Sorria #65

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10

MOTIVOS PARA

APRENDER A

TOCAR MÚSICA

RECEITA DE HAMBÚRGUER

(ARTESANAL!)

PARA NÃO ESQUECER O PASSADO TEM MUITO VALOR. MANTER VIVA A NOSSA HISTÓRIA É FUNDAMENTAL PARA ENTENDER O PRESENTE E CONSTRUIR UM FUTURO MELHOR

#65

jan/fev

2019

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© Foto: Aleksandar Nakic / iStock Images

PRAZERES SIMPLES

14 REVISTA SORRIA


Bicho-demonte texto MARINA BESSA

T

oda família tem seus pequenos hábitos. Mais que hábitos, tradições. São coisas mais ou menos banais passadas de geração em geração, com sua importância, seus rituais, seus nomes peculiares. Na minha família, fazemos bicho-de-monte. A origem é desconhecida, apostaria que começou com minha avó, que sempre foi afeita a esse tipo de coisa. Mas, certamente, minha mãe foi a responsável por nomear e difundir esse costume. Bicho-de-monte costuma ser feito num sábado ou num domingo pela manhã. Manhãzinha, porque pai e mãe ainda estão dormindo. Então, chega uma filha. Escala a cama de mansinho, passa a barreira da mãe, aconchega-se ali no meio, acha um pedaço de travesseiro. Às vezes, pede pra deitar no ombro do pai. Faz que vai dormir mais um pouco. Os pais sorriem, a aconchegam e acreditam em mais alguns minutos de sono. Então chega a segunda filha. Com um pouco de ciúme, meio chateada por não ter sido a primeira a acordar. Sobe na cama, resmunga, procura um lugar. E pronto, o bicho-de-monte está formado. Faz parte do ritual do bicho-de-monte um pouco de rusga (“tá apertado, chega mais pra lá, você está me chutando, eu estou sem coberta...”). Faz parte do bicho-de-monte um grande se esforçar para dormir enquanto um pequeno insiste em se remexer, em fungar, em puxar assunto. Uma hora, a preguiça cede espaço à brincadeira. A mais clássica é a cabaninha, já que colchas e lençóis estão à disposição. Também podem rolar teatrinho de sombras, parlendas com rimas malucas ou festival de cosquinhas. O importante, o imprescindível, é que haja muito chamego, um pouco de dengo e uma boa dose de risada. Depois de um tempo, alguém se cansa. E quer ir pra sala, quer brincar, está com fome, quer levantar logo. A efemeridade também é parte do bicho-de-monte. Variações de bicho-de-monte são permitidas. Pode acontecer na madrugada, quando alguém acorda com medo. Pode acontecer à noite, na hora de dormir, e começar com uma história. Pode acontecer sem os pais, mas com os primos: bicho-de-monte na sala da casa da vó, todo mundo empoleirado para caber em dois colchões. Nesses casos, a noite costuma avançar madrugada adentro e terminar com uma bronca (“não quero ouvir nem mais um pio!”). Bicho-de-monte serve para nos lembrar de que não é preciso muito para nos sentirmos felizes. Um momento que ilumina o dia, que enche a alma de alegria, que reforça a importância das coisas que realmente contam na vida. Quando as luzes se apagam, antes de o dia nascer, quando sentimos medo, angústia, solidão. Para os tempos de ontem, de hoje, de amanhã. Não importa nada: teremos sempre o nosso bicho-de-monte. JAN/FEV 2019 15


PRAZERES SIMPLES

TÁ NA MESA

Para comer

sentado

Não confunda: este sanduíche não é uma refeição rápida. É hambúrguer dos bons, para degustar com calma

TOQUE DE CHEF Para fazer uma maionese temperada, acrescente salsinha e bata tudo no mixer por um minuto. Se a maionese for caseira, ainda melhor!

texto MARINA BESSA

© Foto: Sheila Oliveira / Empório Fotográfico. Produção culinária: Paula Belleza. Produção de objetos: Marcia Asnis

