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Capítulo 8 Termografia no Esporte
Q introdução
O avanço tecnológico tem proporcionado importantes contribuições para a área do treinamento desportivo. Com o auxílio de instrumentos, como monitores de frequência cardíaca (FC), dispositivos de sistema de posicionamento global (GPS; do inglês, global positioning system), fotocélulas e tapetes de contato, preparadores físicos e treinadores conseguem monitorar as respostas fisiológicas, a demanda física e o desempenho de atletas ao longo de um período de treinamentos e competições.1 Dessa forma, as informações obtidas nesse processo favorecem o melhor controle do treinamento, o que, consequentemente, contribui para aprimorar o desempenho esportivo e, sobretudo, prevenir lesões.
Nesse cenário, a termografia infravermelha (TI) se destaca como uma tecnologia emergente com potencial de aplicação em diferentes segmentos do esporte.2 É uma técnica que detecta o calor irradiado pela superfície corporal e permite mensurar a temperatura da pele (TP) em tempo real, de modo não invasivo, totalmente seguro e sem contato físico com o avaliado.3 Ao incluir avaliações do tipo na rotina de treinamento, é possível traçar um perfil termográfico geral e local de atletas e obter informações sobre funções fisiológicas relacionadas à TP tanto em repouso quanto em exercício.2,4
Uma das principais aplicações da TI na área esportiva é como ferramenta de prevenção e monitoramento de lesões, já que fatores como sobrecarga de treinamento e processos inflamatórios e degenerativos podem alterar o padrão de TP local.4 Destaca-se também seu emprego para monitorar a eficiência das respostas termorregulatórias durante e após o exercício,5-8 bem como para obter informações sobre o estado de recuperação muscular após treinamentos e competições.9,10
O objetivo deste capítulo é apresentar, a profissionais do exercício, da saúde e do esporte, algumas possibilidades de emprego da TI como recurso tecnológico no âmbito desportivo. Inicialmente, serão explicados os princípios básicos da técnica e a base fisiológica do equilíbrio térmico bilateral. Na sequência, os seguintes assuntos serão abordados:
Princípios básicos da termografia e base fisiológica da simetria térmica dos dimídios corporais.
Aplicação da termografia como ferramenta para controle de carga de treinamento.
Emprego da termografia nos ambientes fisioterápico e clínico relacionado às lesões.
Utilização dessa tecnologia no desenvolvimento de materiais esportivos.
Q Princípios básicos da termografia e base fisiológica da simetria térmica dos dimídios corporais
A termologia foi documentada como ciência médica por Hipócrates nos anos 400a.C., com o desenvolvimento da teoria da descoberta de doenças por meio de excessos de calor ou frio nos seguimentos do corpo. A partir do ano 1800, o cientista William Herschel descobriu a mensuração da temperatura pelo espectro de cores, o qual é chamado de infravermelho e faz parte do espectro eletromagnético – escala usada para classificar vários tipos de emissão de energia.11 Esse espectro eletromagnético passou a ser a base da técnica de termografia que se conhece hoje.
O estudo da temperatura tem diversas aplicações na Ciência. Por meio da imagem térmica, que capta a emissão de energia, é possível obter milhares de pontos de temperatura em tempo real de medição, o que possibilita, com a captura de uma única imagem, determinar a distribuição de temperatura do corpo analisado.12
A geração de imagens térmicas, chamada de TI, é uma técnica rápida para avaliação da TP 13,14 Além disso, o uso de alta resolução de imagem térmica pode fornecer informações interessantes sobre os ajustes do sistema termorregulatório do organismo.14
O corpo humano é homeotérmico, ou seja, autogerador e regulador dos níveis essenciais de temperatura para a sobrevivência. Sua temperatura interna (central) é relativamente estável; porém, os tecidos da superfície, principalmente a pele, pelo processo de vasodilatação e vasoconstrição de microvasos, produzem uma ampla faixa de variação, fazendo parte do processo regulatório. A geração de imagens térmicas tem sido usada para estudar várias doenças nas quais a TP pode refletir a presença de inflamação nos tecidos subjacentes ou em que o fluxo sanguíneo é aumentado ou diminuído em função de alguma anormalidade clínica.12
Entre as aplicações recentes da TI, o uso para prevenção de lesões e doenças ortopédicas é destaque no esporte.4,15 O princípio básico da análise termográfica considera que, em estado fisiológico normal, as temperaturas são semelhantes entre os lados do corpo (dimídios esquerdo e direito), demonstrando simetria contralateral da TP 16 A simetria térmica é definida como o grau de similaridade entre duas regiões corporais de interesse (RCI), espelhadas nos eixos principais longitudinais do corpo humano, sendo idênticas em tamanho e posição.17 A temperatura periférica do corpo humano é dependente da transferência de calor do tecido e do fluxo sanguíneo. Isso permite estudar distúrbios neurológicos musculoesqueléticos18 que causam mudanças na geração e no transporte de calor corporal para a pele. Essas mudanças podem se manifestar como variações da simetria normal da temperatura lateral padrão encontrada em indivíduos saudáveis.17
A faixa aceitável de diferenças de temperatura entre uma RCI e seu dimídio correspondente, tanto em indivíduos não atletas quanto em atletas, ainda não foi totalmente estabelecida. Alguns autores sugeriram valores diferentes em não atletas, sendo 0,3°C,19 0,4°C20 ou 0,5°C.21 Em atletas, um valor de até 0,7°C4 como limite de assimetria já foi proposto. Cabe destacar que, em modalidades cíclicas, como natação e ciclismo, as diferenças bilaterais devem ser pequenas; contudo, atividades, como o tênis, causam normalmente assimetrias maiores no membro dominante. A Figura 8.1 A apresenta as imagens termográficas de um jogador de vôlei com total equilíbrio térmico, enquanto a Figura 8.1B, de outro jogador, possui diferenças térmicas bilaterais importantes.
A Figura 8.2 apresenta o perfil térmico de membros inferiores de um jogador de futebol Sub-13 em estado de equilíbrio (Figura 8.2A), comparado a outro (Figura 8.2B) com evidente assimetria térmica na região anterior da perna direita e no joelho esquerdo, o que indicará um acompanhamento clínico por parte do médico e/ou fisioterapeuta, além de, provavelmente, exames de imagem mais elaborados para caracterizar o problema observado.
Importante destacar também que a simetria da temperatura dos dimídios corporais não é afetada em razão do ritmo circadiano do controle termorregulatório, que determina as variações diárias da TP 22,23
Q Padrões termográficos da pele esperados em repouso
Diante das condições favoráveis do uso da imagem termográfica para o mapeamento corporal
Nutrição e Suplementação para Ganho de Desempenho Físico e Esportivo
FIGURA 8.4 (a e B) Variação da termografia infravermelha ao longo de 24h na região das mãos e do tórax em homens
Fonte: adaptada de Costa et al., 2015.13