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este valor, descontados os impostos, é 100% doado para os projetos do
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o melhor do dia a dia
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“Quando eu
crescer...
© Hulton Archive/Getty Images
texto I s a b e l a M e n a
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...quero ser sereia”, ela dizia. Amava o mar. E queria mesmo era ficar mergulhando, morar nas águas salgadas. Quando ganhou um livro cheio de histórias e imagens dessas criaturas, foi uma revelação, quase profecia. Eram lindas, com seus cabelos enormes e coloridos, decorados com conchinhas. Podiam entrar e sair da água quando quisessem, brincar com os peixes, tomar sol nas pedras. Tem vida melhor? Claro que não. Então, ela tomou a decisão. Com toda a experiência da infância, bem sabia que podia ser o que quisesse quando crescesse. Então, seria sereia, e ponto final. Conheço quem já quis ser astronauta, Mulher Maravilha, justiceiro, princesa, ciborgue, fada, domador de feras, estilista de cachorro, coelho da Páscoa. Ficar grande dava a oportunidade de fazer qualquer coisa, inclusive adquirir superpoderes e evoluir a própria anatomia, ganhando asas ou um focinho diferente, por exemplo. Mas as profissões, digamos tradicionais, também tinham seu espaço. Um conhecido queria ser gari: usar um macacão laranja brilhante, rodar um tonel ladeira abaixo e ainda andar pendurado num caminhão, buzinando e com sirene, sem a mãe brigar? Vamos reconhecer: nenhum trabalho pode ser mais divertido. Já um amigo meu, quando criança, disse a toda a classe que sua profissão de adulto seria pai. Queria ser pai e marido quando crescesse, porque achava que cuidar de uma família era o trabalho mais importante do mundo. E bonito, claro. Que a gente não tem vergonha de ver beleza nas coisas simples quando é pequeno – depois é que complica. E que bela fase essa em que temos a certeza de que tudo é possível, tangível, realizável; que a vida é da cor que a pintarmos, e, se quebrar a ponta do lápis de cor verde, não há problema em pintar a grama de azul. Nesse momento, em que o real e o imaginário andam juntos, a vida não tem cercas, porque não existem medos nem preconceitos para nos limitar. O.k., não dá para viver no mundo da fantasia para sempre. Mas, de vez em quando, faz bem lembrar que houve um dia em que podíamos tudo, para ganhar de volta a coragem de sonhar grande. Talvez não dê para criar um rabo de peixe. Mas sempre se pode mergulhar feito sereia outra vez.
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todos por todos
DESAPEGUE > Decidir o que trocar é o primeiro passo. Olhe o que há em casa: roupas, sapatos e acessórios encostados ou que não servem ganham nova vida ao ser trocados. Brinquedos, eletroeletrônicos, receitas, serviços e talentos também podem entrar na lista. Converse com os amigos e procure o que pode ser objeto de troca entre vocês.
Feiras de escambo são práticas divertidas, econômicas e ecológicas. Que tal montar a sua? texto H e l a i n e M a r t i n s
ilustração É d e r M i n e t t o
SABE AQUELE SAPATO que você comprou e usou apenas uma vez? E a cadeirinha do seu filho que foi útil só por algum tempo? Ou aquele livro que leu e encostou? Não vai usar mais? Então, troca! Foi pensando nisso que pessoas no mundo inteiro aderiram a uma prática divertida e consciente: as feiras de trocas onde você não gasta um centavo e ainda contribui para salvar o planeta por meio da reutilização e do reaproveitamento de materiais que seriam descartados. A relações-públicas Erika Balbino, 40 anos, é uma das pioneiras dessa prática em São Paulo. Foi em 2007 que ela teve a ideia de unir o útil ao agradável. Reuniu as amigas para matar a saudade e criou o Escambo Bazar num só encontro. Deu certo. Hoje, elas não só ainda se veem, sempre a cada três meses, como passaram a ter um guarda-roupa ecológico. “Partimos da ideia de que, se não usamos algo por um ano, aquilo não deve ter tanta importância. São roupas, sapatos e acessórios novos e seminovos”, diz Erika. Mas não vale trocar roupas manchadas, livros rasgados ou aparelhos quebrados. Itens assim ficam de fora de feiras e bazares, como os do Cineclube Socioambiental, espaço que, desde 2009, promove uma feira mensal no bairro paulistano Vila Madalena. Ali, há lugar até para a troca de serviços e saberes. “Se uma pessoa sabe cortar cabelo, o vizinho sabe fazer massagem e outro traduzir livros, é só trocar e continuar o ciclo”, explica a produtora Danila Bustamante, de 26 anos. Para os apaixonados por literatura, o Troca de Livros, site que entrou no ar no ano passado, tornou-se uma ponte entre os livros lidos e os próximos a ler. É só se cadastrar e trocar. O criador do endereço, Fábio Pureza, conta que são mais de 50 trocas por mês e que a meta é atingir 120 até o fim do ano. “Livro é um objeto que as pessoas querem trocar, seja para se desfazerem dos que já leram ou dos que não gostaram. Sempre há público”. Ficou com vontade de montar uma feira de trocas? Então, aproveite as dicas a seguir e veja como é fácil trocar!
