este valor, descontados os impostos, é 100% revertido para o
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PEQUENOS PRAZERES
UMA ESCOLA PARA TODOS BRINCAR NA ÁGUA E SE FEZ A LUZ: 31 NASCIMENTOS TODO MUNDO MERECE UM JARDIM
* 2 mai/jun 2008
BANHO DE CHUVA FILMES PARA SE APAIXONAR + COMIDA,SAÚDE, VIAGEM,TRABALHO
recomeço
Todo fim traz a chance de a gente se reinventar. Histórias incríveis de superação ensinam que dá, sim, para mudar
trabalhar
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para viver melhor
texto N i n a W e i n g r i l l , c o m r e p o r t a g e m d e G u s t a v o P e r e i r a ilustração T h i a g o A l m e i d a
QUANDO DUAS OU MAIS pessoas traba-
Partilhar experiências, idéias e gostos. É assim que vamos trabalhar daqui pra frente
lham juntas para alcançar um mesmo objetivo, o resultado quase sempre surpreende. O fato é que duas cabeças pensam melhor que uma. Essa idéia, aparentemente simples, sustenta o mundo. De cooperativas de reciclagem a enciclopédias na internet, colaborar é tarefa essencial no nosso dia-a-dia. Se você ainda não faz, vai precisar aprender. Por quê? Segundo James Surowiecki, autor do livro A Sabedoria das Multidões, as empresas começaram a perceber que os resultados melhoram quando todos têm o mesmo objetivo. Para ele, grupos com pessoas diversificadas solucionam problemas com mais eficiência. E o melhor: todos levam o crédito.
A troca vale mais Em um mundo competitivo como o nosso, uma situação em que todos saem ganhando parece rara. Mas existe. Sérgio Longo, de 41 anos, descobriu que trocar experiências,
erros e acertos pode mudar uma vida. Em 2003, Longo, que foi morador de rua, entrou por engano em uma fila da Coopere – uma cooperativa especializada em reciclagem. Cinco anos se passaram e Sérgio, hoje tesoureiro da Coopere, viu sua vida tomar outro rumo. “Virei gente”, diz. “Achava que estava fora do mundo, que não pertencia a lugar nenhum, e agora aqui estou. Eu precisava fazer parte de um grupo.” Na Coopere, as pessoas se unem para trabalhar pelo sucesso do empreendimento. E, claro, ganham dinheiro por seu esforço. “Para receber a recompensa, no entanto, é preciso escutar os outros. E aí você passa a trocar experiências, a ampliar seu conhecimento e a desenvolver novas habilidades. Sua atitude muda e a auto-estima cresce”, afirma Mariza Camalionpe, psicóloga especialista em recursos humanos.. A colaboração permite a todos – dentro de uma companhia, empresa ou de um mesmo grupo – ter um nível semelhante
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de conhecimento. E isso democratiza a sociedade, fazendo com que as pessoas trabalhem para um bem maior. “O trabalho cooperativo é como um time de futebol. Se o volante é driblado, o zagueiro precisa ir atrás e fazer a cobertura. No final, todos ganham ou perdem juntos”, diz Mariza.
A internet mudou tudo Revoluções na tecnologia, na economia global e na sociedade são as maiores responsáveis pela criação desses novos modelos de relacionamento, todos ancorados na comunidade e na auto-organização. E isso não é sinônimo de anarquia. Como no esporte, em que o capitão representa os outros jogadores, a colaboração também pede hierarquia.“Mas ela é reconhecida pelos trabalhadores, que vêem em alguém a capacidade de fazer o negócio funcionar”, avalia a psicóloga. De acordo com uma pesquisa feita pela especialista em colaboração virtual Jaclyn Kostner, a cultura da cooperação ultrapassa até as diferenças regionais. É só encontrar quem tenha interesses parecidos com os seus que você pode bolar, trabalhando junto a distância, um roteiro para a TV, seqüenciar o genoma humano, remixar uma música, encontrar a cura de uma doença ou aperfeiçoar um novo software. Matheus Rossi e Milan Repovž são pro-
O trabalho colaborativo exige que se escute o outro. A troca de experiências leva ao desenvolvimento de novas habilidades e a uma mudança de atitude, em que cada um faz a sua parte e todos têm o mesmo objetivo va disso. Separados por 9,3 mil km, o bancário mineiro e o estudante de engenharia de Liubliana, na Eslovênia, utilizam o Linux – um tipo de Windows, só que gratuito – para trocar informações e aprimorar o programa. Os dois criam ferramentas para o software e redistribuem suas mudanças pela internet, deixando o Linux cada vez melhor. “Eu não conseguia fazer o processador entender o que futebol significava”, lembra Matheus. Milan o ajudou. Agora trocam até cartões de Natal: o trabalho colaborativo também ajuda a fazer amigos. Flickr, Second Life, YouTube e outras comunidades on-line sobrevivem dessa maneira. O filósofo francês Pierry Lévy classifica esse fenômeno como “inteligência coletiva”, muito bem exemplificado pela Wikipédia, uma enciclopédia on-line em que os usuários acrescentam e editam os verbetes sentados em casa e sem ganhar nada por isso. A versão em português
do site já tem mais de 371 mil artigos e sua margem de erro é menor do que a da conceituada Enciclopédia Britânica. Agora,nada disso acontece sem envolvimento. Para Henry Jenkins, do Instituto Tecnológico de Massachusetts, o trabalho colaborativo, em qualquer âmbito, formase ao redor de interesses comuns. “O conhecimento construído por essas pessoas é tão sério e comprometido que pode ser maior do que a experiência de qualquer especialista”, diz Henry. É só começar.
