Todos #27

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PANELA SÓ pág. 42 Eduardo Carlos Tavares, 65 anos pág. 12

#27

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A FORÇA DO BEM QUANDO ALGUÉM DECIDE SE RESPONSABILIZAR PELO BEM-ESTAR DOS OUTROS, AJUDANDO-OS A CAMINHAR COM MAIS LEVEZA PELA VIDA, RENOVA NOSSA CRENÇA DE QUE O MUNDO PODE SER UM LUGAR INCRÍVEL REPORTAGEM H E L A I N E M A R T I N S ILUSTRAÇÃO W I L L I A N S A N T I A G O


EDUARDO CARLOS TAVARES, 65 anos, médico, e a esposa,

GLAUCIA, 64, psicóloga, de Belo

Horizonte, criaram uma rede de apoio de enfrentamento ao luto depois de perderem a filha em um acidente

© Foto: Jean Assis

AJUDAR OUTROS PAIS A ENFRENTAR O LUTO NOS FORTALECE TAMBÉM Nossa filha, Camile, voltava de carona de um churrasco com amigos quando o carro em que estavam se chocou com outro. Aos 18 anos, ela perdeu a vida. Era 21 de abril de 1998, o dia que marcou o início de uma longa caminhada para nos reinventarmos como pessoas, como casal e como família. Eu e Glaucia tivemos muito apoio de parentes e amigos. Só que, conforme a vida foi voltando ao normal, as pessoas passaram a evitar o assunto, e continuávamos precisando falar. Procuramos um grupo de apoio ao luto, mas não encontramos. Seguimos com a necessidade de

nos expressarmos, e pensamos que mais alguém deveria sentir a mesma dor. Fomos atrás de outros casais no condomínio onde morávamos e, em outubro daquele ano, fizemos o primeiro encontro para falar sobre luto. O grupo foi crescendo, e apareceram pessoas com outros perfis, não somente ligados à perda de um filho. Hoje, temos uma rede de apoio a perdas irreparáveis, com reuniões mensais em cidades de Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo. São cerca de 5 mil famílias cadastradas, que, juntas, descobriram que falar sobre a perda revive a tristeza, mas também o lado bom da convivência com o ente querido. Não é justo que isso também seja enterrado. Eu e Glaucia continuamos coordenando reuniões. E nos sentimos amparados podendo oferecer o nosso apoio. É uma via de mão dupla.”

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NO MEU TEMPO

© Foto: Tiago Baccarin

DE CANSAR A BELEZA

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Dormir com meia-calça na cabeça, produzir sabão de cinzas, retirar leite da vaca para passar a nata no rosto... Os rituais de beleza de tempos atrás chegavam a ser um desafio! REPORTAGEM AMANDA PÉCHY ILUSTRAÇÃO CAROL DELAVY


SALÃO EM CASA

Eu e minhas amigas brincávamos de salão. Eu era a cabeleireira, e os penteados da moda tinham bastante volume. Com um pente de cerdas fininhas, desfiava o cabelo de todo mundo! Aí, pegava o laquê da minha mãe e passava nas meninas. As mães queriam me matar, porque os cabelos, inclusive o meu, ficavam muito embaraçados! Já minha mãe gostava de fazer em mim um penteado bem colado na cabeça. Puxava tanto que eu precisava segurar a pele, para não ir junto!”

GILMARA JARDIM, 59 anos, São Paulo

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MEU DICIONÁRIO

O FALAR PARAENSE

Quem nasce no Pará diz que o estado é quase um país em si, cuja língua reflete influências indígenas e portuguesas. Conheça mais desse rico vocabulário REPORTAGEM A M A N D A P É C H Y ILUSTRAÇÃO J E A N G A L V Ã O

Isso aí é no caixa bazó! “Caixa bazó” se refere a um lugar remoto, muito longe, de difícil acesso, “no fim do mundo”.

A coisa está ralada. O paraense usa a expressão para avisar que a situação está difícil, complicada, feia.

Aquela cunhatã é cuéra.

Eu choro.

“Cunhatã” é um termo emprestado do tupi, e quer dizer menina, e “cuéra” significa “valente”, “forte”, “destemida”.

Na região, essa afirmação não reflete tristeza. Ela é usada no lugar de “Não estou nem aí”.

Hoje estou buiado!

Finalmente, desincaiporei.

Quem está buiado acabou de receber o salário: está com muito dinheiro.

Caipora é uma entidade da mitologia tupi, que pode trazer azar. “Desincaiporar” é superar a má sorte.

Hum, tá, cheiroso... Essa é uma expressão de ironia. Significa “conta outra”, “duvido”.

Levei o farelo.

Deixa de ser xexeléu!

Isso é muito palha!

Farelo, aqui, não é de comida: é o mesmo que “se dar mal”.

Você deve conhecer quem bajula, elogia muito alguém, geralmente buscando obter vantagens.

Se alguma coisa é palha, quer dizer que é ruim, malfeita, de baixa qualidade.

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Ele abriu o fora com o amigo.

NA PONTA DA LÍNGUA

Abrir o fora é um dizer bem antigo, e tem o mesmo significado de criticar, destratar, repreender.

Convidamos paraenses para compartilhar termos e expressões que mais usam. Olha só! 1

JANE DUBOC, 68, ESCRITORA E CANTORA

O pai está sentado na beirada.

“É só chegar a Belém que começo a usar a palavra mais musical do planeta: ‘égua’. Uma beleza! Dependendo do contexto, pode significar: ‘Deus me livre!’, ‘Que demais!’, ‘Maravilha!’, ‘Nossa Senhora!’, ‘Como é?’, ‘Como pode?’, ‘Que horror!’. Ela é maleável, líquida, música que flui.”

