Revista Sorria #38

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prazeres simples

alegrias do dia a dia

Acende a

fogueira A gente cresce com todos os Avisos de que é perigoso, machuca, queima, explode. não brinquem com fósforos, não mexam no fogão, não cheguem perto da churrasqueira – o fogo é sempre um monstro, à espreita de uma distraçãozinha qualquer para arrancar um pedaço da gente. Até que chega um junho, uma festa, e o encontro fascinante com uma fogueira ardendo alta, feroz. de repente, todos aqueles avisos tão repetidos perdem a importância. somos – em qualquer idade – hipnotizados pelas chamas alaranjadas, que dançam vivas e indomáveis no meio da roda. deve ser uma memória da idade da Pedra, herdada há milhares de gerações. Ao redor de uma fogueira, não existe perigo. Ao contrário: ali, o fogo é uma bênção da natureza: ilumina a noite escura, afasta os predadores, aquece o ar gelado, cozinha o alimento, convida à reunião. observar como se movem as cores e as luzes da brasa incandescente, como as faíscas sobem em direção ao céu feito poeira de estrelas, como a madeira estala e chia contra o calor – tudo é magia e mistério, que milhares de anos de evolução não mudaram. debaixo desse mesmo céu, defronte desse mesmo fogo, somos os mesmos desde as cavernas. Fogueira, quem diria, é máquina de viajar no tempo. não é à toa que também é encontro, é festa: uma coisa assim fantástica pede reverência. se tem fogueira, tem de ter roda. danças também, e música: um violão, pelo menos, mais um coro de gente cantando. Uma carne para assar é bom – e milho, batatas-doces, pães que provavelmente irão queimar (mas o gosto enfumaçado é tão bom!). Uma bebida quente, que passe de mão em mão (se for luau de verão, pode ser gelada e dentro de um abacaxi: deixa o calor para a fogueira). e histórias, muitas histórias: de sustos, lendas, lições, segredos compartilhados. sob o brilho da fogueira, estamos juntos, estamos seguros – e somos eternos. 16 revistA Sorria

© morten Falch sortland/getty images

texto robertA FAriA


fogueira ĂŠ mĂĄquina do tempo

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LUGAR EM COMUM

conviver e compartilhar

Lugar de lixo é no lixo A FRASE PODE PARECER ÓBVIA. MAS MUITA GENTE QUE NÃO DÁ A MÍNIMA PARA A CIDADANIA CONTINUA SUJANDO OS ESPAÇOS PÚBLICOS texto DANILO VALENTINI ilustração FIDO NESTI

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uas folhas de sulfite estão grudadas na porta do escritório da chefia. Uma delas alerta os trabalhadores para a necessidade do uso de equipamentos de proteção. A outra lista frases de incentivo que saíram da boca de gente como Albert Einstein e Charles Chaplin. Só a sabedoria dos gênios da ciência e da comédia poderia ajudar os 60 funcionários da Cooperativa de Coleta Seletiva da Capela do Socorro (Coopercaps), na Zona Sul de São Paulo. Durante oito horas diárias, eles aguentam firme o cheiro desagradável e trabalham duro para encarar e selecionar o lixo que produzimos. O lado bom é que ganham,

além do salário de R$ 1.000, consciência social: “Sei que o que eu faço aqui vale a pena”, conta Ivone Nascimento, 35 anos, enquanto separa garrafas PET, colocando as coloridas de um lado e as transparentes (mais valiosas), de outro. Ela diz não sentir saudade dos tempos de salário-mínimo como balconista. “Meus filhos não têm mais vergonha de mim, entenderam que o que eu faço é importante para o futuro.” Mas nem todo mundo é capaz de compreender o que os filhos da Ivone já sabem sobre a importância da questão do lixo. Basta olhar ao redor para ver como o Brasil ainda não se tocou para a gravidade do problema: a coleta seletiva é rara, as políticas públicas são lentas e, acima de tudo, a sociedade brasileira parece não ter o menor senso de coletividade. O resultado é que as cidades vivem sujas. “É uma realidade histórica no Brasil. Permanece no subconsciente das pessoas um comportamento colonial, a ideia de que a coisa pública não existe”, diz Ivaldo Gehlen, sociólogo e professor da Universidade


Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ele conta que já viu adolescentes depredando lâmpadas dos postes do próprio bairro como se fosse tudo brincadeira. “Não se dão conta de que é um patrimônio de todos”, relata o professor. “O lixo é o lado mais visível dessa falta de consciência pública. E isso não tem nada a ver com classe social. É só ir a bairros mais ricos para constatar que as madames não recolhem o cocô do cachorro.”

crime e castigo Não importa de que cidade você é ou em que bairro mora: com certeza já viu alguém jogando lixo no chão. Recentemente, o país todo assistiu ao vídeo em que o prefeito do Rio de Janeiro arremessa para longe um resto de fruta. Flagrado, Eduardo Paes pediu desculpa e ordenou que fosse aplicada uma multa contra ele próprio. Esse corretivo no prefeito só foi possível graças ao Programa Lixo Zero, implantado pela Companhia Municipal de Limpeza Urbana carioca em agosto de 2013. A iniciativa pune quem descarta resíduos fora de

lixeiras ou locais adequados na Cidade Maravilhosa. A fiscalização é feita por agentes de limpeza urbana, que, até o início de abril, já haviam aplicado mais de 46.000 multas. Os valores partem de R$ 98 e dependem do tamanho da infração. Quem joga uma latinha de refrigerante na rua recebe punição de R$ 157. Quem descarta grande quantidade de entulho de forma irregular pode ter de desembolsar até R$ 3.000. A fórmula de multar quem joga lixo na rua já vem sendo replicada pelo país. Em abril deste ano, um programa semelhante ao do Rio começou a funcionar em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Lá, 33 fiscais agora têm o dever de autuar quem joga qualquer coisa fora da lixeira — até mesmo um mínimo papel de bala. A multa mais baixa é de R$ 263, e os valores das penas podem ultrapassar os R$ 4.000. A ideia de multar os porcalhões confirma uma noção presente em nosso senso comum: a de que o brasileiro às vezes precisa sentir no bolso para adotar os comportamentos certos. Foi assim quando, em 1997,

o novo código de trânsito exigiu o uso do cinto de segurança por todos os passageiros de um veículo, tanto na cidade quanto na estrada. Como desrespeitar a regra começou a pesar na conta, aos poucos, as pessoas começaram a adotar a prática. Hoje, mais de quinze anos depois da nova lei, boa parte da população sabe que deixar de utilizar o cinto não pesa só no bolso: traz risco de vida no trânsito. Por isso, para muitos, sair sem o cinto de segurança é reprovável e impensável. É isso que precisa acontecer com a atitude de jogar lixo na rua.

toLerÂNcia Zero “Nós vivemos de exemplos e temos uma tendência natural à repetição – nem sempre paramos para refletir sobre nossos atos. A punição, a multa, obriga o ser humano a pensar no que fez e, assim, começa a gerar um respeito pela coletividade”, explica a psicóloga Tatiana Paranaguá, professora da PUC do Rio de Janeiro. O valor educativo da multa, porém, é só um dos fatores que influenciam nosso jun/jul 2014 29


valores essenciais

para refletir e inspirar

O valor da confiança no mundo de hoje, Parece cada vez mais difícil confiar nas Pessoas. mas acrediTe: o maior risco Que vocÊ corre ao esTender a mÃo e BoTar fÉ no ouTro É o de mudar o mundo – e a sua PrÓPria vida texto Helaine Martins ilustração Flávia Zimbardi

