Revista Sorria #33

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bom humor a força do

*33 ago/set 2013 venda exclusiva

droga raia

Ele é um jeito de olhar para si mesmo e para o mundo. Descubra como cultivá-lo e seja mais feliz vizinhos amigos • churrasco de espetinhos • danças das antigas • vem pra rua! bikes que transformam • dá para controlar nosso tempo? • água para o corpo


prazeres simples

alegrias do dia a dia

Pai sabe

tudo

“Quando seu pai chegar, vocês vão ver só!”, a mãe ameaçava. Naquele tempo, o pai era sempre o bravo. O nosso, mesmo sem nunca ter encostado na gente (apenas ameaçado singelezas como “vou arrancar o couro de vocês!”), só precisava olhar torto para nos pôr para correr (já a mãe podia estar com o chinelo na mão que não dávamos a mínima). O pai também era o homem mais forte do mundo: o nosso carregava três filhos ao mesmo tempo – um em cada braço e mais outro no cangote. “Mostra o muque!”, pedíamos, fascinados com a montanha de bíceps que subia e descia. O pai também sabia das coisas: como rodar pião, furar onda grande, tirar carrapato (da gente e dos cachorros), construir coisas com madeira, assobiar músicas inteiras, limpar peixe, ler livros grossos, acender fogo, dizer o nome dos passarinhos, contar piadas sujas, fazer contas de cabeça. Sabia também a história e o porquê de todas as coisas, a verdade por trás das notícias e tudo o que é certo, errado e que ainda vai acontecer. O pai era um gênio. Daí veio a adolescência, e o pai não sabia de mais nada. Só brigava – injustamente, claro. O pai era um chato. Então a gente cresceu, saiu de casa e, conforme virava adulto – e via o mundo, ganhava os próprios problemas, tinha filhos –, começou a entender tudo diferente. O pai, imagina só, era... um homem. Nem herói, nem vilão: um homem mesmo, que, como todos, tem qualidades, defeitos, dilemas, desejos e frustrações. Nada diferente de nós (e, quando vamos ver, estamos falando igualzinho, fazendo do mesmo jeito e julgando com as mesmas medidas dele). Um homem que já não sabia de tudo – mexer no celular, por exemplo, nem pensar –, mas que ainda tinha muito a ensinar sobre a vida. E a gente, que achava que já era grande e não precisava mais disso, percebe que bom mesmo é poder ser filho dele – ontem, hoje e sempre. Obrigada, pai. 16 revista Sorria

© Sally Anscombe/Getty Images

texto Roberta faria


pai ensina que ninguĂŠm (nem ele mesmo) ĂŠ perfeito.

ago/set 2013 17


valores essenciais

para refletir e inspirar

Ele é um jeito de ver a vida, uma força que faz o cinza ficar colorido. Com a risada, a dificuldade se torna mais fácil, a dor mais leve e o mundo, mais verdadeiro e interessante texto jéssica martineli

ovem, bonita, elegante, altoastral. Mesmo com tantos atributos, a ex-modelo Flávia Flores, de 36 anos, andava descontente. Trabalhava como gerente em uma grife, fazia representações e outros trabalhos na área, mas sentia que algo faltava em sua vida. No início do ano passado, começou uma novena. “Pedi que minha vida mudasse”, conta a catarinense. Ao fim dos nove dias, uma surpresa. Flávia soube que tinha câncer. Hoje, lembra a reação ao receber a notícia: “Puxa, Deus, poderia ser uma viagem para o exterior, hein! Não foi bem isso que eu pedi!”. Esse bom humor sempre deu o tom em sua vida. Era uma criança conhecida pela beleza, mas também pela felicidade. Então, vieram as dificuldades: separação dos pais, gravidez na adolescência, duros términos de relacionamentos. E ela sempre usava seu otimismo como arma para superá-las. Ele a fazia forte. Dessa vez, porém, percebeu que precisaria de uma carga extra dessa alegria. 28 revista Sorria

