Sorria #63

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COMIDA É ALEGRIA! ALIMENTAR-SE BEM É MAIS DO QUE SER SAUDÁVEL. É NUTRIR-SE DE HISTÓRIAS DIVIDIDAS À MESA E SABORES QUE DEIXAM O CORAÇÃO QUENTINHO

#63

set/out

2018

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© Foto: Morsa Images/istock

PRAZERES SIMPLES

12 REVISTA SORRIA


A prática do cuidado texto MARCIA KEDOUK

É

só regar quando a terra estiver seca. Foi achando que era fácil que eu cheguei em casa um dia disposta a montar um jardim. Com jasmim e lágrima-de-cristo. Com limão-siciliano e tangerina, tomilho, sálvia e alecrim. Comprei a melhor terra, os pedriscos para drenar, as pedras para decorar. Tratei de providenciar um borrifador de água para as folhas e renovar meu kit de ferramentas, com pazinhas, garfo e um utensílio que até hoje não sei o nome nem para que serve, mas me pareceu simpático naquele momento. E aí segui o protocolo passado por um funcionário da loja: “É só regar quando a terra estiver seca”. Não que ele tivesse dito apenas isso, devo admitir. Ele respondeu às minhas perguntas sobre quantidade de sol adequada e como transferir as mudas para outro local sem danificar as raízes, por exemplo. Fez tudo parecer tão simples que saí de lá com a certeza de que era só botar água. Nas primeiras semanas, foi bom sentir o perfume das flores e das ervas, esfregar os dedos nas folhas cítricas e identificar a fruta pelo aroma. Estar em contato com a natureza parece nos levar de volta a um estado primitivo de ligação com a nossa essência. E quando nascem as folhinhas ou caem as pétalas das flores? Que beleza há nesse ciclo da vida! Acontece que a rotina não segue o roteiro combinado. Teve dia em que me esqueci das plantas. Teve dia em que aguei demais, num gesto inconsciente de me redimir da aridez causada. E então elas perderam o viço, murcharam, amarelaram. Nenhuma perdoou minhas ausências nem levou em consideração meu esforço para dar a elas a melhor terra, o melhor canto ao sol. Será que nem o borrifador causou comoção? Ali eu senti que falhei. Logo eu, que cresci em uma casa com jardim. Sempre via as plantas tão verdinhas, as rosas tão vibrantes. Nunca pensei que, para que elas se mantivessem felizes daquele jeito, minha mãe dedicava um tempo a elas. É mais que dar água, ela me disse. É estar por perto, sentir se precisam de algo, aparar quando necessário. Desde aquele dia, nunca mais dizimei nenhum canteiro. As plantas lá em casa agora sorriem. Eu ainda esqueço, eu falho. Eventualmente, causo algum dano. Mas entendi que manter um jardim é como cultivar uma relação. Quem vê só as flores e os frutos não se dá conta de que por trás de toda a beleza há a prática diária do cuidado. SET/OUT 2018 13


PRAZERES SIMPLES

TÁ NA MESA

Passa

o pão? Três receitas que vão alegrar sua mesa, aguçar o paladar dos convidados e prolongar a alegria da festa CROCANTE Para fazer a torrada síria, pincele azeite e salpique zaatar no pão sírio. Leve ao forno preaquecido a 180˚C por 5 minutos. Espere esfriar antes de servir.

texto MARINA BESSA

© Foto: Sheila Oliveira/Empório Fotográfico. Produção culinária: Paula Belleza. Produção de objetos: Marcia Asnis

