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DE HOMEM PARA HOMEM

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POLE POSITION

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ARMÁRIO

DE HOMEM PARA HOMEM Se antes o terno sob medida era a estrela do guarda-roupa masculino, agora entra em cena a versatilidade. Estilistas homens mudaram a forma deles se vestirem – sem tirar o espaço da alfaiataria

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por victor martinez

Nos anos 1960 era comum ver pelas ruas de São Paulo homens vestidos no prumo de seus ternos. Eles eram usados tanto no trabalho como fora dele. E não existiam muitas outras opções para o guardaroupa masculino. As alfaiatarias do centro da cidade, localizadas principalmente nas ruas Barão de Itapetininga e 24 de Maio, eram pontos de encontro de empresários, de políticos e de artistas, que eram extrema fieis a seus costureiros. E esses, por sua vez, suavam a camisa para deixar a clientela sempre na estica.

Ainda que hoje sejam raros os alfaiates com ateliês de rua, o terno continua muito utilizado em São Paulo, a capital financeira do país. Homens fiéis à velha escola mantêm o hábito de encomendar suas roupas nos antigos alfaiates. É o caso do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, por exemplo, cliente de Milton Silva, com 60 anos na lida e há 18 anos com uma alfaiataria na Galeria Metrópole, na avenida São Luís, que também fica no centro da capital paulista. “O governador vem bastante aqui, mas eu também vou ao palácio ou até mesmo à casa dele”, conta Silva. Mas a verdade é que esse mercado mudou. O tempo passou, a indústria evoluiu e, hoje, grande parte dos clientes começou a comprar peças prontas. Profissionais que souberam ler esse contexto e mudaram o foco do negócio, investindo na produção em série tiveram sucesso. Ricardo Almeida é um deles. Atualmente, esse paulistano de 61 anos, que está há 30 nesse mercado, produz em larga escala.

Outro destaque dessa nova fase da alfaiataria é Alexandre Won. Filho de imigrantes coreanos, Won começou a fazer seu próprio terno por um simples motivo: não encontrava uma peça confortável que lhe caisse bem quando ainda trabalhava como advogado. Hoje, com 11 anos no mercado de moda, ele foi além no conceito de peças sob medida e desenvolve um produto extremamente pessoal com método próprio. Não à toa, a lista de poderosos entre seus clientes é significativa. O movimento de levar às passarelas uma moda exclusivamente masculina e nacional deu oportunidade a uma nova geração de estilistas que repensam o armário do homem a partir do lifestyle. Um exemplo é a marca Cotton Project, fundada pelo economista Rafael Varandas. Suas peças são condizentes com o estilo casual de se vestir num país tropical, ao mesmo tempo que se conectam com a cena urbana e globalizada. Veja a seguir alguns profissionais que resolveram criar marcas voltadas sobretudo para o público masculino.

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RICARDO ALMEIDA - EM SÉRIE

Com 18 lojas próprias espalhadas pelas capitais brasileiras, o estilista paulistano Ricardo Almeida começou sua carreira trabalhando como representante comercial de outros alfaiates. Isso foi até 1991, quando decidiu abrir sua própria loja de marca, que não por acaso leva seu nome. “Eu queria vender a ideia de uma roupa que mostrasse minha preocupação com a modelagem e com a escolha de um bom tecido”, resume Almeida.

Com peças feitas com tecidos importados da Itália, não foi difícil o alfaiate virar uma referência na confecção em série de roupas sociais masculinas. Hoje, com uma fábrica própria de 7.800 metros quadrados no bairro do Bom Retiro, 554 empregados e uma produção de mais de 5 mil camisas por mês, Ricardo Almeida é um case de sucesso. “A gente conseguiu aumentar bastante as padronagens de camisa. Há a cor de camisa que você quiser”, diz o empresário, que tem pelo menos 30 tonalidades.

