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© Foto: MoMo Productions / GettyImages
PRAZERES SIMPLES
12 REVISTA SORRIA
Amor em suspensão texto ISABELA NORONHA
M
inha filha estava com 3 anos quando parei de dar colo a ela. Nessa época, desloquei o joelho. E mais relevante: eu estava grávida de novo. Então, foi assim, um dia, abrupta e drasticamente, deixei de levantar minha menina do chão, de aninhar sua cabecinha debaixo do pescoço, de sentir o que se sente quando outro ser humano se entrega a você – aos seus braços, que devem segurá-lo no ar, aos seus olhos, que identificam os obstáculos no caminho, mas, sobretudo, aos seus joelhos, esses falsos fortões, a quem cabe segurar todo o conjunto. Vai ser educativo para ela, me consolei. Imaginei que acostumar-se a andar sobre as próprias pernas, chegar de pé mesmo aos lugares mais intimidantes, ajudaria a minha pequena a crescer. A criar alguma casca, nesta vida tão cheia de gente e eventos querendo nos descascar. Então minha filha vinha pedindo colo e eu dizia: mamãe não pode, está com o joelho machucado (não queria que ela sentisse que perdia algo por causa do novo bebê). Nos primeiros dias, chorou em protesto. Somente semanas depois pareceu se conformar. Uma vez, chegou a se interromper enquanto pedia, para explicar a si mesma: ah, você não pode, está com o joelho machucado. E me deu um beijinho na patela. Assim, passaram-se os meses, os nove, e a irmã chegou. Com ela, uma nova paixão avassaladora – que não impediu que eu fosse tomada por uma saudade sem fim da mais velha. Uma saudade que não passava quando assistíamos juntas a um desenho na TV ou jogávamos dominó no tapete do quarto. Até que me dei conta. Era saudade de dar colo a ela. De segurá-la nos braços e sentir o cheirinho do seu cabelo, o coração colado ao meu, cabecinha encostada no meu peito, ancorada. De sermos duas em uma. Fui lá e ofereci: filha, quer vir no colo? Seu joelho já merorô, mamãe? Sarou, menti. Quando a suspendi, levei um susto. Ela estava bem maior, não era mais aquela que eu tinha deixado de carregar. Um nó na garganta – educativo, dessa vez, para mim. Hoje, não perco mais tempo. Carrego depois do banho, para sair do carro, se ela se cansa no meio do nosso passeio na praça e sempre que ela pede. E que bom que ela voltou a pedir. É meio sem jeito: com seus 4 anos e meio, ela está grande que só. Mas encontramos um novo encaixe. O joelho? Continua bambo. E os braços mal dão conta. Mas, ah, eles não carregam nada sozinhos. Todo sentimento do mundo também suspende, no ar, minha menina. SET/OUT 2019 13
PRAZERES SIMPLES
TÁ NA MESA
O sabor vem de longe
OPÇÃO SEM CARNE Troque os bifes por couve-flor! Não precisa selar: só marinar e assar. Para acompanhar, use repolhos verde e roxo, cenoura e pepino. Vai ficar uma delícia!
