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CULTURA INC

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ESTANTE

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POR LUÍS COSTA

CIRCO

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MÁGICO

Cenógrafo de OVO, único espetáculo brasileiro do Cirque du Soleil, Gringo Cardia fala sobre a montagem que estreia em março

“N ós bra- sileiros s o m o s m u i t o barrocos”, afirma o arqui- teto e cenógrafo Gringo Cardia, responsável pela direção de arte do espe- táculo OVO, que a com- panhia Cirque du Soleil traz ao Brasil nove anos depois de sua primeira mon- tagem no Canadá. Assina- da por Gringo, pela coreógrafa De- borah Colker e pelo músico Berna Ceppas, a peça é a única montagem brasileira da trupe. “Foi fácil por- que o Cirque du Soleil também é barroco. Ele é um barroco mais me- dieval, um medieval modernizado. O casamento foi perfeito.”

OVO – cujas letras em maiúsculas representam graficamente um inse- to visto de frente – põe no palco um ecossistema vivo e colorido de bichos enormes. “Tudo é gigante”, diz Grin- go. “Nesse mundo macro, você olha o gafanhoto e ele é quase um alieníge- na”, afirma o cenógrafo, que conta ter se inspirado nas memórias de infância,

Gringo Cardia, para quem o Cirque du Soleil manteve a magia do circo de lona quando brincava com insetos e via ali um mundo particular.

A história do espetáculo, que es- treia em março e passa por Belo Ho- rizonte, Rio, Brasília e São Paulo, começa quando a vida de uma comu- nidade é balançada pelo aparecimen- to de um ovo misterioso. A estranha aparição desperta a curiosidade dos habitantes locais e desencadeia o re- conhecimento do outro – e, conse- quentente, o encontro com o dife- rente. “O enigma ovo é o enigma da vida”, diz Gringo. “É o começo que todo mundo quer explicar, mas não há nunca uma explicação completa´.” O cenógrafo compara o ovo do Cirque ao monolito usado pelo diretor Stan- ley Kubrick na famosa sequência ini- cial do clássico 2001: Uma Odisseia no Espaço, de 1968.

No compasso da música brasileira, com xote, baião e samba, o espetáculo tem como grande atração uma parede formigueiro gigante, que se converte em palco para a dança dos gafanhotos acrobatas. O número é inspirado nas célebres performances musculares criadas por Deborah Colker ao fazer de paredes verticais tablado de dança. “O pessoal do Cirque viu em Londres e se apaixonou por ela. Eles queriam de qualquer maneira que a gente fizesse um espetáculo usando aquela técnica”, conta Gringo.

Para o cenógrafo, o Cirque du Soleil, mesmo com a característica grandio- sidade de suas produções, manteve a magia primitiva do circo de lona. Ele conta que a companhia mantém olhei- ros em pequenas cidades do interior de países como Rússia e China à procura de velhos números circenses, alguns em desuso, prontos para virarem ma- téria de memória. “O Cirque du Soleil tirou o circo da possibilidade de desa- parecer”, diz Gringo.

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CINEMA O MÊS DE BETHÂNIA

Em Fevereiros, documentarista Marcio Debellian mostra uma humana, demasiadamente humana Maria Bethânia em sua Santo Amaro natal e no Carnaval da Mangueira, que fez dela seu enredo em 2016

Em fevereiro, Maria Bethânia é Carnaval. Nas ruas de sua Santo Amaro da Purificação natal, a baiana filha de Dona Canô não abandona o ritual de cerimônias religiosas, folguedos e samba. Em 2016, quando a Estação Primeira de Mangueira escolheu a cantora como enredo do seu desfile, o documentarista Marcio Debellian acompanhou a rotina de Bethânia entre Rio e Bahia no mais carnavalesco dos meses.

