Revista Sorria #21

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*21 agosto/setembro 2011

este valor, descontados os impostos, ĂŠ 100% doado para os projetos do

Realização:


descobrir

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o melhor do dia a dia

Lá vem o Sol Em cultos antigos, como a religião egípcia, o Sol era o mesmo que deus. Naquela época, pouco se sabia sobre a incrível bola de fogo que brilha no céu. Mas o que a ciência descobriu nos séculos seguintes confirma o julgamento dos nossos antepassados. Se Deus criou e continua nos oferecendo o dom da vida, nada mais certo que chamá-lo de Sol. Já ouviu falar daquela história de que somos pó de estrelas? Não é força de expressão. Quando o Big Bang criou o universo, só existiam dois elementos químicos: o hidrogênio e o hélio. Todos os demais, incluindo o carbono, que é a base do nosso corpo, o ferro, que circula pelas nossas veias, e o oxigênio, que a gente respira, foram formados dentro de estrelas, como o Sol. Quando elas explodem, espalham esses átomos pelo cosmos, e foi assim que eles vieram parar aqui na Terra. Além disso, a energia que nos mantém de pé também

é estelar: graças ao Sol, as plantas conseguem realizar a fotossíntese, que produz o açúcar que alimenta todos os animais, inclusive a gente. Esse milagre científico só acontece porque o Sol está num local preciso: nem perto demais a ponto de nos queimar, nem longe o bastante para nos deixar congelar. E, caprichosamente, ele ainda varia essa posição no decorrer do ano. No verão, sentimos toda sua potência, saímos de férias para melhor aproveitálo, lotamos as praias para absorvê-lo. No inverno, manhoso, ele nos faz sentir saudade, valorizar cada nesga iluminada, sonhar com a primavera que o trará de volta, enchendo novamente a paisagem de calor e vida. Não é preciso nenhuma religião, nenhuma doutrina para admirar essa beleza. E, mesmo que a gente não lhe preste o devido credo, como um deus generoso o Sol nascerá novamente, a cada dia, para todos, levando luz a todo lugar.

© Getty Images

texto D i l s o n B r a n c o


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conviver

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o espaço de todos nós

É meu, é seu, é nosso Comprar e ter só para si − quando precisamos de algo novo, essa é a opção óbvia. Mas cada vez mais gente percebe que não é a única. Compartilhar pode ser bem mais barato e sustentável texto G i s e l a B l a n c o

e Jéssica Martineli ilustração C a t a r i n a B e s s e l l

Certamente você já viu uma criança se agarrar a um brinquedo e repetir: “É meu! É meu!”. Aí, a mãe explica: “Esse não é seu, é do fulano” ou “É de todas as crianças do parquinho”. Desde pequenos, aprendemos a possuir coisas. E a entender o que devemos ou não dividir. Mas prepare-se para reaprender. Uma nova onda está mudando a forma como adquirimos e utilizamos os bens – das verduras que comemos ao carro que dirigimos. Em vez de comprar, a ideia é compartilhar. Pagar pelo uso, e não pela posse − o que traz vantagens para o bolso e para a natureza.

Pesadelo do carro próprio Um bom exemplo do consumo colaborativo − nome pelo qual essa tendência vem sendo chamada −é o compartilha-

mento de carros (ou carsharing, em inglês). A advogada Cristiane Rocha, de 34 anos, é uma das pessoas que viram sua rotina melhorar graças a essa novidade. Cansada do trânsito de São Paulo, ela decidiu vender o carro e se mudar para perto do trabalho, a uma distância que pudesse percorrer a pé. O único problema era quando precisava visitar um fórum distante. Foi aí que ela descobriu uma empresa que há dois anos trouxe o conceito do carsharing dos Estados Unidos para o Brasil, a Zazcar. Funciona assim: o usuário paga uma mensalidade e pode utilizar os carros da empresa sempre que precisar. Os automóveis estão disponíveis em vários pontos da cidade, geralmente próximos a estações do metrô. Para liberar o carro, o cliente usa um cartão que é reconheci-


