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771982
ISSN 1982-9469
00129
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JULHO 2019 N.129
ENGRENAGEM
Como poderosos do mundo inteiro fizeram para conquistar o primeiro, o segundo e o terceiro bilhão – de dólares
PÚBLICO E PRIVADO
O advogado e professor de Direito da USP ALESSANDRO OCTAVIANI desvenda o que importa na discussão das estatais. Spoiler: é preciso tirar a ideologia do debate
VELAS IÇADAS
As histórias inspiradoras do navegador AMYR KLINK, hoje um dos mais concorridos palestrantes brasileiros
PRONTA-ENTREGA ANDRÉ PENHA e seu QuintoAndar
mudam paradigmas do mercado imobiliário ao tornar a locação segura para o proprietário e muito mais rápida para o inquilino
O MAPA DA MINA
Sucesso traz felicidade? O celebrado professor de Harvard Tal Ben-Shahar e outros estudiosos respondem
E MAIS
O dia a dia do médico ARTHUR GUERRA; equipamentos para se sentir seguro; as revelações sobre o cineasta EDUARDO COUTINHO e as leituras do historiador BORIS FAUSTO
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SUMÁRIO EDITORIAL COLUNA DA JOYCE O SONHO DO ALUGUEL PRÓPRIO
Revolução do QuintoAndar quebra as paredes do mercado imobiliário 24
ALMOÇO DE PODER
O advogado e professor da USP Alessandro Octaviani alerta para o debate - sem ideologia sobre as estatais 30
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Amyr Klink se prepara para levar turistas pela primeira vez à Antártida RESPIRO Macunaíma, o “herói sem caráter” de Mário de Andrade QUEM QUER (MUITO, MAS MUITO) DINHEIRO?
A PROVA DOS NOVE
Afinal, sucesso traz felicidade?
SOB MEDIDA
A determinação do psiquiatra Arthur Guerra na luta contra as drogas
AMYR A MIL
Um livro para desvendar os segredos dos bilionários 42
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Para o casal Marcos Amaro e Ksenia Kogan, arte é um baita negócio 62 63 64
RAZÃO E EMOÇÃO CARTAS ÚLTIMA PÁGINA
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PODER EDITORIAL
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omeçar um negócio absolutamente do zero, inclusive a natureza desse negócio, é para poucos. Ou era. Em tempos de economia digital, há cada vez mais brasileiros que criam empresas para fazer coisas que antes não existiam. Caso dos millennials mineiros André Penha e Gabriel Braga, do QuintoAndar, que se conheceram em Stanford e lá mesmo viram a enorme dificuldade que é alugar um imóvel no Brasil. E então foram à luta. Até a figura do fiador eles eliminaram. Em outro setor, este bem mais pesado, o das empresas estatais, a conversa tem menos a cara (e a linguagem) da nova geração, mas segue muito relevante. Demonizadas nesta hora de maus bofes políticos, as estatais são líderes em diversos segmentos. No Almoço de PODER, o advogado e professor da USP Alessandro Octaviani mostrou que é possível, ou melhor, é necessário fazer um debate sem ideologia – as estatais são estratégicas para diversos países do mundo, e aqui não dá para ser diferente. Sempre se diz que dinheiro não traz felicidade – mas e quando se trata de US$ 1 bilhão? O empreendedor alemão Rafael Badziag foi conversar com bilionários pelo mundo – Lírio Parisotto entre eles – para saber como chegaram lá, e nosso colaborador Anderson Antunes conferiu o que Badziag tem a dizer no livro recém-lançado. Mais boas notícias: a felicidade também está ao alcance de quem não tem US$ 1 bilhão, como mostramos em reportagem especial do repórter Victor Santos. Amyr Klink, a esse propósito, tem um ponto – como você pode ver no Ensaio feito pela dupla Fábio Dutra e Maurício Nahas. A escalada ainda não terminou: estão também por aqui o psiquiatra Arthur Guerra, coordenador de saúde do programa Redenção, da Prefeitura de São Paulo; as escolhas literárias do historiador Boris Fausto; os gadgets que garantem segurança em casa e fora dela e a nova investida de Marcos Amaro, filho do eterno comandante Rolim Amaro, fundador da TAM. Sim, os tempos estão cinza, mas por aqui a gente segue sempre em busca do melhor. Bom estarmos juntos.
G L A M U RA M A . C O M
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Foto: Casa Leão
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PAREDÃO
Em apuros desde o vazamento de supostas trocas de mensagens com o ex-juiz Sérgio Moro durante o curso da Operação Lava Jato, o procurador da República DELTAN DALLAGNOL continua prestigiado no mundo das artes. Ao menos em Curitiba, vários museus, entre eles o famoso Museu Oscar Niemeyer, são detentores das obras apreendidas na operação. No total, são 227, das quais 22 estão atualmente em exposição pública. Manequins, de Iberê Camargo, e Roda de Samba, de Heitor dos Prazeres, são algumas que estavam na casa de doleiros.
CHECK-IN
O histórico prédio da agência DPZ, um dos grandes endereços da capital paulista, vai receber o primeiro hotel da rede Air, a nova marca do grupo GJP, do CEO Gustavo Paulus. Com assinatura do arquiteto Marcio Kogan, será baseado no conceito de affordable design, criado pelo americano Ian Schrager, um dos cofundadores do Studio 54, que une hospitalidade e serviços modernos – a referência é o hypado Public Hotel, no Lower East Side, em Nova York. Previsto para ser entregue no segundo semestre de 2021, o Air terá 65 apartamentos, restaurante, espaço para coworking e rooftop com nightclub. O Rio também está nos planos do grupo, que já negocia a compra de um imóvel em Ipanema.
AZEITONA
Avesso a comemorações, o cardiologista ROBERTO KALIL FILHO decidiu festejar o aniversário em julho, este ano viajando entre amigos pela Sardenha. A ocasião especial – e fora de costume, já que ele é bastante reservado e detesta tudo que não seja trabalho – é porque, no dia 7, Kalil completou 60 anos. Parabéns, doutor!
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DESVIO DE ROTA
Não se sabe ao certo o porquê, mas cada vez mais millennials ricos estão trocando Nova York por lugares menos hypados dos Estados Unidos, principalmente cidades em Washington e na Califórnia. Segundo um levantamento feito pelo site de investimentos SmartAsset, entre 2015 e 2016 o número dessas pessoas com idades inferiores a 35 anos e ganhos na casa dos US$ 100 mil chegou a 4.867 – o maior “êxodo” que se viu em décadas. O curioso é que muitas empresas de tecnologia estão em processo de abrir escritórios em Nova York justamente a fim de se tornarem mais interessantes para seus funcionários.
JARDIM DA BABILÔNIA
NO AR
FOTOS PAULO FREITAS; FABIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL; SIMON PLESTENJAK; REPRODUÇÃO; DIVULGAÇÃO
LUIZA HELENA Trajano tem
programação certa todas as manhãs quando sobe na esteira para se exercitar. Ela tem aproveitado o tempo enquanto cuida da saúde para se atualizar assistindo a telejornais, outros programas jornalísticos e... novelas, que ela ama.
Você já pode acrescentar mais um ponto de visitação em sua próxima viagem a Nova York. Com nome de Jardim, o primeiro projeto residencial do arquiteto brasileiro ISAY WEINFELD na cidade fica no Chelsea, colado ao High Line, e está quase pronto. Composto por duas torres cobertas com vegetação e perpendiculares ao edifício de outro grande nome da arquitetura, a iraquiana Zaha Hadid, fica no quarteirão entre as ruas 27 e 28 e as avenidas 10 e 11. Serão 36 unidades de um a quatro dormitórios – além das luxuosas coberturas. E se só visitar não bastar, vale ressaltar que há unidades à venda.
DEU ONDA
A turma dos esportes radicais está entusiasmada com o lançamento do condomínio de luxo Praia da Grama, em Itupeva-SP. A animação é pela primeira piscina com ondas artificiais para surfe do Brasil. Desenvolvida no País Basco, a tecnologia é da Wavegarden, especializada em criar ondas de até 2 metros. “Existem 20 países implantando essa tecnologia, mas estamos empolgados com o projeto brasileiro, que envolve famílias em algo que antes era aproveitado apenas por surfistas”, afirmou Fernando Odriozola, fundador da empresa. Para aproveitar a experiência, é preciso ser dono de um lote no empreendimento. O preço médio dos terrenos é de R$ 2,2 milhões.
FAROL
O cofundador da Avenues, Alan Greenberg, responsável pela abertura da rede global de educação infantil – e que ao abrir a filial de São Paulo mexeu com as estruturas do ensino por aqui –, está à frente de um novo negócio. A Illuminarium Experiences, uma empresa de entretenimento de experiências, usará de muita tecnologia para possibilitar vivências únicas de lazer – entre os primeiros projetos está o safári virtual Wild. Por aqui, o advogado Renato Ochman é quem está auxiliando a Illuminarium Experiences a encontrar potenciais investidores.
RECREIO O empresário ABILIO DINIZ resolveu respirar outros ares. Com a mulher, Geyze Marchesi, e os filhos Rafaela e Miguel vai passar uma longa temporada no Colorado – mais precisamente em Aspen, onde tem uma bela casa.
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Todos vamos morrer, e é isso que nos torna pessoas de sorte. Existe uma imensa maioria que nunca vai morrer, pois nunca vai nascer. RICHARD DAWKINS
3 PERGUNTAS PARA... SIDARTA RIBEIRO, professor titular de neurociências e vice-diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Recentemente lançou o livro O Oráculo da Noite, sobre a história e a ciência do sonho.
Exatamente, só que de uma maneira probabilística, isso que é importante. Na Antiguidade, os sonhos eram considerados determinísticos. Somos capazes de experimentar esse oráculo probabilístico impressionante que pode, às vezes, dar uma premonição quase perfeita, cristalina.
comida de alguém. Agora um leão sonha bem, nós também, somos topo de cadeia. E quem está no topo tem tempo de dormir e sonhar. Ao sonhar, você ultrapassa as barreiras do nível biológico e entra no ramo da psicologia. O sonhador começa a criar pequenas narrativas, filmes que encenam histórias que normalmente têm a ver com a perseguição de um objetivo, da satisfação de um desejo ou da evitação de algo ruim. Quando Freud falou que o desejo é o motor do sonho, ele não estava sendo poético, mas preciso.
QUAL É A IMPORTÂNCIA DE SONHAR?
O sonho é a mais alta ordem do que está no nível do simbólico, acontece com os mamíferos, e não é para qualquer mamífero. Um coelho, por exemplo, sonha muito mal porque sempre está preocupado em não virar
É PREOCUPANTE QUE, EM GERAL, DORMIMOS MAL E POUCO LEMBRAMOS DO QUE SONHAMOS?
Eu considero isso gravíssimo. Uma boa parte dos problemas do planeta tem a ver com o capitalismo desenfreado. Foi
VERDADES SECRETAS
As fake news estão tão abundantes e as mentiras ganharam tal proporção em Brasília que há quem diga que um acordo Mercosul-UE serviria para importar a Bocca della Verità (A Boca da Verdade) – imagem romana esculpida em mármore que, segundo a crença popular, teria o poder de detectar mentiras; se alguém contasse uma lorota com a mão dentro da Bocca seria mordido. Nos bastidores do poder, o polígrafo da Idade Média viria bem a calhar.
