Guia Vestibular e Carreira 2015

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vestibular e carreira 2015 2012

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Seleção

País procura alternativas ao exame tradicional

Exterior

Vestibular & Carreira 2015 – Ano 14

Prepare-se para um curso fora do país

O dentista William Frossard com o filho Rafael, estudante de odontologia

Tecnólogos

Cursos formam profissionais para áreas promissoras

Na trilha dos pais Seguir a carreira da família não traz apenas vantagens. Conheça as cobranças e os desafios de jovens que foram por esse caminho

E MAIS: as principais provas | fique de olho na qualidade | vida em outra cidade

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Sumário

06 CARREIRA

Até que ponto vale a pena seguir a profissão dos pais? Conheça histórias de quem foi por esse caminho e saiba o que esperar

14 ECONOMIA CRIATIVA

Profissões que exigem inovação e lidam com áreas da tecnologia da informação e comunicação são as que mais crescem no Brasil e no mundo

20 TECNÓLOGOS

Apostas em nichos de mercado e vocações regionais, como produção de cachaça e cafeicultura, podem abrir caminhos promissores

42 PROVAS

Modelos dos principais vestibulares do país passam a ter formatos semelhantes: saiba o que esperar

52 REDAÇÃO ENEM

Exame pede uma proposta de intervenção na prova de redação, mas o que isso quer dizer na prática?

56 SISU

Sistema unificado de seleção faz com que alunos atravessem estados e até regiões do país para estudar em uma universidade pública

26 EXTERIOR

Saiba como se preparar para um curso fora do país: opções vão desde um curso de inglês até a graduação e pós

32 EAD

A possibilidade de fazer uma graduação on-line já atrai alunos mais jovens e saídos direto do ensino médio

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ACESSO

Como ficam os vestibulares tradicionais diante do Enem, bônus, cotas e outras alternativas de seleção

64 ESTUDO

O que fazer quando a internet, o celular e as redes sociais são um problema na hora de estudar para o vestibular

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Carta ao leitor Presidente: Edimilson Cardial

Histórias e conselhos

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iz o velho ditado que se conselho fosse bom não era de graça. Para quem está às portas de prestar vestibular, porém, ouvir os conselhos de quem já teve as mesmas dúvidas que você há um ou dois anos pode ajudar a fazer as escolhas com um pouco mais de consciência sobre o que vem pela frente – e, na hora de passar por esse funil, é bom saber que há pessoas que compartilharam das mesmas angústias antes das provas e agora estão curtindo a vida universitária. Nesta edição do Guia Vestibular e Carreira procuramos contar as histórias de jovens que seguiram o rumo dos pais na hora de escolher a carreira: ainda que a influência de casa traga alguma vantagem nos estudos ou mesmo na hora de procurar um emprego, é preciso ter cuidado para criar uma identidade própria e evitar cair na tentação de comparações. O mercado de trabalho é concorrido, mas há espaço para aqueles que buscam nichos e tentam se aperfeiçoar em áreas que atendem a demandas regionais, como é o caso daqueles que procuram os cursos superiores de tecnologia. A propósito do funil para entrar em uma boa universidade, as notícias são positivas: cada vez mais há incentivo para que egressos de escolas públicas e minorias tenham acesso a uma vaga. Além disso, vestibulares tradicionais têm estudado maneiras de deixar as provas capazes de selecionar os alunos de acordo com sua capacidade de relacionar conteúdos e exercer um pensamento crítico. O Sisu, por exemplo, que usa a nota do Enem para selecionar alunos em pé de igualdade por todo o Brasil, está provocando movimentos interessantes. Ouvimos alunos que mudaram de cidade, de estado e até de região do país para estudar em uma universidade pública. Eles contam as dificuldades que tiveram e como conseguiram se adaptar à vida longe de casa. De quebra, finalizamos a revista com uma reportagem sobre como conciliar a rotina de estudos com a sedução da internet e das redes sociais. Esperamos que nesta edição você encontre histórias inspiradoras e saiba selecionar alguns bons conselhos. Aproveite a leitura!

Gabriel Jareta, editor.