E

xistem hambúrgueres e hambúrgueres. Os primeiros são do tipo fast food, feitos em uma linha de montagem, carne fina sem muita consistência, verduras um pouco murchas, pão encharcado. Não dá para escolher o ponto da carne, o recheio fica todo de um lado só, acompanha batata frita meio molenga. A gente come rápido, a ideia é matar a fome. Os outros são do tipo gourmet, feitos na chapa pelando, um a um, carne alta e suculenta, salada crocante, pão macio na medida. Pede-se que venha ao ponto ou malpassado, a montagem é cautelosa, acompanha batata rústica bem temperada. A gente come devagar, a ideia é saborear cada mordida. Nossa receita, claro, está no segundo time. Chamam de hambúrguer, mas, na verdade, é uma refeição caprichada. Para o resultado à altura da foto, use carne fresca, moída no dia, e respeite a mistura (o chamado blend) sugerida. Há uma ciência complexa por trás do hambúrguer perfeito. A carne deve ter 20% de gordura – mais que isso, o hambúrguer fica pequeno e excessivamente gorduroso; menos que isso, fica seco e sem graça. Cada bolinha deve pesar 180 g e não pode ser amassada demais: quanto mais aerada, melhor. Na hora de moldar, trabalhe para que as bordas fiquem mais altas que o centro – assim, depois de cozido, o hambúrguer ficará retinho. Para selar a carne, a chapa deve estar soltando fumaça. Não deixe que ela fique por mais de seis minutos no fogo, ou a suculência e o sabor escorrerão grelha abaixo. Tire da frigideira e deixe seu hambúrguer descansar por alguns segundos – enquanto você prepara o pão e as verduras, ele solta o excesso de líquidos. Queijo cheddar de verdade, alface fresca, tomate caqui e cebolas caramelizadas completam nosso banquete. Mas você pode usar o seu bom gosto para experimentar novas combinações. Só não pode, isso nunca, comer em pé. Afinal, esse hambúrguer é slow food, meu amigo. 24 REVISTA SORRIA

CHEESEBURGUER COM CEBOLA CARAMELIZADA E BACON rende 4 unidades

INGREDIENTES: Para a cebola • 3 cebolas • 2 colheres (de sopa) de manteiga • 1 pitada de sal • 1 pitada de açúcar mascavo Para o bacon • 400 g de bacon em fatias Para a carne • 360 g de costela e

360 g de cupim moídos • 2 colheres (de sopa) de água • 2 colheres (de sopa) de azeite (e mais para grelhar) • sal e pimenta-do-reino moída na hora a gosto Para a montagem • 4 fatias de queijo cheddar • 4 pães de hambúrguer • alface americana • 4 rodelas grossas de tomate caqui


PÃO QUENTINHO Na hora de montar o sanduba, corte o pão e esquente as duas metades, colocando-as na frigideira com a parte de dentro para baixo.

DO JEITO CERTO Carne que passa do ponto fica seca e sem sabor. Se você gosta dela menos vermelha, deixe-a dourar por, no máximo, mais um minuto de cada lado.

MODO DE PREPARO:

1

Corte as cebolas em rodelas finas. Em uma frigideira, em fogo baixo, derreta a manteiga. Junte a cebola. Jogue uma pitada de sal e de açúcar mascavo e deixe caramelizar, mexendo de vez em quando, até ficar bem dourada.

2

Preaqueça o forno a 180 oC. Forre uma

assadeira com papelmanteiga e disponha as fatias de bacon dentro dela. Leve para assar por 15 minutos, virando na metade do tempo.

3

Numa tigela, junte as carnes, a água e o azeite e, com as mãos, misture tudo até chegar a uma mistura homogênea. Divida em 4 bolas iguais e modele-as no formato

do hambúrguer. Tempere os dois lados de cada uma com sal e pimenta. Leve uma frigideira ao fogo alto com o azeite. Quando estiver pelando, ponha os hambúrgueres e tampe a frigideira. Deixe dourar por dois minutos de um lado e pelo mesmo tempo de outro – no último minuto, ponha uma fatia de queijo sobre cada

carne e jogue uma colherinha de água no canto da frigideira. Tampe novamente.