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CLUBE DAS TROCAS > O salão do prédio, um galpão, a associação de moradores ou a sala de casa podem se transformar em uma feira. Exponha as mercadorias em mesas, toalhas ou araras, de maneira que fiquem visíveis. Convide pelo menos dez pessoas, com cerca de 15 dias de antecedência. Assim, todos têm tempo de selecionar o que levar. Também dá para montar um site com os produtos e organizar as trocas virtualmente.
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BUSCA LÁ > Dá para aprender a trocar em feiras como a Escambau, em Brasília, que negocia diversos produtos (www.trilhamundos.com.br); a TrocaTroca GG (garotasformosas.com.br), em São Paulo, que troca roupas em tamanhos grandes; ou a Descola Aí (www.descolaai.com/trocas), um site que negocia produtos e serviços.
BORA, COLEGA! > Nem tudo o que vai para o bazar acaba saindo nas mãos dos participantes. Pense também no que fazer com o que não for trocado. Fica guardado para a próxima? Será doado? Uma boa alternativa é enviar os produtos para instituições sociais que recebem doações. Trie o que está em bom estado e doe!
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TOMA LÁ, DÁ CÁ > Na hora de trocar, decida a moeda. Há quem prefira procurar o que necessita e oferecer seu produto em troca. E há quem opte por fazer cédulas: você cria um nome para ela e estabelece os valores. Por exemplo: uma roupa pode valer 5 moedas; uma massagem, 8; e um brinquedo, 10 moedas.
no Confira mais em: site www.revistasorria.com.br
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Assistente de fotografia: Marianna Straccialini/Beleza: Marcos Roza/Produção de moda: Myrna Nascimento/Tratamento: Felipe Gressler
valores que mudam a vida
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ACEITAR-SE É... SABER QUE É BELA, TER ORGULHO DE SUAS CURVAS E TORNAR-SE MISS TAMANHO GRANDE, COMO FEZ CARLA
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Não somos perfeitos. A vida não é perfeita. E são as dificuldades e adversidades que nos tornam humanos e fazem da caminhada um desafio dia a dia mais interessante texto L e a n d r o Q u i n t a n i l h a
AS DIFICULDADES COLOCAM o mundo para funcionar. Se todos vivessem perto, não haveria avião. Se o jantar fosse suficiente, para que sobremesa? Se você se bastasse, namorar seria desnecessário. Os obstáculos, desvios e buracos do caminho são também matizes que compõem a beleza de nossa rota. Afinal, se tudo fosse perfeito, onde estaria o estímulo para criar e superar barreiras? Carla Manso levou quase uma vida para perceber isso. Até se dar conta de que perfeição não é o melhor substantivo para definir nossa trajetória, passou por dietas drásticas e gangorras emocionais. Na adolescência, tinha vergonha do seu corpo, acima do peso ideal. Aos 13 anos, chegou aos 100 quilos. Sofria na escola, sentia-se excluída, triste. Jogou fora o amor-próprio. Então, aos 15 anos, cansada de ser apontada pelos meninos e humilhada pelas colegas, decidiu emagrecer. Tentou de tudo:
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fotos D a n i e l a To v i a n s k y
dieta, spa, aplicação de enzimas, remédios... Perdeu 35 quilos e o bom humor. Tornou-se uma Carla magra e irritadiça. “Vivia com a mão gelada, tremendo, alterada. Não recomendo essa vida a ninguém”, diz a paulistana. O cansaço e a agitação foram outros efeitos colaterais da silhueta longilínea. Para voltar a ser ela mesma, tentou abandonar a medicação. Os quilos voltaram, mas a tristeza persistia. Desistiu de si. Até que, aos 19 anos, enquanto fazia a faculdade de rádio e TV, engravidou. “Um dia acordei com meu filho, muito pequeno, me chamando de princesa”, conta. Era o encanto de que a Gata Borralheira precisava para virar Cinderela. Foi nesse momento que percebeu quanto era bela. Começou a cuidar dos cabelos e, aos poucos, trocou o guardaroupa ultrapassado por peças que a favorecessem. Passou a usar maquiagem e a sentir-se cada vez mais bonita e se-
gura. O espelho tornou-se um aliado, revelando uma mulher com um corpo pleno de qualidades. Os convites de trabalho como modelo plus size (de tamanhos grandes), que começaram aos 16 anos, ficaram mais frequentes. “Quando eu era adolescente, achava que cada oportunidade era a última”, diz Carla, hoje com 25 anos. Virou uma top model do segmento e, no ano passado, feliz com sua vida, seu corpo e seu manequim 48, foi eleita miss Plus Size, a miss Brasil para os tamanhos grandes. “Eu cheguei ao concurso me sentindo linda, pronta para mostrar meu corpo. Agora, tenho orgulho de minhas curvas”, conta. Com essa nova visão, aceitando seu corpo e transformando o que achava defeito em atributo, Carla abriu uma loja virtual de roupas femininas em tamanhos grandes e agora se dedica a mostrar que a beleza é para todos. No início do ano, aceitou o desafio de fa-
