Revista Sorria #16

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Sorria ĂŠ vendida exclusivamente na

* 16 out/nov 2010

este valor, descontados os impostos, ĂŠ 100% revertido para o GRAACC


envolver

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todos por todos

Balões para todos!

Você

Para a turminha abaixo, toda criança merece uma bexiga. Veja como transformar essa – ou qualquer outra boa ideia – em lei

faz a lei Tem aí na cachola uma boa proposta que poderia mudar a vida das pessoas para melhor? Veja o que fazer para escrevê-la na legislação brasileira texto C h i c o S p a g n o l o

ilustração B e r n a r d o F r a n ç a

Em 2008, um grupo de cidadãos reunidos no Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) achou que seria uma boa ideia proibir a candidatura de políticos com condenações na Justiça. Então eles prepararam um Projeto de Lei de Iniciativa Popular: “Escrevemos o texto, coletamos as assinaturas exigidas e encaminhamos a proposta ao Congresso”, resume Marlon Reis, jurista do MCCE. Sancionada em junho deste ano, a proibição já valeu na atual eleição. O projeto Ficha Limpa, como ficou conhecido, mostra que cidadãos comuns podem transformar suas ideias em leis. E o Projeto de Lei de Iniciativa Popular (veja ao lado como funciona) é apenas um dos caminhos. Por que não eleger-se você mesmo parlamentar? Foi o que fez o vereador de Salvador (BA) Edson da União. Em 2005, os vizinhos criaram um abaixo-assinado para que ele se candidatasse, por gostarem de seu trabalho como líder comunitário. “Tinha receio, mas atendi ao pedido”, diz. Uma das lutas de Edson na Câmara tem sido a melhoria da merenda escolar. Já o jornalista Geraldo Nunes seguiu outra alternativa. No programa de rádio que apresenta, surgiu o debate sobre o lixo na cidade de São Paulo. “Sugeri que a prefeitura adotasse um horário-padrão para a coleta”, conta Geraldo. O vereador Floriano Pesaro, que ouvia a entrevista, resolveu propor o projeto na Câmara. Depois de quatro meses, a proposta foi aprovada. Da mesma forma, qualquer pessoa pode entrar em contato com políticos e sugerir novas regras. Veja ao lado essa e outras maneiras de conferir às suas ideias força de lei.

A procurar um político

Primeiro defina o âmbito

Você tem o direito de ir aos

infraestrutura de sua cidade?

Pesquise o telefone ou

da sua ideia. É relativa à

Então, procure um vereador. Se tiver a ver com estradas,

escolas ou hospitais mantidos pelo seu estado, busque um

deputado estadual. Para causas nacionais, fale com deputados federais ou senadores

gabinetes dos parlamentares. e-mail deles nos sites das assembleias e câmaras.

Informe-se sobre sessões abertas à comunidade.

ONGs como o Instituto

Ágora (institutoagora.org.br) também podem ajudá-lo


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B Propor um Projeto de Lei de Iniciativa Popular

Para fazer como o pessoal do Ficha

Na hora de conseguir as

Com as assinaturas em mãos,

formulário-padrão de abaixo-assinado

mobilização popular pela internet,

Congresso, Assembleia ou Câmara

Limpa, primeiro se deve pegar o

na Câmara ou Assembleia. Para lei

nacional ou estadual, são necessárias as assinaturas de 1% do respectivo eleitorado; para municipal, 5%

assinaturas, as redes de

como a Avaaz (avaaz.org), são de

grande valia. Foi o que o MCCE fez no caso do Ficha Limpa, além de acionar seus comitês estaduais

é preciso levar o projeto de lei ao

de Vereadores. A proposta receberá um número de protocolo, que permitirá acompanhar sua

tramitação até que seja votada

C eleger-se parlamentar

Para candidatar-se, é preciso estar

Então, é preciso ser escolhido pelo

Na campanha, é preciso divulgar

partido. Escolha o mais alinhado a

candidato nas eleições. Exige-se

de arrecadar recursos – e declará-los

há pelo menos um ano filiado a um suas convicções. São cobradas taxa de filiação e mensalidades

Para um projeto de lei tornar-se uma lei de

fato, ele precisa ser apresentado ao plenário e

votado pelos parlamentares. Caso seja aprovado, é encaminhado ao Poder Executivo: o prefeito,

governador ou presidente, dependendo do âmbito

da lei. Esses governantes têm o poder de sancionar ou vetar o projeto. Sancionado, ele passa a valer, devendo ser respeitado pelos cidadãos

partido para representá-lo como

idade mínima: 18 para vereador, 21 para deputado e 35 para senador

suas propostas. Para isso, você terá à Justiça. Eleito, você poderá bolar seus projetos de lei


crescer

mudar é... reconstruir a identidade para assumir o que não se pode esconder – como o homossexual clênio

