boas práticas
No ano de 2020, a pandemia de covid-19 atingiu o mundo causando muitas mudanças na forma como as pessoas se relacionam. A necessidade de confinamento para evitar que a covid-19 causasse ainda mais danos obrigou muitas empresas a se adaptarem ao home office, por exemplo. No Brasil, algumas tecnologias foram desenvolvidas na tentativa de ajudar o monitoramento da doença, como a Dados do Bem.
Assim como este e outros exemplos que citamos, há muitas experiências sobre usos positivos de algoritmos. Organize-se em grupo e sigam o roteiro. 1. Realizem uma discussão inicial sobre diferentes áreas em que vocês acreditam que o uso de algoritmos e da inteligência artificial possa contribuir para o bem comum. Expliquem quais poderiam ser esses usos. 2. Agora, pesquisem sobre iniciativas, já ocorridas ou em andamento, que fazem usos positivos dos algoritmos e da inteligência artificial. 3. Selecionem uma das iniciativas pesquisadas e façam uma apresentação para a turma, explicando que benefícios essa iniciativa trouxe ou pode trazer para o bem comum, mas também considerando eventuais riscos envolvidos. 4. Após as apresentações dos grupos, montem um grande painel com as investigações realizadas por todos os grupos.
https://ftd.li/bww5kt
Respostas pessoais. Estimule os estudantes a avaliar criticamente mesmo as iniciativas consideradas positivas, apontando suas intenções e benefícios, mas também o que deve ser fiscalizado.
GRANDE OLHO QUE TUDO VÊ
Aulas 28 e 29
A era digital mudou radicalmente o que entendemos como público e privado. Se alguém parasse você na rua e perguntasse seu nome completo, o ano em que você nasceu e o lugar onde você mora, você responderia? Por que, então, não nos importamos se essas informações estão públicas no Facebook?
Atualmente, poucas empresas têm um controle muito grande sobre as informações dos cidadãos e dos governos. Com acesso integral a um smartphone, é possível saber a hora que uma pessoa dorme e acorda, se faz exercício, quanto tem de dinheiro no banco, se mora de aluguel, se é solteira, onde vive, o que prefere comer, ouvir e assistir. O mesmo vale para o sistema que nos governa. Dados das prefeituras, assembleias e câmaras estão todos on-line.
Essa realidade gera novos desafios para as relações sociais sob diversos aspectos. Primeiro, não é difícil imaginar: atualmente é muito mais fácil espionar pessoas e governos. Essa realidade se tornou ainda mais perturbadora quando Edward Snowden revelou ao mundo como funcionava o sistema de vigilância global da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos. Eles tinham acesso a praticamente tudo: e-mails de chefes de Estado, ligações telefônicas, perfis em redes sociais. Conheça um pouco mais sobre Snowden e as denúncias que realizou.
Edward Snowden em entrevista ao jornal britânico The Guardian em Hong Kong, 2013, quando denunciou a THE GUARDIAN/AFP vigilância global da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos. https://ftd.li/69uaa9
Superexposição
A superexposição, conhecida mundialmente como oversharing, é difícil de medir, mas se caracteriza pelo exagero em termos de tempo on-line e de exposição de detalhes pessoais em contextos que nem sempre são apropriados. Assim como fora da rede, precisamos avaliar o que merece ser compartilhado, quem são as pessoas que terão acesso ao que compartilhamos e as implicações que existem quando tornamos aquela informação pública. É preciso lembrar que, quando postamos algo, deixamos de ser os únicos donos das informações. Elas podem ser usadas não apenas pelos sites que hospedam os serviços, mas por outros usuários que podem buscar e encontrar esses detalhes sobre nossa vida com muita facilidade. Além disso, informações sobre nossa intimidade usadas fora de contexto podem nos prejudicar, tanto no presente quanto no futuro. É preciso ficar ligado!
O segundo aspecto está relacionado à nossa vida pessoal. As empresas recolhem uma quantidade infinita de dados que podem ser usados para impulsionar a venda de produtos, serviços, para prender a atenção dos usuários e também para manipular a opinião pública. É um risco muito grande, como já vimos.
É por isso que o direito à privacidade é considerado fundamental para a dignidade humana e para a autonomia. Mas, quando pensamos na privacidade nos ambientes digitais temos muitos desafios, pois nem sempre é fácil saber em que medida se trata de um espaço público ou privado.
O grande desafio na internet é saber quem tem acesso a quais informações sobre nós, que uso é feito dessas informações e em que medida elas são públicas. Na rede, fica mais difícil de controlar quem poderá ver uma informação que publicamos, mesmo que nossa intenção seja mostrar apenas aos nossos amigos ou familiares.
Esse cuidado começa com as configurações de privacidade dos sites que usamos, mas também por nos informarmos cada vez mais sobre o funcionamento das redes e dos consentimentos que damos às empresas quando utilizamos seus serviços. O conhecimento permite ter consciência sobre os riscos a que estamos expostos na rede e tomar precauções para diminuí-los ou mesmo evitá-los.