Diretoria:

Carolina Martinez Márcio Cardial Miriam Cordeiro Rita Martinez Rubem Barros

vestibular e carreira Ano 14

Diretor Editorial: Rubem Barros Editor: Gabriel Jareta gabriel@editorasegmento.com.br Diagramação: Sandra Malta Fotografia: Gustavo Morita Colaboradores: Camila Mendonça, Christina Stephano de Queiroz, Juliana Duarte, Jéssica Oliveira, Leandro Quintanilha, Luciana Alvarez, Marcelo Daniel (texto), Marcella Marer, Thailyta Feitosa (foto), Luiz Roberto Malta e Maria Stella Valli (revisão) Capa: Marcella Marer Editora web: Carmen Guerreiro Processamento de Imagem: Paulo Cesar Salgado Produção Gráfica: Sidney Luiz dos Santos PCP: Isabela Elias

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Na internet

www.guiasdeeducacao.com.br

Novidades na rede sta edição do guia Vestibular e Carreira continua na internet. Acessando o portal Guias de Educação (www. guiasdeeducacao.com.br) você encontra textos e dicas exclusivas sobre como se preparar para os vestibulares e sobre como fazer as melhores escolhas de carreira e de instituição de ensino. Todas as quartas-feiras, o portal publica um simulado novo, realizado em parceria com o site EstudaVest. São sempre dez questões envolvendo algum tema específico – como figuras de linguagem, matemática no Enem, ditadura militar, estilos literários etc. – e que ficam disponíveis para qualquer usuário. Na página do Guias no Facebook (www.facebook. com/guiasdeeducacao) você fica sabendo sobre os novos simulados, agenda de exames, simulados presenciais e dicas de temas e estudo. Para quem está se preparando para as provas, o portal traz, junto com esta edição, o vídeo “Aprenda a relaxar”, da psicoterapeuta Myriam Durante, entrevistada na reportagem sobre os conflitos entre a

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internet e a concentração para os estudos. Já quem está na fase de decidir qual curso seguir, vale a pena ler a reportagem sobre o programa do Senac-SP para turmas da graduação de hotelaria e gastronomia, que têm a oportunidade de gerir um grande hotel durante um fim de semana. Além disso, ao longo do ano, novidades sobre cursos e instituições são o foco da página do Vestibular e Carreira na internet. Encontre seu caminho Para ajudar na decisão nos últimos anos do ensino médio (ou mesmo para quem deseja partir para uma graduação mais velho), o Guias de Educação conta com um banco de dados com mais de 40 mil cursos em 900 instituições de ensino do país, cadastrados por modalidade (presencial e a distância), grau acadêmico (inclusive pós-graduação) e áreas de atuação, em todas as regiões do país. O portal também apresenta um vasto material para todo o público interessado em educação. Os canais vão de educação profissional a pós-graduação, incluindo educação a distância, cursos e agenda.

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Carreira

O dentista William Frossard com o filho Rafael, estudante de odontologia: tradição vem do avô, mas escolha foi sem pressão

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família Filhos que decidem seguir a mesma carreira dos pais podem ter acesso mais fácil ao mercado, mas precisam saber lidar com exigências maiores e comparações. Por isso, autoconhecimento é fundamental para fazer a escolha certa Christina Stephano de Queiroz

P

ara muitos estudantes, seguir a carreira dos pais é um caminho natural. Não só pela influência dentro de casa, mas também por acreditar que as portas para o mercado de trabalho já estão abertas. Essa é a realidade em muitos casos, mas a prática mostra que trilhar o mesmo caminho profissional da família demanda luta para conquistar seu espaço próprio e não livra o jovem profissional de situações de insegurança e pressão. A lição em comum apreendida com as histórias de seis jovens que escolheram as mesmas profissões de seus pais também é enfatizada por consultores especialistas em carreira: ao tomar a decisão, o jovem deve avaliar sua aptidão e gosto pela profissão e não somente as supostas facilidades.

Apesar de considerar favorável a oportunidade de o jovem poder dar seguimento a uma estrutura profissional já desenvolvida, o dentista William Frossard acredita que a decisão é delicada e exige uma análise cuidadosa das habilidades e ambições do estudante. Filho e pai de um futuro dentista, William, hoje com 54 anos, conta que seu gosto pela carreira de odontologia começou desde muito cedo, quando seu pai o buscava na escola e o levava para passar a tarde no seu consultório, que existe desde 1981. “Fui me apegando aos poucos à área de biomédicas. Além da habilidade com a carreira, outro aspecto que me levou a escolher a mesma profissão de meu pai foi o gosto por lidar com pessoas”, conta. William acredita que a única influencia direta do pai – hoje aposen-

tado – na escolha de sua profissão foi proporcionar familiaridade com o ambiente laboral de um consultório odontológico. Com essa mesma mentalidade, William garante que jamais pressionou seu filho a seguir a carreira de dentista. “Se a pessoa não estuda o que gosta, mesmo tendo facilidades na abertura do caminho profissional, se arrepende no futuro”, opina. Inicialmente, Rafael Frossard, filho de William, queria cursar economia ou uma carreira relacionada à