Quando soube do resultado do exame do caroço em um dos seios, que indicava um câncer agressivo, entrou em choque. “Passei dez dias chorando”, conta. Inconformada, procurou outras opiniões. Encontrou uma oncologista que a animou, oferecendo um olhar positivo sobre a cura. Assim, conseguiu se reerguer e iniciar o tratamento. Resgatou o olhar iluminado para ver a vida e acreditou que a prova seria um jeito de ver os dias com mais leveza. Em novembro de 2012, passou por oito horas de cirurgia para retirar as duas mamas. Um mês depois, iniciou o longo tratamento, que vai até 2014. Com muitos remédios a tomar, enjoos, queda de cabelo, indisposição e fragilidade, Flávia decidiu enfrentar a fase do jeito que sabe: com bom humor. “Ouvia que ia engordar, ficar inchada. E eu não queria isso. Não tenho medo de morrer, não quero é ficar feia!” ri. Pesquisando sobre a doença na internet, não encontrou nada sobre como ficar bonita durante o tratamento. Foi aí que criou um blog e um perfil

no Facebook chamado “Quimioterapia e Beleza”, para compartilhar o que aprende sobre o tema e dividir a experiência. Publicou a perda dos cabelos, as perucas que testou, os cílios postiços que aprendeu a colocar. Também gravou em vídeo sua primeira sessão de químio e fotografa as roupas que usa nos dias de tratamento. “Ajudo muitas mulheres a mudar a cara de minhoca, careca, sem sobrancelha e cílios, que a doença nos dá”, diverte-se. “O tratamento pode ser mais fácil”, diz. Em menos de seis meses, seu perfil virou um sucesso, com quase 30 mil seguidores. Um dos segredos é a alegria ao dividir o dia a dia. “Fico enjoada ou cansada, mas de mau humor, nunca. Recebo muito carinho de quem me acompanha, da minha família”, conta. “Há quem me critique dizendo que devo cuidar da saúde e deixar a vaidade de lado. Mas sei que estou salvando vidas, mostrando como encarar a doença com bom humor e autoestima.” Afinal, foi o câncer, aliado ao seu jeito divertido de enxergar


Foto: Magno Bottrel/Beleza: Rafael Valentini/Tratamento: Felipe Gressler

“sei que salvo vidas ao mostrar como encarar o câncer com humor.” Flávia Flores, ex-modelo e criadora do perfil “Quimioterapia e Beleza” ago/set 2013 29


nota 10

educação que transforma

Ensina-me a ensinar a reda ad

o çã

Dic

O que faz de alguém um bom ou um mau professor? essa questão leva não só a discutir o papel de docentes e alunos, mas também o da educação atual

pro dia nascer feliz, documentário de João Jardim Esse diário de observação flagra as angústias e inquietações de alunos e seu relacionamento com as escolas em São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco. 38 revista Sorria

texto bruna fasano

B

ilustração bruna assis brasil

runo Cavicchioli nunca pensou que, um dia, trocaria a carteira de aluno pela lousa. Estudioso, com boas notas, o paulista de 27 anos acreditava que seria um eterno estudante. Apaixonado por música, ingressou em 2004 na Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto, para especializar-se em regência. “Durante a graduação, não gostávamos de um professor. Ele estava desmotivado, explicava a matéria sem transmitir amor ou energia”, conta. Para contornarem o problema e conseguirem passar nos exames finais, os alunos começaram a se reunir para estudar. Entre

partituras e leituras musicais, Bruno ajudava os colegas com dificuldades. “Foi assim que a paixão de ensinar nasceu em mim. Descobri que sou melhor professor do que músico!”, diz. O estudante passou nas provas, terminou a graduação e nunca mais parou de lecionar. “Se aquele professor, que julgávamos ruim, não tivesse aparecido em minha vida, talvez eu nunca tivesse descoberto essa vocação”, conta. Atualmente, Bruno dá aulas para 11 turmas em escolas e faz uma especialização em pedagogia. “Hoje, olho o tempo que passei nos bancos escolares e entendo melhor


os professores que tive. Só podemos analisar o trabalho de um professor quando nos tornamos um”, diz Bruno.