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justamente quando ele começou que nós paramos de prestar atenção nos sonhos e jogamos fora nosso principal simulador de futuro. Então estamos avançando rumo ao desastre sem conseguir simular esse futuro direito. E não sonhamos porque ficamos de luz acesa a noite toda, que impede a produção de melatonina, porque estamos ansiosos e tomamos remédios para dormir, que apaga a possibilidade de sonhar e é amnésico. Bebemos álcool e isso acaba com o sono REM, acordamos supercedo para trabalhar, ou seja, tudo conspira para a gente não sonhar. É preocupante sim. FOTOS GETTY IMAGES; ELISA ELSIE/DIVULGAÇÃO; REPRODUÇÃO
PARA JUNG, NO SONHO ADQUIRIMOS CONSCIÊNCIA DO PASSADO PARA FALAR DO FUTURO. É COMO SE ESTIVÉSSEMOS NOS PREPARANDO?
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EM JULHO, A MULHER E O HOMEM DE PODER VÃO... OUVIR “Space Oddity”, de David Bowie. Inspirada pelo filme de Stanley Kubrick, 2001: Uma Odisseia no Espaço, a canção que completa 50 anos fala sobre o lançamento de Major Tom, um astronauta fictício deprimido durante a missão no espaço sideral.
REVER as nove temporadas de
Seinfeld, em comemoração aos 30 anos do seriado criado por Larry David e Jerry Seinfeld que é considerado a melhor série cômica de todos os tempos pela crítica.
SEGUIR o fotógrafo ganês Prince
Gyasi no Instagram e colorir a timeline. Destaque para a série A Great Day in Accra. GARANTIR ingressos para as próximas
ACOMPANHAR o Tour de France, a
principal volta ciclística do planeta. Entre 6 a 28 de julho, os maiores nomes da modalidade, entre montanhistas e sprinters, percorrerão 3.460 quilômetros em 21 etapas. Com início na cidade de Bruxelas, na Bélgica, até o tradicional encerramento na ChampsÉlysées, em Paris. CURTIR o Umbria Jazz, em Perugia,
na Itália. Dos grandes festivais internacionais do gênero, traz no lineup nomes como Diana Krall, Paolo Conte, Kamasi Washington, George Benson, entre outros. De 12 a 21 de julho. HOSPEDAR-SE no restaurado Château
d’Estoublon, na Provence. Cercado por 500 hectares de vinhas, oliveiras, bosques e parques, o local data do século 18 e serviu de inspiração para Van Gogh, Cézanne e Picasso. Fica entre Arles e Avignon.
apresentações do Grupo Corpo. O programa deste ano apresentará Sete ou Oito Peças para um Ballet (1994) e a estreia da obra com música composta por Gilberto Gil. Além de Belo Horizonte, casa da companhia, São Paulo, Rio e Porto Alegre estão na agenda. CONFERIR
a mostra da artista russa vanguardista Natalia Goncharova (1881-1962), que reúne 170 trabalhos, incluindo a monumental obra de sete partes Harvest. Na Tate Modern, em Londres, até 8 de setembro. ADERIR ao SP Invisível e apoiar o
projeto SP Sem Frio, que distribui centenas de kits com roupas, cobertores e itens de higiene pessoal para a população em situação de rua.
DOAR a bicicleta antiga e parada na garagem para o Instituto Aromeiazero, que dá soluções para acabar com o “cemitério de bikes” dos edifícios. A entidade vai até o local, pega e recupera as bicicletas, adultas e infantis, para serem reutilizadas. LER Noite em Caracas,
de Karina Sainz Borgo, escritora que participará neste mês da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). Em seu primeiro romance, ela narra a saga de uma mulher devastada pela morte da mãe numa Venezuela arrasada pela violência. Um forte retrato da situação do país vizinho.
VISITAR a exposição Fotografia
Moderna 1940-1960, que apresenta um panorama da produção brasileira dessas duas décadas de intensa experimentação. A mostra na Luciana Brito Galeria possui obras vintage e edições de Ademar Manarini, Gaspar Gasparian, Geraldo de Barros, German Lorca, Gertrudes Altschul, Paulo Pires e Thomaz Farkas. Em cartaz até 25/8.
com reportagem de aline vessoni, dado abreu e fábio dutra 16 PODER JOYCE PASCOWITCH
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VISITAR a exposição Estética de uma Amizade – Alfredo Volpi (1896-1988) e Bruno Giorgi (1905-1993), com mais de 120 obras, em sua grande parte inédita, que narram a amizade de 52 anos dos dois artistas. Na Pinakotheke Cultural do Rio de Janeiro, até 27 de julho.
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André Penha, sócio e fundador do QuintoAndar, que mudou o mercado imobiliário brasileiro
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O SONHO DO
ALUGUEL PRÓPRIO QuintoAndar revoluciona mercado imobiliário ao tornar a locação segura para o proprietário e muito mais rápida e desburocratizada para o inquilino. Seus jovens fundadores querem os brasileiros trocando a casa própria pela alugada – e os investidores, que fizeram da empresa unicórnio, compraram a ideia por paulo vieira fotos roberto setton
D
ois mineiros estão em Stanford tentando descobrir qual é a grande “dor” do mundo. Querem oferecer ao planeta o remédio infalível e ganhar dinheiro grosso com ele. Caminhando pelo campus, tropeçam numa lâmpada mágica. Esfregam-na, libertam um gênio, fazem três pedidos. O primeiro: conhecer de fato qual é essa dor; o segundo: encontrar o lenitivo mais adequado para ela; terceiro: convencer investidores a embarcar junto com eles nesse negócio. Ressalvado o gênio, aqui mera alegoria, eis o começo da história do Quinto Andar, uma das poucas empresas digitais brasileiras a atingir o valor de mercado de US$ 1 bilhão, marca mítica a partir da qual startups são chamadas de unicórnios. Não foi um caminho fácil, notadamente aquela parte de persuadir os investidores, lá no começo, em 2012. Se são jovens hoje, naquela época os fundadores mal haviam saído de seus cueiros. André Penha, 39 anos, e Gabriel Braga, 37, mineiros respectivamente de Divinópolis e Belo Horizonte, conheceram-se exatamente no campus da Stanford, em Palo Alto. Ambos com histórico de empreendedorismo no Brasil (nas áreas de games e biotecnologia), haviam decidido fazer MBA ali para absorver o que talvez sejam os dois maiores ativos do Vale do Silício:
o networking e a capacidade de pensar negócios em escala global. Para achar a tal “dor” do início – jargão que pode ser traduzido por “problema” – lançaram-se num brainstorming em que iam eliminando as dores que julgavam menos, digamos, pungentes. Quando bateram nas dificuldades que é alugar um imóvel, ainda mais no Brasil, não conseguiram recuar. Eis um negócio que é ruim para todas as partes envolvidas. Do lado do inquilino, há o trabalho absurdo e um tanto humilhante de buscar um fiador, a perda de tempo em cartório, as grosserias ditas pelo senhorio quando este não vê sentido na troca de fusíveis por disjuntores; do lado do proprietário, PODER JOYCE PASCOWITCH 19
por sua vez, as dores podem ser em cascata: calote, maus-tratos ao patrimônio, o incômodo de ter de mover uma ação de despejo. André e Gabriel encetaram uma enquete com amigos e conhecidos por telefone e e-mail e logo concluíram: não havia trem mais complicado e chato do que alugar imóvel. Não existia dor que superasse a dor de alugar. Era o que os sócios intuíam, até por terem sentido na pele o problema. E dos dois lados, como locador e inquilino. O Brasil é campo aberto para a expansão dos negócios do QuintoAndar. Segundo André, que recebeu a PODER na sede provisória da empresa, num dos prédios arrendados pela gigantesca empresa mundial de coworking WeWork, na avenida Paulista, apenas 20% do acervo de imóveis residenciais do país é oferecido para locação. A taxa é inferior à média mundial (35%) e à média das 30 maiores cidades do mundo (50%). Locar imóveis é um processo que implica dificuldades, dentre as quais avulta a de se obter um fiador. O Quinto Andar resolve a questão oferecendo garantias de pagamento para o locador
20 PODER JOYCE PASCOWITCH
em caso de inadimplência do inquilino. Este, por sua vez, não precisa se preocupar em perder a amizade com o “brother” cujo imóvel poderia vir a calhar como fiança. O que ele precisa é convencer o pessoal de análise de crédito que tem condições de bancar o aluguel – e para isso pode até contar com outros três “roommates” para totalizar a renda mensal necessária a provar. Curiosamente, essa que é hoje a grande vantagem competitiva da proptech – como são chamadas as startups do setor – demoraria a aparecer. Foi só
“O QuintoAndar tem méritos ao fazer um mercado notoriamente conservador começar a se mexer para resolver algumas fricções” Ricardo Paixão, Secovi
Colaboradores do QuintoAndar num dos andares do prédio da avenida Paulista e o estilo sem amarras do sócio André Penha
em 2018, e depois de um período em que o próprio QuintoAndar bancava um seguro-fiança convencional. Antes havia outros imperativos em tela. “Nesse mercado faltava transparência na negociação e sobrava assimetria de informações. Passamos a fazer com que o proprietário tivesse acesso a todas as propostas que iam chegando”, diz André. O QuintoAndar, nos números que gosta de veicular, derrubou o tempo médio para que um contrato de aluguel seja firmado no Brasil de cerca de um mês para quatro dias. O recorde de velocidade nessa negociação, segundo a empresa, é de um dia e meio.
ALEIAS DE STANFORD A ambição de ter um negócio que “faria diferença para a humanidade” estava, acredite, na cabeça dos mineiros. “Era algo que eu não conseguiria no mercado de games, em que seria mais um”, diz André. A megalomania, ao que consta, não é assim tão incomum nas aleias de Stanford, e André viu que o Brasil poderia ser bastante adequado para a pretensão. Devido a conceitos muito arraigados no imaginário do brasileiro, o mercado opera em bases mais amadoras. Além do mito da casa própria, suposto hedge para as incontáveis reviravoltas econômicas que nos assolam, há certo pudor em reformar imóveis de terceiros. Por isso, na reflexão de André, fundos imobiliários, tão comuns nos países do hemisfério
norte, não se estabeleceram no Brasil, fazendo do pequeno proprietário o locador brasileiro por excelência. Isso pode estar mudando (veja box). “Um engenheiro que vai colocar seus imóveis para alugar não tem tempo nem interesse para se preocupar muito com isso.” Como em tantos negócios de tecnologia, o grande ativo do QuintoAndar é a base de dados crescente que permite à empresa conhecer o perfil socioeconômico do cliente e entender suas preferências. A partir daí, é fazer o algoritmo trabalhar para surgirem novas ferramentas e serviços. Uma das frentes atuais é o programa Originals, que pretende melhorar a qualidade dos imóveis do portfólio, propondo PODER JOYCE PASCOWITCH 21
reformas aos proprietários, cuidando de sua contratação e eventualmente de seu financiamento – reforma, eis outra dor considerável do mundo que André e Gabriel parecem querer anestesiar. Nesse novo modelo, a remuneração do Quinto Andar não muda, vem ainda do percentual cobrado sobre o aluguel do imóvel, que, reformado e valorizado, poderia então render mais.
