Sorria #58

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sua praia

biscoitos para presentear

6

dicas para

ter mais

saúde mental

consertos

caseiros: você pode!

#58

nov/dez

2017

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Espalhe o bem temos o poder de influenciar as pessoas que nos cercam. conheça histórias de quem disseminou um bom exemplo e motive-se a também ser uma fonte de inspiração


© Foto: CaiaImage Agnieszka Wozniak/GuettyImages

PRAZERES SIMPLES

12 revista Sorria


Vamos para a cozinha texto ROBERTA FARIA

A

o longo de toda minha vida, morei em quitinetes e em casas enormes; em apartamentos novinhos em folha e em sobrados caindo aos pedaços; no campo, na praia e na cidade; sozinha, com amigos e em famílias imensas. Tive 13 endereços até agora, todos com algo em comum: a cozinha sempre foi o coração do lar. Se a casa tem duas portas, é pela da cozinha que vamos entrar. A mesa de jantar pode ser de madeira de lei, herança de família, 12 lugares finos: o mais provável é que a gente coma na mesinha de fórmica bamba da copa, ou em pé mesmo, umbigo no balcão da pia. Chamamos o pessoal para vir em casa, tiramos a louça boa do armário, afofamos as almofadas da sala, muito mais confortável sentar lá – mas quem disse? As visitas ficam ao redor do fogão, se metendo no serviço. A gente põe a escrivaninha no quarto da criança jurando que assim os estudos serão mais concentrados, e onde ela faz a lição de casa? Na mesa da cozinha, claro, o caderno puro farelo de pão. E como poderia ser diferente? De todos os cômodos da casa, não há lugar mais vivo e curioso. Sempre há alguém com fome, cozinhando ou comendo, com todos os sons, cheiros, cores, sabores e bagunças que a produção envolve. Sempre há centenas de utensílios, louças, talheres, potes, panos e uma infinidade de badulaques que acumulamos por afeto ou distração. Sempre há trabalho a fazer: dos copos sujos de cada dia ao congelador que não fecha mais de tanto gelo, da feira à regulagem do fogão. E sempre, sempre há gente. Entre cafés silenciosos e jantares de família, testes de receitas novas e faxinas exaustivas, domingos com os amigos e madrugadas de amor, discussões homéricas e conversas banais, a cozinha sempre esteve aberta e habitada, 24 horas por dia, em todas as casas onde morei. Às vezes com a geladeira vazia, a luz fluorescente doendo nos olhos e a pilha de panelas na pia dando desespero. Às vezes linda como capa de revista, encerada, com flores na mesa e um assado dourando no forno. Quase sempre, só um pouco bagunçada e muito acolhedora: ali, podemos comer, podemos falar, podemos ouvir, podemos pensar. Ali, podemos estar juntos de verdade. Na cozinha, somos sinceros e simples como as salas de jantar de cadeiras elegantes nunca nos permitiriam. Ficamos, enfim, à vontade: tiramos os sapatos, falamos alto, gargalhamos de boca aberta. Com as mãos ocupadas com a comida ou a arrumação, é mais fácil contar do dia, desabafar, fazer perguntas difíceis, falar dos assuntos mais nonsense. Já as tarefas repetitivas de pia, forno e fogão são uma oportunidade peculiar de meditação: dizem que grandes questões da humanidade já foram resolvidas enquanto se lavava louça. E no fim ainda matamos a fome, de todos os tipos e de muitas formas. É que na cozinha nós nutrimos o corpo – e alimentamos a alma. nov/dez 2017 13


PRAZERES SIMPLES

tá na mesa

Do coração para a boca

Meia-cura com damasco Troque o parmesão por queijo meia-cura. Pique damasco seco, acrescente 1 colher (de sopa) à massa e coloque mais um pouco por cima, antes de assar

Estes biscoitinhos são uma ideia simples e deliciosa para materializar seu amor em forma de presente de Natal texto arli semoá

© Foto: Sheila Oliveira. Produção culinária: Paula Belleza. Produção de objetos: Marcia Asnis