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comer
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sabores que confortam
Delícia de fubá Em bolo ou broa, o fubá conquista pelo
aroma e sabor de comida caseira. Escolha a sua receita, uma xícara de café e sirva-se! texto R i t a L o i o l a c o m r e p o r t a g e m d e T i s s i a n e V i c e n t i n
no Confira mais receitas! site www.revistasorria.com.br
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Produção culinária: Claudia Yendo Yoshida/Produção de objetos: Márcia Asnis
foto S h e i l a O l i v e i r a / E m p ó r i o F o t o g r á f i c o
Produção culinária: Claudia Yendo Yoshida/Produção de objetos: Márcia Asnis
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NA CASA DA MINHA AVÓ, o bolo de fubá era um evento. Começava de manhã, com a busca pelos ingredientes: ovos, leite, óleo, fermento, fubá. Na cozinha, depois do almoço, minha mãe os misturava e despejava, cozidos, em uma tigela que ia parar em meus braços. Por horas, eu esfriava a receita com uma colher de pau. De tanto comer os bocados, sabia exatamente quando estava morna o bastante para receber os ovos. No fim da tarde, minhas tias vinham espiar o forno e fazer café. O aroma chamava a família e, mal o bolo saía da forma, acabava derretendo-se na boca, quente, cremoso. Essa rotina começou com uma amiga da minha mãe. A receita é dela e se chama “bolo de fubá da Kuniko” – é uma japonesa que sempre aparece com um doce melhor que o outro. Aos poucos, seu bolo se espalhou pela família, viajou, mudou de nome. E é assim desde o primeiro quitute de fubá. Não se sabe ao certo quem foi o autor da combinação dourada, doce ou salgada, e com cara de café tomado com tempo. “O bolo de fubá é eterno. A primeira vez que comi um foi na infância, da minha mãe. Maravilhoso!”, lembra Simone Ferrarezi, que decidiu espalhar essa paixão na Crazy for Cakes, empresa que faz bolos caseiros em formatos diferentes. Para ela, o segredo está em deixar os ingredientes em temperatura ambiente, peneirar os secos e seguir à risca as quantidades. “A manteiga ou o óleo deixam a receita fofa, o leite ou iorgurte deixam a massa úmida e as claras em neve dão leveza”, diz. E o fubá ainda pode virar broa. Não dá para resistir à casquinha crocante, com sabor entre doce e salgado. A doçura do fubá em harmonia com o sal da receita é seu toque especial. E ainda dá para inovar nos acompanhamentos. A Kuniko adora salpicar erva-doce e a Simone, cobrir os pedaços com manteiga. Mas o melhor é testar todos e encantar-se com as lembranças que essas delícias revelam a cada mordida!
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BROA DE FUBÁ
polvilhe com farinha e fubá e faça, em
INGREDIENTES 1 colher (sopa) de manteiga
cima, um corte. Deixe descansar por meia
sem sal • 1/2 xícara de leite • 1 e 1/2 tablete
hora, leve ao forno preaquecido a 180 ºC,
de fermento biológico • 1/2 xícara de
por cerca de meia hora ou até dourar.
açúcar • 1/2 xícara de água morna • 500 g
RENDE cerca de 20 broinhas.
de farinha de trigo • 150 g de fubá • 1 pitada de sal • 2 ovos • 1 colher (chá) de erva-doce
BOLO DE FUBÁ DA KUNIKO
• leite (para banhar as broinhas)
INGREDIENTES 2 copos de fubá • 2 copos
• farinha e fubá em quantidades iguais
de açúcar • 2 copos de leite • 1/2 copo
(para polvilhar sobre as broinhas)
de azeite • 3 ovos • 2 colheres (sopa)
MODO DE PREPARO Derreta a manteiga com o
de fermento em pó
leite e deixe amornar. Numa bacia, coloque
MODO DE PREPARO Junte numa panela o fubá,
o fermento, o açúcar, metade da água
o leite, o azeite e o açúcar. Leve ao fogo,
morna e mexa até dissolver. Junte a farinha,
mexendo sempre, até que o fubá cozinhe e
o fubá, os ovos e, aos poucos, o leite com a
a massa esteja bem dourada. Deixe esfriar.
manteiga. Acrescente o restante da água
Bata as claras em neve e acrescente-as
aos poucos, até conseguir o ponto para
à mistura de fubá, quando estiver bem
sovar. Passe a massa para uma superfície
morna. Adicione as gemas e misture. Por
enfarinhada e sove até a massa ficar lisa.
último, coloque o fermento em pó e despeje
Junte o sal e a erva-doce e cubra com um
em uma fôrma untada com margarina
pano. Deixe crescer até dobrar de volume.
e polvilhada com farinha. Asse em forno
Faça bolinhas com a massa e coloque em
médio por cerca de 40 minutos ou até que,
forma untada e enfarinhada. Pincele leite,
ao enfiar um palito no bolo, ele saia limpo.
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