CONCENTRAÇÃO O desenvolvimento tecnológico fez surgir a economia compartilhada, mas quem esperava que ela pudesse ter um papel protagonista na reversão da concentração de renda ou mesmo no uso mais racional dos insumos pode ter sido um tanto panglossiano. A ponta mais exuberante desse processo, ao menos nos países periféricos, é a precarização dos empregos. Seja como for, serviços antes inexistentes, ou ao menos inexpressivos, são hoje realidade. O mundo aderiu alegremente a modelos como o do Uber e do Airbnb, e as proptechs querem surfar a onda. O último relatório anual da consultoria global KPMG sobre o assunto mostrou que 93% dos 270 respondentes do mundo inteiro viam necessidade de que as imobiliárias tradicionais se “engajassem com as companhias digitais do setor” para fazer frente às mudanças. Um terço delas, com efeito, já o fazia. Para Ricardo Paixão, vice-presidente da rede imobiliária Secovi-SP, grupo de 185 imobiliárias ligado ao sindicato patronal paulista do setor de habitação, “o QuintoAndar tem méritos ao fazer um mercado notoriamente conservador começar a se mexer para resolver algumas fricções”. Entre essas “fricções”, Paixão destaca a burocratização e os problemas decorrentes da morosidade do Judiciário. O executivo acha ainda que a transformação digital e as proptechs que lhe servem de vetor produzem um “efeito extremamente saudável no mercado”. “Não adianta resistir como um taxista. O mercado imobiliário já está se livrando desse modelo antigo”. Paixão não sabe dizer se o QuintoAndar vai um dia acabar por se tornar predatório no “ecossistema”, mas festeja a presença de startups similares, mas que atuam no mercado “b2b”, ou seja, conectando empresas a profissionais da área. Entre elas, as “insuretechs”, em que o algoritmo se debruça sobre os movimentos de demanda e oferta do mundo das apólices de seguro, oferecendo ao final produtos mais acessíveis e racionais para as imobiliárias. O Uber, estrela da economia compartilhada, é um dos modelos do QuintoAndar. Assim como a base de prestadores de serviço do Uber – basicamente qual-
AS TECHS VÃO ÀS COMPRAS
Se há algum consenso em torno do mercado imobiliário brasileiro, é que ele é tremendamente ineficiente. Até aí morreu o Neves: muitos setores são tremendamente ineficientes por aqui. Mas ele é também pulverizado, o que facilita a vida das “techs” que agora se aventuram nessa raia. Empresas como a novata Loft, o Grupo Zap (dos marketplaces imobiliários Zap e VivaReal) e a KeyCash navegam numa faixa paralela do QuintoAndar – a compra no atacado de imóxx O objetivo é reformá-los, valorizá-los e revendê-los, diminuindo o prazo veis. médio de negociação, que hoje é estimado em cerca de um ano e três meses. Para a primeira parte do processo, a compra, as techs contam com um argumento bastante persuasivo: pagamento à vista. Por essa razão são chamados de instant buyers. A Loft é um case: já na segunda rodada de investimentos levantou US$ 70 milhões, parte deles proveniente de fundos pesados, como o americano Andreessen Horowitz. Preocupado com o movimento, o Secovi-SP pretende ouvir os planos desses “ibuyers” num seminário, em agosto.
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quer pessoa que tenha habilitação para dirigir e um carro minimamente apresentável –, corretores inscritos na plataforma, sem qualquer vínculo empregatício com o QuintoAndar, acompanham a visita de interessados a imóveis. Há ainda demandas para fotógrafos freelancers, já que a propaganda (sempre digital) é boa parte da alma do negócio. Finalmente, ainda como o Uber, o QuintoAndar quer “escalar”, abrigando em seu marketplace uma base de “centenas de milhares” de imóveis. Só assim, segundo André, é possível “mexer de verdade no mercado”. No Brasil, ele espera trazer a faixa de 20% do acervo de imóveis disponíveis para locação para mais perto dos 50% das capitais desenvolvidas. Hoje ter investidores para bancar a ambição já não é um problema. O último colosso a entrar para o time foi a General Atlantic, que no Brasil também ajudou a inflar o balão do Gympass, da XP Investimentos e da Decolar, entre outras empresas. Sete anos depois da fundação, o cenário é bem diferente do arranque, lá em 2012, quando o QuintoAndar teve seu cronograma atrasado por conta de dúvidas e dívidas. Os mineiros deixaram Stanford rumo ao Brasil com um espeto da ordem de US$ 200 mil, fora as gastrites Há hoje no site do QuintoAndar imóveis disponíveis em 25 cidades brasileiras. Estão ali todas as capitais das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, com exceção de Cuiabá, Campo Grande e Vitória. Figuram ainda no portfólio diversos municípios de suas regiões metropolitanas. Por ora, o Nordeste é terra estrangeira. Quem sabe por ser o sertanejo, como dizia Euclides da Cunha, um forte. Não sente dor. n
“Nesse mercado faltava transparência na negociação e sobrava assimetria de informações” André Penha, QuintoAndar
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MEIO-TERMO
ALESSANDRO OCTAVIANI O professor de Direito Econômico da USP e ex-conselheiro do Cade, Alessandro Octaviani, acaba de lançar o livro Estatais, um diagnóstico das empresas brasileiras e sua comparação com a política dos países ricos sobre o assunto, e garante que o “família vende tudo” não é a solução para países que queiram crescer e se desenvolver POR FÁBIO DUTRA FOTOS JOÃO LEOCI
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drogas, árabes islâmicos, e quem sabe o que vem por aí depois? Detentores de reservas de água doce do mundo que não cuidam bem do patrimônio ambiental, talvez?”, ironiza, para em seguida explicar que o mundo é mais complexo. No caso da Previdência, por exemplo, há um fato: algumas carreiras impactam o custo público. Por outro lado, ao abrir mão de enriquecer no setor privado, os grandes profissionais que decidem entrar no serviço público ganham em troca pensões maiores. “É um pensamento estratégico sobre carreiras de Estado – e claro que devem ser definidas quais carreiras são essas e se não existem distorções”, define. E crava: “O Brasil tem muito mais problemas, só a Previdência não vai resolver tudo”. Sobre a onda liberal e desestatizante, o professor de Direito Econômico da USP e ex-conselheiro
um projeto de desenvolvimento planejado. Sobre JK, inclusive, escreveu um livro, mais precisamente sobre as provas do possível assassinato do ex-presidente pela ditadura militar. Recentemente, em abril de 2019, lançou um seriíssimo livro, Estatais, em que, ao lado de Irene Nohara, traça um perfil das empresas brasileiras e da tendência mundial no assunto. Num momento em que o governo se prepara para colocar um grande plano de desestatização no ar, veio muito a calhar. Se o Brasil precisa “tirar as crianças da sala” e aprofundar bastante as discussões acerca do modelo de desenvolvimento nacional, a publicação surge mesmo no momento certo. “A gente já está diante de algo que provavelmente não é real: nos Estados Unidos, até um tempo atrás, a grande panaceia era perseguir os comunistas, emplacar ditaduras militares mundo afora, aí ficaria tudo bem; mas não aconteceu, e foram mudando de tempos em tempos seu inimigo, dos comunistas para as
do Cade, entre 2011 e 2014 (tempos em que o órgão ganhou força com a edição de uma nova lei de concorrência que aumentou seu poder), é um pouco cético sobre o que chama de “amplo processo de precarização de direitos sociais, trabalhistas previdenciários, esvaziamento da universidade pública e
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ILUSTRAÇÕES ILUSTRAÇÕES ISTOCKPHOTO.COM ISTOCKPHOTO.COM
O
garçom entrega um belo copo de suco de tangerina e é recebido em êxtase pelo advogado paulistano Alessandro Octaviani: “É uma explosão de sabores. Quando está na época, eu não dispenso. Sempre penso que um imperador do passado não tinha acesso a isso, fruta brasileira eu gosto muito”, diz ele, animado. O nacionalismo é uma marca de toda a conversa – ele conta que tem uma bandeira do Brasil na sala e teve muitos embates com amigos da esquerda que não entendem essa exaltação –, e pode-se dizer que há sempre um tom desenvolvimentista no ar. A desconfiança aumenta quando ele cita os patriarcas e o cânone brasileiro democraticamente – de José Bonifácio a Darcy Ribeiro, passando por Juscelino Kubitschek e Anísio Teixeira – e repete incessantemente a necessidade de termos
“O Brasil tem muito mais problemas, só a Previdência não vai resolver tudo”
vendas da maioria das estatais”. Octaviani acredita que a conta não fecha porque “o grande capital que uma sociedade pode ter é a capacidade de gerar e gerenciar complexidade e criatividade econômica que está na sua população”, acredita. Ato contínuo, passa a citar um sem-número de grandes brasileiros, de Aleijadinho a Pelé, passando por Machado de Assis e Miguel Nicolelis, para provar sua tese. E, de quebra, impressionou os presentes com sua capacidade de memorização de nomes, datas e acontecimentos e encadeá-los de forma extremamente eloquente, cacoete que parece advir da docência. A desindustrialização brasileira, assunto diário do noticiário econômico, merece uma análise profunda, com evocações a textos de Charles Wright Mills, grande sociólogo norte-americano dos anos 1950 que estuda os conflitos da elite local. Para ele, essa dis-
puta explica em parte como o Brasil foi paulatinamente desfazendo a estrutura industrial que havia montado a partir da década de 1940. Ao lado disso, a voracidade por ganhos no curto prazo gera uma convergência de interesses entre o ganho do empresário individual e a agenda de desregulamentação, mas há, no médio prazo, a supressão de infraestruturas tecnológicas e científicas que nenhum empresário sozinho vai ser capaz de fazer. Como exemplo, o professor lembra da Embrapa e dos cultivares que a empresa criou, e que hoje garantem o sucesso do agronegócio brasileiro. Podemos ter calma, porém. Para o professor o jogo não acabou e não dá pra dizer que o mundo passou num cavalo que não montamos e o Brasil estaria condenado ao subdesenvolvimento. A China, lembra ele, até poucas décadas atrás, era o exemplo a não ser seguido: bilhões de habitantes, grau de analfabetismo enorme, linhas abaixo da miséria de todas as marcas ocidentais, guerras, e agora se prepara para passar os PODER JOYCE PASCOWITCH 27
“Os países discutindo 5G e aqui essa polarização que não dá conta da complexidade do mundo” Estados Unidos como maior economia do mundo. “Recompuseram a elite, hoje conectada ao povo, e usaram a densidade demográfica a favor da criatividade e complexidade econômica... Qualquer país que consiga equacionar essas questões vai ter o futuro brilhante pela frente, e o Brasil é o único país planetário da Terra, diria Darcy Ribeiro, e isso não é pouca coisa, essa mistura é nossa”, atesta, com dose controlada de ufanismo. Bem brasileiro, claro, pede logo um picadinho, tradicional no cardápio do La Tambouille, em São Paulo. Tem dificuldade para conseguir comer tamanho o interesse que tem em explicar todas as formas como o Brasil pode sair da recessão. E passa por boa política, repactuações. Superar a polarização também é importante, e ele sugere nomes à esquerda e à direita que podem fazer acontecer – sobram elogios para Flávio Dino, Manuela d’Ávila e Ciro Gomes, de um lado, e Antônio Carlos Magalhães Neto, de outro, como figuras que podem conduzir tais conversas e fazer o Brasil entrar no século 21: “Os países discutindo 5G e aqui essa polarização que definitivamente não dá conta da complexidade do mundo”, insiste. A ausência de um nome petista demonstra a divergência com o partido e a certa altura ele cutuca: “Lula Livre pra quê do ponto de vista político? Para colocar o Henrique Meirelles na Fazenda?”. Sobre a venda das estatais, Octaviani provoca: “Paulo Guedes pretende arrecadar cerca de R$ 80 bilhões com a venda das estatais, exatamente o lucro delas em 2018. Eu topo, mas só se a China, a Alemanha ou os EUA toparem nos vender alguma das estatais gigantescas que têm pelo resultado do último ano”. Ele explica que é falsa a noção de que o Brasil tem muitas estatais – são poucas centenas contrastadas com milhares norte-americanas, por exem-
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plo. E vários países reestatizaram diversas das empresas vendidas nos processos liberalizantes dos anos 1990 pós-consenso de Washington. Na Alemanha, é notório que os serviços públicos municipais, saneamento, energia elétrica e afins foram quase todos recuperados pelo Estado, já que se percebeu que a lógica privada não funciona para esses serviços básicos. O diagnóstico do livro é simples: há que se investir nas estatais lucrativas e/ou que sejam estratégicas para um projeto de desenvolvimento bem definido. E a impressionante pesquisa com dados profundos e bem esmiuçados pelos escritores sobre a situação das estatais brasileiras e mundo afora para haver comparativo é uma grande contribuição para um debate duro que vem pela frente e merece maturidade e argumentos técnicos para ser enfrentado.
