Sorria #68

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© Foto: Skarie20 / iStock

PRAZERES SIMPLES

14 REVISTA SORRIA


A vida é um evento raro texto MARCIA KEDOUK

S

empre fui fascinada por estrelas cadentes, mesmo depois de saber que não são estrelas, mas fragmentos de materiais, como asteroides, que saltam no infinito e entram como fogos de artifício na órbita da Terra. A primeira lembrança que tenho de olhar para cima em busca delas é de quando, na infância, meus dois irmãos e eu ficamos até tarde na varanda de casa, sobre um colchão, comendo pipoca e esperando o tal fenômeno acontecer. Cada um já tinha pensado em um pedido para fazer quando enxergasse uma, curto o suficiente para caber nos poucos segundos que ela levaria até se apagar. Uma hora, o mais velho gritou: “Ali!”. Em vez de focar no alto, me virei para ele e perguntei: “Onde?”. Pronto, a estrela caiu e eu não vi. Depois, o do meio gritou: “Aqui!”. E eu olhei pra ele e disse: “Cadê?”. Perdi mais uma... Achando graça na caçula desajeitada, eles começaram a apontar o céu várias vezes, fingindo que observavam alguma coisa. Exageraram tanto que percebi a brincadeira. E permanecemos os três, por um bom tempo, mais entregues às risadas do que à chuva de meteoros. Não sei dizer se cheguei a notar algum lampejo deslizando pra baixo daquela vez. Pra falar a verdade, nunca me saio muito bem em observações cósmicas: ou está nublado ou não consigo diferenciar se estou diante de um episódio incomum, um golpe de vista ou a constelação que já bate ponto naquele canto toda noite. O que sei é que eventos raros – a passagem de um cometa, uma conjunção planetária, um eclipse, o amanhecer com neve no sul do país – produzem certo encantamento. Como não acontecem toda hora, viram algo desejado, esperado, que captam a nossa atenção, nem que seja por alguns minutos. E, quando estamos entregues a uma experiência, ela se torna parte do nosso acervo emocional mais rico, porque foi gravada de várias formas, com sons, imagens, sabores e até aromas. Minha mãe, por exemplo, tem uma flor que exala um perfume inconfundível, mas só desabrocha uma ou duas vezes por ano, por volta das 11 horas de uma noite quente. Pela manhã, as enormes pétalas brancas já se recolheram. Quem quer testemunhar o espetáculo precisa estar ali naquele curto espaço de tempo. Em um mundo ocupado demais para a contemplação, admirar fenômenos da natureza – de preferência com os sentidos, e não apenas através das lentes de uma câmera – virou uma prática que me ensina a importância de ser inteira, em tudo. Porque a vida, como a conhecemos, também é um evento raro. JUL/AGO 2019 15


PRAZERES SIMPLES

TÁ NA MESA

Pede que é uma delícia De receita açucarada, o pé de moleque é um dos doces mais queridos do país, ainda mais nesta época do ano texto ISABELA NORONHA

© Foto: Sheila Oliveira / Empório Fotográfico. Produção culinária: Paula Belleza. Produção de objetos: Marcia Asnis

O

pé de moleque é um doce peculiar. É duro, bem doce e tem um nome estranho. Nome, aliás, que não se sabe ao certo de onde vem. Há quem diga que é uma referência ao calçamento de cidades históricas, com aquelas pedras irregulares (os amendoins!), que por algum motivo eram chamadas assim. Mas a versão de que mais gosto é a do pé de moleque que era vendido por quituteiras de rua, que sofriam com os furtos da garotada da região. Quando flagravam os pequenos larápios, diziam, na tentativa de evitar os roubos, “Pede, moleque! Pede, moleque!” Independentemente da história do nome e das outras particularidades, esse doce é tão tradicional no Brasil que fica difícil aceitar que não tenha sido inventado aqui – um viajante sortudo poderá encontrá-lo em outros países, como a Índia (onde é chamado de chikki) e o México (onde é chamado de palanqueta). Para muita gente, dar uma mordida em um pé de moleque é voltar à infância, às festas juninas da escola, do bairro, da igreja. Para outras, é delícia para o ano todo, sem distinção. Nem Carlos Drummond de Andrade teria escapado aos apelos do doce, chamado-o, em uma carta, de “joia mineira”. Para mim, pelo resto da vida terá gosto de carinho de vó. A minha fazia um tabuleiro especialmente para me mimar quando eu ia visitá-la em Belo Horizonte. Na casa dela, encontrava um pote cheio desse doce, cortado em quadrados caprichados – pote esse que eu roubava e levava para a casa da minha mãe, onde ficava hospedada. Comia um no fim da manhã. Outro de sobremesa. Outro com café, no fim da tarde. Não tem hora para pé de moleque. E, como aqueles eram os únicos que eu comia o ano todo (nenhum outro poderia competir com os da minha avó), na primeira dentada eu quase desistia: era doce demais. Duro demais. Mas logo na segunda mordida o paladar reconhecia a crocância, a leve pitada de sal do amendoim, a alegria do caramelo se derretendo na boca. E eu já estava querendo mais um. 24 REVISTA SORRIA