crescer
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valores que mudam a vida
Quando o f im
é o começo
QUANDO TINHA 8 ANOS de idade, João
Carlos Martins já era um gênio. Aos 20, apresentava-se ao piano com as melhores orquestras, nos maiores palcos do mundo. Sua maneira de tocar, com mãos tão rápidas que os dedos sobre as teclas pareciam borrões, era considerada pelos mais respeitados críticos de música clássica brilhante, virtuosa, possessa. O jovem pianista, um cabeludo magro, de óculos e fraque, que fazia cara de maluco enquanto interpretava as obras de Bach, era aplaudido de pé. Então, aos 26 anos, num jogo de futebol, João morreu pela primeira vez. Com 26 anos, Mara Gabrilli era livre. Morava sozinha. Fazia duas faculdades, de publicidade e de psicologia, trabalhava, namorava. Gostava de sair pra dançar e de correr longas e exaustivas maratonas. Desde criança, quando jogava tênis, nadava, tocava piano e violão, vivia dando piruetas e subindo em árvores, tinha o espírito do desassossego. Quando podia, viajava. Chegou a viver um ano e meio na Itália. Com menos tempo, ia ao litoral. Olhar o mar a ajudava a pensar sobre a vida que queria ter. E então, aos 26 anos, ao voltar da praia, essa Mara morreu.
A vida acaba e recomeça todos os dias. Adaptar-se às mudanças pode ser difícil, lento e assustador. Mas dessa transformação renascemos mais fortes e realizados
Ninguém está preparado para o fim. Seja previsível, já sentido num aperto no peito pelo jeito como andam as coisas, seja inesperado, como um degrau que não se viu no chão, todo fim é uma perda... Do que se tinha como certo. De planos e perspectivas acalentados. De quem pensávamos ser. Pode ser um relacionamento, um trabalho, sua saúde plena, uma fase da vida — tanto faz. Quando algo acaba, uma parte da nossa história se encerra. E há duas maneiras de lidar com isso: apegando-se ao que sobrou ou começando tudo de novo. “Recomeçar é nascer outra vez”, pensa Dulce Critelli, filósofa e terapeuta existencial, da PUC de São Paulo.“Não se trata de partir do zero: já temos uma vida, um passado, um jeito de ser. É a disposição de se lançar ao desconhecido.” O que provoca a transformação pode ser pôr em prática o velho sonho de largar tudo e viajar, uma doença,uma paixão ao virar a esquina,a perda do emprego, uma gravidez, a chuva no meio da festa, um acidente. Algumas coisas controlamos — e muitas outras não. Bastante natural, pondera Dulce.“A vida é assim. Não podemos planejar tudo. O inesperado nos convoca, e é preciso lhe dar uma resposta.”
As vidas de João Quando foi convocado para uma pelada com a Portuguesa paulistana, seu time do coração,João Carlos Martins aceitou.A Lusa estava de passagem por Nova York, onde morava. Durante o jogo, no verão de 1966, uma pedrinha resvalou do chão e foi cravar no braço do pianista. Cortou um nervo, e os movimentos da mão direita endureceram. Um ano de fisioterapia. Quando voltou aos palcos, um respeitado crítico americano escreveu que João não era mais o mesmo. “Tinha razão. Eu não estava concentrado na música, mas nas minhas limitações”. Foi sua primeira morte. Arrasado, João vendeu os pianos, anunciou o fim da carreira e virou treinador de boxe. Se não podia ser o grande Martins, não queria mais saber da música. Só que João descobriu que doía mais ficar longe do palco que aceitar sua nova condição — e decidiu enfrentar o piano, mesmo com limitações. Depois de sete anos de reflexão, treinos exaustivos e tratamentos intermináveis, ele reestreou. Para surpresa geral, havia superado não só a lesão, como o próprio talento: o músico que voltava, mais maduro, era ainda melhor do que o perdido naquele jogo de futebol.