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Marcella Marer

tecnologia e a decisão por odontologia aconteceu somente no último momento. “Um pouco antes de prestar vestibular, meu pai me levou ao seu consultório e gostei do ambiente de trabalho. Decidi, então, fazer odontologia”, conta o jovem. No início da faculdade ele não se sentia seguro a respeito da escolha, mas, com o andamento das aulas e depois de começar a acompanhar o pai nas consultas, percebeu que a decisão foi correta. “Gosto do trato com os pacientes, de

conhecer gente nova e com perfil variado”, comenta. Como vantagens, Rafael – que está no segundo ano da faculdade – aponta o fato de começar na profissão com uma clientela formada, já que ele faz estágio nos dois consultórios do pai. “Porém, apesar do acesso facilitado ao mercado de trabalho, ele próprio deve se esforçar para conquistar seu espaço e sua credibilidade com os clientes. Isso é algo que não tenho como fazer por ele”, assegura o pai,

William, que também dá aulas na Universidade Esta­dual do Rio de Janeiro (UERJ). Critérios iguais Orlando Teixeira de Queiroz, de 28 anos, é filho do diretor-executivo na multinacional onde trabalha e também é formado em engenharia, da mesma forma que o pai. Recentemente, decidiu participar de um processo seletivo para mudar de área dentro da própria companhia. Graduado em engenharia elétrica, após trabalhar por mais de dois anos com engenharia de produção na Cummins Power Generation, nos EUA, resolveu que era hora de buscar novos desafios e começou a procurar oportunidades em outras corporações. No entanto, durante esse processo, surgiu uma vaga que lhe interessava na área de engenharia de vendas na própria empresa e ele se candidatou ao posto. Apesar do cargo do pai, Orlando teve de passar por todas as etapas da seleção – o que incluiu três entrevistas que avaliaram seus conhecimentos técnicos e comerciais –, a exemplo do que ocorreu com outras pessoas interessadas na vaga. “Meu pai é um alto executivo da empresa e isso me dá mais visibilidade, porém não necessariamente abrirá todos os meus caminhos profissionais, seja dentro ou fora da companhia”, afirma. Segundo Orlando, a grande ajuda do pai não foi sua influência dentro da corporação, mas sim o apoio que ele lhe forneceu para se preparar para as entrevistas, algo que também foi importante quando pleiteou vagas de emprego em outras companhias. “Nessas situações, meu pai me fala sobre perguntas e assuntos que costumam ser abordados nas entrevistas de emprego, o que me deixa mais bem preparado”, avalia. No caso da recente mudança de posição, para Orlando, a lição que ficou é que, mesmo com o background familiar, o jovem só terá seu caminho profissional aberto se for

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Carreira

eficiente e feliz com o que faz. “Quando eu assumi a nova função há alguns meses, foi difícil lidar com a sensação de que estava me arriscando”, lembra Orlando, que cursou engenharia elétrica na University of Minnesota, nos EUA, onde reside com a família. Filha do cantor e compositor Carlinhos Vergueiro, a cantora Dora Vergueiro cresceu em um ambiente musical. Desde pequena, participava de shows, ensaios e encontros e viveu próxima a grandes músicos e artistas. “Eu sempre tive aptidão para a música e fui desenvolvendo esse talento naturalmente, devido à proximidade com meu pai”, conta. Ao identificar essa habilidade, Carlinhos passou a convidá-la a fazer participações em shows e gravações. Para Dora, quando a aptidão para uma profissão é muito forte, a pessoa não tem dúvidas a respeito do caminho a seguir. Principalmente no caso de carreiras artísticas, ela acredita que o talento é inato, de forma que, na hora de decidir que caminho trilhar, não é preciso racionalizar muito para identificar a opção mais adequada. Até 2007, Dora era apresentadora de televisão e atuava com música nos intervalos do trabalho. Decidiu, então, deixar a carreira de apresentadora e se concentrar somente na música. Com quatro discos gravados, Dora conta que já fez pelo menos 30 canções em parceria com o pai. “Ele tem prestígio, me deu várias melodias de presente para eu fazer a letra, me apresentou a Chico Buarque e me ensinou muita coisa. Mas minha carreira não teria deslanchado caso eu não tivesse uma aptidão natural para a música”, avalia a cantora, que já foi indicada a um Grammy Latino. Em linha com os relatos, Tadeu Patané, consultor em escolha profissional e sócio-diretor da Teenager Assessoria Profissional, explica que, em um primeiro momento, escolher a profissão

