Revista Sorria #32

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*32 jun/jul 2013 venda exclusiva

droga raia

Todos temos limites. Quando os encaramos, descobrimos as maiores lições da vida

fondue À BRASILEIRA • VIVAM AS DIFERENÇAS! • CAMINHADA DIVERTIDA • festa junina

comER sem desperdício • como vai sua imunidade? • música que transforma


prazeres simples

16 revista Sorria

alegrias do dia a dia


texto Roberta faria

fotos acervo da redação

jun/jul 2013 17

© still: Vitor Primo

Baile à FANTASIA

A gente sabia que estava chegando quando a professora distribuía a rifa. A malograda obrigação (vender 20 números; prêmios: um porco vivo, um som 3 em 1 e um jogo de panelas) era também a contagem regressiva para a maior festa do ano. Hora de tirar do armário o vestido caipira e a camisa xadrez. Os mais refinados iam de peões e prendas, à gauchesca. Mães despojadas, como a minha, improvisavam – retalhos colados com fita crepe nos fundilhos da calça, chapéu de palha, bigode riscado com carvão, lápis de olho para as pintinhas, e tá ótimo. Lá íamos nós para a escola, o dinheiro contado para gastar nas barracas de jogos, onde lutávamos pelo grande prêmio das bolas gigantes de plástico. E dá-lhe arremessar argola, destruir pilhas de latas, mirar na boca do palhaço, apostar nas corridas de porquinhos-da-índia, pescar mentalizando o peixe com a melhor prenda (que era a arminha de espoleta, não o pião). Entre uma coisa e outra, jogávamos estalinhos nos pés uns dos outros. Nos empanturrávamos de cachorro-quente, paçoca, milho, churros, pinhão, maçã do amor melecada. E rolávamos no chão, que a festa junina era uma gincana de corridas bizarras: tinha a do saco, a do ovo na colher, a das duplas com pernas amarradas, aquela fazendo carrinho de mão. Quantos joelhos ralados só para ganhar um vale-pastel com laranjinha... Vinham a noite e o frio, mas o clima esquentava. Secretamente, todos torciam pelo cutucão da mensageira do correio elegante. Nada mais romântico do que receber o cartãozinho de coração com bordas purpurinadas. Mais emoção que isso, só na hora da quadrilha, o único momento do ano em que se dançava de mãos dadas. Olha a cobra, olha a chuva... e olha a fogueira de 10 metros de altura, cujo acender era sempre a última atração. Ver as fagulhas se espalhando pelo ar, subindo para o céu como que para encontrar as estrelas, parecia mágica – o final perfeito para o melhor de todos os bailes à fantasia.


valores essenciais

para refletir e inspirar

Somos quem podemos ser vivemos cercados por limites. eles vão impedir alguns dos nossos sonhos. mas também podem ser o estímulo de que precisamos para alçar os mais incríveis voos texto bruna fasano e dilson branco

anhar asas e voar. Esse sempre foi o sonho de Celso Lino. Desde o começo da adolescência, aos 10 anos, ele percorria de bicicleta os quase 15 quilômetros entre a casa em que morava com a família, no bairro do Cambuci, em São Paulo, e o Aeroporto de Congonhas. “Tinha verdadeira fascinação por ir até lá e ficar olhando os aviões passear pelas pistas e, de repente, ganhar o céu”, diz. E o menino também sonhava sair do chão. Aos 18 anos, fez um curso que exigia 45 horas de voo para se tornar piloto. A família economizou, pagou com esforço, e Celso formou-se piloto privado. Mas, para ele, a carreira só seria completa se estivesse comandando grandes jatos. Foi aí que, no céu límpido, as turbulências despontaram no horizonte. Celso conseguiu emprego em uma empresa de aviação, na área de manutenção de motores, a fim de juntar dinheiro e concluir os cursos para pilotar aeronaves de grande porte. Procurando enxergar melhor entre as nuvens, 28 revista Sorria

