Revista Sorria #22

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*22 outubro/novembro 2011

este valor, descontados os impostos, é 100% doado para os projetos do

Realização:


descobrir

O fotógrafo francês Sacha Goldberger também é apaixonado por sua avó, Frederika, de 90 anos. É ela que estrela esse ensaio, chamado Super-Mamika. Veja mais aqui: http:// verd.in/06gt

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o melhor do dia a dia


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Superavós texto R o b e r t a F a r i a

foto S a c h a G o l d b e r g e r

Quando eu era pequena, minha avó me mimava tanto que teve uma época em que segredei às colegas da escola, debaixo do banco do pátio: “Na verdade, a minha avó é a minha mãe, e a minha mãe é uma feiticeira que fez uma mágica para trocar de lugar com ela”. Felizmente, era só imaginação – porque a minha avó era tão maravilhosa em me paparicar que, se tivesse me criado, até hoje eu estaria querendo que alguém cortasse o meu bife e me desse mamão na boca. A vó Elza fazia isso por mim, entre muitas outras coisas extraordinárias – como ficar na fila do bate-bate por horas, entregando um novo ingresso ao moço do parque cada vez que a sirene anunciava o fim da brincadeira, para que eu não precisasse descer nunca do carrinho. Com ela, aprendi a amar livros e alho, a ter letra bonita, a cozinhar um simples feijão como quem faz um banquete, a usar vestidos e perfume. Já o vô Luiz, marido dela, era o nosso Indiana Jones. Trabalhava num museu fantástico, havia viajado o mundo, morado com índios, conhecia história de todas as coisas e sua biblioteca era cheia de mistérios. Todo sério na sua careca brilhante, de terno e colete, cachimbo e bengala, era um lorde – até que, de repente, soltava uma piada suja engraçadíssima. Adorávamos assisti-lo à mesa, comendo com um prazer inenarrável, ou sendo o esportista que corria e nadava na praia. Do outro lado da família, as coisas eram mais simples, mas não menos divertidas. Com a vó Dalila, aprendi ditados como “Com o andar da carruagem, as morangas se ajeitam”, para apaziguar preocupações, ou “Dou-lhe uma enxadada no pé!”, em momentos de ira. (A mais recente foi um conselho para a moça ciumenta do marido, que olhava para outras na rua. Disse a vó: “Deixe que ele esquente a água, é tu quem vai tomar o chimarrão”.) Friorenta como só, ela me ensinou a arte de enrolar bebês em cueiros pra curar choros. E ainda fazia a melhor guloseima do mundo: o doce de leite no fogão à lenha, cortado em quadradinhos que se desmanchavam na boca. Do vô Adão, seu ex-marido, guardo meu maior exemplo de alegria de viver: aos 84 anos, ele está apaixonado outra vez. Mesmo com um pé estragado e a aposentadoria de salário mínimo, dança que é uma beleza nos bailes e não perde uma desculpa para viajar: é visitar parente na praia, excursão da terceira idade para pagar promessa, ir até outro estado só para consertar a pia entupida da neta. Embora terminantemente proibido, não perde uma jogatina com cachacinha. É vê-lo todo pimpão com a sua boina e suas bermudas de tergal para saber: esta aí alguém descaradamente feliz. Tive muita sorte. Meus avós já tinham os cabelos brancos quando nasci, enquanto muitos amigos da minha idade não chegaram a conhecer os seus. E é essa, arrisco dizer, a melhor das coisas dos tempos que vivemos: o aumento da expectativa de vida, que vai permitir à minha filha e às crianças das próximas gerações conviver por muito mais tempo com os pais de seus pais. E eles estão melhores ainda: além de mimar e ensinar, agora têm energia para pular junto na cama elástica com os netos. Espero que essas crianças possam ser felizes como eu fui – e por muito mais tempo do que tive.