Em 2012, ele ampliou seu negócio: abriu sua própria sapataria, a linha casual de jeans, camisas polo e camisetas, além da linha feminina. Aos clientes que desejam ter um terno seu sob medida, ele recebe na flagship da rua Bela Cintra. É o caso do jogador Neymar, que usou um terno Ricardo Almeida feito sob medida para o primeiro leilão beneficente organizado pelo Instituto Projeto Neymar Jr. Além do jogador, João Doria, os empresários Edgard Corona, João Paulo Diniz e Álvaro Garnero e o cientista político Henry Cukier são clientes do estilista. Quando perguntado se homem gasta menos dinheiro com roupa, ele parece ter a reposta na ponta língua: “Homem é mais exigente. Ele compra menos vezes, mas compra produtos com mais qualidade. Afinal, ele não precisa de muitas roupas, mas de roupas que duram mais. Assim, ele não gasta menos. Quando gosta, ele volta e compra mais ou compra duas peças iguais”.

SEM INTERMEDIÁRIOS A preocupação dos homens em relação à moda também está nos detalhes – e nos acessórios. Por isso não surpreende que jovens empresários estejam envolvidos também em sua produção. Arthur Blaj, Guilherme Freire e Raphael Costa Neves, por exemplo, se associaram, em 2012, para abrir a LIVO Eyewear, uma marca de óculos que consegue levar ao mercado bons produtos sem preços exorbitantes. Blaj explica que a LIVO subverteu um pouco a lógica tradicional do segmento, eliminando os “muitos intermediários” que, segundo ele, predominam no setor e acabam por encarecer os óculos. “Vendemos diretamente ao consumidor final, o que permite que tenhamos produtos de qualidade por menos da metade do preço das grandes marcas”, explica Blaj. A LIVO cria e vende peças de acetato italiano com produção manual em fábricas brasileiras. As armações são montadas a partir da técnica de fresagem, em que as partes são recortadas de uma única chapa de acetato, polidas manualmente e envernizadas. Além da venda on-line, hoje o trio de sócios já tem lojas próprias e pontos em shoppings de São Paulo e Rio.

ALEXANDRE WON - ÚNICO A alfaiataria apareceu na vida de Alexandre Won de uma maneira muito natural. “A minha história começou quando eu advogava e tinha uma necessidade muito grande de me vestir segundo meus padrões”, explica o ex-advogado, que começou nesse mercado fazendo seus próprios ternos. Hoje Alexandre Won se consolida como o nome a acompanhar num segmento sofisticado do mercado brasileiro. O grande atrativo de seu trabalho é o resultado do método chamado “bespoke”. Enquanto roupas sob medida partem de uma base pré-pronta, adaptada às medidas do cliente, as peças bespoke surgem inteiramente a partir do corpo e gosto da pessoa. Para confeccionar um terno, por exemplo, Won não usa nenhum molde. Ele começa do zero: tira as medidas, observa a postura do cliente, coloca no papel e, a partir daí, começa a desenvolver. Nesse processo é possível definir a cor da linha, o tecido, os botões, o modelo e o forro. Em média, um costume leva três meses para ficar pronto e exige quatro provas. Won também produz gravatas e lenços customizados. Seu reconhecimento é comprovado entre os clientes do alfaiate, gente como o advogado Augusto de Arruda Botelho, os empresários Roberto Justus e Bruno Setubal e o jogador Kaká.

RAFAEL VARANDAS - PÓS ESPORTE

O economista Rafael Varandas ainda trabalhava na consultoria BOX1824 quando começou a Cotton Project em 2008. No início, ele mal a considerava um negócio. “A marca surgiu como uma necessidade, uma lacuna que eu via no mercado. O jovem consome a marca do atleta de que é fã, seja do surfe, skate ou qualquer outro esporte. O problema é depois, quando a gente cresce”, explica Varandas.

A marca, que segue um conceito chamado de “pós-esporte”, entrou em nova fase em 2012, quando sentiu necessidade de abrir uma loja física. “O mercado masculino tinha essa carência. Era um momento difícil para um homem se vestir no Brasil”, conta Varandas, que chegou a comprar uma calça feminina, pelo corte preciso, para usar.

Varandas conseguiu colocar a Cotton Project num lugar especial. A marca vai para seu quarto desfile na São Paulo Fashion Week. “O segredo, e também a grande dificuldade, é expandir a audiência sem perder a identidade”, conclui. Suas peças podem ser encontradas tanto em lojas de skate como em casas especializadas, ao lado de roupas da Comme des Garçons, por exemplo. Ainda que discreto em relação aos clientes, sabe-se que até o jogador Ronaldo Fenômeno já se rendeu ao charme minimalista da marca.

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