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Isabelle Drummond estreia na capa da J.P
NA ROÇA FUI MORAR NO MATO
Mais qualidade de vida, tempo, silêncio... Morar no campo e bem longe da correria de um grande centro aumentou muito nos últimos anos, ainda mais com a facilidade de se estar conectado com o resto do mundo
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por thayana nunes
FOTOS ARQUIVO PESSOAL
Publicitária e designer de moda, a cidade grande sempre atraiu LUCIANA COTTINI. Mineira de São Lourenço, com 17 anos ela partiu para São Paulo, mas depois de uma vida agitada, incluindo trabalhar com o estilista Ronaldo Fraga, decidiu que era hora de voltar às origens. Estava prestes a lançar uma marca de roupas autoral, mas assumir a tecelagem da família e morar em um sítio entre as pequenas cidades de São Lourenço e Soledade de Minas pareceu a ideia perfeita. Não que tenha sido fácil: “Tive crise de ansiedade no início. Quando você vem de uma cidade grande, você está com a cabeça de cidade grande”, afirma. Quando chegou, Lu trabalhava muito e demorou para ela descobrir que a “gente consegue, sim, viver com menos, com mais tempo e qualidade de vida”. Hoje, ela comanda uma agência de design, uma marca de tapetes para quartos infantis e outra de toalhas de mesa, e está bem feliz. Seus clientes estão espalhados pelo Brasil e ela aproveita os fins de semana em São Paulo, onde mora o marido. “Transformei a capital no lugar para onde vou descansar.”
PENSAR COM O CORAÇÃO
Para quem olha o currículo de BRUNO PASCHOAL – advogado, pós-graduado na Fundação Getulio Vargas, com intercâmbio na Universidade Yale e estudos importantes em políticas públicas – vê um jovem prodígio. E ele é mesmo. Mas depois de circular pelo Brasil e pelo mundo e morar em Berlim, voltou para revolucionar a fazenda da família, que fica em Amparo, a 70 km de Campinas, São Paulo. “Fiz uma pesquisa em acampamentos agrários e ecovilas e descobri comunidades organizadas, que vivem da permacultura e até mesmo trabalhando com e-commerce”, conta. Agora, desde 2017, ele encabeça no maior clima colaborativo eventos de gastronomia, dança e música, proporciona vivências com artistas, oferece espaços de coworking e também recebe pessoas para trabalhar, na linha de work away, tendência mundial entre os jovens viajantes. “Não sou do campo, não consigo plantar legumes e viver com essa renda. E gosto muito mais de fazer a festa do que ir à festa”, se descreve. Mas um dos grandes motivos para o retorno ao Brasil foi um tanto mais voltado ao coração e não ao trabalho: filhos. “Eu e minha esposa, Barbara, temos uma filha, a Teresa, e estamos esperando Maria Flor. Aqui, além de estar mais perto da família, tem ainda cachoeira, ar livre...”
FOTOS ARQUIVO PESSOAL
PÉS DESCALÇOS
As férias no sítio dos avós na infância marcaram para sempre a paulistana PIERA PAULA RANIERI. “Quando você põe o pé na terra e sente uma conexão é difícil não querer voltar.” E ela voltou. Mesmo viajando o mundo como modelo, dos 16 aos 21 anos, ou trabalhando com o diretor criativo Giovanni Bianco, ela sentia que seu lugar era lá, no meio da mata. “Aqui tem nascente, tem rio, árvores frutíferas, borboleta, esquilo”, descreve ela, que se mudou de vez para um sítio em Inhayba, no interior paulista. “Entendo todo esse glamour e acho que foi importante para mim, vivi uma história linda, casei, tive uma filha que também se chama Linda... Mas sempre busquei essa conexão.” Por lá, ela cultiva orgânicos em estufas e aluga chalés para quem busca uma vivência real no campo. “Quem ficar por aqui, vai colher o milho ou a mandioca, e viver o que vivo. Acordo, vou para a horta às 5h30 da manhã, trabalho tirando o matinho do canteiro, colho as bananas, as folhas de pitanga para dar cheirinho na casa e espantar os insetos... Às cinco da tarde, estou de banho tomado, com aquela vontade imensa de fazer uma sopinha e descansar.”
HORIZONTE PARTICULAR
Bem no alto da Serra da Mantiqueira, em Maria da Fé, cidadezinha mineira de 15 mil habitantes, um espaço contemporâneo guarda as criações de DOMINGOS TÓTORA, artista plástico nascido lá mesmo e que viu seu trabalho ganhar o mundo – inclua aí vendas na Sotheby’s, em galerias da Holanda, Los Angeles... Tótora já morou em São Paulo, mas quando retornou para sua cidade natal logo descobriu sua vocação ao ver descarte grande de papelão nas ruas. Apropriou- -se desse material para fazer objetos e móveis de design e o resultado final é uma profusão de formas orgânicas inspiradas na natureza. Um trabalho sustentável do começo ao fim. “O bom é que posso viver do meu trabalho no meio do mato”, brinca ele, que tem uma vista surreal para a Mata Atlântica. “É uma vida contemplativa. Acordo às cinco da manhã, faço uma caminhada e depois parto para o ateliê”, conta. A tranquilidade do campo, porém, também cansa. “Precisa reabastecer a energia na cidade grande. Muito silêncio estressa um pouco.”
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