Aprendizagem e conhecimento Para ele, foi alguém considerado um mau mestre que, curiosamente, lhe ofereceu o estímulo para aprender com autonomia. Como Bruno percebeu ao se pôr no lugar do professor, julgar e avaliar o trabalho docente é tarefa difícil. Afinal, ensino e aprendizado são atividades que passam pelo vínculo entre mestre e aprendiz e, como qualquer relação, têm desafios, idas e vindas. Defeitos que, anos depois, são compreendidos como qualidades. “As relações humanas são complicadas, e entre professores e alunos não é diferente”, aponta Gisele Magnossão, diretora pedagógica do Albert Sabin, colégio da Zona Sul de São Paulo. Por isso, é difícil obter parâmetros objetivos para avaliar o trabalho docente. Documentos oficiais, como os do Ministério e secretarias de Educação, costumam classificar a atividade como “de natureza complexa” e oferecem metas a

cumprir: bons resultados em avaliações oficiais, como Enem, e prêmios de ensino. Mas será que quem prepara um aluno para ir bem em uma avaliação é, realmente, um bom professor? “Para identificar um docente tido como ruim, o ideal é estar atento aos sinais. Uma classe que reclama do professor, diz que ele é severo, que passa muitas tarefas ou é ‘bravo’ tem de analisar cuidadosamente quanto os alunos estão se empenhando para compreender a matéria e corresponder aos ensinamentos”, diz Magnossão. “É preciso sempre verificar o que é responsabilidade do professor e do aluno. Quando comprovadamente o mestre não apresenta o desempenho desejado por alunos, corpo docente e conselho escolar, o melhor é ter uma conversa franca e investigar a situação.”

Quem, de repente, aprende Normalmente, professores que abandonam suas turmas ou faltam muito são aqueles que, realmente, deixam a desejar. Como é comum na escola de Taís Peixoto, de 16 anos, em São Bernardo do Campo, região

do ABC paulista. Aluna do segundo ano do ensino médio de uma escola estadual, ela e mais 20 colegas criaram há quatro meses cinco grupos para ensinar os estudantes mais novos. Fizeram isso para compensar as faltas de vários responsáveis pelas turmas. “Alguns professores entraram em licença médica, e isso desfalcou as aulas dos menores. Para preencher a grade horária e não deixá-los sem assistência, criamos esses grupos de alunos que ensinam outros alunos”, conta a estudante. Fora do horário regular, eles transmitem conceitos básicos, como separação de sílabas, operações de matemática, noções de biologia e história do Brasil. “Assim, temos a oportunidade de ensinar o que aprendemos e reforçamos o conteúdo. Dessa forma, todos saem ganhando”, diz a garota. No entanto, atuam como monitores, sem a supervisão dos mais experientes. Abandonados, estudam para ensinar e assumiram a responsabilidade de quem deveria orientar no caminho do saber. No pouco tempo em que tomou para si o papel de seus professores, Taís percebeu que, além do conteúdo, diversas ago/set 2013 39


tá na mesa

receitas para comemorar

Acompanhe seus espetinhos com pães de alho, uma farofa temperada e limão em pedaços.

dica

Use sempre palitos de madeira, que cozinham melhor as carnes e não queimam os convidados.

Para calcular as quantidades, faça uma média de cinco espetinhos por pessoa. Um quilo de carne rende cerca de 15 espetos grandes.