do pai ou da mãe é menos arriscado. De acordo com o consultor, o fato de o filho vivenciar o que os pais fazem e de ter um lugar para trabalhar após a faculdade também proporciona essa sensação de segurança. Além da possibilidade de ser empregado na empresa familiar, há, ainda, a vantagem de contar com uma rede de relacionamentos pronta para outras oportunidades profissionais. “Mas, futuramente, se manter e crescer na carreira dependerá única e exclusivamente de esforços do jovem. Nada assegura que o sucesso dos pais na vida profissional é garantia de êxito para o filho”, destaca. Rotina de trabalho Antes de decidir trilhar o caminho da família, o jovem deve conhecer profundamente o dia a dia da profissão, in-

cluindo as rotinas e o perfil exigido. O consultor explica que, se nesse período de experiência o filho se encantar com a profissão, pode seguir adiante. Porém, deve recuar caso identifique que a área não lhe desperta interesse e não está em conformidade com seus sonhos profissionais. “O autoconhecimento, nesse momento, será o maior desafio”, afirma. Foi durante o processo de pesquisa sobre o cotidiano da profissão pretendida que Thais Marinho – estudante do terceiro ano no curso de rádio e TV da Universidade Anhembi Morumbi – mudou de ideia. Ela conta que, inicialmente, queria fazer faculdade em biomedicina ou saúde, como sua mãe, que é enfermeira. Porém, ao pesquisar a respeito da rotina das profissões, recuou, escolhendo a faculdade atual. “Vi que teria de passar horas dentro

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Divulgação/Marcelo Sancho

O consultor de marketing David Portes com o filho Thiago Monsores, que também atua na área: trajetória batalhadora do pai foi a maior influência

de laboratórios e também frequentar hospitais, o que não me agradou”, conta. Segundo ela, a carreira de rádio e TV oferece a possibilidade de ter um cotidiano de trabalho mais flexível, algo que não ocorre com enfermagem, por exemplo. Além disso, Thais comparou as disciplinas das duas áreas e se sentiu mais atraída pelas aulas da carreira que cursa. Hoje ela se sente satisfeita com a decisão, mesmo sabendo que terá mais dificuldades em iniciar os contatos profissionais. “Em rádio e TV, há mais disputa de mercado”, diz. Com 20 anos, Giuseppe Gozzi, aluno do terceiro ano de engenharia civil no Instituto Mauá de Tecnologia, já identifica vantagens em ter seguido a mesma carreira paterna, antes mesmo de querer entrar no mercado de trabalho. “É como se eu tivesse uma

enciclopédia dentro de casa, pois tiro dúvidas sobre teorias aprendidas na aula com meu pai e também nos livros disponíveis em sua biblioteca”, diz. Seu objetivo, depois de formado, é trabalhar em uma empresa do mercado e somente depois ingressar na construtora da família, de maneira a agregar conhecimento ao negócio. De acordo com Giuseppe, sua família jamais o pressionou por seguir esse caminho. “Meu pai foi sincero: disse que o mais fácil seria fazer engenharia, porém nunca me garantiu sucesso”, lembra. Apesar da empresa familiar, ele afirma que não tem certeza do êxito em seu caminho profissional, na medida em que o mercado é instável. Além disso, ele conta que, após optar pela carreira paterna, passou a sentir uma pressão por dar continuidade ao negócio da família de forma eficaz. Para a psicóloga Cristiane Paccola De Marco, orientadora profissional no Colégio Marista Arquidiocesano, o ponto levantado por Giuseppe também requer atenção. Isso porque podem ser feitas comparações entre os modos de trabalho de pai e filho. “Se desvincular daquilo que o pai ou a mãe foram pode ser um grande desafio ao estudante”, avalia. Para ela, pelo fato de a família ter construído um legado tradicional na profissão, o jovem pode sentir mais dificuldades em se colocar no mercado com identidade própria. Além disso, o estudante deve se preparar para escutar observações do tipo: “Ele não é tão bom como o pai”,

ou “Ele poderia ser melhor caso se espelhasse naquela habilidade que o pai possui”. Cristiane observa, ainda, que pode ser frustrante para o jovem pensar que tem semelhanças com o pai para seguir a carreira de médico, por exemplo, e quando entra na rotina da profissão e começa a lidar com pacientes, se dá conta que não suporta enfrentar determinadas situa­ções. Por outro lado, apesar de reconhecer que o momento de tomar a decisão é difícil, a psicóloga destaca que sempre há a possibilidade de recomeçar, caso o jovem perceba que fez a escolha errada. Eline Kullock, consultora na área de recursos humanos e palestrante, lembra que o importante, além de contar com uma boa formação universitária, é investir de forma constante em especializações e pós-graduações. “Não dá para imaginar um médico que se formou há dois anos e não atualizou o conhecimento. E isso vale para todas as carreiras”, aconselha. Para os adolescentes em dúvida sobre que carreira seguir, a coaching Bet Braga propõe um exercício. Pede aos jovens que se imaginem em um país em guerra e que escolham qual tarefa gostariam de assumir, caso a situação fosse real: dar assistência a quem perdeu familiares; reportar os fatos ao mundo; cuidar dos feridos; atuar na reconstrução e proteção à guerra; ou integrar uma comissão de paz. “Adolescentes têm grande facilidade em trabalhar com o imaginário. Por isso, as respos-