Prático e gostoso, o kebab no pão – ou só kebab, como costumamos chamar – é um sanduíche com muita história texto ISABELA NORONHA
© Foto: Sheila Oliveira / Empório Fotográfico. Produção culinária: Paula Belleza. Produção de objetos: Marcia Asnis
A
sonoridade do nome indica que essa iguaria vem de longe, lá do Oriente Médio. Mas o princípio da receita é universal: recheio quentinho, equilibrando sabores e texturas variadas, envolto em pão, para comer com a mão. Trazido por imigrantes, já é bem conhecido em várias partes do Brasil. A receita mais tradicional leva cordeiro. Mas essa é apenas uma das possibilidades para o kebab. Ele também pode ser feito de carne de boi, frango ou porco, sempre marinada e assada em um espeto. Esse preparo teria se popularizado graças a soldados turcos que espetavam nas espadas as carnes que caçavam para assá-las direto na fogueira. Kebab é, portanto, o nome da carne feita desse jeito – o sanduíche seria o kebab no pão. Porém, como o uso tende a deixar a língua mais prática, nos acostumamos a chamar só pelo primeiro nome o conjunto todo: a carne preparada no espeto combinada a saladas e molhos, tudo bem embrulhado por um pão sírio. O primeiro registro da palavra kebab como refeição estaria em um manuscrito turco de 1377. Ter sobrevivido a séculos é prova da capacidade de adaptação desse alimento. E de reinvenção. É o que nos mostra a história de um de seus tipos mais famosos, o Doner. Esse kebab, grelhado em espeto vertical, teria sido criado em 1972, em Berlim, pelo imigrante turco Nadir Nurman. Ele que teve a ideia de colocar a carne em um pão sírio, fazendo um sanduíche sob medida para os alemães apressados que passavam em frente à sua banca a caminho de casa. Claro, muita gente refuta essa versão, embora ela seja considerada oficial. Eu, por aqui, só agradeço por toda a trajetória do kebab, que trouxe até a gente essa opção de comer bem a qualquer hora. Se quero algo rápido e gostoso, esse sanduíche é ótima pedida. Mas também é uma delícia para saborear devagar, em uma mesa com amigos, batendo papo, sendo levados, juntos, para terras bem distantes. 22 REVISTA SORRIA
KEBAB
rende 4 sanduíches
INGREDIENTES: Para a marinada • 600 g de bifes de coxão mole • 1 xícara de iogurte natural integral • Suco de 1 limão • 1 colher (de chá) de alho picado • 1 colher (de chá) de gengibre ralado
• 1 colher (de chá) de páprica defumada • 1 colher (de café) de cominho em pó • Sal e pimenta-do-reino a gosto • 1 colher (de sopa) de azeite de oliva extravirgem Para o recheio • 1 pimentão vermelho • 1 pimentão verde
MOLHO DE IOGURTE Em uma tigela, misture 1 xícara de iogurte natural, 1 dente de alho picado e hortelã fresco a gosto. Depois, tempere com sal e pimenta-do-reino.
MOLHO DE TAHINE Misture 3 colheres (de sopa) de tahine, suco de 1 limão siciliano, 1 colher (de chá) de molho de pimenta, 2 colheres (de sopa) de água gelada, sal e pimenta-do-reino.
• 1 pimentão amarelo • 1 cebola roxa • Azeite de oliva extravirgem a gosto • Sal e pimenta-do-reino a gosto • Tomilho fresco a gosto Para a montagem • 1 pote de homus • 4 pães tipo sírio
MODO DE PREPARO:
1
azeite, sal e pimenta. Coloque-os numa assadeira grande. Espalhe o tomilho fresco por cima e leve para assar por 30 minutos, ou até dourar. Reserve.
Preaqueça o forno a 180˚C. Numa frigideira bem quente, sele os bifes dos dois lados e reserve. Numa tigela, misture todos os ingredientes da marinada e coloque os bifes. Misture bem e leve à geladeira por uma hora, aproximadamente.
3
2
Passe o homus no pão. Coloque em cima dele os legumes e a carne. Enrole e prenda com um barbante.
Parta os legumes do recheio em tiras e tempere com
Coloque a carne com a marinada em outra fôrma e asse por cerca de 40 minutos, até ela secar.