M

inha mãe nunca foi muito de cozinha. Não era seu talento criar pratos novos, descobrir temperos nem recriar receitas tradicionais. Ela sabia fazer bem algumas coisas, e essas coisas viravam sua especialidade. É o caso do bolo de chocolate, do frango à catupiry e do patê de atum. A pastinha à base de maionese sempre foi onipresente na minha infância. Entrada para um jantar com amigos? Patê de atum. Quitute para uma festinha de aniversário? Patê de atum. Vamos fazer uns sanduichinhos mais sofisticados? Patê de atum. Daí você pode perceber: a vida era simples, mas era boa. Porque, digam o que quiserem, todo mundo adora um patê bem temperado, sobre uma torradinha crocante. Patês eram o must lá na década de 80, quando o raio gourmetizador ainda estava bem longe da Terra. Não existiam aperitivos sem eles. Faz umas pastinhas, traz umas cervejas e a noite vai ser boa. Eu mesma repeti a receita da mama algumas vezes (atum e maionese, mas atenção: é imprescindível picar um pouco de cebola bem fininha, pingar umas gotinhas de limão, completar com pimenta-do-reino, acertar o sal). Acho que o gosto por essas preparações é universal. Veja os árabes, com seus aromáticos homus, coalhada seca, babaganuche. Os italianos e suas sardelas, alichelas, caponatas mil. Os franceses, que fazem um patê bem diferente do nosso, mas que são perfeitos para acompanhar uma baguete fresquinha e uma taça de vinho. Não se engane: essas preparações nem sempre são uma mistura simples. O modo de fazer, a combinação de ingredientes, as especiarias, a forma de servir podem transformar esses pratos em entradas saborosíssimas. Quer uma prova? As receitas aí ao lado. Bem diferentes do patê de atum da minha mãe, mas com o mesmo poder de trazer alegria ao corpo e à mente. Delícias que se passam no pão, afinal, são um convite para a gente se reunir em torno da mesa, colocar a conversa em dia e adiar eternamente o jantar (e o fim da festa). Pra que mais? 22 REVISTA SORRIA

PATÊS E PASTINHAS

Para 4 pessoas (cada receita)

PASTA DE CEBOLA CARAMELIZADA E IOGURTE GREGO Ingredientes: • 1 colher (de sopa) de azeite de oliva • ½ colher (de sopa) de manteiga com sal • 1 cebola-branca fatiada • 1 cebola-roxa fatiada • 1 colher (de sopa) de açúcar mascavo • 1 xícara de iogurte grego não adoçado

• 1 dente de alho finamente picado • sal e pimenta-do-reino a gosto Modo de preparo: Doure as cebolas em uma frigideira com o azeite e a manteiga. Polvilhe o açúcar e deixe caramelizar. Em uma tigela, misture o iogurte e o alho e tempere com sal e pimenta-do-reino. Acrescente a cebola


caramelizada já fria – reserve um pouco para decorar. Sirva com torradas. HOMUS Ingredientes: • 1 xícara de grão-de-bico seco (deixe de molho por 6 horas) • 4 colheres (de sopa) de tahine (pasta de gergelim) • Suco de 1 limão • 1 dente de alho picado • Cominho, sal e azeite

de oliva a gosto • Páprica para decorar Modo de preparo: Cozinhe o grão-de-bico na pressão com água até que esteja bem mole (cerca de 30 minutos). Escorra e reserve a água. Bata o grão no processador até conseguir a consistência de pasta. Se preciso, adicione água do cozimento para emulsionar. Tempere com tahine, suco de limão, alho,

cominho, sal e azeite. Bata mais um pouco. Decore com a páprica e um fio de azeite. Sirva com torrada síria. GUACAMOLE Ingredientes: • ½ abacate maduro • 1 cebola-roxa cortada em cubinhos • 2 tomates sem sementes cortados em cubos • Suco de 1 limão • Azeite de oliva a gosto

• Coentro, salsinha e hortelã a gosto • Sal e pimenta-do-reino a gosto • Nachos a gosto Modo de preparo: Em um bowl, amasse o abacate picado com um garfo. Junte a cebola e o tomate e misture. Tempere com limão, azeite e ervas. Acerte o sal e a pimenta. Sirva acompanhado dos nachos. SET/OUT 2018 23