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do pelo computador de bordo do veículo. Os quilômetros rodados são cobrados direto no cartão de crédito. “Antes, eu desembolsava 1.300 reais por mês só com o financiamento do carro. Hoje, incluindo ônibus, táxi e carsharing, gasto entre 300 e 400 reais”, calcula Cristiane. O meio ambiente também agradece. Segundo Felipe Barroso, sócio da Zazcar, cada veículo compartilhado equivale a 13 que são retirados das ruas. “Quando vendi meu carro, reduzi não só o meu estresse, mas também o da cidade”, afirma Cristiane. Felipe acrescenta: “Por não dependerem apenas do automóvel, os usuários desse sistema se tornam pedestres mais conscientes, que se preocupam com questões como o estado das calçadas”. Prova de que o compartilhamento de carros tem força para virar tendência é o fato de o próprio conceito já ter evoluído para um modelo ainda mais participativo. Na Inglaterra já existe um site (o whipcar.com) por meio do qual é possível não só pagar pelo uso temporário de

veículos, mas também disponibilizar o próprio automóvel para ser alugado. Para quem não tem carro, é um jeito prático e barato de poder usar um. E, para quem tem, é uma forma de transformar o tempo ocioso do veículo em renda extra.

Paraíso comunitário A grande vantagem da internet para o compartilhamento de bens é permitir que pessoas que moram a quilômetros de distância entre si descubram interesses complementares. Mas às vezes não é preciso ir longe. O jornalista Daniel Nunes, de 39 anos, sonhava em ter um sítio para onde fugir nos fins de semana, mas sozinho não poderia comprar um. Encontrou nos sete vizinhos da vila onde mora, em São Paulo, os parceiros ideais. Juntos, eles compraram um sítio em Juquitiba, a apenas uma hora da capital, com três quartos, piscina, orquidário, horta, pomar e até pequenas cachoeiras. Por meio de uma lista de e-mails, uns avisam os outros sobre os dias em que pretendem ir para lá, se vão fazer

festa ou descansar, se vão levar convidados. A manutenção também é compartilhada. Cada um tem uma função: Daniel, por exemplo, é responsável pelo lixo. Quando alguém se descuida das suas obrigações é que normalmente surgem os conflitos. “Algumas brigas são inevitáveis. Mas resolvemos tudo com muita conversa e respeito”, diz o jornalista. “Todos sabem, por exemplo, qual é a cama preferida de cada um. Aprendemos a respeitar as preferências.” Mensalmente, é feita uma reunião, para discutir questões gerais e apresentar o relatório de despesas. Para o futuro, os amigos pretendem criar um estatuto, com regras ainda mais claras. “Com amizade e senso de cooperação, convivemos muito bem”, diz Daniel.

Salada cooperativa Juntar forças entre vizinhos também pode ser muito vantajoso na hora de adquirir bens de consumo imediato, como alimentos. Foi isso que fez a professora aposentada Miriam Langenbach, de 67


crescer

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valores que mudam a vida

deixar ir é... viver profundamente as despedidas, para aceitá-las e superá-las. como renata, que fez questão de estar ao lado da mãe em seus últimos meses de vida


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Despedir-se do passado é o primeiro passo para viver novas histórias. As perdas transformam, fazem amadurecer e abrem espaço para o inesperado da vida. Basta ter coragem de passar por elas

