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ESPAÇO DE CURA

Com uma ampla janela de tramelas douradas emoldurando a Estação da Luz, o relógio inspirado no Big Ben e os trilhos da estação de trem mais charmosa de São Paulo, o escritório do diretor-geral da Pinacoteca, Jochen Volz, 51 anos, no prédio da Pina Estação, é quase um cartão-postal. A vista, que o faz lembrar diariamente seu país natal e sua enorme malha ferroviária, e os passageiros de todos os tipos que passam por ali, são uma espécie de reflexo do que a Pinacoteca tem ambicionado ao longo dos últimos anos: se tornar um museu diverso, de múltiplos olhares e saberes.

Responsável por exposições bem-sucedidas como OSGEMEOS: Segredos, Grada Kilomba: Desobediências Poéticas, Véxoa: Nós Sabemos e Mulheres Radicais: Arte Latino-Americana, 1960-1985, Jochen trouxe para o centro da cena artistas ainda marginalizados, como de rua, mulheres, afrodescendentes e indígenas. “É muito importante questionar qual história não nos foi contada. Para além de uma reparação histórica, olhar para essa diversidade é também uma forma de trazer outras contribuições filosóficas fundamentais, como de uma Grada Kilomba ou de um Ailton Krenak”, acredita o historiador de arte.

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Em sua mesa de trabalho, inúmeros catálogos das exposições da Pinacoteca dividem espaço com uma gravura de onça do artista Denilson Baniwa e cartões-postais. Em um deles, uma colagem em cima de uma foto do artista plástico Christo revela um pedido inusitado de um curador alemão que pediu para que Jochen entrasse em contato para tratar de um assunto muito importante. “Ele podia me enviar um e-mail, mas me mandou um postal, que levou semanas para chegar”, conta o diretor, rindo. Já o assunto ele nunca soube, pois o curador não respondeu o e-mail de Jochen até hoje.

Uma maquete do projeto inicial do novo prédio Pinacoteca Contemporânea, previsto para ser inaugurado no próximo aniversário da cidade de São Paulo, em meio a uma praça pública, em frente ao prédio da Estação da Luz, fica disposta na mesa lateral de sua sala. A ideia é que o conjunto dos três edifícios: a Pina Contemporânea; a Pina Luz, a primeira sede da Pinacoteca e a mais visitada, fundada em 1905; e a Pina Estação, no Largo General Osório, inaugurado em 2004 e antigo escritório da Estrada de Ferro Sorocabana, seja um grande museu internacional de arte brasileira.

Já percorrendo o prédio mais famoso do museu, na Praça da Luz, o diretor escolhe a tela Um Espaço para a Cura, do coletivo de artistas Makhu, para a equipe de PODER fotografar. Para ele, a arte feita por indígenas traz outras narrativas, apresenta uma cosmovisão muito rica e relevante para a sociedade, além de denunciar questões ambientais fundamentais para a nossa sobrevivência. “O museu é um lugar de memória e de exercício de um espaço democrático. Ele nos permite pensar que somos diversos, temos múltiplas vozes, mas a vontade de construir um futuro juntos é a mesma”, finaliza, em frente à icônica parede de tijolinhos do museu de arte mais antigo da cidade. n

Por Denise Meira Do Amaral

Renata Mei Hsu Guimar Es

De ascendência italiana e libanesa, pelo lado materno, e chinesa e russa, pelo paterno, a advogada Renata Mei Hsu Guimarães não só optou pelo direito de família, como adora reunir as histórias da sua. As lembranças do que o pai contava devem virar um livro de memórias, um resgate para seus três filhos, Felipe, Thiago e Camila. Formada em Direito pela PUC-SP, Renata tinha 17 anos quando começou como estagiária no escritório Machado Meyer e, com o tempo, tornou-se sócia. Abriu seu próprio escritório, o Guimarães Bastos Advogados, em 2006, e hoje ela é um dos maiores nomes ligados ao direito de família e sucessões. Se no passado a procura por profissionais do Direito se dava somente após falecimentos, problemas de saúde ou divórcios, atualmente houve um aumento significativo na demanda, principalmente por conta de questões sucessórias. A pandemia contribuiu para intensificar esse movimento. Hoje, de 60% a 70% dos casos de seu escritório são consultivos e o restante litígios nessa área. Para Renata, lidar com o planejamento familiar antes de situações de crise é fundamental para o bom andamento das empresas, já que dessa forma o patriarca ou matriarca estará mais apto a analisar a vocação de cada herdeiro para saber se precisa construir uma linha sucessória entre as gerações ou se terá que construir essa linha fora, com a contratação de executivos. “A geração dos netos tem transformado as empresas, que passaram a utilizar cada vez mais instrumentos como conselhos de família e mecanismos de governança.” Renata é apaixonada por plantas, charutos e obras de arte, além da escrita, o principal motivo que a levou a escolher a faculdade de Direito. “Nunca cogitei fazer outra coisa na vida”, revela a advogada, autora de dois livros de poesia, publicados aos 12 e aos 15 anos – e com prefácio do poeta e escritor Menotti Del Picchia.

LEMBRANÇA DE INFÂNCIA:

O cheiro do fogão a lenha da fazenda dos meus pais, em Amparo

DIREITO É: Lastro que orienta a minha vida

FAMÍLIA É: A melhor parte

UM JURISTA QUE ADMIRA:

Walter Ceneviva, meu exprofessor, por quem tenho profunda admiração

O QUE MAIS ME DEIXA FELIZ: O convívio com meus filhos

O QUE ME IRRITA: Mentira

DA CASA: Meu escritório

NÃO VIVE SEM: Escrever

UM ENSINAMENTO PÓS-

PANDEMIA: Tolerância

UMA MANIA: De organização. É quase TOC. Sou a rainha das listas de pendências. Tenho até as pendências de sábado

FAZ TERAPIA OU ANÁLISE: Fiz por oito anos e parei antes da pandemia

UMA MÚSICA: “Feeling

Good”, de Nina Simone

TATUAGENS: Tenho quatro. Alguns clientes estranham

PASSEIO PREFERIDO EM SP: Exposições de arte, parque Alfredo Volpi [no Morumbi] e caminhada no centro de São Paulo

MUSEU: Pinacoteca

OBJETO MAIS PRECIOSO

HERDADO DOS PAIS: Um baú grande de madeira de sândalo, que meu pai trouxe quando deixou a China e, após décadas, continua exalando um cheiro delicioso; e as alianças de minha mãe, que usei e que agora vou deixar para minha filha, que vai se casar

MAIOR MEDO: Ter Alzheimer. Minha mãe teve por 17 anos. É uma morte em vida

SONHO: Que meus filhos permaneçam juntos e amigos quando eu não estiver mais aqui voltar a nadar

QUANDO ACORDA

Tomo café e leio os jornais: Estadão, Folha de S. Paulo e Valor, todos em papel

PRATO PREDILETO Pode ser doce? Mil-folhas com um cafezinho

ANTES DE DORMIR

Fumo um charuto na sala lendo um livro. É o meu momento

VIAGEM QUE AINDA

VAI FAZER Indochina, acompanhando o rio Mekong

LIVRO ATUAL Escute as Feras, de Nastassja Martin

HÁBITO SAUDÁVEL

Tomo sopa e como salada em noites alternadas

RESTAURANTE PREFERIDO Maní

VIAGEM INESQUECÍVEL

Patagônia chilena com minha filha Camila

SE NÃO FOSSE ADVOGADA Seria arquiteta ou escritora

CANTORA Nina Simone

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