A

gente gosta de complicar o simples. Presentear é um bom exemplo. Em sua origem, certamente se tratava de um ato de pura leveza e alegria: pensar em alguém com carinho e materializar o sentimento em um regalo. A coisa, em si, nem devia ter tanto valor. Gosto de acreditar que, lá na origem, a graça estava no ato. Na lembrança, no abraço, nas palavras. O presente era só um símbolo. Aí inventamos datas em que nos vemos obrigados a presentear. Transformamos em compromisso um gesto cuja maior riqueza era a espontaneidade. Se você já ganhou ou ofereceu um presente num dia qualquer, sem uma justificativa atrelada ao calendário, sabe: é especial. Ao mesmo tempo, não dá para negar que as datas marcadas para presentear servem de lembrete da importância desse gesto. Então como unir as duas coisas? Como injetar essência num procedimento tornado automático? Como evidenciar que não estamos seguindo um protocolo, e sim o coração? Temos uma receita: escolha um presente que ninguém possa dar igual. Que tenha sido feito com suas mãos, exigindo tempo e dedicação. Que não esteja à venda. Que seja tão singular quanto o sentimento que você tem pelo presenteado. Se você gosta de cozinhar, eis aí um ótimo caminho para retornar à época em que os presentes tinham mais alma. Se não possui muita experiência na área, talvez seja até melhor: quanto vale a coragem de aventurar-se no desconhecido? Nossa sugestão, ao lado, é uma receita bastante simples, que todo mundo pode arriscar. Em cada biscoitinho, vai um pouco de você e do seu amor. Afinal, ao escolher os ingredientes, ao misturá-los com carinho, ao preparar o forno, ao testar uma provinha para ver se está no ponto certo, ao embalar com capricho, você estará pensando na pessoa que será presenteada. A cada etapa do preparo, seus sentimentos vão se amalgamando com a manteiga e a farinha. E pode ter certeza de que estarão evidentes assim que se transformarem na expressão de satisfação da primeira mordida. 22 revista Sorria

Petit-four salgado Ingredientes • 3/4 de xícara de farinha de trigo (e mais para polvilhar)

• 1 xícara de parmesão ralado (e mais para polvilhar)

• 1/2 xícara de manteiga sem sal

• 1/2 colher (de chá) de pimenta em pó vermelha

• 2 colheres (de sopa) de creme de leite fresco • 1 gema de ovo (e outra para pincelar)

• 1/2 colher (de chá) de tomilho seco • sal a gosto


Esta é a receita básica, explicada no pé da página. Confira nas demais legendas ideias de variações para todos os gostos, personalizando o seu presente

Gorgonzola com nozes Use uma xícara de farinha, em vez de 3/4. Substitua o parmesão por gorgonzola. Acrescente 1 colher (de sopa) de nozes picadas à massa e ponha mais um pouco por cima.

Parmesão com pimenta Acrescente 1 colher (de chá) de pasta de pimenta à massa. Antes de assar os biscoitos, polvilhe-os com páprica (use a doce, para não exagerar na picância)

Do reino com ervas Substitua o parmesão por queijo do reino. Acrescente 1 colher (de chá) de ervas finas secas à massa e polvilhe mais um pouco sobre os biscoitos, antes de assar

MODO DE preparo

1

Prequeça o forno a 200 oC por aproximadamente 15 minutos. Coloque todos os ingredientes numa vasilha e misture com as mãos até obter uma massa homogênea. Cuidado: é importante não trabalhar muito a massa para os biscoitos não ficarem duros.

2

Envolva a massa em filme plástico e deixe descansar na geladeira por 10 minutos. Numa superfície polvilhada com farinha, abra-a com a ajuda de um rolo de macarrão. Deixe aproximadamente 0,5 cm de espessura. Recorte os biscoitos – você pode usar forminhas específicas para esse fim.