VALORES ESSENCIAIS

26 REVISTA SORRIA


E O QUE É COMER BEM? É CUIDAR DA SAÚDE, SIM, MAS TAMBÉM TER PRAZER, REUNIR GENTE QUERIDA EM VOLTA DA MESA E SABOREAR HISTÓRIAS, DIVIDIR A COMIDA E MULTIPLICAR A FELICIDADE reportagem KARINA SÉRGIO GOMES ilustração ESTÚDIO ZIPOLITE

O

cheiro do pão saindo do forno da minha avó e a textura macia do bolo de cenoura com cobertura de chocolate da minha mãe são algumas das memórias mais felizes da minha infância. Você também deve ter as suas – se fechar os olhos e rememorar momentos como aqueles almoços de domingo com a família toda, sem hora para acabar, certamente vai resgatar uma deliciosa experiência desse tipo. A nossa relação com a comida é assim, abraçada aos sentimentos, desde o nosso nascimento. “É na amamentação que o filho estabelece as primeiras conexões com a mãe, inclusive emocionais”, afirma Marcelo Alves dos Santos, professor de psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie em Campinas (SP). As experiências à mesa ajudam até a determinar a forma como nos relacionamos com os outros. “Uma refeição em família permite que a criança melhore sua inteligência emocional, pois ela aprende a ouvir, repartir, esperar a vez dela de falar e controlar a ansiedade”, diz Marcelo. Comer, além de tudo, aproxima as pessoas. “Ao se alimentar, você produz hormônios relacionados ao prazer, como a endorfina, substância liberada também quando se está cercado de pessoas de quem gostamos”, afirma o professor. Ou seja, essas reuniões gastronômicas se tornam duplamente prazerosas. “Você fica saciado no contexto biológico, que é o de se alimentar, e no afetivo, da necessidade de estar

com os outros”, explica ele. Mas a verdade é que a vida moderna (e corrida!) tem colaborado para tornar esses momentos mais escassos. Segundo uma pesquisa da empresa Edenred, quatro em cada dez brasileiros levam menos de 30 minutos para almoçar. Outro estudo, da companhia GfK, mostra que passamos apenas 5,2 horas por semana na cozinha preparando pratos. São 44 minutos por dia. Pouco tempo em companhia de familiares e amigos à mesa significa menos pausas felizes na rotina e menores chances de associar a hora das refeições às relações significativas, ao afeto. Ainda mais se a gente considerar que a alimentação virou sinônimo de peso corporal. A pressão pelos quilos a menos é tanta que associamos comida à culpa, ao suposto dever de ser magro – e, com isso, à frustração. “Tudo atualmente parece estar relacionado à aparência, ao que vamos mostrar aos outros, e acabamos nos esquecendo do que sentimos”, afirma a nutricionista Sophie Deram no livro O Peso das Dietas (Editora Sextante). “É importante rever esse conceito e se questionar.” As próximas páginas estão recheadas de histórias de pessoas que investem na alimentação sem pressa e com experiências sociais. Elas resgataram hábitos como garantir que o almoço ou o jantar reúna a família, conhecer os produtores dos alimentos que consomem e trocar a contagem de calorias pela de momentos ricos em significado.

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DÁ PRA MUDAR?

NOSSA REPÓRTER TESTOU PRÁTICAS QUE LEVAM A UMA ROTINA MAIS EFICIENTE. E DESCOBRIU QUE, PARA CHEGAR LÁ, PRECISAVA DE DEDICAÇÃO A SI MESMA reportagem RAFAELA CARVALHO ilustração FIDO NESTI