FOTOS DIVULGAÇÃO;; REPRODUÇÃO
CONSUMO De aparência bem mais jovem do que seus 44 anos, ele recusa a política partidária para si e apoia candidaturas avulsas para atrair boas figuras para a política que não querem fazer parte do jogo de partidos e os beija-mãos de grandes empresários e políticos por financiamento de campanha. Para ele, viver é político: “Ser capaz de ler o país ou tratar com dignidade os funcionários do seu escritório, tudo isso são atos políticos, mas não me dou bem com as burocracias partidárias – nem com sua subordinação aos financiadores de campanha”, resume, e aproveita para lamentar que a reforma política não foi feita nem pelos tucanos nem pelos petistas quando puderam, o que é uma lástima para o país. Mas ele segue otimista que dá para fazer: “A desesperança em uma disputa já é um resultado alcançado pelo seu adversário; isso não significa ser irrealista, e sim não tomar a postura de que não há mais saída”, ensina. E lembra que “Churchill era um bêbado sarrista, intratável, estava derrotado e entregue a uma depressão etílica em seu sítio quando foi buscado para liderar a resistência à maior máquina de guerra criada até então, o Exército alemão de Adolf Hitler. Ele era um líder fora do comum e salvou o mundo do nazismo. Podemos adulterar nossa situação histórica, essa é a lição que se tira”. Alessandro Octaviani é filho de um imigrante galego que largou a escola nos primeiros anos e de uma brasileira que estudou até a oitava série. Seu extenso currículo acadêmico e profissional e vasto léxico de dar inveja a filólogos da Academia Brasileira de Letras parecem corroborar tal visão otimista de que somos senhores de nosso destino. n
POR ANA ELISA MEYER
GENA ROWLANDS E JOHN CASSAVETES
Considerados a rainha e o rei do cinema independente, a atriz Gena Rowlands, 89 anos, e o ator e diretor John Cassavetes redefiniram a história da sétima arte americana. Nascida no conservador estado de Wisconsin, em 1930, Gena se mudou para Nova York para estudar teatro aos 20 anos. Logo conheceu John, com quem teve quatro filhos, e trabalhou em nove dos seus 12 longas. O casamento durou 35 anos, até a morte de Cassavetes, em 1989, aos 59 anos.
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ENSAIO
AMYR A MIL
Muito bem nos próprios sapatos aos 63 anos, Amyr Klink se prepara para levar turistas pela primeira vez à Antártida no fim deste ano – de navio, sem epopeias arriscadas, bien sûr – e explica que Deus não tem tempo para se preocupar com a segurança de quem se mete em travessias marítimas por livre e espontânea vontade por fábio dutra
“A
fotos maurício nahas
qui não tem Deus”, Amyr Klink costuma dizer a seus tripulantes profissionais (ele não leva amadores por medo de que algum convidado se machuque durante as malucas rotas que percorre de barco mundo afora). E a explicação é saborosíssima: para esse filho de uma sueca e de um libanês criado em Paraty, eles são homens adultos que se colocaram naquela situação de risco por livre e espontânea vontade, de modo que devem sair de qualquer enrascada pela própria capacidade. “Com tantos problemas no mundo, Deus tem mais o que fazer do que se preocupar com aventureiros navegando por iniciativa própria em mares perigosos”, resume. A experiência no mar é bem vasta: desde a primeira epopeia, uma travessia atlântica solo a remo da Namíbia ao Brasil em 1984, até as viagens de navio em que levará tripulantes pagos para a Antártida pela primeira vez em pequenos navios noruegueses a partir do fim de 2019, foram centenas de roteiros mundo afora. Mas não lhe rendeu exatamente um fervor religioso (ele tem alguma restrição às religiões por conta das guerras na terra natal do pai, que o indignam “por uns quererem vender sua fé para o outro à força”), mesmo com todos os apuros que passou por aí. O grande ensinamento que ele tira dessas experiências, no entanto, tem um quê de espiritual: “Um barco é uma unidade independente em que você
“O que eu mais gosto no barco é que ele afunda, então ali só tem deveres: se tem água dentro do barco, você não pode dormir, comer, nada, até resolver o problema” precisa fazer tudo, até gerar energia, e a gente percebe a quantidade de provedores que a gente tem e nem lembra – e o quanto provemos para os outros também”, diz, satisfeito com a noção de comunidade que aplica no dia a dia. Ele emprega nada menos do que 800 pessoas, a maioria em Paraty, “e todos ganham mais do que um gerente de banco comercial”, diz, orgulhoso de pagar bem a seus provedores diretos. O economista, formado pela USP, mais parece um engenheiro: olha todos os detalhes do mobiliário do fotógrafo Maurício Nahas, atentando-se às minúcias da montagem. Explica que tem uma marcenaria na qual inventa coisas à noite. Ele também projeta barcos, que confia a armadores do sul do país – todos os anos ele busca duas embarcações para revender em Paraty, na Marina do Engenho. Ali, inclusive, tem uma gigantesca geodésica de Fuller, outro de seus hobbies (geodésicas são esferas perfeitas construídas a partir de retângulos áureos; as dele são feitas de alumínio e se parecem com a famosa grande bola do parque Epcot Center, no Walt Disney World). Mas de ser fotografado ele não gosta, como deixa claro desde o início, mesmo que esteja acostumado por ser casado com uma profissional dos cliques, Marina Bandeira. Gosta do resultado, belos retratos com itens de decoração que coleciona em seu escritório paulistano, todos remetendo ao mar, claro. A paixão pela água é tamanha que agora ele pretende construir também casas populares flutuantes (sustentáveis e mais em conta que as terrestres, que arrasam o terreno). Ele deixa mais um ensinamento antes de ir embora: “O que eu mais gosto no barco é que ele afunda, então ali só tem deveres: se tem água dentro do barco, você não pode dormir, comer, nada, até resolver o problema”. Nota pessoal: quando eu era um pequeno e voraz leitor, costumava achar que Amyr Klink era um super-herói. Depois de entrevistá-lo, tenho certeza. n
Beleza: Alê Fagundes (Capa MGT) Arte: David Nefussi Produção executiva: Ana Elisa Meyer Assistentes de fotografia: Bruno Guimarães e Debora Freitas
RESPIRO
SÍNTESE DO BRASIL
Se um dos personagens mais famosos do modernismo brasileiro, Macunaíma, o “herói sem caráter” de Mário de Andrade, andasse por aí hoje em dia, ele talvez dissesse seu bordão “ai, que preguiça” a cada minuto. Pois o Brasil que o personagem epitomiza dá mesmo preguiça, insistindo em não pegar, mesmo, no tranco. Macunaíma foi escrito nos anos 1920, mas foi Grande Otelo, no filme de Joaquim Pedro de Andrade, quatro décadas depois, que lhe eternizou – era a versão 100% negra; Paulo José fazia o Macunaíma branco. Nessa época Grande Otelo já era muito Grande Otelo. Começou no teatro de revista nos anos 1920 e atuou em 48 filmes entre as décadas de 1930 e 1950. Foi estrela da Atlântida e apresentou a cachaça a Orson Welles quando o grande cineasta americano veio ao Brasil filmar É Tudo Verdade. Welles via um Carlitos em Otelo, e, segundo consta, isso não era por conta da marvada.