3

Coloque os biscoitos numa assadeira forrada com papel-manteiga. Pincele-os com a gema misturada com um pouco de água. Polvilhe com o parmesão. Asse por aproximadamente 15 minutos. Retire do forno, espere esfriar e guarde em potes bem fechados, para ficarem crocantes por mais tempo. nov/dez 2017 23


valores essenciais

Tudo o que pensamos e fazemos tem a influência das pessoas que nos cercam. Você pode ser o bom exemplo que falta para tornar seu entorno mais rico, feliz, colorido e cheio de vida reportagem Helaine Martins ilustração Suryara Bernardi

26 revista Sorria

P

ense em uma escolha que você fez recentemente. Pode ser o que comeu no almoço, o site que acessou para se informar sobre determinado assunto, a programação para o próximo fim de semana... O que o levou a essa opção? Talvez você esteja convicto de que agiu totalmente por razões próprias. Até porque ser influenciado pelos outros é um comportamento frequentemente malvisto na nossa sociedade – quem gosta de ser chamado de “maria vai com as outras”? Porém, o fato é que todo o nosso comportamento depende de quem nos cerca. Em cada escolha que fazemos, há o peso do que vimos, ouvimos e sentimos em nossas interações sociais. “Nosso sistema psíquico é relacional. Desde o momento em que nascemos, nos influenciamos mutuamente, ainda que não percebamos de forma clara. Não é possível fugir disso, a menos que haja total isolamento”, afirma o professor do Departamento de Psicologia Social da PUC-SP Hélio Roberto Deliberador. É como um jogo de futebol: toda decisão tomada por um jogador depende dos demais. Mesmo quando um craque faz um jogada


individual, ele define sua trajetória, sua velocidade e a forma como toca na bola com base na posição e na postura de companheiros e adversários. Em outro contexto, ele agiria diferente. Por isso que nenhuma partida é igual a outra. São basicamente dois impulsos que balanceamos ao tomar uma decisão: o da imitação e o da diferenciação. Copiar um comportamento que deu certo para outra pessoa é uma estratégia que nossa espécie vem repetindo desde que surgiu. Afinal, costuma ser uma saída fácil e eficiente para a sobrevivência. (Imagine quantos ancestrais se salvaram ao imitar quem decidiu fugir ao ver um animal feroz.) Mas se apenas copiássemos uns aos outros, ainda viveríamos como os primeiros humanos. Temos o poder da inovação, da criatividade. E isso também é uma reação social: só tendo noção do que é padrão dá para fazer diferente. (Um dia, em vez de fugir, alguém decidiu enfrentar a fera de maneira inteligente, tornando-se o primeiro caçador.) Entre a Idade da Pedra e os dias atuais, esse exercício de réplica e originalidade só se intensificou. É o que defende o professor

de marketing da Universidade da Pennsylvania Jonah Berger, autor do livro O Poder da Influência – As Forças Invisíveis que Moldam Nosso Comportamento. Depois da popularização da internet, principalmente, nosso contato com outras pessoas se multiplicou de maneira inédita. Hoje, mais do que nunca, estamos a todo o instante reagindo à maneira como os demais se comportam. E isso é bom ou ruim? Tem um lado perigoso, porque, nessa enxurrada de referências, corremos o risco de nos deixar influenciar de forma acrítica. Se não refletimos sobre o comportamento e as opiniões dos outros, analisando se são positivos ou não e buscando informação para formar nosso ponto de vista, podemos cair em armadilhas. Mas há também um lado maravilhoso: quanto mais contato com as histórias das outras pessoas, mais chances de conhecer ótimos exemplos para seguir. E isso pode criar uma reação em cadeia, contagiando grupos inteiros com motivação para fazer algo bom. São relatos desse tipo que você confere nas próximas páginas. Quem sabe eles não inspiram você a também espalhar sementes do bem? nov/dez 2017 27


manual prático vida feliz Passo a passo

Como cuidar da

saúde mental? Você sabe que precisa comer bem e se exercitar para cuidar do corpo. Mas como manter o bem-estar da mente? Tomar conta dos pensamentos e sentimentos também é fundamental para construir uma vida saudável e feliz reportagem Martina Medina ilustração Marcella tamayo

Para informar-se sobre tratamento psicológico gratuito, ligue 136 38 revista Sorria


eu fiz afinal, do que estamos falando?

procure um especialista

duvide das certezas

Saúde mental é o estado de bem-estar no qual a pessoa é capaz de exercer suas habilidades, lidar com as dificuldades da vida, ser produtiva e contribuir com a comunidade, segundo definição da Organização Mundial da Saúde. Se não cuidamos da mente, podemos abrir espaço para problemas graves – que, aliás, têm afetado muitos brasileiros. Nosso país é recordista mundial em ansiedade, que atinge 9,3% da população nacional, e está no topo do ranking latinoamericano de depressão – distúrbio que impacta 5,8% dos brasileiros.