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valores que mudam a vida


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Nosso mais poderoso dom é restrito. Podemos mudar a nós mesmos e ao que nos cerca, mas apenas até certo ponto. Tão difícil e nobre quanto exercer esse poder é aceitar suas limitações e, dentro delas, construir nossa felicidade texto D a n i e l a M a r q u e s e D i l s o n B r a n c o

photodesign F e l i p e G r e s s l e r

fotos C r i s t i a n o M a r i z , G u i l l e r m o G i a n s a n t i / F o t o n a u t a e M a r c e l o C u r i a

Imagine que lhe seja pedido escrever uma carta a um completo desconhecido dizendo quem você é. O mais provável é que sua descrição comece pelas informações básicas, como nome, idade, sexo, estado civil, endereço, profissão. Com relação à aparência, poderia abranger dados como desenho do rosto, cor e corte do cabelo, medidas diversas. Talvez incluísse hábitos, conhecimentos, habilidades, a história da sua infância, quem são sua família e seus amigos. Essas características permitiriam identificá-lo entre várias outras pessoas. Elas o definem, fazem-no ser você mesmo. Mas quanto dessa identidade é fixa, e que partes podem ser modificadas de acordo com sua vontade? Pense nas cirurgias plásticas de que já ouviu falar, nos tratamentos de beleza, nas liberdades políticas que a sociedade oferece, nas variadas terapias disponíveis, nos produtos milagrosos vendidos na TV, nos cursos e treinamentos em escolas de todos os tipos, nas possibilidades de crescimento profissional, nas promessas dos livros de autoajuda... A conclusão não pode ser outra: você é você por escolha própria. Se quiser ser diferente, haverá uma maneira de mudar.

“Que bênção viver numa época assim”, pensaria qualquer ser humano nascido alguns séculos atrás. Mudar o que não gostamos em nós mesmos é uma conquista relativamente recente na história da humanidade. Até as descobertas científicas e as transformações políticas consolidadas no fim do século 18, as pessoas – e a sociedade como um todo – eram como eram por determinação divina. De forma geral, nem sequer se cogitava a possibilidade da transformação. E, quando ela ocorria, não era por mérito do indivíduo, e sim pelas forças sobrenaturais a reger o mundo. Moldar-nos ao nosso gosto é uma tentadora oferta da modernidade. Mas será que de fato temos todo esse poder?

Render-se a si Com muito sofrimento, o supervisor de arquivo médico Clênio Borges conheceu a resposta para essa pergunta. Ainda criança, ele se impressionou com a beleza de um rapaz que viu na rua. Hoje, aos 29 anos, sabe que naquele momento começou a descobrir sua homossexualidade. Mas, na década e meia que seguiram aquele dia, Clênio lutou de todas as formas contra esse traço de sua identidade.

Assumir estava fora de questão. A família, de Sobradinho (DF), sempre foi muito católica. “Íamos juntos à missa e nos reuníamos em casa para rezar. Eu cheguei a ser coroinha, participava do grupo de canto. Minha mãe atua nas pastorais”, conta. “Lembro-me de ouvila falar que o homossexualismo não é coisa de Deus. Acho que essas conversas surgiam porque ela já desconfiava. Nessas horas eu dava um sorriso sem graça e ficava quieto”, completa Clênio. A única opção era convencer a si mesmo de que era heterossexual e assunto encerrado. Assim, aos 18 anos, Clênio começou a namorar uma garota. Um ano depois, foram morar juntos. E logo tiveram uma filha. Ele se considerava apaixonado, achava que poderia viver com ela para sempre. Mas em pouco tempo essa estabilidade ruiu. Clênio percebeu que não conseguiria ser feliz nem garantir a felicidade da mulher. A avalanche de sentimentos o fez tomar uma dolorosa decisão: depois de três anos de casamento, pediu o divórcio. “Entrei em depressão. Não falava com ninguém nem comia, perdi 14 quilos”, lembra. Recuperado do rompimento, ele se permitiu experimentar. “Fui em busca


amar

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as relações que importam

Qual foi a maior conquista da sua infância? Atravessar sozinho a rua, trocar o berço pela cama, ganhar um concurso de desenho? Relembre as alegrias e lições desses imensos primeiros feitos texto A n a L u í s a V i e i r a , c o m a c o l a b o r a ç ã o d e C r i s t i n a C a s a g r a n d e , M a r i a n a G o m e s , R i t a L o i o l a , R o m y A i k a w a e Ta t i a n a B a n d e i r a fotos R o d r i g o B r a g a

