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o melhor do dia a dia
É pra se molhar texto R o b e r t a F a r i a
Era um calor desses de fazer a gente suar parado. Nenhuma brisa para aliviar, nenhuma nuvem no céu ameaçando temporal. Praia não tinha, carteirinha do clube também não. Nem mesmo um mísero amigo com piscina, para a gente se convidar para uma visita. E eu e meus irmãos lá, sentados na calçada, suspirando e derretendo, sentindo até o umbigo suar. Então, um de nós diria: “Tive uma ideia!”. E os outros já sabiam, sem perguntar, que essa ideia fatalmente envolveria a melhor amiga dos nossos verões: uma santa mangueira de plástico de muitos metros, usada para aguar as plantas do quintal – e para nos salvar da combustão espontânea. Podia ser só um banho de mangueira mesmo, de roupa e tudo, desses em que a gente começa molhando os pés para se acostumar, até tomar coragem de apontar a água gelada para a espinha, causando pulos e risinhos involuntários. Mas havia muitas outras variações, como a chuva, quando a saída da água apertada criava uma névoa de respingos, com direito até a arco-íris. Ou o banho de banheira, tomado em bacias e cestos de roupa suja, com a ajuda de jarras e copos de plástico para molhar a cabeça. Mas a atividade preferida, é claro, era a guerra. Podia ser de balde (objetivo: virá-lo, cheio d’água, na cabeça do inimigo), de bexiga (em que os balões enchidos com a mangueira viravam bombas) ou de spray (meta: espirrar água na cara uns dos outros). Fosse qual fosse o armamento, sempre haveria alguém (geralmente, o irmão caçula) disposto a usar uma tática suja: encher a boca e cuspir jatos de água morna no outro. Eca! Até hoje, é com uma mangueira que se curte o verão na casa dos meus pais. E novas modalidades de banho continuam a surgir. Há um tempo, meu pai instituiu a moda do sprinkler, aquele acessório para ser colocado na ponta da mangueira para respingar água para todo lado, irrigando a grama. Pois ele comprou dois colchões de ar para piscina e um sprinkler gigante. E quem chega ao quintal de casa leva um tempo para entender a cena: os colchões estendidos na grama, meus pais deitados de roupa de banho e óculos de sol, como se estivessem num cruzeiro, e o irrigador ligado, regando os dois. Para este verão, a proposta é mais ambiciosa: outro dia meu pai ligou contando que acaba de adquirir uma caixa-d’água enorme, devidamente colocada no meio do quintal. Parece que finalmente teremos uma piscina. Mas – que coisa maravilhosa – é do tipo que só funciona com mangueira.
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Š Todd Webb/Getty Images
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todos por todos
Vestido de Papai Noel, com uma festa, doando dinheiro, consertando brinquedos... Há muitas maneiras de levar o Natal a quem precisa texto D a n i e l e M a r t i n s ilustração C a r l o s A r a ú j o
SEU NOME É ROBERTO GÓES, mas pode chamar de Papai Noel. Durante os doze meses do ano, ele reúne presentes para, em dezembro, vestir a roupa vermelha e entregá-los em São Paulo. Desde 2001, o empresário de 47 anos leva alegria do Natal a hospitais e bairros carentes da capital. “Um dia, resolvi comprar uma fantasia de Papai Noel e ir a um hospital”, conta Roberto. “Nunca me esquecerei da alegria e da gratidão daquelas mães e crianças. Comecei com 30 crianças e hoje já são 800.” É essa vontade de transmitir o espírito natalino que faz Melissa Piai, de 31 anos, chegar com uma festa a três hospitais e a um asilo da região metropolitana da capital paulista. Há cinco anos, ela criou o Buzão da Alegria, uma campanha que, em vez do trenó, leva de ônibus dez ajudantes de Papai Noel. “Recolhemos brinquedos e visitamos os lugares para saber do que precisam”, diz a auxiliar administrativa, que, neste ano, vai fazer a festa para 500 crianças e idosos. “No dia, ainda levamos bolas e brinquedos para animar a criançada”, conta.
