Sorria #62

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© Foto: Iaflor/iStock

PRAZERES SIMPLES

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Surpresa! texto DILSON BRANCO

N

a semana passada, eu e minha mulher fomos a um show daqueles em que os lugares são organizados em mesas. Nos vimos frente a frente com dois completos desconhecidos, separados por um estreito tampo, tomando o cuidado para não esbarrar nossos joelhos nos deles. Eu e ela começamos a conversar, e, após alguns minutos, uma frase inesperada veio do lado de lá: “Desculpe interromper, mas...”. Era um adolescente, dizendo que concordava com o que falávamos. Logo, a mãe dele, uma dentista dos seus 60 anos, entrou no papo. De repente, estávamos tendo uma prazerosa interação com aquelas pessoas que aleatoriamente fizeram parte de nossa vida por um par de horas. Foi uma boa surpresa. E é curioso como a gente tenta evitar esses momentos. Há uma cobrança pela antecipação, pelo planejamento. Vemos o sucesso como o prêmio ao fim de um script bem cumprido. Quanto menos desvios do acaso, melhor. Tanto que “imprevisto” se tornou um termo negativo. Está relacionado a atrasos, esquecimentos, descompromisso. Quando temos um imprevisto, pedimos desculpa. Na infância, a gente nem conhecia essa palavra. Falávamos “surpresa”, e era sempre bom: uma festa, um passeio, um presente tão incríveis que nem podíamos ter imaginado. Bom, pensando bem, havia o teste-surpresa na escola, que não era nada joia. Então, vamos admitir: é claro que nem toda surpresa é agradável. Quem já acreditou cegamente na previsão do tempo, por exemplo, está devidamente escaldado. Para ser boa, ela deve superar a expectativa. Você está sofrendo por antecedência, pois vai precisar acordar cedo no outro dia para um compromisso, quando recebe uma mensagem dizendo que foi adiado – bingo! Chega em casa resignado em esquentar a comida de ontem e é recebido com seu prato preferido, recém-saído do forno – felicidade instantânea! Está decidido a fazer uma compra e, quando vai ao caixa, fica sabendo que há um desconto – otimismo recarregado! Gol do outro time, jogador comemorando, mas, calma, estava impedido, o juiz invalidou – haja coração! Se a expectativa é baixa, o bom vira extraordinário. Se é alta, o ótimo não passa de previsível. Então temos que nos proteger traçando os piores prognósticos, para que tudo seja lucro? Não sei. Mas aprender a lidar com surpresas é crucial. Afinal, não podemos ter certeza sobre o que nos espera no próximo tique-taque do relógio. O que aprendi naquele show é que estar aberto ao acaso ajuda – uma boa surpresa só acontece, de fato, se a gente estiver disposto a desfrutá-la. JUL/AGO 2018 15


PRAZERES SIMPLES

TÁ NA MESA

Curinga

caseiro

BAIÃO DE DOIS Esta é a receita explicada na coluna ao lado. Uma dica para deixá-la ainda mais colorida e saborosa é cortar pimentas biquinho ao meio e dispor por cima ao fim do preparo, junto com a cebolinha. Abaixo e ao lado, nas legendas, você confere outras deliciosas receitas.

Celebre o aconchego das refeições familiares com três receitas unidas por um ingrediente clássico: o arroz texto DILSON BRANCO

© Foto: Sheila Oliveira/Empório Fotográfico. Produção culinária: Paula Belleza. Produção de objetos: Marcia Asnis