PÉ DE MOLEQUE

rende 40 unidades

INGREDIENTES: • 2 + ¼ xícaras de açúcar • 4 xícaras de amendoim torrado sem sal e sem pele • 1 lata de leite condensado • 1 colher (de chá) de manteiga para untar • Papel-manteiga


MUDAR DÁ PÉ Você pode substituir o amendoim por outras delícias. Nesse da foto usamos 2 xícaras e meia de amendoim, 1 xícara de semente de abóbora, meia xícara de gergelim e uma pitada de flor de sal

MODO DE PREPARO:

1

Utilize uma fôrma retangular de 30 cm x 21 cm. Unte com um pouco de manteiga e, então, forre com papelmanteiga, que deve grudar nela. Reserve.

2

Em uma panela, coloque o açúcar e, em fogo baixo, derreta até virar caramelo. Junte o amendoim e mexa até obter a coloração desejada.

Dica: quando acrescentar o amendoim ao caramelo, você pode ajustar o pé de moleque ao seu gosto: se quiser mais escuro, basta cozinhar um pouco mais. Mas cuidado para não deixar o açúcar queimar! Por isso, mexa o tempo todo.

3

Acrescente o leite condensado e mexa até desgrudar do fundo da panela.

4

Transfira para a fôrma forrada com papel-manteiga e espalhe o doce por igual. Depois, deixe esfriar e corte como quiser! JUL/AGO 2019 25


VALORES ESSENCIAIS

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Fora da CAIXINHA

CONVIVER COM A DIVERSIDADE PODE PARECER DESAFIADOR – E, MUITAS VEZES, É. MAS ABRIR-SE A PESSOAS DIFERENTES TRAZ AMADURECIMENTO. E, NESSE PROCESSO, NOSSO PEDAÇO DO MUNDO TAMBÉM SE TRANSFORMA

reportagem HELAINE MARTINS ilustração GIOVANI FLORES

N

ão somos todos iguais. Você provavelmente cresceu ouvindo o contrário, mas a verdade é que somos 7,6 bilhões de pessoas diferentes e únicas no mundo. Basta olhar em sua volta – e para si mesmo – para ver que, apesar das semelhanças, somos indivíduos com talentos, habilidades, experiências de vida e gostos distintos. Não temos a mesma idade, etnia, religião, orientação sexual, classe social ou origem. Desde que o mundo é mundo, a diversidade humana sempre existiu, e, acredite, isso é maravilhoso. “Fazer parte de uma sociedade plural garante benefícios para todos os lados”, afirma a antropóloga Claudia Fonseca, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A diversidade abre portas para o aprendizado, pois permite a troca de experiências. E é só convivendo com as diferenças que temos nossas opiniões confrontadas, o que nos torna mais empáticos e capazes de mudar perspectivas, além de desmistificar a ideia de que partimos de lugares iguais. No mercado de trabalho, uma equipe diversa garante até mesmo aumento nos lucros. Um estudo da consultoria McKinsey, divulgado em 2018, mostrou que companhias com maior diversidade de gênero têm 21% mais chance de apresentar resultados acima da média. No caso da diversidade cultural e étnica, esse número sobe para 33%.

“Mas o poder da diversidade só pode ser desencadeado quando, além de reconhecermos essas diferenças, aprendemos a respeitar e valorizar as pessoas pelo que são”, afirma Claudia. “Quando isso acontece, há o comprometimento dos outros para que elas possam ser incluídas e motivadas a fazer o seu melhor”, completa. Em meio a tantos debates sobre feminismo, luta antirracista e direitos LGBTQI+ e, com a participação mais ativa desses grupos em espaços que antes lhes eram negados, a impressão que fica é que vivemos tempos menos hostis. Mas não é bem assim. Quanto mais buscam respeito às suas diferenças, maior se mostra a intolerância a eles. “O problema é que, em algum momento, algumas de nossas diferenças passam a ser vistas como ameaças”, diz Claudia. O resultado é pertubador. De acordo com o Atlas da Violência 2017, a cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. Além disso, em nenhum outro país no mundo há tantos registros de homicídios de pessoas transgêneras. E, a cada duas horas, uma mulher é assassinada no Brasil, segundo dados do Núcleo de Estudos da Violência da USP. Em 2018, foram 1.173 feminicídios. Mas, ainda que o retrato acima seja desolador, felizmente há quem lute para quebrar as barreiras do preconceito e reconheça o valor da diversidade. Ao virar a página, você vai conhecer algumas dessas pessoas. JUL/AGO 2019 29


DÁ PRA MUDAR?

