2 minute read

Nasce uma escritora

Nasce uma escritora

Liberato Vieira da Cunha

Advertisement

Pra começo de conversa, devo desdizer o título aí em cima. É que, embora este seja seu primeiro livro (fora teses, dissertações e conferências acadêmicas no Brasil e no exterior), Miriam Vieira da Cunha, minha irmã, respirou literatura desde que nasceu. Na casa da Rua Sete, em Cachoeira, nos apartamentos da Rua João Manoel, em Porto Alegre, jamais faltavam pessoas lendo, pessoas comentando o que tinham lido, volumes abertos sobre os móveis mais inesperados e até ocultos no fundo das prateleiras mais altas das estantes. Esses eram os livros proibidos, os muito avançados, para nossas idades infantis (eu os descobri logo, não sei se a Miriam também).

Aqui está ela, em sua estreia definitiva no mundo das letrinhas. Aqui estão seus momentos, suas músicas, suas cores, suas muitas viagens, seus passos na calçada, seus distensos verões, como ela própria os descreve. Aqui estão seus amigos e seus amores, nos dois casos, me atrevo a dizer, incontáveis.

Miriam é bem assim: não só uma mulher que sabe escrever excepcionalmente bem, mas que parece ter um ímã no coração: ela atrai e enfeitiça pessoas. Jamais deem bola para seu jeito, na aparência reservado. Ela é, ao contrário, uma sedutora, que gosta de conquistar pessoas, por vezes com olhares ou silêncios, mas muito mais vezes por sua sensibilidade.

Minha irmã é também uma andeja. Não se assustem com esse adjetivo. Está em todos os dicionários. Traduz-se por pessoa que anda por muitas terras (no seu caso, também por muitos mares). Fico sempre impressionado com a quantidade

12

de gentes e lugares por onde andou seu coração (menos um, o mágico Kilimandjaro, que se vestiu de nuvens bem no dia da visita dela).

De Cachoeira, de Porto Alegre, do Rio, ela partiu para sua escala inaugural e morada de muitos anos: Paris. De lá tocou-se para pequenos e grandes pousos em Creta, Lisboa, London, London, Praga, Cairo, a Ilha de Elefantina (em pleno Nilo), outra ilha, Santorini, mais uma, Moçambique, Atenas, Bruges, Ngorongoro, Zanzibar, Arusha, Amsterdam, Kopenhagen, Tanzânia, Suécia, Milão, Madrid – e olhem que estou deixando de fora muitas outras ilhas, cidades e países, pois é hora de vocês chegarem a todos eles nas páginas seguintes

Mas, antes devo dizer que há um capítulo neste livro que me tocou de forma muito especial e profunda. É o dedicado à Dety, nossa irmã, que no auge de sua beleza e de sua realização profissional como jornalista, vivendo numa das praias mais paradisíacas do Rio, se demitiu da vida, numa noite de Natal, em seus jovens 30 anos. Dety é uma presença que jamais se ausenta dos pensamentos de Miriam, nunca se distancia dos de Eduardo ou dos meus.

Mais não conto. Todo o essencial está nas páginas que começam aqui, escrito pelo talento e o savoir-faire de Miriam.

13

This article is from: