Revista Sorria #31

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s!

qual é o real valor do

*31 abr/mai 2013 venda exclusiva

droga raia

dinheiro?

É só papel. Pode significar tudo. E não adiantar nada. Como usá-lo para encontrar a verdadeira riqueza o mistério dos impostos

coisas da vida boas e baratas

vamos semear a GENTILEZA?

comida de mãe e mais delícias


prazeres simples

alegrias do dia a dia

Comida de mãe texto Rita loiola

16 revista Sorria

comida de mãe vale por um carinho

© Jekaterina Nikitina/Getty Images

Parecia que ela adivinhava. Quando alguma coisa ruim tinha acontecido na escola, e eu chegava jogando a mochila no sofá, sobre a mesa havia aquele arroz com aquela carne frita. É um arroz que só a minha mãe sabe fazer, com bolas deliciosas de amassar com o garfo. Misturado à carne macia e dourada, tinha o poder de aquecer o coração. Ao fim do almoço, ficávamos só as duas à mesa: aconteceu alguma coisa, filha? Ah, sim, uma bobagem qualquer, mas já passou. Eu não sabia, mas as refeições eram uma forma de minha mãe demonstrar amor. Por isso, as dificuldades, magicamente, sumiam. Só adulta fui perceber como cereais, carnes e legumes vinham misturados ao afeto. Como os biscoitos, bolos e doces diziam “te amo”. Após sair de casa, quando eu retornava para visitar meus pais, era obrigada a voltar com um pote de doce de banana. Ou um pão caseiro. Docinhos de abóbora com canela. Ao comê-los, lembrava-me da diversão de sovar o pão, que ela jogava na mesa com estrondos de acordar o quarteirão. Dos pedacinhos de massa que eu colocava no armário – o meu “forno”. Dos doces de leite feitos tarde da noite, que comíamos quentes, cometendo duas transgressões: à hora de dormir e à temperatura da comida. Também me lembro da pouca gordura, pouco sal, muitos vegetais que aprendi a comer. Da comida saudável, que faz com que eu nunca tenha sido internada em um hospital. Dos temperos mágicos, que deixam os pratos saborosos: manjericão, salsinha, cebolinha, alho, colorau, cominho, coentro. Até hoje não sei como minha mãe faz a mistura de tudo isso ficar tão gostosa. Mas sei que não há problema que resista. Porque, no fundo, ela sempre adivinha quando eu preciso de um carinho. É minha mãe.


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valores essenciais

para refletir e inspirar

que valor damos a nossas moedas? mais que os bens Adquiridos, o que importa é a sensação que nos trazem. Afinal, o melhor da vida ainda tem preço incalculável texto jaqueline li

os 22 anos, Vagner Pereira tinha tudo. Fama, dinheiro e juventude. Com o nome de Fly, era do grupo You Can Dance, sucesso no Brasil dos anos 1990. Vivia entre shows, festas e viagens. Acompanhava a apresentadora Xuxa em programas e turnês, era reconhecido na rua, dava autógrafos. O garoto que aprendeu a dançar nas ruas da favela de São Cristovão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, finalmente vivia seu sonho. Antes de virar celebridade, Fly vendeu ferro-velho, encerou chão e trabalhou de empacotador. “Assim comprava minha pipa e ajudava em casa”, conta. O dinheiro ia para a mãe, faxineira, e sustentava o irmão. Mas ele gostava mesmo era de dançar. Com os garotos da rua, ensaiava passos e coreografias. Em grupo, bateram na Globo. Insistiram e acabaram indo parar em um programa da Xuxa. Assim que a gravação terminou, foram contratados: o You Can Dance tornou-se o time de bailarinos da apresentadora. Fly tinha 19 anos e conquistou o país. 30 revista Sorria