FOTO REPRODUÇÃO
ENIGMA
Bilionรกrios de todo o mundo dรฃo dicas em livro de como chegar aonde eles mesmos chegaram POR ANDERSON ANTUNES
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O
centro de convenções CHI Health Center, de Omaha, a maior cidade do estado americano do Nebraska, costuma receber milhares de pessoas vindas de vários cantos dos Estados Unidos e até de outros países todo mês de maio. Muitos são investidores que mantêm partes de suas economias em ações da Berkshire Hathaway, a holding de investimentos de Warren Buffett, responsável pela organização do megaevento anual. A turma vai lá não somente para conhecer as últimas impressões sobre seus portfólios diretamente do oráculo – Buffet não perde uma edição do encontrão. O que todos aguardam ansiosamente é a parte em que ele dá palpites de como qualquer um daqueles pequenos investidores pode vir a se tornar um bilionário. E, como Warren Buffet, entrar para a parcela dos 1% mais abastados do planeta. Certa vez, questionado por um desses minoritários da Berkshire se havia, de fato, algum segredo para ficar podre de rico, o detentor da hoje terceira maior fortuna do mundo respondeu citando quatro passos básicos: “Candidate-se a um emprego, preencha um currículo, vista-se bem para a entrevista e, por fim, pergunte ao esse quem sabe seu futuro patrão como ele criou a empresa na qual você pretende trabalhar”, brincou, mas meio que falando sério e dando a entender que não se chega a lugar algum sem trabalho ou dedicação. Bilionários costumam concordar com esse postulado. É preciso lembrar, afinal, que há pouco mais de 2.100 pessoas na Terra com fortunas iguais ou superiores a US$ 1 bilhão – 56 delas no Brasil. Considerada a população mundial, sua chance de se tornar o próximo bilionário é de 1 em quase 3,5 milhões. Boa sorte. Rafael Badziag, empreendedor alemão que ganha a vida dando dicas sobre esse assunto, contudo, acredita que pode ter desvendado o enigma que abre a porta do clube do bilhão. No livro que acaba de lançar nos Estados Unidos, The Billion Dollar Secret: 20 Principles of Billionaire Wealth and Success (O Segredo de Um Bilhão de Dólares: 20 Princípios Sobre Riqueza e Sucesso de Acordo com Bilionários, em tradução livre), diz como duas dezenas desses sortudos “chegaram lá”. Inspirado no clássico Think and Grow Rich (Pense e Enriqueça), escrito ao longo de mais de 20 anos e publicado, em 1937, por Napoleon Hill a partir de uma sugestão do magnata e filantropo Andrew Carnegie, The Billion Dollar Secret é objetivo naquilo a que se propõe, mas não difere muito de outros livros de autoajuda financeira que “vendem” objetivos mais alcançáveis, como quitar a dívida do cartão ou simplesmente adquirir a disciplina necessária para economizar. Ainda assim, é bastante revelador no que diz respeito aos personagens que aborda e que são, salvo raríssimas exceções, pouco conhecidos do grande público. É o caso do indiano N. R. Narayana MurPODER JOYCE PASCOWITCH 39
Warren Buffet thy, uma espécie de Bill Gates da Índia que foi do zero ao primeiro bilhão (de dólares) graças ao sucesso da empresa de desenvolvimento de softwares que fundou, a Infosys. Primeira companhia indiana listada na bolsa eletrônica americana Nasdaq, a Infosys já rendeu bilhões de dólares a outros seis sócios e fez mais de 4 mil milionários até hoje. Como isso foi possível? “É algo que está dentro de você, tem que acreditar e jamais se render diante de obstáculos”, Murthy contou a Badziag. Detalhe: quando juntou o capital necessário para abrir as portas da empresa, Murthy, que hoje é dono de um patrimônio pessoal estimado em US$ 2,4 bilhões, nem sequer tinha um computador. De trajetória tão intrigante quanto a de Murthy, o polonês Michal Solowow conseguiu a proeza de se tornar bilionário (com respeitáveis US$ 3,3 bilhões na conta) sem abusar das conexões com o Kremlin, como fizeram muitos de seus conterrâneos. Ele preferiu investir o primeiro milhão que amealhou construindo casas nos anos 1990 na bolsa polonesa, que viria a turbinar a partir dos anos 2000. Cultor de metáforas, Solowow disse a Badziag que os negócios são como a Olimpíada. “Você sempre precisa focar na medalha de ouro, o que por si só vai trazer inúmeros outros benefícios e dar mais ‘gás’ para a conquista de novas medalhas.” Até o investidor brasileiro Lírio Parisotto entrou na roda. Descrito pelo alemão como possivelmente “o mais inovador” entre todos os bilionários que entre-
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WARREN BUFFETT
LÍRIO PARISOTTO
Caminho para El Dorado: três dos entrevistados, entre eles o brasileiro Lírio Parisotto
N. R. NARAYANA MURTHY
FOTOS PAULO FREITAS; GETTY IMAGES; REPRODUÇÃO
“Candidate-se a um emprego, preencha um currículo, vista-se e, por fim, pergunte ao seu futuro patrão como ele criou a empresa”
vistou, o fundador da Videolar, empresa que produzia fitas magnéticas (VHS e K-7), e que depois também passou pelo setor petroquímico, hoje ganha dinheiro investindo na bolsa brasileira. “É preciso assumir a responsabilidade pelas pessoas ao seu redor e focar em objetivos, de preferência grandes”, ensinou o gaúcho da pequena Nova Bassano, a cerca de 100 quilômetros de Caxias do Sul. O segredo do bilhão de Badziag nada mais é do que uma ponderação feita no retrovisor por quem já se deu bem na vida, mas como bem lembrou Steve Jobs em seu discurso de formatura de uma turma da Universidade Stanford, em 2005, os pontos só se ligam quando você passa por eles. Visto de fora, essas análises servem mais para inspirar do que para guiar. Ou para facilitar as coisas para aqueles que já estão no caminho certo. “Esse livro teria sido perfeito para mim na juventude, teria me poupado a energia gasta com a leitura de outras coisas”, destacou o próprio Parisotto. Nisso, aliás, Warren Buffett concordaria, já que uma das frases mais famosas do oráculo de Omaha é a de que “sem paixão, não se tem energia”. “E”, segue, “sem energia, não se tem nada.” Palavras de quem tem mais de US$ 88 bilhões. n
PODER INDICA
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OTIMISMO À VISTA
RONALDO PEREIRA JUNIOR, CEO da Óticas Carol, conseguiu unir sua paixão pelo mercado com o objetivo da rede em democratizar o acesso à visão a todos os brasileiros. Desse modo, obteve resultados impressionantes na última década no crescimento em número de lojas: de apenas duas unidades em Sorocaba-SP, em 1997, para 1.250 estabelecimentos espalhados pelo país. O case de sucesso continua sendo referência entre os empreendedores e grandes empresas, mas, para Ronaldo, ainda há muito para evoluir.
Por essa razão é que a maior rede de franquia ótica do Brasil – recentemente adquirida pelo Grupo Luxottica – está em busca de novos investidores. E, para cativá-los, a Óticas Carol está com taxa zero para a abertura de novas franquias até o fim do mês de julho. Com a missão de fornecer a melhor plataforma para o crescimento sustentável da rede, o único pré-requisito que não pode escapar ao franqueado é ser tão apaixonado pelo negócio quanto o próprio CEO.
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SATISFAÇÃO GARANTIDA
A PROVA DOS NOVE
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Onde está a felicidade? Chegar ao cume talvez não seja a melhor maneira de ser feliz, na metáfora do especialista da Harvard Tal Ben-Shahar, para quem a experiência de encarar a montanha é o que verdadeiramente conta POR VICTOR SANTOS
ILUSTRAÇÃO FREEPIK
O
que é felicidade? Como consegui-la? No século 5 a.C., a Grécia foi palco de discussão dos filósofos cínicos que duvidavam das possibilidades do ser humano alcançar a felicidade no momento em que se submetiam às normas vigentes. Segundo os cínicos, tal busca só teria sucesso se o comportamento fosse guiado pelo impulso natural de cada um. Apesar da radicalidade desses pensadores, que tinham como prática renunciar aos bens materiais, suas provocações ribombaram ao longo do tempo. Alcançar a felicidade é uma questão universal, geradora de boa parte da produção cultural conhecida. Sem o postulado cínico, até mesmo o sambista Martinho da Vila nadou de braçada no tema. Em sua antiga canção “O Pequeno Burguês” insere já no primeiro verso todo o drama do suburbano que, ao entrar na universidade, tem de se entender com os boletos bancários. “Felicidade! Passei no vestibular, mas a faculdade... É particular.” Ingressar na faculdade ou na empresa dos sonhos, conquistar um cargo desejado, concluir um projeto inovador, receber um aumento salarial cobiçado... entre todas essas realizações, o sentimento de felicidade, quem sabe até de plenitude, pode ser vivido – por um momento. O problema é que a busca da felicidade e as regras provenientes do contrato social entram em choque com certa frequência. Cabe então a pergunta: a conquista gera felicidade? Por pouco tempo, talvez sim; a longo prazo, provavelmente não. Foi nesse contexto que o professor de um dos cursos mais concorridos da Universidade Harvard, Tal Ben-Shahar, autor do best-seller Seja Mais Feliz, e que atua no âmbito da chamada psicologia positiva, cunhou o termo “arrival fallacy”, ou, a falácia da chegada, em tradução literal. A ideia é que aquilo que as
pessoas normalmente projetam alcançar com a consecução de um objetivo, de valor claramente positivo, esse “algo” pode se desmanchar no ar ato contínuo. “Felicidade não consiste em chegar ao pico de uma montanha, nem em fazer uma escalada sem rumo, felicidade é a experiência de subir até o topo”, explica Tal Ben-Shahar. Na esfera exclusiva do trabalho passa-se algo semelhante. A psicóloga e coach de carreira e desenvolvimento pessoal Eliana Totti aponta três fatores que ela considera muito importantes no âmbito motivacional – fatores até mais relevantes do que o sucesso na consecução dos objetivos: o conhecimento do que se faz; o propósito, conceito em voga que em que se vê um sentido muito maior na labuta do que a mera sobrevivência; e a autonomia de criar e desenvolver o próprio trabalho, o que proporciona um sentimento de valorização profissional. Todos esses pontos, vale ressaltar, não tendem a gerar um estado contínuo de felicidade, segundo a consultora. “A felicidade em si não é um estado perene e a tristeza também tem uma função importante na vida, só é preciso entender como lidar com ela de maneira saudável”, diz Eliana, ressaltando que tudo depende de uma busca consciente pelo equilíbrio, de não se deixar submergir pelos sentimentos ruins e tampouco projetar expectativas futuras em algo específico. Sobre o vil metal, é ainda mais categórica: “Salário não motiva ninguém. Se fosse assim teríamos muitas pessoas ganhando bem e sendo felizes”. Eis um bom exemplo: morador da cidade de Maria da Fé, sul de Minas Gerais, o escultor Domingos Tótora foi buscar a felicidade longe da correria de um grande centro. Do alto da serra da Mantiqueira, viu seu trabalho ganhar o mundo – inclua aí vendas na casa de leilões Sotheby’s e em galerias internacionais. “Tudo o que eu preciso para criar eu tenho aqui, no meio dessa beleza”, conta. “Não existem mais fronteiras. Este ano abro uma exposição em Los Angeles. E posso estar aqui, caminhar de manhã com meus cachorros, aproveitar a beleza da região, a luz da serra. Tudo o que me faz um bem danado.” A busca pela alegria não tem uma regra que possa abranger todas as pessoas, cada um deve buscar o que lhe possibilite isso. Há ainda um aspecto geracional. Na visão de Eliana Totti, as gerações mais maduras, como a X e a do baby boom aprenderam a valorizar a conquista de objetivos, até com base no sacrifício, no intuito de, assim, atingir a satisfação. Por outro lado, PODER JOYCE PASCOWITCH 43
“Felicidade não consiste em chegar ao pico de uma montanha, nem em fazer uma escalada sem rumo, felicidade é a experiência de subir até o topo” TAL BEN-SHAHAR, ESCRITOR E PROFESSOR DA UNIVERSIDADE HARVARD
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ressalva de que a falácia da chegada não deve servir de desculpa para aceitar uma vida medíocre. O importante é conscientizar-se de que a crença na cultura de alcançar metas pode ser frustrante; e de que a procura pelo valor está em cada passo da caminhada, não apenas no trabalho. Equilibrar com sabedoria trabalho, família e lazer é uma tarefa difícil, porém é bem mais produtivo se engajar naquilo que se faz presentemente do que projetar conquistas, que serão pequenos motores de momentos de prazer. Uma boa sacada para entender a equação veio de Vinicius de Moraes (sempre ele!) nos versos de A Felicidade. Canta o poetinha: “A felicidade é como a pluma, que o vento vai levando pelo ar. Voa tão leve, mas tem a vida breve. Precisa que haja vento sem parar”. n
ILUSTRAÇÃO FREEPIK
gerações como a Y têm um entendimento diferente e encontram no processo o espaço para a busca de bem-estar. O que uniformiza as disparidades são os fatores externos. Eliana cita a pesquisadora da Universidade de Houston Brené Brown quando afirma: “Não é o sucesso que traz felicidade, é o seu estado de felicidade que provoca o seu sucesso”. O professor Tal Ben-Shahar também traz em seus livros uma
PODER INDICA
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MOOD INVERNAL
Junho marca o início do inverno no Hemisfério Sul. A luz solar incide com menor força e a mudança de estação vem acompanhada de dias gelados e noites mais longas. Sabe aquela vontade de ficar em casa, no conforto de um moletom quentinho, e no abraço do sofá? Não se preocupe, é supernormal e pega todo mundo. O solstício de inverno traz o frio e uma necessidade maior de recolhimento. Com as linhas de mantas e cobertores da TROUSSEAU, qualquer programa fora dos sofás vai parecer menos convidativo – pijamas de pima de manga longa completam o mood invernal. E como é importante aceitar e acolher suas demandas internas, mas equilibrá-las com os compromissos sociais, a linha everywear da marca possui opções para se manter aquecido fora de casa. Para dias ainda mais frios, cashmere é a pedida certa, mesclando conforto com elegância sem perder o estilo. TROUSSEAU.COM.BR
SOB MEDIDA POR FERNANDA GRILO UMA FRASE:
“O exemplo não é a melhor forma de ensinar algo para alguém. É a única.” UM DISCO:
Duetos, de Roberto Carlos. UM SONHO:
Ser avô. UMA MANIA:
Objetos colocados em simetria. UM DEFEITO:
Busca pela excelência, em tudo. UM MEDO:
Medo de ter medo. A PRÓXIMA VIAGEM:
Nice, na França, para o Mundial de Meio Ironman. LUGAR PREFERIDO NO MUNDO:
Nova York. COM O QUE SE PREOCUPA: A DOENÇA DO SÉCULO:
Falta de respeito para com o outro. DECIDIU SER MÉDICO:
Quando percebi minha vocação de servir ao próximo. DESAFIO NA PROFISSÃO:
Fazer o paciente entender que está, por vezes, em processo de suicídio lento. QUEM VOCÊ GOSTARIA DE SER:
Um dos meus assistentes. Eles são mais rápidos e melhores do que eu. O QUE FARIA SE FICASSE INVISÍVEL POR UM MINUTO:
Visitaria a dark web.