Beleza: Élcio Aragão (Maizena) (Agência First) / Produção de moda: Gabriela Nascimento / Fotodesign: Felipe Gressler

texto R i t a L o i o l a fotos D a n i e l a T o v i a n s k y

No dia em que fez 33 anos, Renata Oliveira recebeu a notícia que mudaria sua vida. A doença de sua mãe, Jacira, não tinha mais cura. Lutando contra um câncer de intestino havia quatro anos, ela recebeu um ultimato dos médicos: ou partia para uma quimioterapia agressiva, que poderia levar à morte, ou interrompia o tratamento e esperava sua hora chegar. “Minha mãe decidiu parar com a químio. E ficamos cara a cara com a dor de um fim próximo”, conta Renata. Elas estavam enfrentando a fase aguda da doença, com hemorragias constantes e internações. Renata, que é fisioterapeuta, passou a trabalhar meio período para cuidar da mãe. Desde 2006, quando o diagnóstico foi feito, elas se acostumaram a passar as festas de fim de ano no hospital. Nos outros meses, Jacira ficava bem e voltava a seu posto de chefe e coração da família – viúva, ela morava com a filha, a mãe e um sobrinho. “Era terrível imaginar a vida sem ela”, diz Renata. No entanto, desde aquele seu aniversário, em 14 de setembro do ano passado, todos foram obrigados a pensar em uma existência em que Jacira não estaria presente. Os papéis mudaram, e a filha tornou-se a fortaleza da casa, arcando com as responsabilidades. Entre momentos de sofrimento, esperança, alegria

e angústia, a família inteira foi aprendendo a lidar com a nova realidade, em que a morte era uma sombra constante. Em janeiro, sentindo o fim chegar, mãe e filha decidiram mudar-se para um quarto da hospedaria de cuidados paliativos do Hospital do Servidor Público Municipal, um casarão na capital paulista com quartos e profissionais dedicados a aliviar o sofrimento dos pacientes em fase terminal. Renata acreditava que, nesse lugar, enfermeiros, médicos e psicólogos poderiam ajudar a diminuir a dor física e psicológica da despedida iminente. “Foi quando pude deixar de me preocupar com os horários de remédios e refeições e, realmente, estar com a minha mãe. Voltei a ser apenas filha e a viver os momentos ao lado dela”, conta. Durante esse tempo, Renata relembrou com Jacira episódios bons e ruins da vida em comum e viveu cada minuto como se fosse o último. “Ver a minha mãe daquele jeito fez com que eu me sentisse pequena, como uma formiguinha, diante de um acontecimento incontrolável e que eu sabia que ia acontecer”, diz. “Foi um período de aprendizado intenso. Falávamos mais e ficamos unidas como nunca. Descobri uma força dentro de mim que não sei de onde vem. Acho que essa foi a herança mais

importante que ela me deixou.” Um mês depois, Renata assistiu ao último suspiro da pessoa que mais amava. “Foi uma morte digna, que soube respeitar seu tempo, seus últimos momentos. Vi sua respiração ficando fraca e percebi que era uma história que terminava.” Para Renata, outra vida começou a partir daquele dia. Ao se despedir da mãe, ela abraçou o desconhecido, dando o primeiro passo em direção a um modo de viver que ainda estava para ser escrito. Esse é o poder trágico que todas as perdas carregam: em uma face, o sofrimento profundo de deixar algo ir embora; na outra, a possibilidade do novo. “A mudança e as perdas acontecem para que o velho deixe de existir e o inesperado surja”, diz o geriatra Franklin Santana Santos, organizador e um dos autores do livro A Arte de Morrer – Visões Plurais. “A morte nos obriga a olhar para outras coisas, amplia nossa visão, traz situações novas. Quem não quer lidar com a morte não quer lidar com a vida.”

Viva e deixe morrer Vida e morte, perda e ganho são lados da mesma moeda desde a Antiguidade. Para algumas correntes da filosofia grega, quem sabe morrer é aquele que aprendeu a viver. Assim, morte e vida


comer

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sabores que confortam

Doçura

que dura

A geleia surgiu como uma forma de conservar as frutas. Mas o resultado é tão gostoso que costuma acabar rapidinho. Faça a sua e tire a prova! texto D a n i e l e M a r t i n s foto S h e i l a O l i v e i r a /