O

restante do prato podia ser requentado. Mas o arroz era sempre fresco. O cheiro da cebola refogada tomava conta do ar, junto às canções que minha mãe entoava enquanto fazia os trabalhos de casa, indicando que em breve estaríamos todos reunidos à mesa. Poucas coisas simbolizam melhor o conforto familiar do que a simplicidade desses velhos conhecidos grãozinhos brancos cozidos com o tempero de sempre. Para reaproveitar alguma sobra ou variar o cardápio, às vezes eles ganhavam companhia na panela. A versão com couve em tiras fininhas e carne moída era um clássico. Tinha também a receita com linguiça, que, por algum motivo que fazia sentido na cabeça da minha mãe, exigia pintar o arroz de vermelho. Eu, que de vez em quando ficava de butuca próximo ao fogão, curioso com aquela singela alquimia, me encantei quando descobri que a tinta vinha do tomate picadinho, do qual sobravam apenas fiapos de casca no prato pronto. Lá em casa também se comia muito “risoto”, embora nunca tenha passado pela porta um saco sequer do tal arbóreo ou dos seus primos ainda mais ricos. A palavra indicava arroz com tomate e ervilha coberto por frango desfiado coberto por ovo cozido picado coberto por queijo ralado. Pura delícia. No lar da minha vida adulta, tento emplacar novos clássicos. O carreteiro não é mais de charque, como o da minha mãe, mas com sobras de churrasco. Enquanto asso, fico esperto para separar as fatias esquecidas na gamela, já imaginando seu destino no dia seguinte. Não tem como dar errado. Um dia desses, num raro encontro de família, eu me vi em frente ao fogão, lançando mão dessa minha suposta especialidade para reavivar o assado da véspera. A casa não era a mesma, nós já não somos os mesmos, minha mãe já não está presente para dar sua opinião sobre o tempero, mas, tal qual uma receita caseira fácil e infalível, o ritual foi saborosíssimo, reafirmando o amor que nos une desde sempre. 24 REVISTA SORRIA

GALINHADA Comece refogando ½ cebola com 2 dentes de alho – tudo picado. Acrescente tomate e palmito picados e ervilha (½ xícara de cada). Coloque 1 colher (de chá) de colorau, 1 peito de frango em cubos e 4 coxinhas de asa. Junte o arroz cru, misture e despeje a água. O frango e o arroz cozinham juntos, para o prato ficar mais saboroso.


BAIÃO DE DOIS

Rendimento: 8 porções

INGREDIENTES • 1 xícara de carne de sol cortada em cubinhos • 2 xícaras de feijão-fradinho ARROZ DE CARRETEIRO Faça como o baião de dois, mas sem o feijão nem o queijo. Na hora de fritar os ingredientes na frigideira, adicione tomate e pimentão em cubinhos (½ xícara de cada) e outros tipos de carne, como linguiça em rodelas e bacon em cubinhos (1 xícara de cada). Para finalizar, vale trocar a cebolinha pelo coentro.

• 1 colher (de sopa) de azeite de oliva • 2 dentes de alho picados • 2 xícaras de arroz • Sal a gosto • 1 colher (de café) de colorau • 4 xícaras de água em temperatura ambiente • 1 folha de louro • 150 g de queijo coalho cortado em cubinhos • 1 colher (de sopa) de manteiga de garrafa • 2 cebolas picadas • ½ xícara de cebolinha fresca picada

MODO DE PREPARO

1

Numa panela, cozinhe a carne de sol e o feijão-fradinho em água fervente e abundante por aproximadamente 30 minutos. Escorra e reserve.

2

Em outra panela, frite o alho no azeite e, antes que ele doure, junte o arroz e o sal. Mexa bem e deixe o arroz fritar levemente. Adicione o colorau, a água e o louro e cozinhe por aproximadamente 20 minutos (ou até que os grãos fiquem macios) com a panela entreaberta. Reserve.

3

Aqueça uma frigideira grande e antiaderente até ficar bem quente. Então, doure o queijo coalho, retire e reserve em um prato. Na mesma frigideira, refogue a cebola na manteiga e acrescente a carne com o feijão. Misture. Por último coloque o arroz e o queijo coalho. Finalize com bastante cebolinha picada por cima.