fez uma cirurgia para correção de miopia. Mas, quando tentou renovar a carteira de piloto comercial, foi reprovado. Celso não sabia, mas a cirurgia deixara uma cicatriz na córnea que, pelas regras médicas da época, o impedia de voar. “Meu mundo desmoronou. Perdi as esperanças. Eu me sentia punido pela vida, pelo destino, por uma cirurgia que eu tinha feito com o objetivo de melhorar minha condição física para ser piloto”, lembra. O baque foi grande. Além da decepção, ele sofria por trabalhar em um ambiente repleto de aviões. “Meu limite estava ali, diante de mim. Era como se eu quisesse voar, mas meus pés estivessem sempre presos ao chão”, diz. “Fazer a manutenção de uma aeronave me matava. Mas eu não tinha condições de abandonar tudo e fugir. Decidi dar o melhor de mim e encarar a vida como ela se impunha.” Celso cursou administração, tornou-se chefe do setor de manutenção e percorreu o mundo ensinando sobre conservação de aeronaves

e técnicas de segurança em voos. Estabilizou-se e, com um bom salário, levava a vida sem preocupações. Aos 44 anos, diante das dificuldades que o destino lhe apresentara, sentia-se satisfeito com a carreira invejável que havia conseguido construir. Foi quando alguns amigos, cientes de seu desejo antigo, o indicaram para a seleção em uma nova companhia aérea. A medicina evoluíra, e a cicatriz no olho não era mais impedimento para voar. Celso decidiu conceder uma nova chance a si mesmo. Aprovado, no dia 24 de maio de 2012, enfim realizou o sonho de pilotar uma aeronave comercial. “O primeiro dia em que decolei sozinho foi uma das melhores sensações da minha vida”, conta. Aceitar o que não podia mudar lhe deu força, experiência e maturidade para valorizar o momento em que, finalmente, se sentou na cabine de comando. Durante estes anos, viu que a vida pode ser vivida de várias formas. “Hoje, eu me sinto completo, pleno de corpo e alma”, diz.


Foto: Guilherme Gomes/Beleza: Joana Rubbinstein

“decidi dar o melhor de mim e encarar a vida como ela se impunha.� Celso Lino, piloto e administrador de empresas jun/jul 2013 29


dia útil

de bem com o trabalho

Trabalho com

sabor regional Conviver com a diversidade cultural traz uma troca de experiências que amplia os horizontes texto andrea vialli

O

ilustração pedro handam

primeiro choque profissional de Thelma Kai em Brasília veio por e-mail. Em 2006, a paulista de Santa Cruz do Rio Pardo (SP) foi aprovada em um concurso público e mudou-se para a capital federal. Ao assumir o cargo, na área de comunicação, mandou uma mensagem para o diretor do departamento, passando por cima da chefia direta. A advertência veio logo. Na cidade onde estava, ligada ao poder, posição hierárquica é coisa séria. “O respeito à hierarquia era algo novo para mim. Tive de aprender na marra”, conta a jornalista, de 42 anos. Thelma custou a compreender os novos códigos. Tanto os da empresa quanto os brasilienses. “Ao descer do ônibus na rodoviária, pedi indicação de um hotel. Me mandaram para o setor hoteleiro da cidade, onde existiam centenas deles. Fiquei perdida”, conta. Demorou três anos para se acostumar com a cidade, as posturas e culturas locais. E foram seus colegas que deram as dicas de segurança de como se locomover, e a ajudaram a encontrar um 44 revista Sorria

imóvel para morar. “Essa mudança me fez enxergar quanto a minha vida, até aquele momento, era limitada”, comenta. Hoje, é ela quem toma a dianteira na hora de ajudar os forasteiros que chegam ao seu departamento. No último ano, mais 13 funcionários foram integrados à equipe – gente de regiões como Goiás, Rio Grande do Sul, Ceará, Tocantins, Bahia e Paraná. “A experiência de conviver com gente do país todo é uma forma de conhecer a realidade de várias regiões sem sair de Brasília e ajuda na hora de desenvolver estratégias de comunicação para cada região. É como se elas viessem até nós”, diz Thelma.