Pelo legado da família, o jovem pode sentir mais dificuldades em se colocar no mercado com identidade própria

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Gustavo Morita

Carreira

A jornalista Joana Horta seguiu a carreira do pai, mas agora quer mudar de área: inspiração além do profissional

tas que formulam nessa proposta me ajudam a identificar seu perfil, gosto e aptidões”, conta. Além da profissão Dono de empresas ligadas às áreas­ de marketing e fomento a start-ups, Thiago Monsores é filho de David Portes, consultor milionário para ações de marketing que começou a carreira há 27 anos, vendendo doces nos semáforos do Rio de Janeiro. Apesar de compartilharem o gosto e a aptidão pelos setores de marketing e empreendedorismo, Thiago conta que a influência do pai em sua decisão de seguir o mesmo caminho profissional foi muito além de meras questões financeiras e práticas e

se relaciona à persistência e à postura batalhadora dele diante das adversidades. “Meu pai começou do nada e fez um império, mas nunca desistiu dos projetos na primeira tentativa e essa postura me marcou”, comenta. Apesar de David Portes ser autodidata, Thiago, hoje com 27 anos, decidiu cursar faculdade de comunicação, como forma de agregar conhecimento ao que já havia aprendido com o pai. Para ele, seguir o mesmo percurso familiar ajuda a ter uma base de trabalho e contatos para conquistar clientes. “No entanto, não adianta fazer a carreira do pai se o único que o jovem deseja é o mesmo sucesso econômico. O filho deve ter seu próprio carisma”, observa.

Rede profissional do pai transmitiu segurança para buscar ou trocar de emprego, diz a jornalista Joana Horta

Filha do jornalista Celso Horta, Joana Horta, também jornalista, compartilha o sentimento de Thiago, no sentido de que a influência paterna foi além da questão meramente profissional. “Mais do que jornalista, meu pai foi inspiração para mim como militante”, conta. Ela lembra que, quando criança, sentia fascinação pelo trabalho do pai, que viajava muito e tinha computador e celular, em épocas quando isso não era comum. Quando resolveu fazer jornalismo, afirma que o pai ficou apreensivo, por conhecer de perto as dificuldades desse mercado de trabalho. No entanto, ainda antes de se formar, conseguiu seu primeiro emprego por indicação paterna, em uma produtora de televisão. Joana era estagiária, mas a facilidade com o trabalho levava seu chefe a passar-lhe tarefas antes somente incumbidas a repórteres mais experientes. Ela opina que os alunos que gostam de segurança e sentem dificuldades em ousar, devem pensar na possibilidade de seguir o mesmo caminho profissional da família. “No meu caso, meu pai me dá dicas e conselhos que levou a vida toda para aprender. Com isso, de alguma forma, nunca começo do zero”, acredita. Além disso, Joana afirma que sempre sentiu segurança para buscar ou trocar de emprego, também devido à rede profissional do pai. Por outro lado, ela considera que, quando entrou na faculdade, ainda estava formando seu entendimento de mundo e escolheu a profissão de jornalista também motivada por um idealismo que não há na vida real. “O jornalismo, hoje, é minha ferramenta para ganhar a vida. Porém, quero investir em outras áreas, entre elas a de pesquisa acadêmica em ciências sociais”, comenta Joana, que defendeu recentemente um mestrado na área e lançará um guia de turismo, escrito com outros colegas.