envolver

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todos por todos

O trabalho voluntário é um favor aos outros e a si mesmo. Para começar, inspire-se nas histórias a seguir, pegue um dado e siga as casas do desenho. É fácil ajudar! texto D a n i e l a A l m e i d a

ilustração L e o n a r d o G i b r a n

Kamila Nascimento, de 27 anos, decidiu, no início do ano, ajudar os outros. Mas queria algo que coubesse na rotina apertada, entre a faculdade de ciências sociais e o estágio. Descobriu a solução no portal Voluntários Online, em que assumiu o compromisso de ajudar voluntários a encontrar trabalho. Tudo pela internet, em quatro horas semanais, sem sair de sua casa, em Pelotas (RS). “Usei meus conhecimentos para ajudar”, afirma Kamila, que assim auxiliou 30 mil pessoas. O trabalho voluntário traz ainda energia e autoestima, conforme uma pesquisa da Universidade de Cornell (EUA). O compromisso com a comunidade dá a sensação de pertencer ao grupo, promove o relacionamento e faz com que os dias tenham um sentido maior. Foi isso que a jornalista Mônica Kikuti, de 33 anos, encontrou no Asilo São Vicente de Paula, em Guarulhos (SP). Seus fins de semana conversando com as idosas a fizeram sentir-se útil e alegre. “É preciso pouco para fazer o outro feliz. Não há dinheiro que pague o sorriso que recebo”, diz. Mas, para isso, Mônica não falta nunca. Esse rigor é fundamental: não é porque é voluntário que o trabalho não merece dedicação. Essa força – multiplicada por 42 milhões de voluntários brasileiros – é um dos pilares das cerca de 16 mil organizações sociais do país. E há muitas possibilidades de ajuda: a distância ou ao vivo, dando tempo, talentos pessoais, recursos. A relações-públicas Silvana Scarpino, de 49 anos, cede trabalho. Seu tempo se divide em sua empresa de marketing, as aulas que dá na universidade e as seis horas diárias coordenando a comunicação das Casas André Luiz, também em Guarulhos. “E sinto que o tempo que dedico ao voluntariado é pouco perto do que recebo”, diz Silvana, há 25 anos na casa. “Onde mais teria os desafios profissionais daqui?” E você, sabe o que precisa para ser voluntário? Siga o jogo e descubra sua vocação.

Qual é sua vocação voluntária? A atividade voluntária deve dar prazer, para não ser só mais uma obrigação. Quem ama música, mas não pôde trabalhar com isso, pode usar esse talento nas instituições. Avalie suas características pessoais. Algumas questões ajudam: gosta de lidar com gente ou prefere bichos? Tem facilidade com crianças ou paciência com idosos? Prefere tarefas pequenas ou grandes projetos?

quem precisa de você? Ao definir onde trabalhar, leve em conta a seriedade da instituição. As dicas podem vir de amigos ou de sites que reúnem instituições. Eleita a organização, veja de perto como ela funciona e entenda as exigências do compromisso. Lugares que dão treinamento mostram que são profissionais. É o momento de alinhar suas expectativas com as de quem precisa de você.


o que você tem para dar? Descobriu o que gostaria de fazer? O próximo passo é definir o que você tem para doar e em qual quantidade. Pode ser o seu trabalho ou seu tempo livre e suas habilidades. Avaliar sua rotina e determinar quantas horas você pode oferecer é uma boa medida. Com a lista de suas vocações em mãos, é hora de definir que atividade encaixa no seu perfil. É imprescindível que a ajuda seja realmente possível.

sou voluntário! Escolhida a instituição, é preciso preencher os prérequisitos para começar. Em geral, isso significa ter 18 anos e definir um horário para se comprometer. Mas algumas instituições maiores têm processos seletivos, que podem incluir conversa, treinamento e período de experiência. Isso serve como um termômetro para ajustes como a mudança de um grupo, de horários ou mesmo a desistência. O importante é estar comprometido e ter frequência no trabalho.

ia o gu o ser Veja m de co pleto io no site m o c .br ntár volu orria.com s a t revis


crescer

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valores que mudam a vida

casamento é... namorar, unir-se a outros, separar-se e tentar mais uma vez, como ana lúcia e marcelo almeida, que reencontraram o amor e o brilho da paixão nos braços um do outro