Enriquecimento profissional Essa convivência entre diferentes culturas regionais não é nova – ela existe, afinal, desde que os portugueses vieram para cá, em 1500, mas ganhou força em meados do século 20, quando o Brasil se tornou um país urbanizado, e as pessoas passaram a migrar em busca de trabalho.

Graças à globalização da economia, que fez com que empresas espalhassem filiais pelo Brasil e pelo mundo, mudar de cidade por causa do trabalho passou a trazer novas experiências, e, muitas vezes, oportunidades de crescimento. Mas ainda são raras as empresas que sabem lidar com a diversidade cultural. Na prática, são os próprios empregados que, do seu jeito e de maneira informal no dia a dia, recebem e acolhem os colegas. Afinal, a vinda de um novo funcionário mexe com toda a equipe – traz à tona a curiosidade e o desejo de conhecer um pouco mais daquela cultura desconhecida. “A chegada de alguém de fora causa uma provocação nos demais funcionários em relação ao que é diferente naquele indivíduo, naquela cultura. E isso é positivo e possibilita trocas que enriquecem o cotidiano do trabalho”, afirma a professora Ana Cristina Limongi França, criadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gestão da Qualidade de Vida no Trabalho, da Universidade de São Paulo (USP).


Lucros culturais Foi o que sentiu Thiago Polisel, de 36 anos, ao trocar a vida em São Paulo por uma rotina a 3 mil quilômetros de distância – em São Luís, no Maranhão. Especializado em direito ambiental, Polisel sabia que sua nova rotina seria cheia de embates culturais. No cargo que ocupa desde o fim de 2010, em uma grande empresa do setor de mineração, trabalha em um porto – e suas obrigações incluem visitar comunidades tradicionais como tribos indígenas e quilombolas. O advogado só não imaginava que, ali, o diferente seria ele. Era “o paulista”, que tinha outro sotaque, usava expressões desconhecidas e levava a própria sacola de lixo quando ia à praia. Era um estranho na cidade em que é raro homem dividir as tarefas domésticas com a mulher, como estava acostumado, e que usa gírias até então desconhecidas. O apoio para se integrar veio de quem dividia as horas de trabalho com ele. “No início, eu me sentia um forasteiro, por estar entrando em uma realidade que não era

a minha. Mas não houve resistência nem preconceito dos colegas, e foram eles que me ajudaram muito”, diz. Após a fase de adaptação ao novo cotidiano, o advogado aprendeu a caminhar em outro ritmo de vida. Aos poucos, começou a ver a cidade e suas pessoas com outros olhos. Três anos depois, integrou-se tanto à sociedade local que, no ano passado, se casou com outra forasteira – sua esposa é de Mato Grosso do Sul. Agora, esperam o primeiro filho, que será maranhense. A interação entre brasileiros de origens distintas estimula o respeito e a diversidade no ambiente de trabalho e traz resultados não só para a empresa, mas também para quem trabalha nela. Por meio da troca de experiências, todos aprendem. “A pluralidade de visões e experiências propicia um ambiente intelectualmente rico”, diz Juliana Molinero, coordenadora de Recursos Humanos da Boucinhas&Campos, consultoria de gestão de negócios. Ou seja, unir os diferentes no ambiente profissional é uma fortuna contabilizadas em lucros culturais.

Para conviver com a diversidade Evite estereótipos

Converse com quem acaba de chegar. Estigmatizar impede que você conheça a pessoa como ela realmente é.

Troque experiências

Interagindo e discutindo, vocês crescem com a soma de experiências.