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Carreira

Termômetros

do mercado Engenharia, contabilidade e serviços devem abrir as maiores oportunidades

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m tempos de mudança de governo, o mercado de trabalho pode passar por um período de oscilação. Mesmo assim, algumas áreas devem permanecer imunes a incertezas. Para o economista Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos, da USP, a carreira de engenharia – seja civil, elétrica ou mecânica – tende a continuar promissora, principalmente em função da carência de mão de obra nas áreas de infraestrutura e logística. “Porém, 2015 deve ser um ano de ajuste econômico, não trazendo grande aquecimento ao mercado como um todo”, avalia. Em linha com essa avaliação, Márcio Guerra, gerente de estudos e prospectivas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), acredita que 2015 será marcado por ajustes macroeconômicos e baixo crescimento. No entanto, mesmo com a economia desaquecida, ele opina que o mercado da construção civil pode apresentar demanda por profissionais, assim como os setores de comércio e serviços. De acordo com

o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), as possibilidades para os segmentos de engenharia têm atraído cada vez mais estudantes para essa área: somente em 2014, mais de 1,1 milhão de formandos se registraram em seus sistemas. Além disso, dados do Ministério da Educação (MEC) mostram que, em 2011, mais de 44 mil alunos concluíram a graduação em engenharia no Brasil, contra cerca de 30 mil, em 2006. Palavra de recrutador Para além das previsões políticas, Ricardo Ribas, gerente da empresa de recrutamento Page Personnel, acredita que, junto à engenharia, a principal carência do mercado brasileiro nos próximos anos tende a ser por pe­ ssoas formadas em contabilidade. “A falta de contadores no país é tão grande que muitas empresas contratam administradores para assumir esse tipo de função”, explica. Nesse sentido, profissionais que ainda saibam falar inglês e espanhol – aptos a produzirem relatórios nesses idiomas – de-

vem ter as melhores oportunidades. Para Ribas, na área de recursos humanos deve ocorrer também uma busca maior por profissionais com perfil técnico, entre eles psicólogos com pós-graduação ou especialização em áreas de exatas. E esse interesse por pessoas com habilidades técnicas também vale para a área de vendas, principalmente aos setores médico, farmacêutico e químico, nos quais o vendedor precisa atuar como uma espécie de consultor. “Nesse caminho, cada vez mais engenheiros, administradores e economistas serão recrutados para trabalhar com vendas consultivas”, acredita. O segmento de serviços também pode oferecer boas oportunidades para pessoas especializadas em vendas por novos canais, como as redes sociais. Nas previsões do consultor, pessoas formadas em carreiras criativas, como marketing e comunicação, mas que saibam atuar com análise de rentabilidade e gestão de dados, também serão requisitadas. Em termos salariais, uma pesquisa do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), divulgada em julho de 2013, identificou as profissões com melhores remunerações no Brasil, entre 2009 e 2012. No levantamento, a primeira posição ficou com medicina, que ofereceu salário médio de R$ 8,4 mil, no período. Em seguida, aparecem profissões relativas ao setor militar e de defesa, com remuneração média de R$ 7,6 mil; empregos na área de serviços de transporte, com salários de R$ 6 mil; e engenharia química, com R$ 5,8 mil. (CSQ)

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Economia criativa

Mundo das Carreiras que exigem inovação e criatividade, como aquelas em tecnologia da informação e comunicação (TIC), são as que mais exigem profissionais no Brasil e no mundo; apesar da grande oferta, mercado exige estudo e autonomia

Gabriel Jareta

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ue tal se jogar pelo menos uma partida de videogame por dia fosse uma de suas obrigações no escritório? E como seria trabalhar em uma empresa voltada exclusivamente para pensar e criar aplicativos como o WhatsApp ou o Snapchat? Isso pode parecer um tanto romântico, coisa de quem teve uma grande sacada ou foi presenteado pelo destino, mas saiba que hoje é possível se preparar para isso desde a faculdade, com planejamento, muito estudo e desenvolvimento de habilidades pessoais.

Todas essas atividades fazem parte da chamada economia criativa (ou indústria criativa), que abrange desde o desenvolvimento de games e apps até carreiras voltadas para o cinema e a arte. Esse é um dos setores da economia que mais crescem no mundo hoje – principalmente naquelas áreas ligadas à tecnologia da informação e comunicação (TIC). Desenvolvida pelo autor inglês John Hawkins em 2001, o conceito de economia criativa parte do princípio de que são as “novas ideias – e não o dinheiro ou o maquinário – a fonte de sucesso atual, assim como a

Gustavo Morita

ideias maior fonte de satisfação pessoal”. O Brasil aos poucos caminha para se tornar um importante polo da economia criativa no mundo – entusiasmo, talento e mercado consumidor não faltam –, mas ainda esbarra em um velho problema: a falta de mão de obra qualificada. Hoje o Brasil é o quarto maior mercado mundial em games e o quinto maior mercado no setor mobile. Mesmo assim, a estimativa do déficit de profissionais em TIC era de 45 mil postos em 2014. “Esse mercado hoje exige um profissional que saiba transitar em outras áreas, que consiga conver-

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sar com outras práticas e olhar para outras direções”, afirma Ana Maria de Mattos Guimarães, decana da Escola de Indústria Criativa da Unisinos.