No Pará, essa palavra é sinônimo de “margem do rio”.

Por que fazer catatan? Termo arcaico do falar paraense, tem o mesmo sentido de “intriga”, “mexerico”, “fofoca”.

Mas quando! A expressão serve para negar fortemente uma afirmação: “Nunca, jamais!”

2

Deu prego.

EUNICE BAÍA, 28, ATRIZ

Se deu prego, é porque quebrou, enguiçou, estragou: “O carro deu prego”.

“Gosto da palavra ‘ralhar’, que pode se referir a uma bronca: ‘A mamãe vai ralhar com você!’. Além dessa, a expressão ‘já está no teu momento’ é utilizada quando alguém está muito seguro de si, querendo se mostrar, ou quando faz birra: ‘Já está no teu momento, Antônio? Te levanta daí!’.”

Como você quiquiricou? Essa palavra que chega a enrolar a língua é o modo de o paraense dizer “cair”, “levar um tombo”.

3

AÍLA MAGALHÃES,

Rasga! Se ouvir alguém dizer, com firmeza, “rasga!”, não pense duas vezes: saia já, vá embora.

Ô, homem guarasuca!

Ele esquentou a moringa.

É um apelido dado a quem está em todas: uma pessoa muito social, que topa tudo.

Nada a ver com o vaso de barro. Esquentar a moringa é ficar chateado, aborrecido.

© Fotos: 1) divulgação, 2) Iza Santos, 3) Julia Rodrigues, 4) Ana Alexandrino

31, CANTORA E COMPOSITORA

Fontes: A Mudança Linguística da Expressão Amazônica “mas quando”, de Érica do Socorro Barbosa Reis; Dicionário Papachibé, de Mário Sobral Raymundo; O Falar do “Caboco” Paraense, de Carolina Pinheiro Barros; e Como se Fala no Pará, de Sarah Luisa Santos

“Uma gíria que sempre uso é ‘pitiú’, que designa mal cheiro, odor característico de peixe: ‘Vixi, essa louça foi mal lavada, tá pitiú demais!’. Tem outra que acho incrível, mais usada no interior do Pará: ‘Já me vu!’, que significa ‘Tchau!’. Eu amo, porque é uma desconstrução total da língua.” 4

ARTHUR NOGUEIRA, 31, MÚSICO E JORNALISTA

“Uso ‘Eras!’, no começo da frase, como uma interjeição, tipo ‘Nossa!’, e ‘arredar’, no sentido de pedir espaço. Só que sempre causa estranheza em quem é de fora do Pará! Entrando no banco de trás de um carro, muitas vezes solto um ‘arreda aí!’, e a pessoa não se mexe.”

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RECEITAS DE FAMÍLIA

Numa

PANELA SÓ Os ingredientes cozinham juntos, um enriquecendo o outro, e o resultado é tão completo que dispensa acompanhamentos. Sem contar a praticidade – no preparo e na limpeza! REPORTAGEM ROMY AIKAWA FOTOS SHEILA OLIVEIRA / EMPÓRIO FOTOGRÁFICO PRODUÇÃO CULINÁRIA PAULA BELLEZA PRODUÇÃO DE OBJETOS MÁRCIA ASNIS

VACA atolada A COMBINAÇÃO ENTRE MANDIOCA E COSTELA BOVINA É PERFEITA PARA O ALMOÇO EM FAMÍLIA para 4 pessoas

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Ingredientes » 1 kg de costela bovina com ossos cortada em cubos » Sal a gosto » Pimenta-do-reino a gosto » 2 colheres (de sopa) de óleo de milho » 4 dentes de alho picados » 1 xícara de cebola picada » 1 lata de tomate pelado » 1 colher (de sopa) de extrato de tomate » 4 folhas de louro

» 1 kg de mandioca descascada cortada em cubos » ¼ de xícara de coentro picado Modo de preparo 1 Tempere a costela com sal e pimenta-do-reino. Reserve. Aqueça uma panela grande, despeje uma colher de óleo e frite os pedaços da costela até ficarem bem dourados. Retire-os da panela e reserve.

2 Adicione na mesma panela a outra colher de óleo e, em seguida, o alho e a cebola. Refogue


SEGREDO REVELADO Coloque metade da mandioca no início do cozimento, para que ela se dissolva e engrosse o caldo.

até ficarem levemente dourados e acrescente o tomate pelado e o extrato de tomate.

3 Junte a costela dourada, metade da mandioca e as folhas de louro. Cubra com água e deixe cozinhar em fogo baixo por 30 minutos. Depois, mexa bem e coloque o restante da mandioca. Cozinhe por mais 30 minutos e, se necessário, coloque mais água para continuar o processo até a carne ficar macia. Acerte os temperos e salpique o coentro antes de servir.

Minha mãe e minha avó paterna cozinhavam para diversas pensões de Juiz de Fora. Por termos sempre muita variedade de comida e a família toda morar em casas próximas, na mesma fazenda, nossa mesa estava sempre cheia de gente. A vaca atolada me traz lembranças dessas ocasiões: elas sempre preparavam, já que é um prato típico de Minas. Lembro-me de ver a carne cozinhando durante um tempão no fogão a lenha, dentro de uma panela de ferro. Eu adorava ajudar – tanto que meu pai até fez um tabladinho de madeira para eu subir e alcançar a pia e o fogão, mas só comecei a fazer sozinha aos 13 anos. Já preparei vaca atolada no meu canal no YouTube mais de uma vez, e sempre ensino que, para o prato ficar gostoso, ele precisa ser cozido lentamente. Assim, o sabor entra na comida!”

JANE LOURES, 75 anos, Juiz de Fora (MG)

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