De repente, a dança o tornou um milionário. “Queria ter tudo e, como era famoso, achava que não podia mais andar de qualquer jeito, pegar ônibus”, diz. Fly comprou carro, roupas e tênis de marca. Não se importava com os valores: usava o cartão, o cheque especial. Dinheiro não era mais um problema. Pagava contas de celular de até 3 mil reais e investia em acessórios para carro, supérfluos, eletrônicos de última geração. Em 1994, estava no auge do sucesso. No ano seguinte, havia perdido tudo. Dirigia com a habilitação vencida, não conseguia pagar o seguro do carro, o IPVA, a conta de luz ou de água. Foi morar de favor, dividindo uma quitinete. Não tinha dinheiro nem para comer. “Vivia uma realidade que não era a minha. Perdi o chão”, conta. A crise o obrigou a se reerguer. Começou a vender bonés e camisetas e a dar aulas de dança. Demorou três anos para se estabilizar e aprendeu, a duras penas, a administrar seu dinheiro. Negociou as dívidas – que

eram muitas –, estudou administração e finanças. Em 2003, concluiu uma graduação em Marketing. Hoje, aos 41 anos, Fly é o coreógrafo da Globo e dá aulas de educação financeira na emissora. Sem luxos, mora em um apartamento com a mulher e a filha, de 3 anos. Planeja todos os gastos e, para a garota, faz uma poupança. Só não abandonou a dança. Ela é essencial para ser feliz. “Ganhei muito dinheiro. Se soubesse administrá-lo, estaria rico até hoje”, diz. “Mas tive de aprender a dominar a minha vida e não deixar o dinheiro me dominar.”

Investimento de risco A experiência ensinou a Fly o valor do dinheiro. Não aquele impresso nas cédulas – simples de ver e compreender –, mas o que está por trás dos cifrões. Mais que automóveis ou roupas, Fly tentou comprar uma vida que não era sua. Confundiu o real com a fantasia. E perdeu-se em um mar não só de dívidas, mas também de questionamentos sobre a real finalidade do dinheiro.


Foto: Anna Fischer/Tratamento: Guilherme Gomes

“aprendi a dominar a minha vida e não deixar o dinheiro me dominar.” Vagner Pereira, o Fly, coreógrafo e educador financeiro abr/mai 2013 31


nota 10

educação que transforma

Fazendo arte Sons, movimentos e imagens aguardam

para ser decifrados. apreciar a arte mexe com a percepção e revela novos mundos texto luciana alvarez

ilustração giovana medeiros

os 35 anos, Maria Siqueira descobriu um mundo novo: o das artes. Em uma viagem de férias, ela conheceu uma artista plástica, que seria sua grande amiga. “Foi um despertar para um lado da vida que eu não conhecia”, diz a aposentada, hoje com 66 anos. Por meio da amiga, Maria passou a frequentar mostras, exibições e museus. Começou a comprar ingressos para teatros, ir a concertos e apresentações de dança. Nunca havia feito isso na vida. Em sua família, não tinha contato com o universo cultural. Quando pequena, o acesso a espetáculos era restrito, e, mesmo que pudesse participar, não compreendia a linguagem artística. “Hoje, quando vou a alguma mostra, logo em seguida ligo para a minha amiga para dizer o que achei”, conta. Juntas, conversam e trocam impressões sobre autores e obras. “Aprendi a olhar as pinturas e passei a ver minha rotina de outra forma. Enxergo além do raio do sol e vejo a beleza das sombras dos prédios, do desenho 40 revista Sorria

das nuvens, de tudo o que me cerca.” Morando em São Paulo, ela aproveita todas as oportunidades. “Há muita coisa de graça. Na última Virada Cultural, que oferece espetáculos gratuitos a noite toda, voltei para casa às 3 da madrugada.”

Aprendendo arte Para Maria, aprender a ver manifestações artísticas tornou a vida mais rica e interessante. O conhecimento ajudou-a a compreender o dia a dia por outro prisma. Afinal, apreciar a arte e os eventos culturais é um aprendizado que, aos poucos, traz novas percepções. “A rotina acaba nos deixando pouco sensíveis; ficamos amortizados. A arte nos dá a possibilidade de apurar o olhar, de retomar um contato mais profundo com nós mesmos e o mundo”, explica Stela Barbieri, curadora do Educativo da Bienal de Artes de São Paulo. E, assim como aconteceu com Maria, dar os primeiros passos nesse caminho não exige diploma nem dom artístico. “É

preciso ter vontade, curiosidade e disponibilidade; a sensibilidade vem com o tempo. Mas, para conhecer profundamente, é preciso estudar, empenhar-se, perseverar, como em qualquer outra área do conhecimento”, explica a curadora. E, se é verdade que ninguém nasce sabendo onde está a beleza da arte contemporânea, ou qual o sentido de poemas ou filmes do início do século, também é verdade que, para quem tem contato com isso desde cedo, o caminho é menos árduo. Foi assim para André Fagundes, de 25 anos, em relação à música erudita e literatura. “Minha mãe não acompanhava se eu fazia a lição de casa da escola, mas sempre checava quantas horas de piano eu estudava por dia. Meu pai lia todas as noites para mim e meus irmãos e nos levava a concertos e shows quase todo domingo”, lembra o assessor do Tribunal de Justiça de Curitiba. Dessa forma, reconhecer claves e tons, para ele, tornou-se natural, assim como identificar escritores dos


5 dicas

para entrar no mundo das artes

sem preconceito Experimente ir a apresentações com repertório diferente de seu preferido.