Roberto Iervolino, gerente geral da Riot Games Brasil, no escritório da empresa em São Paulo: busca por profissionais que levam o jogo a sério

Formação transversal A própria criação da escola na Unisinos, há pouco mais de um ano, surgiu como uma tentativa de reunir cursos afins e permitir que alunos de uma graduação possam fazer algumas disciplinas de outras carreiras. “Um aluno que fica apenas nas disciplinas do curso de jogos digitais, por exemplo, dificil-

mente vai atingir toda a potencialidade da economia criativa”, afirma Ana Maria. Da maneira com que a escola foi desenhada, ela explica, esse aluno de jogos digitais poderá

fazer disciplinas de línguas (para trabalhar narrativas, por exemplo) ou um aluno de design de moda poderá cursar créditos de publicidade para aprimorar seu conhecimento do mercado. Em São Paulo, onde o déficit de

O Brasil é quarto maior mercado mundial em games e o quinto maior mercado no setor mobile, mas há déficit de profissionais

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Economia criativa

O perfil do aluno de sistemas de informação é de um “curioso digital”, capaz de aliar o espírito de investigação ao empreendedorismo

profissionais em TIC está deixando vagos 4 mil postos de trabalho neste ano, a ESPM também desenvolveu um curso voltado para a formação de mão de obra para a economia criativa tomando como base as muitas possibilidades de carreira dentro do mesmo curso. Os alunos da graduação em sistemas de informação em comunicação e gestão têm uma “cesta” de disciplinas eletivas nos últimos dois anos em três áreas: gerenciamento de games, digital business intelligence e desenvolvimento de aplicativos web e mobile. “Essas disciplinas equivalem a 18% do curso, e o aluno não precisa necessariamente seguir uma área, ele pode misturar de acordo com os seus interesses”, afirma o coordenador do curso, Rodrigo Tafner. Cultura de inovação O salário para um recém-formado em uma graduação do tipo começa entre R$ 3 mil e R$ 4 mil, de acordo com Tafner. É quase o dobro da média de quem sai de um curso de administração, por exemplo. E, como apontam os números citados, falta gente para trabalhar. “No setor de games, por exemplo, o Brasil ainda é um mercado estritamente de consumo e não de desenvolvimento, muito em parte pela falta de mão de obra”, diz Tafner. Mesmo assim, não dá para imaginar que o setor é uma mina de ouro

aberta para todos que quiserem chegar lá. É preciso conhecer em profundidade características de várias áreas diferentes, ter muitas certificações no currículo e estar aberto à cultura de inovação. O coordenador da ESPM chama esse aluno de um “curioso digital”, que alia o espírito de investigação ao empreendedorismo. “É aquele que está jogando em casa e imaginando por que será que o jogo foi feito de tal forma ou como o celular está interagindo com o jogo. Não é simplesmente um usuário”, afirma Tafner. Para Ana Maria, da Unisinos, uma característica fundamental para quem quer seguir carreira na economia criativa é o desejo pela inovação. “É um aluno muito voltado para criar algo diferente. Dentro da comunicação, é um perfil diferente de um aluno que vai para o jornalismo, por exemplo, uma escolha mais tradicional”, explica. Além disso, é preciso ter a consciência de que não basta só o “artesanal”, mas que aquilo também deve ser transformado em negócio. No Rio Grande do Sul, onde a Unisinos está instalada, a decana afirma que o setor de jogos digitais e desenvolvimento de aplicativos está em alta, e que as start-ups na área recebem cada vez mais apoio financeiro. Na prática, o empreendedorismo está intimamente ligado às carreiras em TIC. De acordo com

a Associação Brasileira de Startups (ABStartups), hoje há cerca de 2,7 mil start-ups em atividade no país, com cerca de 10 mil empreendedores e um número ainda maior de funcionários. Segundo Guilherme Junqueira, diretor-executivo da associação, o tripé básico das start-­ ups é comunicação, administração e TI. O objetivo final, sempre, é a inovação por meio de serviços ou produtos. “O perfil de quem quer empreender é o do curioso, de alguém que quer aprender e não é movido apenas pelo dinheiro. É um outro entendimento sobre o que é o trabalho”, diz. Para Junqueira, o boom das start-ups e do sonho de empreender parte não só de uma insatisfação com a sala de aula, mas também pela pouca ênfase dada à inovação mesmo em grandes organizações. “Muitas empresas da área de telefonia, por exemplo, não se dedicam à inovação e acabam vendo um aplicativo como o WhatsApp roubar 30% do tráfego de SMS”, afirma. Na opinião dele, no entanto, o caminho para o jovem na faculdade ou recém-formado é passar para o lado de lá do balcão e, antes de querer fundar sua própria empresa, ser funcionário por algum tempo. Vale tentar uma extensão, uma vaga na empresa júnior do curso ou um estágio: a ideia é aplicar na prática o que ele está aprendendo. Outra dica é controlar a ansiedade e tentar não pular de um emprego a outro. “É um ponto negativo dessa geração. Você vai ver o currículo de um candidato e ele nunca ficou mais de três meses numa mesma empresa”, observa Junqueira. Jogo sério Para trabalhar no escritório brasileiro da Riot Games, desenvol-