HÁ 60 ANOS, ADHEMAR, DE 74, APRENDEU A DIRIGIR COMO OS CAMINHONEIROS QUE TANTO ADMIRAVA. SÓ FALTOU O QUEPE

cenografia R a f a e l B l a s


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VOCÊ JÁ FOI CAPAZ DE CONQUISTAS INCRÍVEIS. Venceu obstáculos que pareciam maiores que o mundo, experimentou sensações ditas inacessíveis, logrou êxitos até então reservados para poucos privilegiados. Não se lembra? É só pensar um pouco. Você recordará a sensação de maturidade que lhe tomou conta quando conseguiu vencer o vício da chupeta, o peito estufado de quem enfim fez uma pipa levantar voo, o orgulho de desvendar o universo de mistério que rege os ponteiros do relógio... Ao relembrar essas histórias, é impossível não se emocionar, rir de nossa ingenuidade, sentir saudade. Mas acionar essas memórias também traz uma lição fundamental às pessoas que somos hoje. Na época em que nos inquietaram, os desafios de nossa infância eram tão imensos quanto podíamos imaginar. Na vida adulta, não passam de tarefas banais, que cumprimos sem nem perceber. Será que as conquistas pelas quais lutamos hoje, e que parecem provações infinitas, um dia também restarão diminutas? Confira uma seleção de depoimentos que celebra as alegrias e os aprendizados das pequenas grandes conquistas do começo da nossa vida. Eu tinha uma vontade danada de ser chofer. Naquela época, usava-se a palavra francesa mesmo. E, para mim, nascido e criado no meio do mato, chofer era aquele sujeito de quepe – um tipo de boné mais encorpado que eu era louco para ter – à frente do caminhão. Volta e meia eu via um, transportando lenha ou porcos pelas estradas de terra, e ficava sonhando com o dia em que eu seria igual. Até que, em 1950, meu pai comprou seu primeiro veículo, um Jeep Willys Overland. Aos 14 anos, com a ajuda de um primo, eu me esforcei e aprendi a dirigi-lo, inclusive na lama. Foi a glória! Eu me sentia um verdadeiro chofer – só não tinha o quepe. Adhemar da Silveira, 74 anos, Atibaia (SP). Eu ficava intrigada quando os mais velhos viam as horas em relógios de ponteiros. Como aquilo era possível? A resposta veio aos 6 anos. Na escola, recortamos um papel todo colorido e fizemos as marcações de horas e minutos. Fiquei atenta às explicações da professora, e, depois disso, toda vez que passava em frente a um par de ponteiros, fazia questão de treinar. Quando chegou o Natal, ganhei o presente com que mais sonhara: meu próprio relógio de pulso! Achava o máximo quando alguém me perguntava as horas: olhava para os ponteiros e, com cara de quem calcula algo muito sério, dava uma resposta precisa. Giulia Andrade, 18 anos, Florianópolis.

Minha vida de garoto de 3 anos era pontuada por visitas de amigos. Brincávamos por várias horas, mas, como filho único, às vezes me enchia da companhia e queria que eles fossem embora. A exceção era minha namorada – ou pelo menos a menina que assim eu considerava... Queria de toda forma impressioná-la. Ciente de que ela não usava mais chupeta, decidi mostrar que eu também já era crescido. Tomado pela paixão, joguei minha companheira de plástico na lata do lixo. O dia transcorreu tranquilo. Mas na hora de dormir eu não parava de chorar. Fiz minha mãe ir até a farmácia comprar uma chupeta nova. Minha vitória logo se esvaziou, mas foi muito doce enquanto durou. Felipe Mendonça, 30 anos, Londres, Inglaterra. Parece mentira, mas eu tinha 2 anos e meio quando resolvi tomar essa decisão: assim que voltasse da viagem à praia, eu trocaria o berço pela cama e largaria a mamadeira e a chupeta, tudo de uma vez. Meus pais não deram muita trela. Mas, quando cheguei em casa, dito e feito! Arranquei a chupeta da boca e pronto, primeira promessa cumprida. Conquistada a cama pra dormir, fiquei esperando minha mãe trazer o leitinho – no copo, claro. Para atingir a maturidade, geralmente a gente acaba quebrando a cara. Eu molhei a minha: deitada, tal como fazia com a mamadeira, virei o copo todo em direção à boca.