Esteja aberto

Conheça, antes de dizer que não gosta.

pesquise

Consulte a programação cultural de sua cidade e de locais como os Sescs: os eventos costumam ser grátis ou baratos.

vá a museus

E faça uma visita monitorada!

Troque experiências

Conte o que achou do que viu e ouça outras opiniões.

séculos 19 ou 20. André não se tornou pianista nem escritor, mas gosta de ter a música e a literatura em seus dias. “Parei com as aulas de piano, mas, ainda assim, faço questão de ouvir música clássica sempre. E adoro ler no meu tempo livre. A arte me faz pensar de uma forma diferente”, diz. André gosta de música clássica e de livros porque aprendeu a decifrá-los. “Para gostar, é preciso primeiro entender: ninguém gosta do que não compreende. Muitas pessoas nem entram em museus para não se confrontar com a própria ignorância. Gostar depende de experiências pessoais e do meio em que se vive”, diz a professora Ana Mae Barbosa, da Escola de Educação da Universidade Anhembi Morumbi. Além do gosto, aprender sobre atividades culturais mexe com a cognição e ajuda em diversos campos do conhecimento. “O ensino de artes faz as crianças ir bem em outras disciplinas. Ele mostra como transformar o que se recebe pelos sentidos e como estabelecer relações com outros

elementos. E, para completar, na arte não há certo nem errado – tem o mais adequado, o mais inusitado. Isso diminui o medo e leva a ousar”, explica a professora.

Experiência humana Como a arte é uma linguagem, aprendê-la exige tempo, esforço, disciplina. Mas, assim que passamos a compreender o que movimentos, sons e poemas estão dizendo, é como se portas para um novo mundo se abrissem. Por meio dessas expressões, contamos o que não cabe nas palavras e damos forma às experiências do dia a dia. “A música, a dança, os desenhos acompanham a humanidade desde muito cedo”, afirma a antropóloga Maria Laura Cavalcanti, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “A cultura construiu e constrói o ser humano. É ela que nos torna o que somos: humanos”, afirma. Portanto, vale a pena aprender sobre arte ainda criança ou já adulto, seja na vida, na escola, na família. A cultura

amplia a capacidade de reflexão e ajuda a conhecer um pouco mais sobre nós mesmos, os outros e o mundo. Foi assim que a estudante de pedagogia Juliana Schmitd Antonio, de 20 anos, de Marília, interior de São Paulo, viu seu mundo se transformar. Quando tinha 12 anos, sua mãe nem perguntou se a garota queria e a matriculou em aulas de música. “Minha mãe me obrigou. Optei por ter aulas de percussão sem saber o que seria”, lembra. Mas, de repente, viu que a percussão estava em tudo. Tinha os instrumentos da escola, mas também as panelas, caixas, papéis em casa e na rua. Aprendeu a gostar dos sons, de seu ritmo. “Até hoje, quando ouço uma música, nem escuto a letra, gosto mesmo é de prestar atenção à parte instrumental”, diz Juliana. Esse contato mudou radicalmente seus objetivos: hoje toca formalmente em duas bandas, e seu sustento vem daí. “Continuo estudando e vou continuar sempre. Em arte, nunca dá para falar que já aprendi o suficiente”, diz a percussionista. abr/mai 2013 41


tá na mesa

receitas para comemorar

fatias de afeto

com farinha, ovos e frango você faz uma torta de fartura e amor. O presente ideal para homenagear as mães em um almoço de domingo! texto Cynthia Almeida Rosa

foto sheila oliveira/empório fotográfico

Abra a massa entre duas folhas de filme plástico – ela não deve grudar. Cubra a torta, retire o plástico e feche com a ponta dos dedos.

50 revista Sorria


Deu meio-dia e a campainha de Célia Gomes Galib não para de tocar. Toda vez que a porta é aberta, são um, dois, três, cinco abraços e um punhado de sorrisos. “Hoje é só a gente”, diz a dona de casa de 65 anos, que mora no bairro de Perdizes, em São Paulo. Ou seja, umas 30 pessoas, entre irmãos, sobrinhos, noras e quem mais aparecer. Almoço de domingo é assim: uma saborosa festa, repleta de fartura e salpicada de afeto. Sobre a mesa, a torta de frango é uma das receitas que fazem as cadeiras ser disputadas. Afinal, esse foi o primeiro prato que Célia preparou ao iniciar sua família. Após a lua de mel, no começo dos anos 70, ela aprendeu, no telefone com a irmã mais velha, a fazer a torta. Mas, à medida que misturava os ingredientes, via a massa ficando cada vez mais molenga. Adicionou farinha, que se espalhou pela massa e pelos azulejos da cozinha. “Ficou um pastelão”, lembra ela, aos risos. Mas o marido comeu – e ainda elogiou. A estreia desastrosa ensinou a Célia que o objetivo da massa é justamente ser fácil de moldar. No decorrer dos anos, insistiu na receita e a aprimorou. Diminuiu a quantidade de farinha, mediu bem os ingredientes e aprendeu a fazer a tampa com maestria. “Gosto que a massa fique leve e fininha”, diz. Hoje a torta se tornou um hit do cardápio. “É gostosa e dá para inventar vários sabores com o que tiver na geladeira”, diz a dona de casa. Além do frango, aparecem em sua casa o palmito com catupiry, a carne-seca, a escarola, o aliche e o camarão. Este, adaptado de uma receita de camarão na moranga, se tornou o presente de aniversário do filho caçula, que, desde os 15 anos, ganha uma torta na data. Com tanto carinho de mãe, o fim da torta – e do almoço – é sempre com elogios. “Depois do café do domingo, quando todos vão embora, dá uma sensação boa. É gratificante ter por perto as pessoas que amamos. São dias felizes, completos”, diz Célia.

Para lembrar sua mãe de que ela tem um dia especial, deixe uma flor e um cartão com uma mensagem carinhosa.

si no te

Mais recheios! Palmito, camarão...

Produção culinária: Claudia Yoshida/Produção de objetos: Márcia Asnis

Ingredientes massa PODRE 4 xícaras de farinha de trigo • 2 ovos • 4 colheres (sopa) de manteiga • 1 xícara de gordura de coco (ou vegetal) • sal a gosto • 1 pitada de noz-moscada • 2 gemas para pincelar recheio 2 peitos de frango • suco de 1 limão • 1/2 xícara de óleo de milho • 2 cebolas picadas • 2 dentes de alho • 1 xícara de molho de tomate • 1 xícara de água fervente • 1 xícara de ervilha • 1 xícara de azeitonas sem caroço • 1 e 1/2 colher (sopa) de salsinha • 2 xícaras de catupiry • sal

Torta de frango

Preparo da massa Numa tigela, misture os ingredientes com a ponta dos dedos. É o calor deles que fará a gordura derreter. Quando obtiver uma massa parecida com uma farofa, use-a para cobrir o fundo e a lateral de uma fôrma de fundo removível. Reserve uma parte para fazer a tampa. Preparo do recheio Tempere o frango com o sal e o limão e reserve. Despeje o óleo em uma panela, acrescente as cebolas, o alho e o frango marinado. Refogue e junte o suco de tomate. Cozinhe por cerca de 15 minutos. Desfie o frango em uma tigela, volte à panela e adicione a água. Mexa bem e misture o restante dos ingredientes. Cozinhe por cerca de 30 minutos. Despeje esse recheio na fôrma preparada com a massa e cubra com o catupiry. A seguir, coloque a massa que sobrou entre duas folhas de filme plástico. Vá abrindo com cuidado, com as mãos, no formato de um disco, para cobrir a fôrma. Coloque o disco por cima do recheio e retire o filme plástico (ele não deve grudar na massa). Delicadamente, aperte as bordas, fechando a torta. Bata as gemas e pincele a superfície. Leve ao forno preaquecido por cerca de 30 minutos.

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R$ 3,50 Apresenta:

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É só papel. Pode significar tudo. E não adiantar nada. Como usá-lo para encontrar a verdadeira riqueza o mistério dos impostos

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