Empório Fotográfico


Produção culinária: Tatiana Damberg | Produção de objetos: Márcia Asnis

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As mãozinhas roxas de espremer uvas e a alegria de ajudar a mãe na cozinha – frequentemente, Rosa Zucchi, de 53 anos, relembra essa memória de infância. As imagens e sensações vêm à tona enquanto ela prepara as geleias que vende na feira da praça Benedito Calixto, em São Paulo. É que as receitas que hoje fazem a festa de sua clientela são uma herança de sua família italiana. Crescido na cozinha da mãe e da avó, o filho de Rosa, Bruno, segue a tradição. Aos 27 anos, ele é técnico em processamento de alimentos e acrescenta à sabedoria de vida da família o que aprendeu na escola. Ele explica que as geleias surgiram como uma forma de conservar as frutas. E isso acontece porque o modo de preparo é, em suma, uma cadeia de obstáculos para a proliferação de microrganismos. A primeira etapa é a fervura, que retira o excesso de água. Depois vem a pasteurização – o mesmo processo que purifica o leite industrializado –, que é o cozimento a menos de 100 ºC. Paralelamente, é preciso esterilizar o pote em que a geleia será guardada, esquentando-o por 40 minutos no forno (faça o mesmo com a tampa, por 25 minutos). Quando a geleia estiver pronta, deve-se colocá-la ainda quente no pote e levá-lo ao freezer até que atinja a temperatura ambiente. Esse choque térmico cria vácuo no pote, vedando-o, o que também ajuda na conservação. Com todos esses cuidados, a geleia dura até seis meses fechada. Após aberta, se mantida na geladeira, pode ser consumida em até 90 dias. A dica de Rosa é para não errar o ponto: basta colocar um pouquinho do doce num pires e levar à geladeira por uns dois minutos. Se depois disso, ao inclinar o pratinho, a geleia não escorrer, pode apagar o fogo sem medo. Quer essas delícias colorindo seu café da manhã? Veja ao lado a receita de geleia de morango de Rosa. E depois utilize-a como recheio para uma saborosa torta. Boa diversão e bom apetite!

Veja m a receit is as de geleia s no s revist ite: asorr ia.com .br

geleia De morango

Modo de preparo do recheio Misture a gelatina

600 g de açúcar • 1 pitada de sal • duas

Depois, dissolva-a em banho-maria. Leve

Ingredientes 1 kg de morangos maduros • pitadas de pimenta-da-jamaica em pó •

suco de 1 limão coado (sem os gominhos) Modo de preparo Coloque os morangos inteiros em uma panela. Acrescente

à água e deixe descansar por 5 minutos. a mistura a uma panela, com a geleia

e o açúcar, em fogo baixo, por 5 minutos,

mexendo sempre. Deixe esfriar e reserve. Modo de preparo da massa Leve à batedeira

o açúcar, o sal e a pimenta. Cozinhe em

a margarina, o ovo e o açúcar. Aos poucos,

mas sem que se desmanche. Procure não

obtiver consistência de massa, retire da

fogo baixo até a fruta começar a derreter, mexer muito. Quando estiver em ponto

de calda, acrescente o suco. Dê uma leve mexida e cozinhe por mais 5 minutos.

crostata

Ingredientes 1/2 xícara de água • 1 colher

(chá) de gelatina em pó sem sabor • 220 g de geleia • 2 colheres (sopa) de açúcar para a massa 90 g de margarina • 1 ovo • 3 colheres e meia (sopa) de açúcar •

1 pitada de canela em pó • 1 xícara e meia

de farinha de trigo • 1 gema (para pincelar)

adicione a canela e a farinha. Quando

batedeira e aperte-a, adicionando mais

farinha, se necessário, até que não grude nos dedos. Numa superfície com farinha, abra

2/3 da massa, com um rolo. Use-a para forrar o fundo das forminhas (se for fazer várias

tortas pequenas, como a da foto) ou de uma forma grande (se for fazer uma torta só). Cubra com o recheio reservado. Abra o

restante da massa e corte-a em tirinhas.

Entrelace-as sobre a torta e pincele-as com

a gema. Leve ao forno (180 ºC), preaquecido, por 40 minutos – ou até dourar.


*21 agosto/setembro 2011

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