O resultado é Fevereiros, documentário que já rodou 29 festivais de cinema pelo mundo e chega agora às telas brasileiras. Bethânia já tinha sido protagonista de outro filme de Debellian (O Vento Lá Fora, de 2014), que se debruça sobre a poesia de Fernando Pessoa. Mas a história de encanto pela intérprete baiana é mais antiga: começou em 1996, quando a cantora fazia o show Imitação da Vida, no Rio. “É muito vivo para mim o dia em que eu entrei no Canecão. Fiquei acachapado”, lembra. “Foi um momento extraordinário, de mudança na vida. Quando você entra no universo da Bethânia, você entra num clarão. A magia foi feita ali”, reverencia o diretor.

A ideia de um documentário sobre a cantora veio com o anúncio de que a Mangueira faria o Carnaval da “Menina dos Olhos de Oyá”, ou Iansã, divindade das águas na

mitologia iorubá e uma das orixás de Bethânia. “Pensei: ‘Isso vai ser grande’”, conta Debellian. A expectativa se justificava: era o ano do centenário da primeira gravação de um samba no país e a Mangueira, mais popular agremiação carnavalesca do Brasil, homenagearia a cultura baiana da qual o samba carioca bebeu na fonte. “Achava que tinha um arco histórico nisso”, diz o documentarista.

Fevereiros faz uma ponte contínua entre Bahia e Rio, o casario, ruas e igrejas de Santo Amaro e a quadra e o barracão da Mangueira e o Sambódromo carioca. No Recôncavo Baiano, Bethânia mantém intocada a antiga tradição dos festejos sincréticos do catolicismo e do candomblé, às vésperas do Carnaval. No Rio, ela sobe o morro da Mangueira e desfila na avenida com a escola que seria a campeã daquele ano. No universo de Santo Amaro, que inspirou o enredo vencedor, Debellian diz ter conhecido de perto uma Bethânia completamente despojada do brilho dos palcos. “Ela é uma mulher generosa, que ama sua terra, sua família, sua cidade”, diz o diretor. “Santo Amaro é onde está a menina dos olhos de Oyá, onde eu vi a Bethânia mais com semblante de menina: descalça, andando pela rua, conversando com os amigos, relaxada, feliz.”

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FOTOS DIVULGAÇÃO; REPRODUÇÃO; FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL

1 - DEU NO NYT

Histórias Afro-atlânticas, exposição organizada pelo Masp e o Instituto Tomie Ohtake no segundo semestre do ano passado, foi eleita a melhor no mundo em 2018 pelo crítico Holland Cotter, do jornal The New York Times. A mostra reuniu 450 trabalhos de 214 artistas, do século 16 ao 21, que refletiam as consequências da escravidão e da diáspora africana.

2 - LOBATO LIVRE

Com a entrada em domínio público da obra de Monteiro Lobato (1882-1948), uma série de relançamentos e adaptações deve chegar ao mercado nos próximos meses. Como a adaptação para o século 21 das histórias infantis do criador de Narizinho e Emília, pelo escritor Pedro Bandeira, e a filmagem do longametragem Sítio do Picapau Amarelo, pela Clube Filmes.

3 - O SOM DA CAPITAL

Quais músicas eram cantadas na São Paulo do século 19? Com essa pergunta em mente, a musicóloga Anna Maria Kieffer traçou um painel das canções ouvidas na velha cidade no disco São Paulo: Paisagens Sonoras (1830-1880), lançado pelo Sesc/SP. A pesquisadora mapeou e desenhou um panorama sonoro da capital paulista no momento em que o velho vilarejo perdido no planalto começa a se transformar em potência industrial, urbanística e cultural. Acompanhado de um opúsculo, o disco colige cantigas de rua, pregões, cantos de trabalhos, além de músicas escritas e cantadas pelos estudantes do antigo Curso Jurídico, hoje Faculdade de Direito da USP.

4 - MÁQUINAS DO TEMPO

Com câmeras e gravadores lendários, antigos projetores e moviolas, a exposição Galáxia(s) do Cinema, em cartaz no Museu de Arte Moderna do Rio, conta a história da arte cinematográfica a partir do desenvolvimento da técnica. A mostra apresenta peças raras e pouco vistas no Brasil, como um daguerreótipo e câmeras usadas em clássicos do cinema brasileiro, como a que Adhemar Gonzaga comprou para os estúdios da Cinédia no fim dos anos 1920. Até 10 de março.

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