© divulgação
texto R o b e r t a F a r i a com reportagem de Amanda R a h r a e N i n a We i n g r i l l fotos R o d r i g o B r a g a ilustração N e l s o n P r o v a z z i
RECOMEÇAR É... APRENDER A DIFERENÇA ENTRE O MUITO DIFÍCIL E O IMPOSSÍVEL. E SE REINVENTAR, TANTAS VEZES QUANTO FOREM NECESSÁRIAS, COMO O MAESTRO E PIANISTA JOÃO CARLOS MARTINS
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as delícias do exercício
Dois H
e um O
Piscina, mar, rio, lagoa,
A VIDA NA TERRA SURGIU há mais de 4
corredeira, banheira, chuva,
bilhões de anos, depois que dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio resolveram ficar juntos. Nós, humanos, antes mesmo de nascer, já tínhamos as primeiras aulas de natação, no útero de nossa mãe. Cerca de 70% do nosso corpo é feito de água. Nada mais natural do que sentir-se em casa com ela. Primeiro vêm os prazeres. Quem curte competir tem a natação, o surfe, o pólo aquático, até nado sincronizado. Viciados em adrenalina mergulham do alto ou para o fundo, enfrentam corredeiras no rafting, descem cachoeiras no cascading. Perseguidores da boa forma podem aderir à hidroginástica e brincalhões, ao biribol. E até preguiçosos têm vez: basta boiar. Depois vêm os benefícios. Dentro da água, a atuação da gravidade sobre as articulações diminui, então é mais fácil alongar e aliviar as dores. Ganhar massa muscular e melhorar a resistência cardiovascular também é batata. “E a água ajuda a combater o estresse”, afirma o professor de natação Guilherme Assis de Siga. “Na natação, por exemplo, a concentração exigida na hora de respirar e se movimentar faz com que você alivie as tensões e esqueça um pouco dos problemas.” Por último, vem o risco: não querer mais sair de dentro d’água.
água fria, água morna, bolsa d’água. Qualquer atividade molhada faz bem. E, para os personagens dessas histórias, também vicia texto G u s t a v o P e r e i r a fotos R o d r i g o B r a g a
© Divulgação
movimentar
DE NARIZ TAMPADO Quem nunca brincou de ver quem agüenta mais tempo sem respirar debaixo d’água?
Digamos que Karol Meyer, de 39 anos, levou a molecagem a sério. A recifense já bateu
quatro recordes mundiais de apnéia, esporte que é quase aquela brincadeira de criança. Já ficou 7 minutos e 18 segundos dentro
de uma piscina, parada – a modalidade é a estática. Na apnéia dinâmica também
é fera: desceu 91 metros de profundidade só na força dos pulmões. Karol é atleta,
funcionária da Caixa Econômica Federal,
em Florianópolis, tem família e dá palestras. Vida agitada. Mas jura que tudo isso some quando está submersa: ela se concentra
nas batidas de seu coração e “entra em um mundo de silêncio e paz”. “Ficar debaixo d’água é uma terapia. Ali estou comigo mesma e com a natureza”, diz.
AULA? QUE AULA? Sofia nem tem todos os dentes mas
é só sorrisos na piscina. A “peixinha”
de 1 ano e 9 meses é vidrada na bolinha amarela. Joga pra cima e vê, achando
o máximo, ela afundar e boiar sozinha. Bebê que faz natação, dizem os
especialistas, respira melhor, fortalece
pernas e braços e turbina a coordenação motora. Mas, para Sofia, a escola é só
festa. Quem a vê tão faceira mal acredita quanto ela era acanhada. A mãe, Daniela Hirschfeld, conta que, depois das aulas, a pequena “ficou mais ‘elétrica’ e interage melhor com gente de fora da família”.