A psicoterapia está para a saúde mental assim como a atividade física está para o bemestar do corpo. A ideia de que só “gente louca” vai ao psicólogo não faz sentido. Ao consultar um profissional, qualquer pessoa (com ou sem transtornos) pode intensificar os processos de autoconhecimento e de autotransformação para concretizar suas potencialidades e aprender a lidar com seus pontos fracos. É possível obter tratamento gratuito em faculdades de psicologia e por meio dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) do SUS.

São 23h, você está saindo de casa, vê a rua deserta e ouve passos logo atrás. O coração dispara, os músculos se contraem, você acelera. Só depois percebe que não era uma ameaça. Situações como essa mostram que nossos pensamentos muitas vezes nos enganam. E erros assim influenciam nossos sentimentos e ações. Não podemos aceitar que tudo que passa pela nossa cabeça é, de fato, real. Examine as evidências e verifique se a sua interpretação condiz com a realidade para então responder de forma consciente, e não automática.

conecte-se consigo

cuidado ao comparar-se

aprenda a perdoar

Já ouviu falar em mindfulness, ou atenção plena? Significa trazer o foco da sua atenção para o aqui e agora. Pesquisas indicam que essa prática, utilizada em alguns tratamentos psicológicos, pode proporcionar uma série de benefícios. Para entender como funciona, imagine que sua mente é o céu, e que as nuvens são os pensamentos. Você pode se posicionar como um observador dos eventos mentais, inclusive dos desagradáveis, aprendendo a lidar melhor com eles. Para desenvolver a atenção plena, usa-se a meditação. Você pode tentar praticar agora mesmo: bit.ly/ todosmeditacao.

Não importa quão bem-sucedido você seja, sempre haverá alguém para superá-lo. Comparar-se com os outros na expectativa de sempre vencer será um jogo inevitavelmente perdido. Que tal substituir a competição pela cooperação? Nela, todos somos únicos e temos valor. Pensando assim, a comparação dá lugar à inspiração: pessoas interessantes podem ser uma referência para a gente. Sabe aquele músico que você adora? Troque o "Quero ser igual a ele" ou o "Nunca serei como ele" pelo “Quero tocar tão bem quanto ele, mas do meu jeito”.

Errar e acertar são aspectos igualmente significativos da aprendizagem. Há ainda os fatores que não dependem só de nós. Por isso, evite punir-se por erros. Valorize o tempo e o esforço investidos em uma tarefa mesmo que o resultado não seja exatamente o planejado. Reconhecer esse processo é ter autocompaixão. E somente perdoando a si mesmo você poderá perdoar o outro. Colocar-se no lugar dele e ter a flexibilidade de mudar os próprios conceitos também ajuda a conviver melhor consigo e com os demais.

“Achava que terapia não era para mim. Estava enganada” Ao concluir que não poderia resolver as dificuldades do meu namoro sozinha, nem falando com amigos, recorri à psicoterapia. Entrei num processo profundo de autoconhecimento. Mudei minhas condutas, e as coisas ao redor também foram se modificando. Achava que terapia não era para mim, mas agora digo que é um projeto infinito comigo mesma. Natália Moraes, 32 anos, do Rio de Janeiro

“Ajudei adolescentes a buscar tratamento psicológico” Aos 10 anos, eu me interessei pela psicoterapia, mas meus pais não me deixaram fazer por motivos religiosos. Aos 15, tive depressão e só então iniciei o tratamento. Na época, criei um blog em que falava sobre minha experiência, e muitos adolescentes me procuravam perguntando como contar aos pais que eles precisavam de atendimento. Hoje, curso psicologia – e sigo na psicoterapia. Camila Caldeira, 21 anos, de São José dos Pinhais (PR)

Fonte: psicóloga Lidiane Passos Pontes

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