Pratique
O vídeo disponível no link é uma curta conversa entre especialistas que chamam atenção para a relevância do debate sobre privacidade atualmente. Assista para responder às questões 12 e 13. 12. O que é definido como privacidade na era digital?
https://ftd.li/s8nkir
A privacidade digital é a prática de controlar a exposição e a disponibilidade de informações sobre a própria vida nas redes sociais, aplicativos e sites. Não importando se a pessoa é anônima ou conhecida, ela deve poder saber o que é feito com suas
informações e, com base nisso decidir o que é exposto ou não.
13. Em sua opinião, por que é importante cuidar da privacidade digital?
Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes demonstrem preocupação sobre os transtornos pessoais que a exposição pode gerar, desde a perseguição virtual até os transtornos pessoais decorrentes dessa exposição, mas também apontem que é preciso
existir regras para o bom convívio em sociedade e para que as empresas de tecnologia respeitem os direitos dos cidadãos.
Nos limites da lei
Aulas 30 a 33
Desde 2016, a União Europeia possui um Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados, que inclusive inspirou o desenvolvimento de uma lei similar aqui no Brasil. Trata-se da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que entrou em vigor em 2020.
A LGPD se fundamenta em importantes pilares para a vida contemporânea: o respeito à privacidade, a liberdade de expressão, informação, comunicação e opinião; a inviolabilidade da intimidade, da honra e da imagem, a defesa do consumidor e dos direitos humanos.
É por isso que alguns especialistas dizem que essa lei é fundamental, porque nossos dados são essenciais atualmente para definir nossa identidade e nossa atuação como cidadãos. Uma das novidades da LGPD é que ela criou um conjunto de novos conceitos jurídicos, como “dados sensíveis” e “dados pessoais”. Ela também estabelece como as empresas devem tratar essas informações e preservá-las, gerando um conjunto de obrigações específicas com procedimentos e normas para que haja maior controle e transparência no tratamento de dados pessoais e compartilhamento com terceiros.
Veja algumas definições que passaram a existir com a LGPD.
I – Dado pessoal: informação relacionada à pessoa natural identificada ou identificável; II – Dado pessoal sensível: dado pessoal sobre origem racial ou étnica, convicção religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou a organização de caráter religioso, filosófico ou político, dado referente à saúde ou à vida sexual, dado genético ou biométrico, quando vinculado a uma pessoa natural […]. VI – Controlador: pessoa natural ou jurídica, de direito público ou privado, a quem competem as decisões referentes ao tratamento de dados pessoais […]. X – Tratamento: toda operação realizada com dados pessoais, como as que se referem a coleta, produção, recepção, classificação, utilização, acesso, reprodução, transmissão, distribuição, processamento, arquivamento, armazenamento, eliminação, avaliação ou controle da informação, modificação, comunicação, transferência, difusão ou extração […]. XII – Consentimento: manifestação livre, informada e inequívoca pela qual o titular concorda com o tratamento de seus dados pessoais para uma finalidade determinada […]. XIV – Eliminação: exclusão de dado ou de conjunto de dados armazenados em banco de dados, independentemente do procedimento empregado.
BRASIL. Lei n.º 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm>. Acesso em: 3 out. 2020.
A LGPD é uma conquista para a sociedade brasileira porque proporciona mais segurança no uso da internet, cria penalidades rígidas para quem desrespeita os direitos estabelecidos e torna o processo de transferência de dados mais transparente.
Termos e condições
Leia o artigo para conhecer outros pontos importantes da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais.
https://ftd.li/9inawo
• Escolha dois aspectos ressaltados pelo artigo e discorra sobre a importância de uma lei de proteção de dados com base nesses aspectos.
Resposta pessoal. Os estudantes podem ressaltar aspectos como o fato de a lei sobre dados estabelecer os parâmetros necessários à coleta e ao uso de dados pessoais por parte das empresas de tecnologia, exigir o consentimento do usuário para o uso desses dados, permitir que cada pessoa tenha maior controle sobre os próprios dados, entre outros.
Pratique
14.Toda vez que você cadastra um perfil em uma rede social ou usa um aplicativo, é preciso clicar em “Concordo” com os termos de uso daquela ferramenta.
Leia a política de dados do Facebook, que explica como a empresa processa o enorme volume de informações que acessa, e discuta com os colegas um ponto que chamou sua atenção no documento.
https://ftd.li/dar4hn
Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes reconheçam quão profundo é o recolhimento de dados por parte de uma rede social tão utilizada ao redor do mundo, como o Facebook. Podem ser destacados fatos como: o Facebook lê tudo o que o usuário escreve, mesmo o que você não publica; utiliza suas informações para expor anúncios; repassa suas informações a anunciantes; registra sua localização; acessa sua câmera, conhece o estado da bateria e todas as informações de conexão wi-fi e bluetooth do seu telefone.
Se não for possível assistir ao documentário, oriente os estudantes a mobilizar os conteúdos estudados ao longo do capítulo e proponha pesquisas alternativas para apoiá-los caso considere necessário. Em 2020, foi lançado O Dilema das Redes, documentário que apresenta entrevistas de ex-funcionários de empresas como Google, Twitter, Facebook e Pinterest, os quais foram responsáveis pela criação de ferramentas fundamentais para o funcionamento dessas redes. Assista ao documentário para responder às questões 15 a 18. 15.Com base no documentário e no que você estudou ao longo do capítulo, faça em seu caderno uma lista dos riscos ao utilizar as redes sociais e de que forma é possível evitá-los.