ARTHUR GUERRA Reconhecido por seu trabalho no tratamento de pacientes com transtornos psiquiátricos ou histórico de abuso de álcool e drogas, desde 2017 o médico coordena o programa municipal Redenção, voltado aos dependentes químicos da Cracolândia de São Paulo.
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O QUE FALTA REALIZAR NA SUA VIDA: O QUE SEMPRE FALTA NA SUA CASA:
Netos. A PRIMEIRA COISA QUE FAZ QUANDO CHEGA AO TRABALHO:
Definir o que é mais urgente e quem vai fazer o quê. UMA BEBIDA:
Suco natural.
Diminuir ainda mais o número de pessoas na Cracolândia. O QUE ESPERA DE SEUS PACIENTES:
Que digam: “Doutor, o senhor é muito chato”. LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS:
Sou a favor da descriminalização da maconha.
FOTOS ARQUIVO PESSOAL; GETTY IMAGES; RAQUEL CUNHA/TV GLOBO; FREEPIK; REPRODUÇÃO; DIVULGAÇÃO
Com o mundo usando mais drogas.
UMA QUALIDADE:
Determinação.
UM ESCRITOR:
Fernando Pessoa.
NÃO PODE FALTAR NO CAFÉ DA MANHÃ:
RESTAURANTE PREFERIDO:
Balthazar, em Nova York.
UM FILME:
2001 - Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick.
Uma fatia de manga e um copo de suco verde.
UM VÍCIO:
Participar do Ironman.
UM LIVRO:
Os Pilares da Terra, da Ken Follett SER BEM-SUCEDIDO É:
Dormir gostoso à noite. A MELHOR HORA DO DIA:
Cinco da manhã, a hora que acordo. UM ÍDOLO:
Michael Jordan. COMIDA PREFERIDA:
Espaguete à carbonara. GADGET:
ONDE E QUANDO É MAIS FELIZ:
Na praia da Baleia, com família e amigos.
Relógios Garmin.
ARTISTA PREFERIDO:
Lulu Santos, corajoso.
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FERVE
SONIA HESS E BRUNO LASKOWSKI LUIZ SANDLER E CHARLÔ WHATELY
PALADAR APURADO
O Evvai, restaurante recém-estrelado no Guia Michelin, recebeu mais uma edição do Almoço de PODER. No menu preparado pelo chef Luiz Filipe Souza, pães de fermentação natural, burrata, massas deliciosas e costela ao vinho tinto. Para sobremesa, sorbetto de amêndoas com cremoso de gianduia. Joyce Pascowitch foi a anfitriã do evento que contou com executivos e poderosos.
LAURETTA DA MARTINICA
PRISCILLA ZOGBI
CAMILA CARNEIRO
RENATO JANINE RIBEIRO
CHEF LUIZ FILIPE SOUZA
ALCIONE ALBANESI
ROSY VERDI, ISABEL HUMBERG E ADRIANA TRUSSARDI
ANDRÉ RODRIGUES
JOYCE PASCOWITCH, CLAUDIA COHN E ARTHUR GUERRA
NINA PANDOLFO
FOTOS PAULO FREITAS
FOTOS PAULO FREITAS
MARCO ANTONIO SABINO
RÉGIS ANDAKU
LEONARDO MARIGO
LEILA JACY
MARCO ANTONIO SABINO
GABRIELA BAUMGART
Focado no cliente premium, o Alta Excelência Diagnóstica não poderia faltar. O centro de diagnósticos presenteou os poderosos com um kit contendo bloco de notas, caneta personalizada e o doce da sobremesa. Indispensáveis.
GIFT DO ALTA EXCELÊNCIA DIAGNÓSTICA
ADRIANA TRUSSARDI
ARTHUR GUERRA
CLAUDIA COHN
GLAUBER BRITTO
ISABEL HUMBERG
BRUNO LASKOWSKI
FOTOS PAULO FREITAS
EXCELÊNCIA
ROSY VERDI E ALICE COUTINHO
FOTOS PAULO FREITAS
MARLY PARRA
FELIPE SIGRIST
ALCIONE ALBANESI
COMO VOCÊ NUNCA IMAGINOU
A Tishman Speyer, parceira do Grupo Glamurama, participou do Almoço de PODER e apresentou aos convidados seu mais novo projeto, o Alameda Jardins, sinônimo de alto padrão e investimento inteligente.
GIFT DA TISHMAN SPEYER PARA OS CONVIDADOS CAROLINE ALBANESI
GABRIELA HOELZ
MAIS EM GLAMURAMA.COM/FOTOS
ROBERTA TILKIAN
PODER VIAJA POR ADRIANA NAZARIAN
REPOUSO NA TORRE
Neste verão europeu, a dica é passar alguns dias na despretensiosa ilha de Ischia. Isso porque o destino italiano ganhou recentemente o Mezzatorre, hotel dos mesmos donos do Il Pellicano. Com vista para Nápoles, a novidade fica em uma torre do século 16 toda restaurada. Ganhou spa que usa a água termal da própria Ischia, conhecida por suas propriedades de cura, piscina de frente para o mar, quadra de tênis e restaurante focado na cozinha local. Além de curtir momentos de sossego, o hotel é ponto de partida para as atrações do destino, caso do Castello Aragonese +MEZZATORRE.IT
PASSAGEM
Se desbravar o Bósforo, em Istambul, já é um programa imperdível, imagine fazê-lo a bordo de um Rolls-Royce. O hotel ShangriLa adquiriu seu próprio carro para promover experiências diferentes no estreito que liga o Mar Negro ao Mar de Mármara. Entre as opções, há passeios que passam pelos lados asiático e europeu com direito a paradas em colinas como a Çamlica Hill; roteiro de compras a partir dos melhores artesãos turcos e até um tour de cafés com narguilés. +SHANGRI-LA.COM
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ALÉM DOS CORAIS
Esqueça os barcos convencionais que exploram a Great Barrier Reef, na Austrália. A dica agora é embarcar no scUber, o novo submarino da Uber lançado em parceria com o Estado de Queensland. Com duração de uma hora e capacidade para duas pessoas, as corridas submersas pela exuberante vida marinha da região dão direito a um voo de helicóptero na volta. E um uber, claro, te busca e te leva de volta ao seu endereço. Agora, é torcer para novidade se espalhar pelos sete mares. +SCUBERQUEENSLAND.COM
ERA UMA VEZ
Tem novo hotel em Lisboa que merece visita. A poucos metros da avenida da Liberdade e da Praça dos Restauradores, o The One Palácio da Anunciada fica em um palácio do século 16 que ganhou toques contemporâneos, mas manteve sua história – especialistas em arte ajudaram a manter detalhes como os afrescos e os pisos de mármore. São 83 quartos, muitos com vista para o jardim interno e suas árvores centenárias. Ainda tem spa com tratamentos by Natura Bissé, restaurante de influência mediterrânea e wine bar. Em tempo: a novidade faz parte da divisão de luxo do grupo hoteleiro espanhol H10. +H10HOTELS.COM
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LUCIANA NASCIMENTO, SR Public Relations Manager do portfólio Reserve da Diageo
“Tento ir uma vez por ano para a Dinamarca. Copenhague é apaixonante! Faço tudo de bicicleta. Os dias começam com um brunch – meus favoritos são os do Ipsen & Co e do Wulff & Konstali. O roteiro segue em direção aos lagos e passa pelo Jardim Botânico, repleto de flores raras e tulipas exuberantes. O trajeto continua até Kings Garden, onde é possível admirar o castelo Rosenborg. De lá, vale uma parada em Nyhavn, o antigo porto, e em Strøget, na La Glace, doceria tradicional - experimente o sportskage. Outra parada obrigatória é a Round Tower. Finalize o dia no parque de diversões mais antigo do mundo, o Tivoli.”
PONTO DE LUZ
Boa-nova em Milão. O designer Tom Dixon acaba de inaugurar um espaço nada convencional na cidade. Para começar, o endereço batizado de The Manzoni é um showroom que apresenta as criações mais recentes do artista tunisiano radicado em Londres – espere por cadeiras de laca, mesas de pedras de lava e luminárias mil, tudo em ambiente real. Depois, o espaço também funciona como restaurante comandado pela chef Marta Pulini. No cardápio, clássicos do sul da Itália ganham toques contemporâneos e são feitos com os ingredientes da estação. +THEMANZONI.COM
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HIGH-TECH POR FERNANDA BOTTONI
AGENTE DISCRETO AUTOMATIC PRO CAR ADAPTER
O Automatic Pro é uma espécie de sensor inteligente que possibilita saber pelo celular onde está o seu carro, se ele está em movimento ou estacionado, por exemplo. O aparelhinho se conecta à porta do OBD-II (diagnóstico on-board). Além de recursos de segurança básicos, oferece rastreamento de quilometragem e alertas de falhas que mantêm você atualizado sobre o status de seu carro. AUTOMATIC.COM PREÇO: R$ 382
B SAFE
Para utilizar este app é preciso adicionar amigos de confiança que devem aceitar o convite para serem seus “anjos da guarda”. São eles que receberão avisos quando você estiver em situação de perigo. O app tem algumas funções interessantes, como compartilhamento da sua localização e envio rápido de pedido de ajuda (ícone de S.O.S.). Esse aviso de que você está em perigo é encaminhado juntamente com um vídeo que mostra o momento em que pediu ajuda. GETBSAFE.COM PREÇO: GRATUITO
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PROTEGEAR A*LIVE
O A*LIVE é um gadget de proteção pessoal feito especificamente para manter a sua vida em situações extremas. A principal função do assistente é enviar sinal de socorro para pedir ajuda imediatamente com base na sua frequência cardíaca, em movimentos incomuns e alguns outros fatores. O fabricante garante que o produto é global – sem dead zones – e tem rastreamento em tempo real por GPS e BLE (Bluetooth Low Energy). PROTEGEAR.ORG PREÇO: AINDA NÃO DISPONÍVEL
RENATA FRANÇA,
esteticista e dona do Spa Renata França “Não vivo sem o Instagram, que é superimportante para o meu trabalho. Depois vem o Repost, que uso para replicar os trabalhos das minhas pupilas. E amo o Spotify, concentro toda a playlist dos meus cursos. Outra ferramenta maravilhosa é o Trello, para coordenar com a minha equipe todos os projetos em andamento. E eu não posso deixar de mencionar, claro, o app Spa Renata França (risos!). Com ele, nossos clientes podem agendar o melhor horário para receber as massagens do meu método.”