UM CHEGA PRA LÁ NO LIXO A DESIGNER CRISTAL MUNIZ SE DESAFIOU A VIVER SEM ENCHER SACOLAS E SACOLAS DE RESÍDUOS. AQUI, ELA CONTA COMO FEZ PARA REDUZIR O LIXO QUE PRODUZIA, ECONOMIZANDO TEMPO – E DINHEIRO reportagem CRISTAL MUNIZ ilustração JULIA BACK

Uma pessoa produz, em média, 1 quilo de lixo por dia. Cristal Muniz, de 27 anos, de Florianópolis, seguia esse padrão: descartava cerca de cinco sacolas de resíduos por semana 36 REVISTA SORRIA


Q

uando eu era criança, tinha uma professora de geografia que falava muito da importância de preservar o meio ambiente. Eu me lembro do dia em que ela sugeriu que a gente reutilizasse embalagens de arroz para encapar cadernos em vez de gastar com um plástico estampado. Todo mundo pensou que ela era meio doida, inclusive eu. Não porque achasse uma péssima ideia, mas por pensar que, de repente, daria para customizar o plástico do arroz e deixar mais bonitinho. Desde essa época eu me preocupo com meu impacto no mundo. Em casa, a gente sempre separava o lixo para reciclar e jogava o orgânico no quintal, para virar adubo. Mais tarde, adulta e morando sozinha, segui reciclando e, quando podia, mexia no lixo dos vizinhos, reorganizando as sacolas e colocando o que era reciclável no contêiner certo e tirando de lá o que não era. Fora isso, minha vida era bem normal. Começava a faxina em casa recolhendo papéis: recibos, folhetos, cartões de visita. Cada vez que voltava do mercado, enchia uma sacola inteira só com embalagens de cosméticos, produtos de limpeza e alimentos. E toda semana era outra sacola cheia com a areia da minha gata, Nina, e mais uma com papel higiênico. Depois, morria de nervoso de jogar fora o lixo orgânico fedendo, pingando, dentro de não apenas uma mas duas sacolinhas de mercado. Soa familiar? Pois é. Mas a verdade é que, desde que tinha ido morar sozinha, não suportava o tanto de sacolas que gerava. Até que, quatro anos atrás, por acaso, li uma matéria sobre a estadunidense Lauren Singer, cujo título dizia que ela não produzia lixo havia três anos. Primeiro, achei que era mentira. Mas tinha um link para o blog dela, cliquei e comecei a ler. Era verdade. E era também genial e… simples, a luz de que eu precisava para melhorar meu impacto no planeta.

DESPERDÍCIO « ZERO » > RECUSE Aprenda a dizer não a brindes, comprovantes de compra, correspondências que poderiam ser digitais, folhetos e cardápios que pode encontrar on-line. Com a composteira, Cristal conseguiu reduzir em 50% o lixo que produzia

Passei a seguir a Lauren em várias redes e também conheci a francesa Bea Johnson, mãe do Movimento Lixo Zero (ou Zero Waste), que busca incentivar e difundir alternativas para a redução da produção de resíduos pelas pessoas em todo o mundo. Com Lauren e Bea, descobri que passos devia dar a seguir. Criei meu blog Um Ano Sem Lixo em 2015 porque queria inspirar outras pessoas a fazer o mesmo. Com certeza eu não devia ser a única brasileira pensando em como seria possível produzir menos lixo. Além disso, com o blog, eu assumia um compromisso público de mudar. Comecei escolhendo os resíduos que mais detestava: lixo orgânico e absorventes. O primeiro porque eu sabia que podia virar adubo. O segundo porque eu tinha consciência de que não podia ser reciclado nem virar adubo. Descobri que no Brasil existia um movimento de pessoas que usavam composteiras em casa. A composteira é um sistema de caixas com minhocas que degrada matéria orgânica, transformando-a em adubo. Não tem cheiro, e depois você doa ou usa o adubo em plantinhas. Escolhi o modelo (eles variam basicamente só de tamanho) e comprei.

> REDUZA Doe ou venda aquilo que está encostado. Diminua a quantidade de compras e de produtos que você coloca dentro da sua casa. Tenha somente aquilo que usa e use tudo o que tiver. > REUTILIZE Pare de usar descartáveis. Utilize tudo o que tem muitas e muitas vezes. Somos nós que damos uso aos objetos, e é isso que os torna sustentáveis. > RECICLE Separe o lixo e mande reciclar o que não deu para recusar, reduzir ou reutilizar. Na internet, vários sites informam o que é ou não reciclável. Um deles é o lixo.com.br. > FAÇA COMPOSTAGEM Há vários modelos de composteira no mercado. Com ela, você transforma o lixo orgânico em adubo, que pode usar nas plantas de casa – como Cristal conta no texto. JUL/AGO 2019 37


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