T

odo mundo conhece alguém que parece ter uma rotina costurada sob medida: sabe quanto tempo vai levar em cada tarefa, consegue cumprir mil afazeres na semana, mantém o foco e, ainda por cima, arruma tempo livre. Eu sempre tive inveja de pessoas com esse dom; sempre quis ser produtiva dessa maneira. Sonho há anos com uma versão da Rafaela que se deita na cama à noite e dorme em paz, com a lista de pendências zerada. Mas estou longe de chegar lá: nunca consegui ser assim por mais do que algumas semanas. E nunca entendi por quê. Se eu quero mesmo ser produtiva, por que cedo com tanta frequência à procrastinação? Foi o que tentei descobrir ao encarar esse desafio proposto pela Sorria. É claro que um mês não me transformaria milagrosamente. Mas, dessa vez, precisava ao menos descobrir como cortar o mal pela raiz e preparar o terreno para uma versão melhor de mim mesma. A primeira coisa a fazer foi mergulhar no meu cérebro: dedicar tempo para criar um mapa mental montando o que seria uma rotina da qual eu me orgulhasse. Foi a parte mais demorada 36 REVISTA SORRIA

do desafio inteiro: levei uma semana! Refleti sobre como dividir as áreas da minha vida e terminei com cinco categorias: profissional, intelectual, financeira, mental e física. Em cada uma delas, listei coisas que gostaria de inserir no meu dia a dia para que pudesse sentir que ele é produtivo: escrever pelo menos uma reportagem por mês sobre assuntos com que me importo, fazer um curso por semestre, ler 30 páginas de algum livro todo dia, economizar 30% dos meus ganhos, fazer terapia uma vez por semana, caminhar às quartas, às sextas e aos domingos... Fui o mais específica possível. Coloquei tudo em uma cartolina para que enxergasse meus pensamentos em um lugar só. Achei que ficaria aliviada, mas bateu um desespero: eram coisas demais! Foi quando pedi ajuda a Fabíola Luciano, especialista em terapia cognitiva comportamental e em produtividade. As palavras dela foram certeiras: “Não é ideal olhar para a nova rotina como uma revolução”, explicou. “Depois de transformar essas atitudes em tarefas mensuráveis, basta pegar no máximo dois ou três objetivos e se autogerenciar.” Ou seja: eu deveria


escolher uma coisa de cada vez, e não todas elas, para mudar meu comportamento de forma fracionada. Quando tudo ficou possível de realizar, tive receio. Era como se, ao dizer que eu precisava separar 15 minutos da minha manhã para meditar, por exemplo, aquela versão melhor de mim se tornasse real demais. Parece bom, certo? Mas, para mim, deu medo. Não havia escapatória. Se eu procrastinasse uma coisa tão simples, o fracasso seria inteiramente meu. Notei que estava com o pé no freio antes mesmo de pisar no acelerador ao testar mudanças na rotina. Mais do que medo de fracassar, tinha medo de tentar. Temia a mudança, o peso da ação. Foi quando entendi que o buraco da minha procrastinação era mais embaixo e que eu precisaria ter paciência comigo mesma. Fabíola também disse algo que me acalmou: uma rotina produtiva só é descoberta quando experimentamos e analisamos o que dá certo e o que não dá. Dificilmente eu acertaria de primeira o que funciona melhor para mim. “A produtividade é buscar o constante equilíbrio entre o permitir-se e o perdoar-se.”

DEIXAR PARA DEPOIS > 95% DAS

PESSOAS

PROCRASTINAM

> A BUSCA PELA SATISFAÇÃO INSTANTÂNEA

PODE ESTAR NOS GENES, JÁ QUE ERA ÚTIL PARA NOSSOS ANCESTRAIS GARANTIREM LOGO MEIOS DE SOBREVIVER

> A DIFICULDADE PARA CONTROLAR O PRÓPRIO TEMPO É LIGADA À INCAPACIDADE DE VER

VALOR NAS TAREFAS > A PROCRASTINAÇÃO PODE ESTAR LIGADA A TRANSTORNOS MENTAIS. NESSE CASO, EXIGE ACOMPANHAMENTO PROFISSIONAL

* Estudo Predicting procrastination on academic tasks with self-report personality measures, da Universidade de Hofstra, em Nova York

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