Cena do documentário O dilema das redes, de Jeff Orlowski, 2020.
©NETFLIX/EVERETT COLLECTION/FOTOARENA
RISCOS COMO EVITAR
Resposta pessoal. Podem ser listados riscos, como: Autoestima abalada por julgamentos feitos nas redes; influência política por sugestões de conteúdo planejadas pelos algoritmos; Vício no uso das redes sociais; Invasão de privacidade. E as formas de evitar (respectivamente): Buscar apoio de amigos, família e profissionais, quando for o caso, para manter a saúde mental; Buscar diversas fontes de informação que tenham credibilidade.; Manter atividades de lazer que não envolvam o uso da internet e das redes sociais; buscar apoio de amigos, família e profissionais caso se sinta afetado por questões que acontecem virtualmente; Atentar para as permissões dadas a sites e redes sociais para saber os dados que estão sendo cedidos; evitar publicar dados pessoais, como nome completo, telefones, endereços ou números de documentos.
16.O documentário veicula diversas entrevistas de funcionários que idealizaram ferramentas as quais, posteriormente, passaram a considerar viciantes ou problemáticas. Discuta os possíveis motivos que permitem, no caso das redes sociais, que isso ocorra.
Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes reconheçam que, apesar das questões éticas relacionadas às intenções individuais dos funcionários, elas não são suficientes diante do tamanho e do poder das empresas de tecnologia, que projetam e utilizam as ferramentas com o objetivo de otimizar lucros. Além disso, os conflitos sociais também são espelhados nas ferramentas disponíveis. Por exemplo, grupos de extrema direita podem fazer uso das ferramentas para fins pouco democráticos. Um dos exemplos apresentados no documentário são as eleições na Rússia, mostrando que o Facebook não foi invadido para que pessoas fossem influenciadas politicamente, mas apenas foram usadas as ferramentas de que ele dispunha. Isso significa que os conflitos sociais podem ser intensificados com a simples utilização das ferramentas disponibilizadas pelas redes e por isso devem ser regulamentados.
17.Identifique duas situações apresentadas na parte ficcional do documentário e relacione-as a temas estudados neste capítulo.
SITUAÇÃO FICCIONAL
Resposta pessoal. A filha mais nova da família tem problemas para aceitar seu corpo depois de receber críticas ao tamanho de suas orelhas em uma foto postada nas redes. É possível relacionar essa situação com o tema dos padrões de beleza e como isso se relaciona com o uso das redes, com a grande e constante exposição das pessoas. O filho homem, depois de passar um tempo sem usar as redes sociais por uma aposta feita com a mãe, começa a receber muitas postagens com conteúdo político de direita e fica TEMA ESTUDADO
obcecado por tais conteúdos, o que afeta sua vida real. É possível relacionar esse acontecimento com a exposição dos discursos de ódio e teorias da conspiração por causa das recomendações feitas pelos algoritmos de redes sociais. Algumas personagens representam o algoritmo, teatralizando como funciona seu uso e quais são os seus objetivos. É possível vincular essas cenas ao conceito de algoritmo, relacionando-o com o uso dos dados pessoais dos usuários por parte das empresas de tecnologia.
18.Os entrevistados dão diversas dicas para diminuir os impactos do uso das redes sociais. Aponte uma das dicas apresentadas e explique como ela pode evitar os objetivos danosos das redes.
Resposta pessoal. A principal dica dos entrevistados é retirar qualquer tipo de notificação das redes sociais no telefone ou computador, pois a forma planejada de fazer notificações é um dos fatores que estimula o uso prolongado e o vício nas redes, o que aumenta as chances de estar vulnerável à publicidade e de ter mais dados coletados, ou seja, de ser mais rentável para as empresas.
Síntese
Aula 34
2
Big Data é como chamamos essa infinidade de dados que são coletados diariamente sobre todas as pessoas.
3
Os dados pessoais coletados são usados para a publicidade, para direcionar a produção de produtos, como filmes, séries e serviços, e também para influenciar nosso comportamento e decisões políticas.
As tecnologias não são neutras e são desenvolvidas por seres humanos inseridos em uma sociedade. Isso significa que alguns valores dessa sociedade são refletidos nas tecnologias.
ADRAGAN/SHUTTERSTOCK .COM
1
Inteligência Artificial é a criação de máquinas que simulam o processo de raciocínio humano.
4SEBRA/SHUTTERSTOCK.COM
I LLUS_ MAN/SHUTTERSTOCK.COM 6
Em 2020, entrou em vigor no Brasil a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que estabelece critérios para aumentar a transparência no tratamento de dados pessoais na internet e a proteção das informações dos usuários.
5
Conflitos da “vida real” podem ganhar grandes proporções na internet, como mostram os casos de cyberbullying. Mesmo assim, os casos de violência virtual devem ser denunciados e investigados.