comer

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sabores que confortam

Para se lambuzar Bilhões de abelhas não podem estar erradas: além de ser perfeito para matar aquela fome de doce, o mel é um ingrediente para lá de versátil e um alimento e tanto para o corpo – seja você um homem ou um inseto texto T a t i a n a B a n d e i r a

foto S h e i l a O l i v e i r a / E m p ó r i o F o t o g r á f i c o


Produção culinária: Carolina Saraiva | Produção de objetos: Márcia Asnis

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Muito ouvi da mãe, quando guria (glutona): “Tá com vontade de comer doce? Vai no açucareiro!”. Pois, se a ideia era se esbaldar, eu tinha uma receita ainda mais exagerada: mergulhava a colher no pote de mel, que me parecia ainda mais doce que o próprio açúcar. Sem saber, repetia um hábito que vem lá da pré-história. Pesquisas mostram que o mel é produzido pelas abelhas há cerca de 20 milhões de anos, ou seja, mais de 15 milhares de milênios antes do surgimento dos primeiros ancestrais do homem. No início, devia ser difícil saborear essa delícia. Era preciso localizar as colmeias, nem sempre instaladas em locais de fácil acesso, e brigar com as abelhas – afinal de contas, elas não entregariam de maneira dócil o alimento que lentamente haviam elaborado com o néctar das flores. Produzir mel em casa, até onde se sabe, foi invenção dos antigos egípcios, que criavam enxames em potes de barro por volta de 2400 a.C. Assim deve ter sido mais fácil erguer as pirâmides: composto de 80% de açúcar, principalmente frutose e glicose, o mel tem efeito de pura energia em nosso organismo. Além disso, possui propriedades antibactericidas, ajudando o sistema imunológico a combater infecções. “É um alimento completo, de fácil digestão e que pode ser consumido todos os dias – exceto por diabéticos e crianças menores de 1 ano”, explica a nutricionista Joseane Nobre. Para valer-se desses benefícios, atacar o pote de mel com a colher em punho é apenas uma das opções. O delicioso líquido dourado é um ingrediente e tanto na cozinha, podendo ser usado em pratos salgados, doces e também em bebidas. Separamos três receitas que, além de saborosas, ficam lindas de ver. Lambuze-se e divirta-se!

Costela de porco assada com molho de mel* ingredientes • 1 kg de costela de porco magra • 1 colher (sopa) de azeite • 4 colheres (sopa) de tempero de churrasco defumado (veja abaixo) • molho de mel (veja abaixo)

a 2h, virando a carne duas vezes durante

o período. Se estiver grudando na fôrma,

acrescente água quente, aos poucos. A carne deve ficar dourada-escura, desprendendo-se dos ossos, e o molho, bem caramelado.

Bruschetta com favo de mel* Ingredientes

Tempero de churrasco defumado • 1 colher (sopa) de sal • 1 colher (sopa) de páprica defumada • 1 colher (chá) de coentro em pó • 2 colheres (chá) de pimenta-do-reino moída • 2 colheres (chá) de mostarda em pó • 1 colher (chá) de açúcar Misture todos os ingredientes.

• 60 ml de creme de leite • 30 g de favo de

Molho de mel • 200 ml de mel • 250 ml de polpa de tomate • 75 ml de vinagre de vinho branco •2 colheres (sopa) de molho inglês • 1 colher (sopa) de mostarda • 1 dente de alho amassado • 1/4 de colher (chá) de páprica defumada • sal e pimenta a gosto Misture todos os ingredientes e leve ao fogo baixo. Ferva de 10 a 15 minutos, até engrossar.

pão doce. Cubra-as com o creme. Você pode

modo de preparo Numa travessa, misture o azeite e o tempero de churrasco e espalhe-os sobre a carne. Cubra-a e deixe-a de um dia para o outro na geladeira. Transfira a costela para uma assadeira. Pincele-a fartamente, com todo o molho de mel. Cubra a assadeira com papelalumínio. Leve ao forno médio por 1h30

mel • 1 colher (sopa) de raspas de limão • 100 ml de mel batido com limão (o suficiente para ficar azedinho) Modo de preparo

Coloque todos os ingredientes numa tigela

e misture bem. Reserve. Torre duas fatias de servir com frutas vermelhas e açúcar de confeiteiro polvilhado.

Drink Ana Banana Ingredientes • 1 dose de vodca (cerca de 60 ml) • 1 colher (chá) de mel • 2 colheres (chá) de suco de limão • 1/2 banana cortada em fatias • gelo a gosto

Modo de preparo Bata os ingredientes no liquidificador por 15 segundos. Sirva em taças. Você pode enfeitá-las com fatias de limão.

* Receitas adaptadas do livro 200 Receitas de Grelhados Suculentos (Publifolha)


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