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VALORES ESSENCIAIS

28 REVISTA SORRIA


Quanto é o BASTANTE? NÃO EXISTE EQUAÇÃO QUE DETERMINE A QUANTIDADE DE DINHEIRO NECESSÁRIA PARA UMA VIDA BOA. CABE A CADA UM DE NÓS REFLETIR SOBRE A MEDIDA CERTA DA PRÓPRIA FELICIDADE reportagem RAFAELA CARVALHO ilustração GIOVANI FLORES

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arece que a vida adulta tem um roteiro inescapável: ganhar cada vez mais dinheiro para chegar a um patamar que permita, enfim, algum tipo de realização material – comprar uma casa, trocar de carro com regularidade, ter mais uma TV com a mais nova tecnologia e o maior tamanho. Essa história deveria levar a um final feliz, mas a verdade é que não há final se persiste a sensação de que nunca é o bastante. “Uma boa vida depende também de bens que a tornem, de certa forma, confortável, mas devemos refletir se o que desejamos é importante para nós ou se apenas atende ao que é esperado do nosso comportamento em sociedade”, afirma Maiara Xavier, educadora financeira e criadora do projeto Rica Simplicidade. Ao evitarmos essa reflexão, perdemos o foco e nos tornamos insatisfeitos, porque passamos a buscar dinheiro sem enxergá-lo como meio para algum fim – ele vira a própria busca. “Não é questão de demonizar a riqueza, mas, sim, de encontrar a melhor forma de se relacionar com os benefícios trazidos por ela”, diz a psicóloga Adriana Rodrigues, especialista em finanças. “A felicidade não cresce no mesmo ritmo do aumento da renda. Há uma satisfação momentânea, mas, após um período de adaptação, ela se esvai”, afirma. Se existe algum caminho que ajude a encontrar a medida, ele parece começar não no dinheiro, mas na

forma de gastá-lo. Pesquisadores das universidades de British Columbia, Harvard e da Virgínia, nos Estados Unidos, analisaram mais de 80 estudos que relacionam poder aquisitivo e felicidade e concluíram que os consumidores mais felizes são os que escolhem investir em experiências, em vez de em bens materiais, e optam por prazeres menores e mais frequentes, e não por aquisições maiores em ocasiões esparsas. Além disso, a sensação de satisfação apareceu mais naqueles que usavam a riqueza para beneficiar outras pessoas. Para os cientistas, isso acontece porque ajudar quem precisa é uma forma de estabelecer uma conexão com quem realmente somos e com a vida em comunidade. No livro Essencialismo: a Disciplinada Busca por Menos (Editora Sextante), o britânico Greg McKeown, consultor de negócios, afirma que é necessário adotar três atitudes para passar a viver apenas com o que é importante: ter uma postura exigente para descobrir o que é vital para si, eliminar as coisas que só levam à perda de tempo e desviam o foco dos objetivos e criar um sistema que facilite a execução da nova vida, mantendo apenas aquilo que traz real significado. A seguir, você conhecerá histórias de pessoas que redefiniram sua relação com o dinheiro e com seus bens. Confrontados pelo imprevisível, conseguiram encontrar, entre o muito e o pouco, o que para eles é o bastante.

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DÁ PRA MUDAR?

VALORIZAR SEUS PONTOS FORTES E ACOLHER OS QUE CONSIDERA FRACOS É UM ATO DE AMOR PRÓPRIO. FOI O QUE DESCOBRIU NOSSA REPÓRTER EM UMA JORNADA AO ENCONTRO DA AUTOESTIMA reportagem HELAINE MARTINS