PREÇOS PESQUISADOS PESQUISADOS EM EM JUNHO, JUNHO, SUJEITOS SUJEITOS AA ALTERAÇÕES; ALTERAÇÕES; FOTOS FOTOS DIVULGAÇÃO DIVULGAÇÃO ** PREÇOS
Apps e gadgets, alguns deles bem pequenos, que podem ser poderosos na hora de proteger sua vida, sua família, seu carro e sua casa
CANARY VIEW
Esta solução de segurança all-in-one é suficientemente inteligente para conhecer a rotina da casa e enviar alertas em vídeo e áudio diretamente para o seu celular caso alguma movimentação parecer suspeita. A solução tem uma câmera HD poderosa com visão noturna, detecção de pessoas com inteligência artificial, microfone e alto-falante para permitir que o usuário se comunique com qualquer pessoa (ou até mesmo o pet!) que esteja na casa. Para completar, não requer instalação e não tem cara de câmera de segurança. CANARY.IS PREÇO: R$ 189
AUGUST SMART LOCK PRO
Chave é coisa do passado. Pelo menos é isso o que a August Smart Lock dá a entender. Com ela, você pode abrir e fechar a porta para amigos e familiares de qualquer lugar, apenas usando o celular. Quer mais? Quando você se aproxima, ela desboqueia automaticamente. E, claro, volta a travar assim que você se afastar novamente. Funciona com Siri, Amazon Alexa e Google Assistant. AUGUST.COM PREÇO: R$ 767
GOTENNA MESH
A ideia do goTenna Mesh é que você nunca fique incomunicável onde quer que esteja. Para isso, o aparelho permite o envio de mensagens e coordenadas de GPS, mesmo quando não há cobertura de celular ou wi-fi nas proximidades. Além disso, vários goTenna podem ser conectados para criar uma pequena rede para situações de emergência – uma trilha na floresta, por exemplo. Pode ser integrado a celulares iOS e Android.
CLOSECIRCLE
O CloseCircle se propõe a ser um serviço que confere proteção global 24 horas ao rastrear seus passos e fornecer alertas de segurança em qualquer lugar do mundo em que esteja. O aplicativo tem ainda um botão de pânico S.O.S. que conecta você imediatamente a especialistas em segurança experientes que podem dar orientações e, se necessário, até organizar sua evacuação imediata, sem nenhum custo extra. O serviço pode ser contratado individualmente ou para famílias de até seis pessoas.
CLOSECIRCLE.COM PREÇO: A PARTIR DE R$ 242 (ASSINATURA DE TRÊS MESES PACOTE INDIVIDUAL)
GOTENNA.COM PREÇO: R$ 690
TELLO DRONE DJI
Com alcance de 100 metros, o Tello é um drone ultracompacto. Voa até 13 minutos, realiza filmagens em HD 720p, fotos em 5MP e possui controle de estabilização eletrônico de imagens. Além disso, tem grande precisão quando parado no ar. E o melhor: é fácil, bem fácil de comandar por celular ou gamepad bluetooth. Disponível nas lojas Fast Shop dos shoppings Iguatemi, JK e Pátio Higienópolis. FASTSHOP.COM.BR PREÇO: R$ 677
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CULTURA INC. POR LUÍS COSTA
A S E M À O H N I T U CO
Filme traz entrevista com o diretor Eduardo Coutinho (1933-2014), reflexão sobre seu cinema documental, que chamava de “quase ficção”
E
duardo Coutinho, gigante do cinema, aos 78 anos. Josafá Veloso, cineasta estreante, aos 28. A longa conversa, em 2012, resultou no documentário Banquete Coutinho, que deve chegar aos cinemas neste semestre. Mais importante documentarista do país, Eduardo Coutinho, que morreria dois anos depois, em fevereiro de 2014, revisita seus filmes e fala de si, do cinema e da vida. O documentário parte de uma premissa, ou, melhor dizendo, de uma pergunta: O diretor de clássicos como Cabra Marcado para Morrer (1984), Santo Forte (1999), Edifício Master (2002), Jogo de Cena (2007) e As Canções (2011), entre vários
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outros, teria feito sempre o mesmo filme? “Não tem resposta”, diz Veloso, doutorando em audiovisual na USP. “O Coutinho é avesso a qualquer tipo de caracterização fácil”, afirma. Coutinho trata o seu cinema documental como “quase ficção”, um híbrido entre a realidade que a câmera capta, a performance dos personagens e a montagem autoral. Foi uma longa preparação até o encontro. Entusiasta da obra de Coutinho desde a adolescência, Veloso
O diretor estreante, Josafá Veloso, que lança Banquete Coutinho
conhecia bem trechos de filmes, citações, autores que fizeram a cabeça do documentarista – que conservava uma pasta com páginas arrancadas de livros com trechos escolhidos. Até um cigarro artesanal Veloso levou à conversa, sabedor que pessoas que fumam gostam de conversar com outras pessoas que fumam. Antes do encontro, só houve breves diálogos por telefone. O jeito fechado, ranzinza, de Coutinho foi sendo vencido. Quando Veloso mencionou o filme alemão A Morte de Empédocles (1987), o mestre ficou entusiasmado. “O tempo parou. A palavra começou a ficar quente”, lembra Veloso. Na montagem de Eugenio Puppo e Gustavo Vasconcelos, a conversa é combinada a um denso repertório de imagens. Feito em parceria com o Canal Curta!, o filme foi gestado sem pressa. “Quis fazer um filme artesanal e ao mesmo tempo ter tempo livre para encontrar o filme que eu queria”, diz Veloso, que também é músico e assina a trilha sonora do longa.
PODER É 1 - TERRA BRASILIS O fotógrafo João Farkas produziu uma série de fotografias para o projeto Documenta Pantanal, que busca registrar essa que é a maior extensão contínua de área alagada do planeta. As fotos integram a exposição Brazil Land & Soul, que já passou por Londres e fica até o dia 12 de julho em Bruxelas, na embaixada brasileira na Bélgica. As imagens – reveladas em dimensões que chegam a 150x100 centímetros – dão a sensação de sobrevoo no território pantaneiro. A mostra chega ao Brasil no segundo semestre.
FOTOS GABRIEL MASCARO/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO
2 - SABER LIDERAR Estrela mundial de TED Talks, a professora e pesquisadora Brené Brown lança A Coragem para Liderar (BestSeller, R$ 39,90, 294 pág.), livro que serve como guia para criar ambientes de trabalho saudáveis e manter equipes motivadas. Professora da Universidade de Houston, Brené apresenta os exemplos que estudou para compor o modelo de “liderança com ousadia”, um estilo de comando que envolve empatia, transparência e aceitação dos riscos – em vez da postura defensiva e autoafirmativa de uma “liderança com armadura”. 3 - BRASIL REGRESSISTA O ano é 2027. Num cartório brasileiro, uma devota religiosa tenta dificultar os divórcios e espera dos céus um sinal de reconhecimento por seu trabalho missionário. Esse é o argumento de Divino Amor, filme de Gabriel Mascaro que estreou em janeiro no Festival de Sundance e integrou mostra no Festival de Berlim. Com recepção calorosa da crítica internacional, o longa, em cartaz no Brasil, tem no elenco Dira Paes, Julio Machado e Emílio de Mello.
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4 4 - LUGAR-COMUM Até 20 de julho, a Galeria Bergamin & Gomide apresenta a exposição coletiva A Burrice dos Homens, criada a partir de uma reflexão sobre o valor da sátira e do estereótipo. Com curadoria de Fernanda Brenner, a mostra reúne trabalhos que tratam das imagens que compõem o imaginário “clichê” do Brasil, da América Latina e dos mais variados tipos humanos. A partir de trabalhos e reflexões de Tiago Carneiro da Cunha e de artistas como Cícero Dias, Glauco Rodrigues e Hélio Oiticica, a exposição trafega entre a ficção incômoda e a crítica social. PODER JOYCE PASCOWITCH 57
CABECEIRA
UMA CERTA JUSTIÇA - P.D. JAMES (BARONESA JAMES DE HOLLAND PARK)
Este é um romance policial de estilo agudo que ajuda a compreender o sistema de investigação da polícia e do judiciário da Inglaterra.
ESTANTE
POR ALINE VESSONI
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A MÁQUINA DE FAZER ESPANHÓIS – VALTER HUGO MÃE A FORMAÇÃO DA CLASSE OPERÁRIA INGLESA - E. P. THOMPSON
Estudo brilhante que enfatiza aspectos culturais do surgimento de uma classe social.
Um texto surpreendente sobre a trivialidade da vida e as angústias da velhice, escrito por um relativamente jovem autor angolano.
A TRAGÉDIA DE UM POVO – ORLANDO FIGES
Uma história da Revolução Russa de 1917, que ilumina os antecedentes e os primeiros anos do episódio revolucionário.
GRANDE SERTÃO: VEREDAS - JOÃO GUIMARÃES ROSA
Tentei ler o livro por duas vezes e estranhei em ambas. O encantamento só veio depois da terceira tentativa.
MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS MACHADO DE ASSIS
É um dos grandes livros da obra de Machado de Assis. Precisa dizer mais?
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Aos 7 anos, quando o historiador BORIS FAUSTO se alfabetizava, seu avô materno, Samuel Salem, ficou completamente cego. Com a impossibilidade de ler as principais manchetes do dia, o avô incumbiu o neto de recitar o jornal para ele. “Eu me lembro que a primeira página do Estadão era composta principalmente por noticiário de política internacional. Era época da Guerra Civil Espanhola. Eu gostava de conviver com meu avô e acabei pegando gosto pela leitura e também por história”, conta. Aos 88 anos, o autor de 13 livros, pesquisas e artigos sobre a história do Brasil talvez seja um dos brasileiros que melhor conhece o passado de seu povo. E, se o país fosse um livro, qual seria o capítulo mais triste? A ditadura militar, responde sem pestanejar. Com a vitória da direita conservadora nas últimas eleições, há um crescimento expressivo do discurso próditadura, o que, segundo o professor, está relacionado a uma crise da democracia. “O sistema democrático entrou em crise, ele não se firmou inteiramente porque não veio de ganhos sociais expressivos. Ainda temos muitas desigualdades sociais, raciais, diferenças de todo tipo, e isso tudo é associado à democracia. Muita gente pensa que um regime autoritário poderia mudar isso, mas a verdade é que a ditadura não conseguiu reverter esse quadro”, explica. “E também há descolamento entre o mundo político e a cidadania.” Fausto continua na ativa: recentemente publicou O Crime da Galeria de Cristal (Companhia das Letras), em que debate os julgamentos morais a partir de três crimes rumorosos ocorridos em São Paulo no início do século 20.
