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A CAMINHO DA CURA

A CAMINHO DA CURA Falar que mulheres e homens são diferentes pode parecer muito óbvio, porém não é fácil se atentar para o fato do quanto essas diferenças não são respeitadas. É isso que prega o sagrado feminino. Mas, afinal, de onde surgiu esse termo?

por aline vessoni

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ivendo há tanto tempo em sociedades

Vpatriarcais – centradas no poder masculino – , as mulheres se viram privadas de exercer funções públicas, como estudar, trabalhar ou até mesmo frequentar as ruas. Mesmo após árduas lutas feministas e elas finalmente conquistarem direitos, ainda paira no inconsciente coletivo que a mulher precisa ser forte, viril e masculina para se destacar.

Agora, depois de anos negando o lado feminino, existe um movimento para reconhecer e aceitar os ciclos femininos e identificá-los com a própria natureza. As mulheres começaram a resgatar rituais antigos e sentar-se em círculo com outras mulheres, criar empatia com seus pares, abençoar o útero ou “plantar a lua” – que é devolver o sangue menstrual para a terra. Por aqui, a estilista Paula Raia, por exemplo, lançou no ano passado uma coleção de roupas para celebrar a força feminina e a sororidade. Já a atriz Bianca Bin mostrou aos seus seguidores do Instagram o passo a passo de como plantar a lua.

De acordo com a gineterapeuta e autora do site Saberes da Lua, Marion da Rosa, houve um tempo em que as mulheres eram consideradas seres mágicos, porque elas, assim como a terra, são cíclicas e responsáveis pela criação e pela vida. “A humanidade acreditava que elas eram verdadeiras divindades, que sangravam todo mês e não morriam, gestavam e pariam a vida”, explica.

Só que algo mudou com o tempo: os povos nômades passaram a ser sedentários e surgiu então a propriedade privada. Junto com a terra, o homem – mais forte fisicamente – passa a proteger seu patrimônio, o que inclui sua família. As sociedades que eram matrifocais, centradas

FOTOS GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO

na mulher, e pacíficas, passam a ser patriarcais, e nutre-se uma crença da superioridade masculina: o homem que guerreia, que é forte e violento e cuida de seu “patrimônio”. As religiões têm papel fundamental nisso, pois tanto no cristianismo quanto no judaísmo e islamismo, os homens ocupam o papel central. O todo-poderoso é um homem e não uma mulher.

Acreditar na supremacia masculina trouxe o desequilíbrio. A energia feminina e masculina existe em cada um de nós, mas o modelo do sucesso, do que deu certo, é másculo, portanto, para sobreviver torna-se fundamental calar o criativo, o ócio, o acolhimento, a docilidade do feminino. Para Marion, “o patriarcado suprimiu todas essas características porque tem medo disso”. “Por isso é importante que o movimento de resgate do sagrado feminino exista, para

Mulheres que inspiram

ANITA GOMES, terapeuta transpessoal retomar o equilíbrio e os valores das sociedades matrifocais, que são baseadas nas relações de

Para Mariana Stock, fundadora da Prazerela – iniciativa que busca empoderar as mulheres de seus corpos por meio do prazer –, a sociedade machista divide as mulheres em duas categorias: as que tomam as rédeas da busca pelo prazer e as que ficam à deriva, literalmente a ver navios. “É uma sociedade controladora. Não permitem que você vá para esse lugar criativo. O modelo de sucesso é do homem, então as mulheres se tornam fálicas, ou seja, você tem tudo do masculino, mas ainda precisa ser sedutora e bonita”, sentencia. O patriarcado deu seu jeito de desempoderar a mulher e torná-la coadjuvante de sua própria vida. “Todas as expressões de potência feminina foram deturpadas, demonizou-se a menstruação e perdemos a nossa conexão com a terra. Dentro das regras, da medicina que é um lugar masculino, a mulher fica submissa até na hora de parir”, finaliza Mariana.

parceria, não de superioridade.” “Estava acostumada com a rotina maluca e intensa como produtora até me tornar mãe. Lembro-me de, na época, desejar equilibrar vida pessoal e profissional. Acabei querendo me aprofundar e fiz uma pós em psicologia transpessoal. A partir daí, comecei com os círculos de mulheres, os atendimentos individuais, a dança como terapia. Continuo trabalhando bastante, mas consigo ter as manhãs livres para estar em função das crianças e da vida familiar. Porém, o mais importante nisso tudo é que consigo encontrar esse espaço de ócio que é o lugar do feminino. Enquanto o masculino é a energia da ação, o feminino é a da não ação. Em um mundo em que felicidade é ter e não ser, fica fácil entender por que o feminino é tão combatido.”

MARIA BARRETTO, facilitadora de processos de empoderamento de mulheres

“Fui fazer uma formação de coaching e engravidei. Me deparei com meu útero e meu sangue, e percebi que não tem como falar de feminino sem fazer esse reconhecimento cíclico da mulher. Meu processo foi se dando com minha vivência e acabei oferecendo para outras mulheres. Hoje, as ajudo a se reconhecerem curandeiras também. Infelizmente, ninguém ensinou para a gente que somos bruxa, donzela, mãe e que navegamos nas fases da lua. Recomendo uma conexão com o útero e o sangue ‘plantando a lua’, que é devolver o seu sangue para a terra. Se o útero da mulher está conectado ao útero da mãe terra, a gente caminha em um processo muito profundo de autoconhecimento.”

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