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Capítulo 14 Arginina
Q introdução
O consumo de suplementos é frequente entre atletas e praticantes de atividade física e, em geral, na visão do consumidor, visa à melhora do desempenho e da estética. No entanto, a suplementação, mesmo seguindo as recomendações presentes nos rótulos dos produtos, não substitui alimentação equilibrada e saudável, bem como não descarta a orientação de um profissional de nutrição.1,2
Como ressaltou Pereira (2014),3 entre os suplementos mais utilizados estão:
Maltodextrina.
Proteína do soro do leite (Whey Protein).
Creatina.
Aminoácidos (de cadeia ramificada [BCAA], glutamina, alanina, arginina, entre outros).
Em meio a esse enorme acervo de possibilidades ergogênicas, a L-arginina (L-ARG) é utilizada para fins tanto terapêuticos quanto de melhora do desempenho físico, comercializada como suplemento alimentar.4,5
Para que uma substância ou um produto possa ser denominada(o) como recurso ergogênico, especialmente o nutricional, espera-se que deva efeitos positivos no organismo. Para se evitar uma situação de doping involuntário, quando esses produtos são consumidos por atletas, é recomendável consultar a lista de produtos proibidos publicado anualmente pela Agência Mundial Antidoping (WADA; do inglês, World Anti-Doping Agency), o que pode ser consultado no site: https://www.wada-ama.org/en/prohibited-list.
Este capítulo visa elucidar os aspectos mais relevantes da L-ARG como possível agente ergogênico, abordando sua metabolização no organismo, sua relação com outros parâmetros fisiológicos (óxido nítrico [NO], síntese de proteínas e hormônio do crescimento [GH]), as modalidades que poderiam ter maior vantagem com a sua utilização e seus efeitos ergogênicos sobre o desempenho físico segundo os estudos científicos.
Q ação da L-arginina
A L-ARG é um aminoácido presente nos mamíferos, descoberto em 1895 por Hedin. Apresenta-se em diversas vias metabólicas do organismo humano, como no ciclo da ureia, e participa como precursora da creatina, do glutamato e da prolina. É também um substrato da biossíntese de NO, uma substância essencial para vasodilatação, neurotransmissão, citotoxicidade e imunidade.6,7 A Figura 14.18 representa as vias metabólicas com influência da L-ARG.
A L-ARG é considerada essencial para crianças e não essencial para adultos. Isso porque, na infância, não há produção desse aminoácido pelo organismo, nem mesmo sob condições patológicas. Por isso, ela é chamada de condicionalmente essencial.2,9
Os rins são os principais órgãos responsáveis pela síntese endógena de L-ARG a partir da citrulina. A L-ARG constitui cerca de 5% a 7% de todo o conteúdo de aminoácidos consumidos em dieta tipicamente saudável, o que corresponde a 2,5 a 5g/dia.10 É encontrada em carnes (branca e vermelha) e oleaginosas. Entretanto, quando a produção endógena e a alimentação parecerem insuficientes, a suplementação é outra opção para aumentar os estoques de L-ARG. A seguir, serão detalhados os mecanismos metabólicos em que ela está envolvida.
L‑arginina e óxido nítrico
A L-ARG é convertida em NO e L-citrulina por meio da NOS (ver Figura 14.1). A isoforma de NO, conhecida como NO endotelial (eNOS), exerce importante papel na vasodilatação. O eNOS dilata as paredes dos vasos da musculatura lisa, aumentando, assim, o fluxo sanguíneo e o aporte de nutrientes que chegam aos músculos e órgãos.11,12 Dessa forma, parece favorecer o indivíduo durante o exercício físico de caráter aeróbico (natação, ciclismo e corridas de média e longa duração) e anaeróbico (levantamento de peso olímpico, corridas de curta duração e treinamento resistido), reduzindo a fadiga.13
A disfunção endotelial está relacionada às doenças, como hipertensão arterial, aterosclerose, doença arterial coronariana e diabetes melito. Pode ainda estar associada a menor biodisponibilidade de NO para as células-alvo, o que é indicador da baixa expressão de eNOS.14
A maior ativação do eNOS ocorre pelo fluxo sanguíneo, ou shear stress, enquanto a menor ativação está relacionada à ação aumentada de marcadores pró-inflamatórios, como fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa), angiotensina II e lipoproteínas, desfavorecendo o aporte sanguíneo aos músculos quando em exercício.4,5 Assim, um dos benefícios da suplementação com L-ARG pode estar ligado ao ciclo do NO melhorado pelo aumento da disponibilidade dessa substância,14 o que garante possível opção ao atleta diabético, favorecendo-o em relação à maior chegada de suprimento de nutrientes aos músculos e órgãos mais ativos.
L‑arginina e síntese de proteínas
Angeli et al. (2007) 14 e Matsumoto et al. (2007) 15 creditaram o aumento da força
FIGURA 14.1 Visão geral do metabolismo da L‑arginina (L‑ARG) nos seres humanos. Síntese do óxido ní trico (No) e L‑citrulina a partir da L‑ARG pelo óxido nítrico sintase (1). Síntese da L‑ARG para L‑ornitina e ureia pela arginase (2). Descarboxilação da L‑ARG para agmatina pela arginina descarboxilase (3). Sínte se da L‑ARG para creatina por meio da L‑ARG glicina amidinotransferase (4)
Fonte: adaptada de Álvares et al., 2011.8