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Bodas, núpcias, matrimônio. Com essas palavras, celebramos o compromisso com o outro. Os nomes continuam os mesmos, mas o casamento mudou. Agora, o que o amor uniu pode ser separado, refeito e entrar em modelos sob medida, feitos para cada casal

Quando viu o nome dele na caixa de entrada, ela não soube o que devia sentir. Por 25 anos não existiram um para o outro. Ao ler as palavras de Marcelo de Almeida, Ana Lúcia lembrou-se daquele namoro de infância, do dia em que os dois se deixaram, de toda a vida construída longe dele. Ela havia se casado e passado 17 anos com outro homem. Ele também passou 12 anos com outra mulher. A mensagem tirou o chão da empresária de 45 anos. Era agosto de 2007 e Marcelo brincava de escrever o nome de amigos da infância em uma página de buscas. Foi aí que deu de cara com a foto de Analu no site de relacionamentos Orkut. “Quando abri o perfil dela, foi como se soltassem um balão de gás. Fiquei atordoado com a possibilidade de revê-la”, conta ele, hoje com 46 anos. Mandou a mensagem. Mas Ana Lúcia estava divorciada havia oito anos e morava no Rio de Janeiro, com os três filhos. Marcelo, inspetor de qualidade, estava em Araraquara, no interior de São Paulo, também com

bordados L o v a O l i v a

três filhos e separado. E, além da distância, outra barreira mais forte afastava os dois. O matrimônio desfeito tinha deixado para Analu uma certeza: não haveria outro. Pela sequência de decepções que ela acumulou durante a vida conjugal, casamento era palavra riscada de seu vocabulário. “Meu casamento não era lá essas coisas”, diz. “Ele era ausente, criei meus filhos sozinha.” Convicta de nunca mais repartir sonhos nem projetos, ela alimentava namoros por, no máximo, três meses, para não abrir mão de sua liberdade. “Morria de medo. Não queria compromisso”, conta. “Quando me casei, era para que fosse para sempre, como foi o casamento dos meus pais e o dos meus avós. Mas ou eu me separava ou seria eternamente infeliz.” Então, Marcelo chegou, destruindo as certezas. Passaram seis meses trocando mensagens, preparando-se para o reencontro. As expectativas confundiam-se com a opinião de amigos e familiares, que julgavam que um amor de infância não resistiria às transforma-

ções de um quarto de século. Mas ele insistiu, deu um ultimato. Precisavam se ver. Marcelo viajou sozinho de carro e encontrou Analu no Rio de Janeiro. “Minha vida virou de ponta-cabeça”, diz ela. Três semanas depois, veio o pedido de casamento. E ela disse sim. O casal celebrou a cerimônia há três anos, na casa de campo da família dela, em Petrópolis, onde se conheceram. Analu entrou de branco, ganhou o sobrenome do marido e viveu o ritual como se fosse o único. “Tive de conhecer muitas mulheres para lembrar quem era a certa para mim”, diz Marcelo, apaixonado. “Recomeçar é um ato de coragem. Se eu tivesse de sofrer novamente tudo o que sofri no primeiro casamento para poder reencontrá-lo, eu faria”, diz ela.

Outra vez Feliz por voltar a entregar a vida nas mãos de alguém, o casal não acredita que a vida pudesse ser melhor se estivessem sozinhos. Como eles, outros 136 mil brasileiros preferem abrir mão

Foto: Anna Fischer/Still: Mica Toméo e Carina Barros/Beleza: Margareth Mello/Fotodesign: Felipe Gressler

texto A n d r e s s a R o v a n i


comer

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sabores que confortam

Cuidado: recheio quente (e delicioso)

Um pastel quentinho guarda possibilidades infinitas de delícias. Com massa fininha, doce, salgada, com um ou vários ingredientes no recheio, ele faz a festa de todas as idades texto K a r i n a S é r g i o G o m e s foto S h e i l a O l i v e i r a /