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ilustração ISADORA ZEFERINO


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ala a verdade: se eu pedir a você que faça duas listas, uma com as suas imperfeições e outra com as qualidades, qual terminará primeiro? Para mim, ao menos, sempre foi mais fácil apontar meus defeitos. Eu cresci assim, com uma lupa sempre à mão para enxergar o que me incomodava e uma dificuldade enorme para apontar os talentos que tenho. Acreditava que, na vida adulta, essa realidade mudaria, mas me enganei. Ao longo do tempo, falar de mim se tornou o momento assustador do primeiro dia de aula, a questão indesejável nas entrevistas de emprego, o desconforto do primeiro encontro. Por isso, quando recebi da Sorria a proposta de falar sobre minha relação com a autoestima, meu primeiro impulso foi não aceitar. Durante semanas, eu teria que encarar missões que me obrigariam a me olhar de verdade, por dentro e por fora, e eu não sabia se estava preparada para ver o meu reflexo. Mas decidi topar: estava mais do que na hora de ter esse encontro comigo mesma. Para isso, senti que deveria, primeiro, entender o que é autoestima. Em uma conversa com a psicóloga Luiza Pacheco Horta, do departamento de psicologia clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, ela me explicou que autoestima é o que pensamos e esperamos de nós mesmos. “Diferentemente do que diz o senso comum, uma boa autoestima não é ter uma visão positiva incontestável de si mesmo”, afirma. “Não tem a ver com perfeição, mas com conseguir lidar com as rachaduras, com o que é considerado um defeito, com as coisas que faltam.” Defini, então, qual seria minha primeira missão. Se é a autoestima que faz uma

pessoa se olhar e gostar do que vê, que a faz ser feliz com quem é, por que não tirar um tempo diário para me olhar no espelho e simplesmente me admirar? Parecia muito fácil, mas a verdade é que foi doloroso. Nunca tinha reparado em quanto eu me julgo e me coloco constantemente para baixo! Desde a infância, carrego muitas inseguranças em relação ao meu corpo. Comecei a fazer todo tipo de dieta bem cedo e passei a vida no efeito sanfona. Nesse processo, tornou-se um hábito me olhar e só ver defeitos. Infelizmente, não estou sozinha nessa. Uma pesquisa realizada em vários países por uma marca de produtos de higiene indicou um problema universal: a pressão relacionada à estética aumenta e a confiança corporal diminui conforme meninas e mulheres ficam mais velhas. Oito em cada dez entrevistadas concordam que toda mulher tem algo bonito em si; entretanto, elas não enxergam a própria beleza. Pensando nisso, decidi me forçar a fazer uma lista do que mais gosto em mim e colei no espelho do banheiro, para ler todos os dias ao me levantar pela manhã. Assim, não teria nem tempo de pensar em defeitos. Deu muito certo. A cada novo dia, me redescobria. Fui surpreendida por um sentimento de autoconfiança, empatia e carinho por mim mesma. Mais animada, quis fazer mudanças que pudessem se refletir na minha autoestima. Tirei um fim de semana para realizar uma faxina no meu armário. Não sou de acumular objetos. Mas, como já fiz muitas dietas, sempre foi inevitável guardar roupas jurando que um dia caberia nelas novamente. Tinha, inclusive, o costume

SOBRE AUTOESTIMA > Medo da rejeição, busca constante por elogios e reconhecimento, falta de confiança em si mesmo e sensação de incapacidade são alguns dos principais sinais de quem sofre com baixa autoestima e que podem passar despercebidos.

> Um estudo realizado pelas Universidades de Nova York, Princeton e Illinois, nos Estados Unidos, constatou que as meninas de 6 anos têm dificuldade de acreditar que são “brilhantes”, mas não demonstram o mesmo problema em relação aos meninos.

> A falta de autoconfiança feminina permanece na vida adulta. São as mulheres que mais sofrem com a chamada “síndrome do impostor”, em que elas se sentem uma fraude quando conquistam reconhecimento, mesmo sendo competentes e preparadas.

> Um estudo sobre autoestima realizado por uma empresa de produtos de higiene indicou que nove em cada dez mulheres e oito em cada dez meninas desistem de compromissos importantes, como encontros e entrevistas, quando não se sentem bem com sua aparência.

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