a

os 42 anos, Aline Fagundes decidiu reacender um sonho que não tinha realizado na adolescência: fazer intercâmbio. O desejo de juventude, no entanto, deu de cara com marido, dois filhos, emprego, casa própria, uma vida completamente estável. Foi quando a juíza do trabalho teve uma ideia: por que não hospedar estudantes intercambistas em casa? “Todos ficaram empolgados e logo começamos a pesquisar diversos programas que cadastrassem famílias voluntárias”, conta a gaúcha. A procura deu certo e, desde 2009, Aline, o marido Renato e os filhos, Artur e Martina, abrem a casa e a vida, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, para jovens completamente desconhecidos, estudantes estrangeiros que vêm fazer intercâmbio no Brasil. Entre a expectativa do primeiro encontro e os receios e constrangimentos no processo de adaptação, Aline vive a experiência de peito aberto, sem medo, pronta para o novo. E garante: vale a pena. O que não quer dizer que seja fácil. Confiar em pessoas que, de início, são apenas nomes em um formulário exige esforço de ambas as partes: só assim se constrói, dia após dia, uma

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relação de comprometimento com o outro. “É algo que está em construção e precisa de cuidado para não se deixar destruir pelas dificuldades”, conta. “O saldo, asseguro, é positivo. Mas demanda envolvimento”, afirma, otimista, mas com os pés no chão. Foi por causa dessa crença de que tudo pode dar certo que o casal conseguiu fazer da americana Rebecca, 23 anos, e dos alemães Paulina, 15, e Fynn, 16, seus “filhos com sotaque”. Como qualquer filho, eles tinham seus direitos — as chaves da casa e a liberdade para receber os amigos, por exemplo —, mas também seus deveres: nada de sair sem avisar e sem hora para voltar. Dar esse voto de confiança, diz Aline, cria um compromisso: “Eles se sentem mais responsáveis e querem provar que são dignos da confiança que recebem”. A estratégia funcionou e poucos foram os deslizes: uma vez, Fynn se aproximou dos embates com a polícia em uma das manifestações que ocuparam as ruas de Porto Alegre, em 2013, apesar de todas as advertências da família; outra vez, Paulina passou do ponto na primeira (e última) festa que deu na casa dos pais brasileiros. Mas, nada que os fizesse

perder a confiança já conquistada. Não seriam esses pequenos desvios do caminho que podariam em Aline o desejo genuíno de cultivar a confiança no outro. “Desconfiar é um sentimento sofrido, frustrante, que deriva do medo. E quem gosta de ter medo?”, questiona. “Se eu não partisse do pressuposto de que as pessoas estão de boa-fé, teria que desistir da vida.”

Confiar é PreCiso Na vida da família Fagundes, acreditar no outro já faz parte do cotidiano. Eles parecem viver plenamente esse sentimento antigo e fundamental para as relações entre seres humanos. É a confiança – do latim con fides, ou seja, com fé – que coloca o mundo em movimento. É ela que faz você contar um segredo para o seu melhor amigo, mergulhar com tudo numa história sem garantias de final feliz, dormir na estrada enquanto o outro dirige, entregar o joelho para o médico na sala de cirurgia, deixar seu filho sair para passear com a tia, acreditar que amanhã vai ser melhor que hoje. Tudo isso só é possível porque nós, mesmo sem perceber, praticamos diariamente o exercício da coragem de acreditar – no outro, nas


© Foto: Tamires Kopp

“dar um voto de confiança é firmar um compromisso.” Aline Fagundes, 42 anos, e sua família: o marido Renato e os filhos Artur e Martina jun/jul 2014 33


tá na mesa

receitas para comemorar

friozinho clássico DesDe os anos 60, a traDicional sopa De cebola

francesa aquece os paulistanos nas noites De inverno texto Juliane albuquerque

Se você quiser seguir à risca a receita francesa, gratine a sopa com croûtons e queijo gruyère. Mas também dá para trocar o pãozinho por uma fatia de baguete ou massa folhada e o gruyère por emmenthal