Mas, para fazer o Natal de alguém, nem sempre é preciso sair de casa. Em Araxá (MG), a costureira aposentada Marlene Goulart, de 65 anos, criou o Hospital dos Brinquedos na sala de casa. Desde 1998, ela conserta 5 mil bonecas e carrinhos que viram presentes de Natal. Sua oficina também recebe material escolar, cesta básica e roupas que, além de instituições de Araxá, vão para mais 15 cidades mineiras. “Achei que, assim, eu traria a felicidade do Natal para elas e para mim. Esse é o melhor tempo da minha vida!”, diz Marlene. Outra forma de dividir com alguém as boas festas é financiar ou organizar o 25 de dezembro. É o que faz a relaçõespúblicas Camilla Salmasi, de 28 anos, na Turma da Touca, ONG de São Paulo. “Sou um dos voluntários que divulgam a campanha e arrecadam sacolinhas com presentes”, conta Camilla, há sete anos na tarefa de auxiliar do Bom Velhinho. Ela sabe que o Papai Noel precisa de muita gente para fazer os presentes chegar a todos. Veja como você também pode entrar nessa fábrica de Natal!
PAPAI NOEL > Para ser o astro da festa de Natal, procure instituições que arrecadam presentes e se ofereça para entregá-los. Algumas precisam de muitos voluntários para distribuir os brinquedos. Você também pode comprar e levar os presentes em hospitais, creches, asilos e abrigos. Converse com os responsáveis pelo lugar e combine a entrega. No dia, lembre-se de levar algumas lembranças a mais, para ninguém ficar sem.
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OFICINA DE PRESENTES > Se você tiver habilidades manuais, consertar brinquedos pode fazer o Natal de várias crianças. Carrinhos, bonecas, ursinhos ou videogames às vezes só precisam de limpeza, reparos simples ou uma reforma na costura para ficar novos. Também é possível ajudar na arrecadação de brinquedos velhos ou organizar a distribuição para abrigos ou hospitais. Outra forma é participar da campanha Papai Noel dos Correios, que existe desde 1997. Veja quais os postos próximos de sua casa com cartas disponíveis para leitura e escolha uma (ou mais) para presentear. O envio dos presentes é gratuito.
PATROCÍNIO DE NATAL > Instituições com pessoas de várias idades precisam de roupas, sapatos ou alimentos, e o Natal é uma ótima oportunidade para ajudar. As secretarias de Assistência Social ou centros de voluntários de sua cidade têm a lista das que precisam de auxílio. É possível contribuir com dinheiro, cestas básicas ou sacolas de presentes (que incluem roupas, material de higiene e brinquedos). Em novembro, as campanhas de Natal estão a todo o vapor.
FAZENDO A FESTA > Comece escolhendo o local: se quiser comemorar com uma instituição, fale com os responsáveis. Se preferir celebrar com moradores de um bairro, vá atrás de associações ou ONGs da região. Juntos, vocês decidem como será a festa: ceia, recreação ou entrega de presentes. Sabendo quem vai participar, calcule os gastos e peça ajuda a vizinhos ou amigos para a arrecadação. E você não precisa abrir mão de passar o Natal com a sua família: a festa pode ser antes do dia 25.