4
SET/OUT 2019 23
VALORES ESSENCIAIS
26 REVISTA SORRIA
Não se afobe, não TEM DIAS EM QUE NÃO DÁ TEMPO NEM DE RESPIRAR DIREITO. SE VOCÊ SE IDENTIFICA COM ESSA FRASE, SAIBA: O MODO VELOCIDADE MÁXIMA NÃO É A ÚNICA OPÇÃO. A CHAVE PARA UMA VIDA MAIS FELIZ – E PRODUTIVA – PODE SER DESACELERAR reportagem HELAINE MARTINS ilustração ESTEVAN SILVEIRA
O
despertador toca, você se levanta, se arruma, toma um café correndo, pega o carro e logo se estressa no trânsito. No trabalho, perde-se entre inúmeros e-mails, almoça no tempo que dá. Volta para casa, toma um banho rápido, come um sanduíche e se deita já planejando o dia seguinte. Essa rotina lhe parece familiar? Pois você não está sozinho. Em todo o mundo, há uma sensação generalizada de que cada momento é uma corrida contra o relógio, uma maratona até uma linha de chegada que nunca alcançamos. “Se a pressa é constante, a ansiedade e a frustração também são constantes, afetando a qualidade do sono e a alimentação e causando doenças, desde gastrite e insônia até depressão”, explica a psicóloga Daniela Cipriano, do Instituto de Psicologia e Controle do Stress, da Unicamp. Mas precisamos mesmo dessa correria? “Não é fácil viver mais lentamente em um mundo que se move com tanta pressa, mas, sim, a contracorrente existe”, diz a jornalista e educadora Michelle Prazeres, idealizadora do Desacelera SP, uma iniciativa que propõe ressignificar o tempo e propagar um estilo de vida mais calmo e pleno. “Há um movimento crescente de pessoas que falam da desaceleração. Ele nos faz repensar a nossa relação com o tempo, refletir sobre quando a velocidade é, de fato, necessária e quando é fruto de uma vida vivida no piloto automático”, explica.
Nascido na Itália, na década de 1980, o chamado Slow Movement (“movimento sem pressa”, em tradução livre) luta pelo resgate de um modo mais tranquilo de viver, no qual se valorizam as pequenas coisas, como o preparo de uma comida, uma refeição em família, caminhadas pela cidade ou sentar-se para ouvir um disco. E o mais importante: com atenção plena, estando presente no momento. Na prática, desacelerar significa ter equilíbrio e viver cada coisa no seu próprio ritmo, priorizando a qualidade, e não a quantidade. E, embora a forma de lidar com o tempo seja uma experiência individual, os impactos são coletivos. “Quando uma pessoa consegue sair desse mar de estresse e angústia da batalha do dia a dia, leva leveza e tranquilidade para as suas relações interpessoais, no cuidado consigo e com os outros, o que gera um efeito dominó,” diz a psicóloga Daniela. Mas não se engane: lento não é sinônimo de menos efetivo ou menos produtivo. Ir mais devagar não significa não fazer as coisas, nem declarar guerra à modernidade ou à tecnologia. Viver devagar é viver em equilíbrio, ficar em silêncio, planejar, observar, refletir, cuidar de si e dos outros. Nas próximas páginas, você vai conhecer as histórias de pessoas que se descobriram donas do seu tempo – e não o contrário. Elas mostram a importância de saborear cada momento da vida. SET/OUT 2019 27
DÁ PRA MUDAR?
Como se vive sem internet? texto ANA ROVATI, EM DEPOIMENTO A RAFAELA CARVALHO ilustração LEONARDO YORKA
UM ANO INTEIRO DESCONECTADA. ESSE FOI O DESAFIO QUE A FOTÓGRAFA E ARTISTA VISUAL ANA ROVATI, DE 33 ANOS, DECIDIU ENFRENTAR. ELA PRECISOU MUDAR DE EMPREGO E VIU AMIGOS SE DISTANCIAREM. MAS GARANTE: O APRENDIZADO VALEU A PENA
34 REVISTA SORRIA
V
ivemos em um mundo hiperconectado. Mesmo que a internet ainda não tenha chegado a todos os cantos por questões sociais, econômicas e geográficas, de alguma forma esse funcionamento “de não parar nunca” é comum a uma grande parcela da população. Para mim, pelo menos, era. Vivia me conectando para fazer pesquisas, escutar músicas, ver filmes e usar as redes sociais. Mesmo assim, essas novas formas de relação que a internet permeia sempre me intrigaram. O que está mudando? Será que vamos deixar de sentir e de aprender alguma coisa? Gosto de prestar atenção ao cotidiano das pessoas e me pegava pensando: estamos vendo as últimas gerações de indivíduos completamente desconectados ir embora. Talvez, nas próximas décadas, já não exista ninguém para nos contar como é viver off-line e experimentar uma outra forma de tempo e outras maneiras de se relacionar com o outro.
