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Impressões da volta ao Brasil

Impressões da volta ao Brasil

Passaram-se apenas dois dias da chegada, mas parece que foi uma semana, tantas foram as emoções. Eu tenho que olhar para tudo devagar, embora o ritmo seja a dois mil por hora.

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Em São Paulo, calças justas, cores, nordestinos, gritos, poluição. Edu, ternura, criança, nervoso, igual. Talvez mais maduro, não sei.

A chegada confusa no Rio. Aqui-agora, o medo. Assaltos, violência. Acho que ficarei pouco tempo por aqui. Um banho de família e uma passagem por Florianópolis me farão bem.

Preciso de um mapa da cidade para saber onde estou. A cabeça dói. Emoções demais, viagens demais, mudanças demais, barulhos demais.

Estou flanando num continente desconhecido, me irrito com o barulho, não entendo nada. Tenho vontade de fechar os olhos e acordar em Paris, território conhecido.

Mas decidi vir. Naveguei por quinze dias num barco fantástico, tomando sol. Trouxe comigo 250 quilos, oito anos de vida: som, discos, livros, coisinhas, cartazes, bugigangas, fotos, slides e mil histórias.

No meio do mar, senti que aqueles quinze dias eram uma virada para a próxima etapa. O fim de um capítulo.

Procurar trabalho, onde? Como? Mil perguntas ao mesmo tempo. Olho o Rio e não me emociono muito. Acho bonito tudo isso, mas estou longe, chegando de outro planeta.

Nessa chegada interplanetária, queria desembarcar um pouco contigo aqui. Fui à Ipanema ver uma exposição e

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tomei suco na esquina da praça. O mesmo garoto de 1977 me serviu. Me deu uma grande saudade!

Já faz três meses que estou aqui. A solidão se forma como uma coisa normal das grandes cidades. Brigo entre o estar aqui e o estar nowhere ou somewhere else. Fico a maior parte do tempo no lugar do sonho e da fantasia, de encontros bonitos e de paz.

São Paulo no final de semana. Silvia. Reencontros, trocas, uma linguagem que vai fundo, bonita, sincera.

De volta ao Rio, domingo. Ainda não são quatro e meia, mas a tarde cai atrás do Corcovado. Leio Cacilda e tenho Clarice e Barthes ao meu lado. Revivo-pressinto a mesma indizível solidão. Quando o telefone tocar, Clarice, talvez a espera já tenha cortado os fios...

Minhas vagabundagens vão acabar. Pintou um trabalho que não vou poder recusar. Fui convidada para trabalhar na Biblioteca Nacional.

Fui designada para a seção de classificação, que utiliza métodos arcaicos. Um trabalho que poderia ser interessante, mas que é chatíssimo. Racionalmente, isso significa, talvez, um reencontro com a profissão.

Depois, pode ser que eu seja transferida para um trabalho mais interessante. O ambiente é bonito. Decidi fazer um estágio de quinze dias lá, o que me dará tempo de conhecer o trabalho, o ambiente, as pessoas e pensar.

Restaurante alemão no Joá. Vinho de caneco. Tua tristeza que eu tento segurar, mas que escorre nos meus dedos. Teu carinho imenso, mesmo triste.

Agora, terça-feira. Ouço Keith. Dia luminoso de cigarras. Preciso andar na praia, ouvir o silêncio, sentir o verão solitário em mim.

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Don de Lillo. Verão tardio. O barulho dos vizinhos. A claridade, o frescor, o silêncio. Uma escrita suave, pacífica e luminosa como uma praia da Grécia.

A atmosfera kitsch do Maksoud. A performance cool do Nouvelle Cuisine. Mulheres de dourado, homens barrigudos.

Outro dia qualquer, Penedo, mato, piscina, sauna. “Pour Elise”. Flores nas minhas violetas, cor de carmim no meu verão.

Quinta, aniversário da Dety. Calças novas, cinzentas. “Yellow Submarine” ou a capacidade de sonhar. Manhã de sol. Sontag, o vazio, o silêncio da arte.

Sábado, o polonês com calças de palhaço, Itamar magérrimo e a mágica do sax do Paulo Moura. Sol, gripe, festival de cinema.

Sexta-feira, chuva, expectativas, medo e ansiedade. Escrever e ler, ler e escrever. Onde te leva essa tarde chuvosa, esse início de fim de semana? Por onde vagueiam teus olhinhos curiosos, tuas mãos secas, teu jeito distraído, criança, chato às vezes de ser? Manda tuas poesias, menino!

De repente, te descobri assustada e feliz na tua casa. Difícil estar ali sem te ver. A cadeira de balanço, o açucareiro, o móvel do banheiro, a escova de cabelo. Catarina, triste. Só ela entendeu como é difícil estar naquela casa sem ti. Tuas fotos, teus discos, teus livros, um velho cabide. Coisas que te seguiram da casa da Epitácio Pessoa e ficaram no fundo do meu olho. Que saudades de mil conversas!

Outro dia, chopinho na Gávea com Tania, Carlos, Lícia e Dina. Perguntas, verão, enfim. Tua presença ainda forte. Desvendaremos os mitos que fizemos de nós mesmas por nós mesmas? Diremos alguma coisa de nós?

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