ESPELHO
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COMANDA NA MÃO E OLHO NO BOI
Trabalho em família: Victor, Belarmino Filho, Ana Lucia e Diego
Na entrada d’A Figueira Rubaiyat uma placa passa quase despercebida dos clientes. Expressa o agradecimento dos funcionários pela retomada pelos Iglesias do controle total de suas oito churrascarias de luxo – cinco delas no Brasil, três em Madri, Santiago e Cidade do México. Em 2012, a família vendeu 70% da rede ao fundo Mercapital e cinco anos depois tomou a decisão de recomprar o negócio criado por seu patriarca em 1957. “Uma decisão de vida”, explica Belarmino Iglesias Filho, herdeiro responsável pela transação e que hoje divide a gestão com a mulher, Ana Lucia e os filhos Diego e Victor. Por isso, reunir os quatro à mesa é raro. “A empresa possui uma localização geográfica muito grande, estamos sempre viajando”, conta Victor. Como o olho do dono é que engorda o boi, uma vez por mês um dos quatro está com comanda na mão verificando o serviço das casas. Os pais, mais em Madri, os filhos, por todos os cantos. Uma forma de manter o padrão e seguir os ensinamentos de Seu Belarmino, o fundador. “No fim da vida meu avô levava prato e tirava pedido. Foi um grande exemplo”, lembra Diego. O DNA rojo espanhol, porém, permanece intacto. O Rubaiyat continua a servir cortes tradicionais, mas não perdeu a boiada dos angus, wagyus e outras raças até pouco tempo desconhecidas. Mudanças no hábito de consumo, mas também na troca de bastão. De olho no mercado, os irmãos passaram a propor novidades no cardápio. Primeiro criaram o Rubaburger, que no delivery só perde para o menu executivo, e para acompanhar a cerveja Rubabeer. “Uma marca com mais de 60 anos permite se modernizar. Nosso foco não é crescer, mas melhorar sempre”, finaliza Diego. Além dos funcionários, os clientes agradecem.
por dado abreu PODER JOYCE PASCOWITCH 59
CONSUMO
DOWNLOAD
MAURÍCIO NAHAS Fotógrafo prestigiado, transita entre moda e publicidade e vive clicando os poderosos – inclua aí Pelé, Robert De Niro e Naomi Campbell. Suas fotos lhe valeram o Leão de Ouro no Festival de Cannes e alguns de seus projetos viraram livros e exposições POR ALINE VESSONI
SUÉTER Ermenegildo Zegna preço sob consulta zegna.com
LUMINÁRIA Lumini R$ 2.978 lumini. com.br
CARRO Jeep Renegade Night Eagle preço sob consulta jeep.com.br
ProCam: Oferece a experiência de uma câmera profissional. Permite controlar foco, exposição e ajustar resolução e proporção
O primeiro app que você checa ao acordar? Vejo se tem mensagem no WhatsApp e depois vou ver o Instagram. Em geral, gasto uns 15 minutos no celular depois de acordar. Qual é o app que você mais usa? Instagram. Você ainda faz ligações ou prefere mandar mensagens e áudios? Mando mais mensagens. Digito mais que mando áudios, a não ser quando o assunto é muito extenso. Gosto de digitar e reler antes de mandar a mensagem, pois já aconteceu de mandar para pessoa errada. Nada muito grave, mas, às vezes, acontece. Para quem você mais liga? Minha esposa, Carol [do Valle]. Em que momentos você abandona o celular? Quando estou fotografando eu não fico com o celular. E também procuro desconectar ao chegar em casa. Então, fico o mais longe possível do celular. Sempre. Tem algum app de fotografia que você recomenda? Gosto do ProCam. Ele dá alguns parâmetros
de diafragma, velocidade, faz quase o mesmo que uma câmera profissional. É pago, mas superútil. Se eu preciso fazer uma imagem no celular com melhor qualidade, fotografo por lá. Qual aplicativo você usa para se locomover? Como eu dirijo, então uso bastante Waze, não saio de casa sem. É um aplicativo fundamental para um cara perdido como eu. E para escutar ou conhecer música nova? Uso Shazam e Spotify. Normalmente quando vou fotografar coloco para tocar o que os modelos gostam de ouvir. É bom para quebrar o clima e eles ficarem mais à vontade. App para viajar? Uso o Booking para marcar hospedagens. E para praticar esporte? Gosto de assistir à Netflix ou HBO quando estou na academia, me exercitando no Transport [elíptico]. O que você está assistindo nos apps? Estou revendo Breaking Bad, e, dessa vez, comecei a achar o Walter White bem filho da p... (risos). É engraçado isso, antes eu tinha empatia por ele, pelo vilão, e mudei de ideia. Também achei Chernobyl muito bom.
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PULSEIRA Vivara R$ 1.890 vivara.com.br
Booking: Funciona como um buscador de hotéis e pousadas e conta com mais de 530 mil estadias cadastradas em 200 países. Disponível em 40 idiomas
AQUARELA
COMUM DE DOIS Unidos pela veia artística, o casal Marcos Amaro e Ksenia Kogan é cada vez mais galerista – em São Paulo, Zurique e, quem sabe em breve, Nova York
Filial suíça da Kogan Amaro (acima) e a Fundação de Arte Marcos Amaro (abaixo)
por joyce pascowitch
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e um lado um jovem promissor: Marcos Amaro. Criado pela mãe, a estilista Sandra Senamo, e muito ligado ao pai, o famoso comandante Rolim Amaro, fundador da TAM. Do outro, uma pianista clássica russa, Ksenia Kogan, filha de pais músicos e com um pé na performance – Ksenia já se apresentou até com John Malkovich. O cenário desta entrevista: o salão de chá do hotel Baur au Lac, o mais sofisticado de Zurique, na Suíça, onde o casal se conheceu em 2016, durante a Art Fair, e onde agora mantêm uma galeria. Marcos sempre gostou de desenhar. Criança, ia com o pai às reuniões, sentava-se perto dele e ficava rabiscando. Considera que essa talvez ainda seja uma maneira de se sentir conectado com Rolim. Ele pilota mono e bimotores, mas a aviação que traz no sangue é lúdica. E como a vida não podia ser só desenho, virou empresário. O primeiro case de sucesso foram as Óticas Carol. Quando o pai morreu, num acidente de helicóptero na divisa entre o Paraguai e Mato Grosso do Sul, Marcos tinha 17 anos. À disputa por sua cadeira, o mais novo dos três herdeiros preferiu declinar. Mais tarde venderia sua participação na empresa
para comprar a Óticas Carol, cuja expansão exigia foco – sem trocadilho. Depois de vendê-la, Marcos, que ainda não tem 35 anos, organizou seus investimentos para viver de forma mais criativa, e, agora sim, ligado à arte. Como artista plástico, mas também como investidor e dono de galeria. Nesse meio tempo, criou em Itu a Fama (Fundação de Arte Marcos Amaro) para deixar um legado, um patrimônio cultural público. Nessa faceta de colecionador, começou com arte moderna – Di Cavalcanti, Pancetti, Portinari – e passou para os contemporâneos. Há mais, muito mais no
acervo, como o barroco de Aleijadinho. Depois de ter comprado uma galeria em São Paulo, a Emmathomas, Marcos rebatizou-a como Kogan Amaro, que incorpora o sobrenome da mulher, Ksenia. Agora, o casal abriu uma unidade em Zurique, cidade avaliada por eles como um hub artístico, também por estar perto de Basel, da famosa feira Art Basel. Nova York também está na mira, já que querem ainda mais presença internacional. Na Suíça, Ksenia, que é muito bem relacionada, pretende ajudar os artistas brasileiros a ter relevância internacional em um mercado ainda elitizado. n
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RAZÃO & EMOÇÃO por nuno cobra jr.
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evido ao fenômeno das academias, grande parte do treinamento físico feito no mundo é o que podemos chamar de treinamento estético, ou, melhor dizendo, treinamento cosmético. Quanto mais pressa na busca do corpo perfeito, mais rápido você consome suas articulações e cartilagens. Saúde e performance são os dois extremos do treinamento físico. Por isso, quanto mais nos aproximamos do campo da performance, menos saudável é o treinamento. Conheço atletas que aos 30 anos de idade já passaram por uma dezena de cirurgias ortopédicas. Quase tudo o que o grande público conhece como treinamento físico é uma forma muito específica de
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se conceber a saúde corporal. Essa visão é contaminada pela herança militar do treinamento e pelo lobby do fisiculturismo (bodybuilding). Os conceitos criados pelos bodybuilders ou “marombeiros”, como são popularmente conhecidos, dominam o ambiente de treinamento. Para eles, faz sentido sofrer e sentir dor se isso se traduzir em mais músculos no menor tempo possível. Aqui mora o perigo, uma vez que esse modelo passou a ser indicado para todo o resto da população. É o “fast training”, que, a exemplo da fast food, é igualmente nocivo à sua saúde e integridade corporal. Estrategicamente, o corpo foi transformado em um bem de consumo, uma roupa que usamos
como forma de aumentar o poder de sedução e o status social. O fast training não é indicado para mais de 90% da população, entrando na conta os sedentários, obesos, idosos, pessoas com sobrepeso, alunos que não conseguem manter atividade física regular e gente que de modo geral não se adapta a esse modelo radical. Mas o que vemos nas academias são dezenas de milhares de pessoas entre 14 e 35 anos levantando cargas pesadas, tomando anabolizantes e destruindo de forma precoce a coluna e as articulações. Tudo isso para estar em conformidade com esse padrão de beleza vendido pela indústria. Além das lesões ortopédicas já mencionadas, o fast training pode acarretar aumento dos radicais livres, envelhecimento precoce, riscos cardíacos e produção excessiva de cortisol, hormônio ligado ao estresse que gera importante efeito depressor sobre o sistema imunológico. Em resumo, praticar o fast training não faz bem para a sua saúde. Pense nisso n Nuno Cobra Jr. é coach físico e mental de atletas de alto rendimento e autor do livro O Músculo da Alma (Editora Voo)
ILUSTRAÇÃO FREEPIK; FOTO ARQUIVO PESSOAL
O MAL DA MAROMBA
CARTAS cartas@glamurama.com
@FABIOPORCHAT
A serenidade no olhar de quem está na revista PODER com um ensaio que ficou fodaaaa!
O NOVO PADRÃO
Muito interessante a matéria com o CEO da Oracle porque traz o perfil de um novo tipo de gestor (PODER 128). É bom para quem está no mercado de tecnologia, e também para quem não está. Afinal, que mercado não depende, direta ou indiretamente, da tecnologia? Carla Rotta, São Paulo (SP)
SANGUE NADA BOM
FOTO MAURÍCIO NAHAS
É inacreditável como no Vale do Silício, em que imaginamos que só tem expert, uma charlatã da estirpe da Elizabeth Holmes (PODER 128) possa existir, enganando empresas e um bando de gente inteligente. Não creio. Roberto Solciã, Londrina (PR)
VIBE ESPECIALÍSSIMA
Depois de ler a PODER 128 quero ir para Jericoacoara agora mesmo, neste instante. Maria Sylvia, São Paulo (SP)
/poder.joycepascowitch
@revistapoder
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Testemunha ocular do Dia D, desertor da guerra na Argélia e confeiteiro em Paris, o lendário produtor musical André Midani (1932-2019) só rechaçava a titulatura de descobridor dos maiores nomes da música popular brasileira. Com alma leve e um marcante sotaque francês, dizia que Caetano já estava lá, Gil já estava lá, Elis já estava lá e seu papel teria sido apenas, e humildemente, o de combinar talentos com os padrões da indústria fonográfica. De origem síria, mas radicado na França, chegou ao Rio em 1955 e, à frente de gravadoras como Odeon, Philips, Phonogram e Warner, colecionou um milhão de amigos e acompanhou a consolidação da MPB como um de seus principais artífices. Em 2015, publicou a autobiografia Do Vinil ao Download, que deu origem à homônima – e deliciosa – série do GNT na qual ele recebe, na sala de casa, artistas, intelectuais e empresários para relembrar, nos melhores tons, passagens de sua trajetória. Como lamentou o mestre Gil: “O chefe amigo vai deixar saudades”. Merci, Midani.
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FOTO ALINE MASSUCA/VALOR/FOLHAPRESS
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