Desde 2013, eu pesquisava as relações contemporâneas. Lia sobre o assunto e conversava com pessoas mais velhas para entender melhor essa ruptura entre o mundo delas, desconectado, e aquele que me rodeava, hiperconectado. Decidi fotografar alguns desses personagens e contar a história deles. Mas, em 2015, no curso que fiz para desenvolver a proposta desse projeto, em Madri, na Espanha, percebi que esse não era o caminho para aquilo que queria investigar. Foi então que encontrei o formato. Entendi que a maior provocação seria narrar a desconexão em primeira pessoa. Eu, que vivia em um mundo marcado pela conexão, era quem deveria sair da internet. Esse seria o projeto. Me desconectaria totalmente, desligaria meu smartphone, ficando apenas com um aparelho que fizesse ligações e enviasse SMS. Também não usaria o computador para navegar nas redes. Faria isso por pelo menos seis meses.
HIPERCONECTADOS
9 HORAS E 29 MINUTOS na internet. Todo dia. É o tempo médio que os brasileiros passam on-line, o equivalente a 145 dias no ano.
70% DA POPULAÇÃO brasileira tem acesso à internet.
Quando tomei essa decisão, chorei. De alívio, pois havia pesquisado muito até concluir que precisava fazer isso, e de tensão, pois sentia que me atirava no desconhecido. Além de fotografar meu olhar diante do mundo off-line, manteria um diário em que relataria como estava me sentindo e os impactos cotidianos desse processo. A primeira pessoa a quem contei sobre esse projeto foi minha mãe. Ela também chorou. Estávamos a um oceano de distância, eu em Madri e ela em Farroupilha, no Rio Grande do Sul. Ficaríamos um bom tempo sem nos vermos: não poderíamos mais fazer chamadas de vídeo e não havia previsão de uma viagem para nos encontrarmos nos meses seguintes. Mas eu estava decidida. Pedi endereços e telefones dos amigos, baixei vídeos de fotolivros que costumava usar para pesquisas on-line, informei meus clientes que não estaria mais na internet. Em 2 de dezembro de 2015, pouco
menos de três semanas depois de ter tomado a decisão de viver off-line, eu me desconectei. Ainda dei uma espiada no celular na primeira manhã, para ver as respostas das pessoas às minhas últimas mensagens. E, então, desliguei o aparelho e o guardei na gaveta do criado-mudo. A partir daí, fui tomada por um estranhamento. Notei muito rápido que, sem internet, especialmente quando seu uso é um hábito coletivo, é necessário criar novas formas de existir. Decidi que precisaria respeitar os impactos que essa experiência gerasse. Tive de desaprender até mesmo os gestos viciados, como tirar uma foto para mandar para alguém no WhatsApp. Passei a me questionar: por que queria enviar essa foto? Qual seria o propósito disso? Que diferença faria? Os dois primeiros meses de adaptação foram difíceis. Eu me sentia sozinha, tinha saído de um espaço público que praticamente todas as
85% DESSES BRASILEIROS se conectam todos os dias, principalmente para acessar plataformas sociais como Facebook, Instagram, WhatsApp e YouTube.
67% DOS ADULTOS NO BRASIL TÊM ACESSO A UM SMARTPHONE. A maioria das pessoas navega pela internet usando o celular. O número de celulares no território nacional é maior do que o número de habitantes. Fonte: pesquisa da agência global We Are Social com a plataforma on-line Hootsuite
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