Churrasco

no palito

Espetinhos na brasa são um ótimo jeito de comemorar o Dia dos Pais. Com essa seleção de carnes e temperos, a festa está garantida! texto Cynthia Almeida Rosa

foto sheila oliveira/empório fotográfico


Contrafilé, linguiça e queijo de coalho espetados em um palito. Para a estudante de direito Regina Nascimento, espetinho é a receita perfeita de churrasco. “E se faz de outro jeito?”, brinca a paulistana de 35 anos. Desde criança, Regina está acostumada à combinação de carnes no palitinho. É o prato principal de aniversários, almoços de domingo e datas comemorativas, como Ano-Novo ou Dia dos Pais. “Todo mundo vem pra cá. Adoramos a casa cheia!”, conta. Os churrasquinhos, antes assados de improviso na grelha do fogão sobre blocos de concreto, hoje chegam ao ponto em uma churrasqueira de tijolinhos. Ali, uma turma de cerca de 20 pessoas, entre família e amigos, divide os cerca de 100 espetinhos que começam a ser preparados com horas de antecedência. De madrugada, Regina e a filha, Beatriz, de 14 anos, alternam os ingredientes nos palitos. No dia seguinte, uma hora antes do horário combinado, Francisco, o marido, cuida do carvão. E o filho caçula, de 8 anos, se encarrega de arrumar a mesa. “É uma festa!”, diz Regina. Nos espetos, as carnes são entremeadas por embutidos, vegetais, queijos e frutas. Cada churrasqueiro tem o seu segredo, seja na quantidade de ingredientes, seja no tempero. Mas as carnes são sempre cortadas em cubos pequenos, para garantir a maciez. “Os pedaços devem ter cerca de 5 centímetros e a grelha precisa ficar entre 10 e 20 centímetros acima da chama, para que o cozimento seja lento e por inteiro”, ensina Benedita Souza, 57 anos, dona do bar Dita Cabrita, em São Paulo, que serve espetinhos. “Ficam prontos em até cinco minutos. Mas o ideal é virar os espetos a cada dois minutos”, diz. Quer surpreender seu pai com um delicioso almoço de espetinhos? Siga as receitas abaixo e aproveite!

espetinhos mistos Assistente de fotografia: Aline Dias/Produção culinária: Claudia Yoshida/Produção de objetos: Márcia Asnis

Experimente o espeto de carne com molho chimichurri, o de frango com o molho teriyaki e o espeto suíno com molho ou geleia de laranja. Fica uma delícia!

Espeto de carne Ingredientes miolo de alcatra ou contrafilé em cubos • bacon ou linguiça em fatias • cebola em cunhas • abobrinhas sem sementes em cubos • tomates sem sementes em cunhas • sal, azeite • balsâmico • tomilho • alho • pimenta Modo de preparo Tempere a carne com sal, as cebolas com o balsâmico e tomilho e as abobrinhas e tomates com azeite, tomilho e alho. Alterne no espeto a carne, o bacon ou linguiça e os vegetais e salpique com pimenta.

Espeto de frango Ingredientes peito de frango em cubos • abacaxi em cubos • pimentão vermelho sem sementes em cubos • sal • azeite • shoyu • pimenta • folhas de manjericão picadas Modo de preparo Tempere a carne com azeite, shoyu e sal, o abacaxi com sal e pimenta e os pimentões com azeite e as folhas de manjericão. Alterne no espeto o frango, o abacaxi e o pimentão. Depois de assado, salpique por cima algumas folhas de manjericão para perfumar.

Espeto suíno Ingredientes mignon suíno em cubos • maçãs sem sementes em cubos • cebola-roxa em cunhas • sal • azeite • mostarda • molho inglês • limão • mel • alecrim • manteiga • açúcar mascavo Modo de preparo Tempere a carne com azeite, mostarda, molho inglês, mel e alecrim picado, as cebolas com limão, azeite, molho inglês e alecrim e mergulhe as maçãs em suco de limão. Alterne no espeto a carne, a maçã coberta com manteiga e açúcar mascavo e a cebola.

ago/set 2013 53


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