foto sheila oliveira/empório fotográfico

Para fazer uma bela sopa, o mais importante é um ótimo caldo, de preferência caseiro. Cozinhe 500 g de músculo ou uma carcaça de frango em 4 l de água com cenoura, cebola e aipo por 4 horas, coe e use na sopa


toda grande cidade tem seu mercado público – a porta de entrada para produtos frescos, vindos do interior. e todo mercado público tem sua tradição: oferecer uma comida típica, simples e barata, que mata a fome de quem trabalha na madrugada. pode ser o tacacá do Ver-o-peso, em belém, o churrasco do mercado del puerto, em montevidéu, ou a sopa de cebola que é símbolo do les Halles, em paris, e do ceagesp, em são paulo. a receita paulistana começou a ser servida de improviso aos trabalhadores do local nos anos 60 e conquistou inúmeros fãs com a abertura de um restaurante no lugar. “a região da ceagesp era isolada e o acesso, difícil. mas são paulo era muito mais fria naquela época. então, depois dos bailes, minha turma ia até lá para se aquecer com a sopa de cebola. o lugar era cheio de jovens, um point”, lembra lígia pardi, frequentadora desde os tempos áureos. o restaurante fechou na década de 80, e a receita foi se perdendo, até que, em 2009, a ceagesp decidiu revivê-la em um festival de sopas. o chef ivair Felix, que vai comandar o evento pelo segundo ano neste inverno, cuida pessoalmente das cinco receitas oferecidas. mas dá atenção especial à de cebola, para agradar aos fãs mais nostálgicos. “a receita atual é muito boa, mas claro que me lembro com carinho da época em que ela tinha um sabor de aventura”, revela lígia, com saudade. Hoje e sempre, a inspiração desse clássico vem da França. abundante e barata na europa, a cebola já era ingrediente de sopas para gregos e romanos, mas os franceses é que tiveram a ideia de gratiná-la. Há livros datados do século 17 que ensinam a fazer a soupe à l’oignon. para seguir essa tradição, siga a receita abaixo e, ao lado, as dicas do chef Fred barroso, do le Vin bistrô. aproveite o friozinho e bon appétit!

produção culinária: claudia Yoshida/produção de objetos: márcia asnis

Amarela, branca ou roxa, com qualquer tipo de cebola fica uma delícia. Mas a amarela é a melhor opção para a receita. Quando cozida, ela ganha cor e um sabor mais suave, quase adocicado

Ingredientes 5 cebolas grandes fatiadas • 2 talos de alho-poró picados • 2 colheres (sopa) de farinha de trigo • 200 g de manteiga sem sal • 2 1/2 l de caldo de carne ou frango já fervendo numa panela à parte • 1 amarrado de ervas (alhoporó, salsinha, tomilho, louro) • 6 colheres (sopa) de cebolinha picada • 6 fatias de pão italiano • 200 g de queijo gruyère ralado • sal e pimenta-do-reino

Sopa de cebola

Modo de preparo 1. derreta a manteiga numa panela de fundo grosso, acrescente a cebola picada bem fininha e refogue lentamente. essa é a parte mais importante da receita para que a sopa ganhe cor e sabor. 2. siga mexendo até que a cebola fique com um aspecto caramelizado (cerca de 15 a 20 minutos, dependendo da intensidade do fogo). enquanto isso, acrescente o alho-poró. 3. um caldinho caramelado deve se formar no fundo da panela. acrescente a farinha e mexa, dissolvendo bem. depois, adicione o caldo de carne e o amarrado de ervas. tempere com pimenta-do-reino e deixe ferver por cerca de 20 minutos. 4. retire o amarrado e adicione sal. mas cuidado, pois o queijo já é salgado! ponha a sopa em seis tigelas que possam ir ao forno. 5. cubra com uma fatia de pão e queijo gruyère por cima. leve ao forno a 180 oc até gratinar. na hora de servir, salpique com cebolinha.

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