E m p ó r i o Fo t o g r á f i c o


Produção culinária: Aurea Soares | Produção de objetos: Márcia Asnis

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Aos domingos, eu acordava cedo para ir com meu pai à feira. O que me tirava da cama não eram as frutas nem os legumes, mas a barraca de pastéis fresquinhos. Aprendi a dar uma pequena mordida no canto daquele travesseiro de massa crocante e deixar o ar quente sair. Assim, não queimava a boca e fazia o pastel durar mais. Saboreava bem devagar o recheio, guardando o melhor para o fim. Foi essa mesma sensação gostosa que levou Maria Kuniko, de 59 anos, a dedicar sua vida aos pastéis de feira. A paixão veio na primeira mordida, ao provar a receita feita pelo pai, um imigrante japonês que aprendeu aqui a fazer o quitute e vendê-lo em barracas. “O sabor era delicioso, diferente de tudo o que já havia comido”, diz Maria, dona da barraca que ganhou duas das três edições do concurso de melhor pastel de São Paulo, organizado pela prefeitura. Até hoje, ela come pelo menos um pastel de carne por dia. É assim que garante o sabor da receita paterna. “O segredo está na sova da massa. Tem de ser bem fina”, diz. Outra dica para uma massa impecável é prestar atenção à temperatura do óleo. Ele está ideal quando, ao jogar uma tira de massa na panela, ela demora um segundo exato para subir à superfície. Se fizer grandes bolhas, é mau sinal. O empresário Gabriel Junqueira, de 32 anos, aprendeu isso quando decidiu largar seu emprego no mercado financeiro para viver do pastel. Provando até cinco de uma única vez, o apaixonado pela receita descobriu que o pastel perfeito é aquele que tem bolhas pequenas e uniformes. “É isso que revela se ele está sequinho e benfeito.” Para fazer a massa assada, o cuidado está em dosar bem os ingredientes e acompanhar o forno de perto, para que a receita não fique pesada nem quebradiça. Tanto cuidado só mostra quanto o pastel é adorado pelo paladar brasileiro. Ninguém sabe ao certo sua origem, se foi adaptado de trouxinhas fritas e recheadas orientais ou trazido pelos jesuítas. A única certeza é de que ele faz sucesso por aqui com sua fonte inesgotável de recheios. Vai um pastel aí?

Veja m a receit is reche as de ios no revist site: asorr ia.com .br

Massa de pastel frito

Massa de pastel de forno

2 gemas • 60 g de banha suína (ou

250 g de gordura vegetal, margarina ou

Ingredientes 1,250 g de farinha de trigo • margarina) • 1 colher (sopa) de sal • 1/2

colher (sopa) de glutamato monossódico (Ajinomoto) • 400 ml de água

Ingredientes 500 g de farinha de trigo •

manteiga • 1/2 xícara (chá) de refrigerante de guaraná • 1 colher (sobremesa) de sal • 1 gema (para pincelar)

Modo de Preparo Derreta a banha e bata as

Modo de Preparo Junte todos os ingredientes

os ingredientes. Quando a massa estiver

com as mãos, até obter uma massa

gemas. Em uma vasilha, misture bem todos homogênea, envolva-a em filme plástico e

deixe descansar por meia hora. Abra a massa com um cilindro ou rolo. Corte, recheie, feche (as pontas da massa molhadas com água fecham melhor) e frite. No filme plástico, ela pode ser congelada por trinta dias.

recheio de Pizza 3 fatias de queijo mussarela

em um recipiente grande e misture bem, homogênea. Deixe-a descansar por 30 minutos. Com um rolo, abra a massa e corte-a com um cortador ou a borda

de um copo. Recheie, feche com a ajuda de

um garfo e pincele os pastéis com a gema. Leve ao forno quente por cerca de 15

minutos. Retire quando estiver dourado.

• 1 fatia de tomate • 1 azeitona • orégano

recheio de Goiabada com queijo 2 xícaras (chá)

Modo de Preparo Empilhe 2 fatias de

queijo de minas em cubos

mussarela, o tomate, a azeitona, salpique

orégano e cubra com 1 fatia de mussarela.

Feche a massa e frite em óleo bem quente.

de goiabada em cubos • 2 xícaras (chá) de

Modo de preparo Misture os ingredientes em uma tigela. Recheie a massa, feche e asse.


*22 outubro/novembro 2011

este valor, descontados os impostos, é 100% doado para os projetos do

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