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Beleza: Élcio Aragão (Maizena) (Agência First)/Produção: Carolina Bertier/ Produção de moda: Gabriela Nascimento/Fotodesign: Felipe Gressler
valores que mudam a vida
GRATIDÃO É... OLHAR AS PERDAS DA VIDA COMO PARTE NECESSÁRIA DO CAMINHO PARA ENCONTRAR A FELICIDADE, COMO FAZ JORGE DE LIMA
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texto J a q u e l i n e L i foto D a n i e l a T o v i a n s k y
Ser grato ajuda a lembrar que a vida é boa e vale a pena ser vivida. Tão elementar quanto a existência, ela fortalece nossas relações e nos dá a melhor vida possível
PENSE EM ALGUMA COISA para agradecer. Algo que lhe fez um bem sem tamanho, mesmo após uma situação difícil. Pense, não para dizer “te devo essa!”, mas para reconhecer que ganhou algo gratuitamente, sem mais nem menos. Um bem capaz de te deixar grato porque você o ganhou inesperadamente, mesmo sem merecer. Foi assim que Jorge Marciano de Lima se sentiu quando chegou à casa da quarta família que o recebia. Órfão de pai e abandonado pela mãe, ele só queria a resposta à pergunta: “Esse será o meu lar?”. Com o abraço de Antônia de Lima, ele entendeu que, finalmente, alguém lhe dizia sim. De graça e sem esperar nada em troca, sua nova mãe lhe deu carinho e uma família de braços abertos. “Era como se tudo o que tivéssemos passado até ali fosse necessário para aceitar esse amor sem reservas”, diz Jorge, hoje com 28 anos.
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Ainda bebê, ele e seus irmãos foram abandonados pela mãe e, com 4 anos, perdeu também o pai. Jorge foi parar na casa de uma tia no Recife. Mas, quando o marido dela começou a ter atitudes violentas, o garoto foi para a cidade de São Paulo, morar com outra tia. Na nova casa, as brigas constantes de Jorge com os irmãos e a incapacidade da tia em controlar os garotos levaram-na a enviar o menino para um novo lar. Foi aí que Jorge bateu à porta de Antônia. E foi ela quem, depois de tantos meses de mudanças, o recebeu como o filho que sempre quis ter. Parente distante da família, Antônia e o marido queriam muito um casal de filhos. Mas, com problemas para engravidar, ela não conseguia realizar o sonho. Tinha passado dos 40 anos e continuava tentando, sem sucesso. No dia em que se encontraram, a palavra “mãe” saiu espontaneamente da boca
do garoto. E Antônia percebeu que a vida tinha lhe dado um filho.
Por nada Bondade, generosidade, dádiva e a beleza de dar e receber de graça. Todos os derivados do latim gratia e gratus, de onde vem a palavra gratidão, estão relacionados a termos assim. Quando se viram, Antônia e Jorge sentiram a mistura dessas emoções, junto a uma boa vontade gratuita. Os dois, simplesmente, se olharam e agradeceram pelas circunstâncias da vida que os levaram a estar juntos. Ela se sentiu grata quando escutou o garoto que viria a ser seu filho adotivo chamá-la de mãe. E ele se sentiu grato ao perceber a possibilidade de ter, finalmente, uma família disposta a criá-lo com amor. O sentimento se expandiu, e Jorge é hoje alguém profundamente agradecido ao pai, às tias e aos obstáculos que Antônia e ele
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comer
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sabores que confortam
Farofa-fá! Crocante e úmida, ela tem um quê irresistível. Repare:
não importa o prato sobre a mesa, é só a farofa chegar para conquistar todas as atenções texto T i s s i a n e V i c e n t i n foto S h e i l a O l i v e i r a /
no Confira mais receitas site revistasorria.com.br
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Produção culinária: Aurea Soares/Produção de objetos: Márcia Asnis
Empório Fotográfico
Produção culinária: Aurea Soares/Produção de objetos: Márcia Asnis