A professora, Andréa Amaro, garante que
as crianças vivem uma relação intensa com a natação. Sofia concorda. A aula pra ela
dura até o banho de banheira da casa da
vovó Edna. Onde também sorri, banguela.
comer
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sabores que confortam
Da infância
para a mesa
Crocante por fora e molhadinho por dentro. Assim, toda receita de bolinho de arroz é uma delícia. Mas qualquer uma perde para a que nossa avó fazia texto D a n i e l a A l m e i d a
fotos R o d r i g o B r a g a
SÁBIAS ERAM NOSSAS AVÓS. Muito antes
da onda ecologicamente correta, elas já tinham certeza da bobeira que é desperdiçar comida. A mais gostosa prova dessa ciência é o bolinho de arroz, petisco com sabor de almoço na casa dos velhinhos. A massa de sobras de arroz frita a colheradas é uma invenção feliz de quem tentava aproveitar restos de refeição. Quem foi não se sabe. Pode ter sido herança dos portugueses ou, então, uma versão do italiano arancino, feito de risoto. O fato é que o bolinho caiu no gosto do povo. E as receitas seguiram a sabedoria popular, que agrega aqui, mistura ali, à sua moda. Por isso, em cada canto do país, o quitute vai à mesa de um jeito. Na Bahia ficou doce, assado com coco, arroz e açúcar. No Espírito Santo, ex-escravas teriam aproveitado uma supersafra de arroz, em 1920,
para ir vender a delícia em Vitória, batizada bolinho de arroz da serra. Em Roraima, ele é quibe de arroz, pois leva recheio de carne antes de saltar na frigideira. Dominar o segredo de um bom preparo, aliás, era desejo de muitas mocinhas casadoiras que buscavam a escola de culinária Wilma Kövesi, aberta em 1979. Betty Kövesi Mathias, filha de Wilma, hoje à frente da instituição, diz que a receita sempre fez parte do Curso de Principiantes, e de lá não sai. O sucesso é simples: como o arroz é básico, dependendo do tempero, cada bolinho fica único.“Minha mãe dizia: ‘Não busquem na minha comida o tempero de suas avós’”, conta.“Receita é referência. Depois cada um coloca um pouco de si.” Para variar, nossas avós sabiam. Será por isso que não há bolinho de arroz no mundo com o sabor de infância que o delas tem?
SEGREDO DE FAMÍLIA
O bolinho tradicional é este. Mas vasculhe também os velhos livros de receitas da família: quem sabe o segredo daquele temperinho especial não esteja perdido pela casa INGREDIENTES 250 gramas de arroz cozido
trigo e o leite. Misture tudo até dar liga.
25 gramas de salsinha picada
da massa em óleo quente e novo – vai render
75 gramas de queijo parmesão ralado 125 gramas de farinha de trigo 50 mililitros de leite 2 gemas
MODO DE FAZER Misture o arroz cozido com o queijo ralado
e a salsinha. Adicione as gemas, a farinha de
Com uma colher de sopa, pingue as porções
cerca de oito bolinhas. Frite até dourar. Seque bem no papel-toalha. Para variar, você
pode usar arroz integral ou acrescentar
à massa pimenta biquinho, coco ralado, verduras picadas, rechear com pedaços de queijo, camarão...
Receita fornecida pelo Bar Pompéia
DA ESQUERDA PARA A DIREITA: ANA ELISA FARIA, RICARDO BULCÃO E BRUNA KIBRIT, NO BAR POMPÉIA, EM SÃO PAULO
RECEITA DA NONNA
Nascido na Sicília, ilha no sul da Itália, o arancino também é feito de sobras, mas de risoto, de preferência o milanês, preparado com arroz
arbóreo, caldo de carne, vinho, açafrão e parmesão. No recheio, vale tudo INGREDIENTES
MODO DE FAZER
2 xícaras de risoto pronto (feito com arroz
Misture tudo até obter uma massa firme.
1 ovo
de sopa, ponha a massa na palma da mão
arbóreo ou carnaroli)
2 colheres de farinha de trigo
100 gramas de queijo parmesão ralado
1 colher de sopa de azeite ou de manteiga Noz-moscada
Pimenta-do-reino Açafrão em pó
Farinha de rosca
Unte a mão com azeite. Com uma colher
e vá moldando bolinhas. Faça um furo no meio e recheie com cubos de mussarela,
molho à bolonhesa bem apurado (se tiver
muito caldo, desanda!), ou um refogado de cogumelos. Passe na farinha de rosca. Frite em panela bem funda com óleo fervente. Receita fornecida pela cantina Aracini
este valor, descontados os impostos, é 100% revertido para o
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PEQUENOS PRAZERES
UMA ESCOLA PARA TODOS BRINCAR NA ÁGUA E SE FEZ A LUZ: 31 NASCIMENTOS TODO MUNDO MERECE UM JARDIM
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BANHO DE CHUVA FILMES PARA SE APAIXONAR + COMIDA,SAÚDE, VIAGEM,TRABALHO
recomeço
Todo fim traz a chance de a gente se reinventar. Histórias incríveis de superação ensinam que dá, sim, para mudar