4

Na hora de montar o sanduíche, ponha sobre o pão a alface americana, depois a rodela de tomate e a carne com queijo por cima. Finalize com a cebola caramelizada e o bacon.

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VALORES ESSENCIAIS


NOSSA HISTÓRIA É ESCRITA COM LEMBRANÇAS. PRESERVÁ-LAS É FUNDAMENTAL PARA CONHECER NOSSO PASSADO E NOS PREPARAR PARA O FUTURO reportagem HELAINE MARTINS ilustração CACO NEVES

Lettering: Qual Seu Tipo? (Diego Vaughan)

Q

uem é você? Como foi sua infância? Quando deu seu primeiro beijo? O que estava fazendo na manhã de 11 de Setembro de 2001? Que história suas memórias podem contar? Vivências e experiência montam o mosaico da nossa vida. E a lembrança desses momentos constrói a nossa história. História que conta de onde viemos, as escolhas que fizemos, a época em que vivemos. Que define o nosso lugar no mundo. “Uma de nossas principais características como humanos é que lembramos, registramos e reproduzimos nossas memórias”, diz a psicóloga Marina Massimi, coordenadora do Grupo de Pesquisa Tempo, Memória e Pertencimento do Instituto de Estudos Avançados da USP. “A memória é um dos fundamentos que dão sentido à vida. É determinante na formação do que chamamos de identidade”, ressalta. No plano individual, essa identidade é formada com fragmentos da nossa vida cotidiana e com as relações que estabelecemos com grupos de amigos, parentes, vizinhos. Tem a ver com autoconhecimento, com se reconhecer e se identificar com valores, comportamentos, gostos. Paralelamente, no plano coletivo, a sociedade também coleciona experiências, criando memórias e fazendo história a partir da contribuição de cada um de nós. É nos museus, nos monumentos, nos livros, documentos, obras artísticas e histórias orais que essa memória coletiva se expressa. “São fatos que nem todos presenciamos – como a chegada do homem à Lua, o período da escravidão no Brasil ou a queda do Muro de Berlim –, mas que são passados de geração em geração, fazendo parte de uma memória compartilhada”, explica a psicóloga. E se a história é feita de lembranças, a manutenção das nossas memórias é também a preservação das nossas raízes, das nossas origens, do nosso passado. “A questão é que o excesso de informação do mundo contemporâneo atrapalha o poder de seleção da nossa memória e favorece a formação de uma sociedade do esquecimento, que não conhece nem valoriza sua história”, diz Marina. O resultado é o descaso com o nosso patrimônio cultural (que culminou com o incêndio do Museu Nacional do Rio de Janeiro, em setembro de 2018), a perpetuação de estruturas de violência e opressão (como a vivida há séculos pela população negra) ou mesmo a negação de fatos históricos (que faz jovens pedirem o retorno da ditadura militar no Brasil, por exemplo). Mas há quem acredite que, para sermos inteiros, precisamos do nosso passado. Nas próximas páginas, você vai conhecer pessoas que, conscientes do percurso que as trouxe até aqui, se debruçam sobre suas memórias e histórias no esforço de apontar um caminho de conhecimento, transformação e justiça para o futuro. JAN/FEV 2019 29


DÁ PRA MUDAR?

36 REVISTA SORRIA


EM BUSCA DE PAZ INTERIOR

PARA COMEÇAR A MEDITAR, BASTA ESCOLHER UMA TÉCNICA E PRATICÁ-LA ALGUNS MINUTOS POR DIA. SIMPLES? SÓ NA TEORIA. NOSSA REPÓRTER EXPERIMENTOU E RELATA AQUI OS DESAFIOS, MAS TAMBÉM AS RECOMPENSAS reportagem ISABELA NORONHA ilustração BERNARDO FRANÇA