Amplie seu vocabulário Aprender novas palavras e expressões torna seu vocabulário mais rico. E você se comunica melhor.

gerE gentileza

Evite piadas desnecessárias com a origem do colega. É sempre melhor ser gentil.

na dúvida, pergunte Cada região tem seu tom e jeito de falar. Às vezes, o que era para ser gentil pode ser interpretado de forma diferente. Veja se foi bem compreendido.

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tá na mesa

receitas para comemorar

Minichurros, bolinhos de chuva, pães de queijo ou biscoitos não muito doces também são ótimos para mergulhar na panelinha!

Ao escolher o doce de leite, prefira os firmes e pouco açucarados. Para deixar a receita mais leve, use creme de leite fresco.

texto Cynthia Almeida Rosa foto sheila oliveira/empório fotográfico

Fondue do Brasil

Para uma noite de inverno, fondue sem frescura. siga o ritual com doce de leite para aquecer o corpo e a alma!


Se há uma receita que, no friozinho, garante boas risadas é a fondue. Afinal, a fórmula suíça nasceu informal: gente querida diante uma panela aquecida por uma chama, que protagoniza o baile de garfinhos mergulhados no creme. Para ser fiel ao ritual, a receita pode variar: queijo, chocolate ou o brasileiro doce de leite. Com o hábito de comer doce de leite com queijo minas no café da manhã, o casal carioca Rafa Sampaio, de 33 anos, e Tatiana Abramant, 34, donos do bar Barthodomeu, resolveram, há três anos, colocar o doce na panela, juntar uma dose de uísque, para ajudar a derreter os ingredientes, e creme de leite, que dá a liga. Acompanharam com o queijo minas. Ficou irresistível. “É melhor que o de chocolate e ainda tem gosto brasileiro”, diz Rafa. Aos poucos, foram surgindo outros acompanhamentos: banana, morango, uva e wafer de limão. E, além de virar prato da casa, a receita foi parar no cardápio do bar. Foi lá que o músico Bruno Yoguy, de 30 anos, e sua mulher, Christine White, 50, conheceram a fondue brasileira. Pediram a receita e hoje o prato é tradição nos encontros entre amigos. A reunião começa na cozinha, com a seleção dos ingredientes e os pitacos no preparo. Foi assim que decidiram usar o leite condensado cozido em panela de pressão, que vira um doce de leite de primeira. E descobriram que a receita fica sofisticada com vinho branco e noz-moscada. Seguindo a inspiração do dia, eles acrescentam cream cheese ou manjericão. “Pão de queijo é ótimo para ser mergulhado. E a receita tem um gostinho de quando eu era criança”, diz Christine. Sete pessoas ao redor da fondue se servem sem conflitos, ela garante. Todo mundo se diverte ao equilibrar os acompanhamentos no palitinho – e pede mais, torcendo para o próximo inverno chegar logo.

Experimente castanhas, coco ralado ou confeitos como cobertura dos acompanhamentos que serão mergulhados no doce de leite!

Produção culinária: Iliane Marconi/Produção de objetos: Márcia Asnis

Escolha frutas de textura consistente para serem espetadas nos garfinhos. Sabores mais azedos ajudam a equilibrar a receita.

fondue de doce de leite Ingredientes 300 g de doce de leite mineiro ou 1 lata de leite condensado cozida na panela de pressão • 100 ml de creme de leite • 2 colheres (sopa) de conhaque • 1 pitada de sal Modo de preparo Derreta o doce de leite na panela e acrescente o creme de leite. Adicione o sal e, por último, o conhaque. Misture bem e sirva com acompanhamentos como banana, morango, uva, wafer de limão e queijo minas.

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droga raia

Todos temos limites. Quando os encaramos, descobrimos as maiores lições da vida

fondue À BRASILEIRA • VIVAM AS DIFERENÇAS! • CAMINHADA DIVERTIDA • festa junina

comER sem desperdício • como vai sua imunidade? • música que transforma


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