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CONTA-SE QUE, HÁ MUITOS ANOS, um índio tupi-guarani, não satisfeito com o ensopado de tartaruga do seu jantar, resolveu completar a refeição. Sem ter panelas, aproveitou o casco da tartaruga e assou uma bela porção de farinha de mandioca. Aquecida, a gordura do casco se soltou, deixando a farinha suculenta. Pronto, estava inventada a farofa! Além de mostrar que o prato é nascido em terras brasileiras, a história revela o encanto ancestral dos sentidos pela farofa. No decorrer do tempo, ela foi ganhando ingredientes extras como linguiças e ovos, e conquistou seu espaço no mês de dezembro, ao lado – e dentro – do peru e de outros assados. Nesses momentos, a receita pode ser sofisticada, com castanhas, miúdos e frutas secas, ou simples, apenas misturada à manteiga, alho e cebola. E é essa última que seduz Ana Luiza Trajano, chef do restaurante Brasil a Gosto, em São Paulo. “Tem gostinho de infância”, diz. Fã de farofas, Ana afirma que o segredo é a ordem do refogado. “O mais importante é primeiro pôr os temperos para refogar e depois misturar a farinha. O caldo liberado no cozimento deles é que dá o sabor”, ensina. O ingrediente principal também merece atenção. Farinhas artesanais, de mandioca ou milho, com flocos grossos, são mais saborosas. E, como uma das características da farinha é absorver gosto dos alimentos, ela também é ótima companhia de receitas doces. Na versão açucarada, feita basicamente com farinha de trigo, manteiga e açúcar, ela vira a cobertura do crumble, uma delícia de frutas carameladas que apareceu na Inglaterra, durante a Segunda Guerra. Sem muitos ingredientes para as tortas, o jeito foi improvisar uma farofa sobre as frutas e assar. Deu tão certo que hoje encontramos o prato com o nome de crisp, nos Estados Unidos, ou de streusel, na Alemanha. Na hora de servir sua farofa, opte pelo equilíbrio: pratos com mais caldo pedem farofa seca, e vice-versa. Escolha a sua favorita – ou fique com as duas! –, improvise nos extras e bom apetite!
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FAROFA COM BACON E COUVE
CRUMBLE DE PÊSSEGO E LARANJA
INGREDIENTES 3 xícaras de farinha de milho
INGREDIENTES – PARA A COBERTURA 150 g de
em flocos • 4 colheres (sopa) de manteiga •
farinha de trigo • 1 xícara de manteiga sem
1 cebola grande picada • 100 g de bacon
sal • 4 colheres (sopa) de açúcar mascavo •
picado • 100 g de linguiça calabresa
3 colheres (sopa) de nozes picadas
defumada picada • 2 xícaras de couve picada
PARA O RECHEIO 6 pêssegos • 2 colheres
• 2 ovos cozidos picados • 100 g de azeitona
(sopa) de açúcar mascavo • 2 colheres
verde picada • 1/2 xícara de cebolinha picada
(sopa) de suco de laranja
• 2 colheres (sopa) de salsinha picada • 1/2 xícara de coentro picado • Sal a gosto
MODO DE PREPARO – COBERTURA Misture delicadamente, com a ponta dos dedos,
MODO DE PREPARO Em uma panela, junte a
a farinha, a manteiga, o açúcar mascavo
manteiga, o bacon e a linguiça. Frite um
e as nozes, até que forme uma farofa
pouco, acrescente a cebola e doure. Adicione
encaroçada e crocante. Reserve.
a farinha, refogue um pouco e junte as
RECHEIO Preaqueça o forno a 180 °C.
azeitonas, a couve, a cebolinha, o coentro.
Descasque os pêssegos, retire os caroços
Mexa até a farinha dourar. Por último,
e corte a fruta em fatias. Espalhe os pêssegos
coloque os ovos e acerte o sal. Retire
cortados em uma fôrma, salpique o açúcar
do fogo e acrescente a salsinha.
e despeje o suco de laranja. Asse de
Dicas
5 a 10 minutos, até que os pêssegos fiquem aquecidos. Retire do forno.
• Sempre acerte o sal no fim, para não correr o risco de ficar salgado ou insosso.
MONTAGEM Cuidadosamente, espalhe a cobertura por cima dos pêssegos e volte
• Opte pela manteiga em vez do óleo.
ao forno por aproximadamente 30 minutos,
Ela deixará sua farofa mais saborosa.
ou até que a farofa comece a dourar.
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