S

ou conhecida pela minha ansiedade – em meu antigo emprego, ganhei o apelido de Ansi-Isa. Por isso, já havia recebido de pessoas queridas a dica de que a meditação poderia me ser útil. Quando a Sorria me propôs o desafio de aprender a meditar, lembrei delas. E pensei em mim: será que eu conseguiria? Topei. Para agravar minha sensação de falta de tempo e de preocupação com o futuro, estou no fim da gravidez da minha segunda filha e o líquido amniótico está aumentado, o que pode causar um parto prematuro. Preciso mais do que nunca acalmar a mente, viver o momento presente. Como começar? Há centenas, talvez milhares, de tipos de meditação. Todos buscam, de alguma maneira, controlar a atenção e nos libertar do caráter “pegajoso” de nossos pensamentos. Depois de ler muito a respeito, escolho a técnica de Mindfulness, também conhecida como Atenção Plena. Essa prática milenar ficou popular nos anos 70 e hoje voltou à moda, justamente por prometer mais foco e menos estresse com instruções simples, de forma bem pragmática. Adio a tarefa por uns dias, mas, finalmente, resolvo baixar um aplicativo bem avaliado na internet – o Headspace. Apesar de ser em inglês, não é difícil de entender. “Que horas você quer meditar?”, ele pergunta. “É mais fácil transformar uma atividade em hábito se ela for realizada todos os dias no mesmo horário”, explica

o “mestre digital”. Marco o despertador para as 3 da tarde, hora em que costumo fazer uma pausa (eu trabalho em casa). Também devo escolher um lugar confortável: não é necessário ficar com as pernas cruzadas nem estar em um ambiente silencioso. Sento-me em uma das cadeiras da mesa de jantar, tiro o chinelo, sinto os pés no chão. Ajeito minha postura, buscando uma posição confortável. Por fim, seleciono o tempo de atividade: 3, 5 ou 10 minutos? Escolho 10! Aperto o play, e, no fone de ouvido, o mestre dá as instruções. Não demoro a entrar no relaxamento. Consigo prestar atenção à respiração sem pensar em outros assuntos por um bom tempo. Escuto os sons do ambiente, os carros na rua, o grito de alguém, um pássaro, a geladeira. Estou em um estado de quase torpor. Então, uma preocupação: não posso me desligar, terei que reproduzir tudo nesta reportagem depois! Mas a voz do mestre vem me resgatar: não há problema em divagar, basta trazer a mente de volta para a respiração. Ou para as sensações físicas. “Sinta seu corpo”, ele repete. E eu sinto: meu cenho franzido, os pés frios no chão, a barriga, grande, subindo e descendo a cada respiração. Ao fim, ele me pergunta: “Como se sente? Mais calma, mais relaxada?” E a verdade é que sim. Sempre duvidei de que apenas alguns minutos de qualquer atividade possam surtir efeito. Mas um estudo publicado em 2012 na revista

A CIÊNCIA COMPROVA > 47% DO NOSSO TEMPO. É O QUE PASSAMOS IMERSOS EM NOSSOS PENSAMENTOS1 > 1 MINUTO POR DIA. É O TEMPO DE MEDITAÇÃO PROPOSTO PARA QUEM QUER COMEÇAR E NÃO CONSEGUE ENCONTRAR TEMPO2 > 27 MIL HORAS DE MEDITAÇÃO. É O QUE ACUMULA AO LONGO DA VIDA UM PRATICANTE MUITO EXPERIENTE3 > UM MÊS. É O TEMPO NECESSÁRIO PARA SENTIR OS EFEITOS DA MEDITAÇÃO, COMO UMA MAIOR AUTOCONSCIÊNCIA E A REDUÇÃO DO ESTRESSE. MAS, PARA ISSO, É PRECISO PRATICAR DE 15 A 20 MINUTOS DIARIAMENTE4 Fontes: 1) Universidade Harvard; 2) Meditation for Fidgety Skeptics, de Dan Harris; 3) A ciência da meditação: Como transformar o cérebro, a mente e o corpo, de Daniel Goleman e Richard Davidson; 4) Centro Mente Aberta da Unifesp

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