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Economia criativa

vedora de um dos mais populares jogos on-line do mundo, League of Legends, não basta apenas ser fã de videogame: é preciso ter um conhecimento profundo da cultura dos gamers brasileiros e ter as habilidades necessárias para um executivo de qualquer grande multinacional: liderança, capacidade de resolver problemas e boa relação interpessoal. Para se juntar à equipe de cerca de 50 pessoas no Brasil, é preciso passar por uma bateria de até 15 entrevistas com gestores no Brasil e no exterior. Os benefícios, no entanto, valem a pena: jogar pelo menos uma partida de League of Legends é uma das tarefas diárias, assim como não há problema nenhum em ir trabalhar de chinelos e bermuda. O que se exige são resultados: “Nós trabalhamos com pessoas que são maduras e que sabem que precisam entregar o trabalho”, afirma o gerente geral da empresa, Roberto Iervolino. O executivo cita um dos itens do manifesto interno da Riot para explicar como é o trabalho lá: “Nós levamos o jogo a sério”. “Tudo que nós fazemos é para gerar engajamento do jogador”, completa. Por isso, o processo de seleção busca qualquer pessoa que tenha o game como paixão, independentemente da faculdade. Para Iervolino, o mercado de games brasileiro passa por um momento de expansão e deve se consolidar como um dos mais importantes do mundo, inclusive no setor desenvolvimento. “Existem as condições para isso: há um mercado de 200 milhões de habitantes melhorando de vida e a paixão brasileira por games. E as barreiras caíram: uma pessoa que quer desenvolver um jogo não precisa mais passar pelo varejo tradicional nem estar em uma empresa”, afirma.

Samir Iásbeck, da Qranio: inquietude o levou a empreender

Cabeça empreendedora Desde criança, o mineiro Samir Iásbeck se recorda de gostar de inventar, criar coisas e descobrir como tudo funciona. Com o passar dos anos e das aulas da faculdade de administração nas quais ele não via sentido, resolveu partir para a prática. Começou a trabalhar na gestão de um salão de cabeleireiro e de um lava a jato, ao mesmo tempo que começava a trabalhar com projetos paralelos de desenvolvimento de software. O objetivo final era um só: empreender. Hoje, Iásbeck é fundador e CEO do Qranio, um aplicativo voltado para, nas palavras dele mesmo, tornar o aprendizado divertido. Na prática, é um jogo de perguntas e respostas em que é possível acumular moeda virtual para trocar por prêmios reais. Hoje o aplicativo tem um milhão de jogadores cadastrados, 40 funcionários, escritórios fora do país. A empresa só foi possível porque ele a inscreveu em concursos voltados para empreendedores, tirou dinheiro do próprio bolso e recebeu investimento de um “anjo” (como são chamados os investidores em start-ups) no valor de R$ 2,7 milhões. Para Iásbeck, falta às universidades brasileiras ensinar a empreender e a colocar em prática situações que o aluno vai encontrar no mercado. Por isso, ele recomenda buscar um estágio ou trabalho o quanto antes. “O que vai preparar alguém para o mercado é o próprio mercado. Se você quer saber como se desenvolve um software para iPhone, comece a pesquisar esse assunto por sua conta, procure um trabalho nessa área em paralelo aos estudos”, afirma. Nem sempre, diz, a pessoa “nasce” para empreender – e não há problema nenhum nisso. “O empreendedor vive de altos e baixos, tem de ser alguém disposto a passar por estresse. Muitos têm um perfil mais de executor, preferem ser funcionários, e tudo bem”, conclui Iásbeck.

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Tecnologia em produção de cachaça, bebida típica do Brasil, atrai estudantes em busca de colocação em um mercado específico

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Aposta nos

nichos

Com ampla variedade de opções, os cursos superiores de tecnologia atraem estudantes que buscam uma formação mais específica e oportunidades promissoras dentro da área de atuação Juliana Duarte

E

m 2007, Antonio Assis de Souza, de 30 anos, trabalhava como pintor de automóveis quando resolveu prestar vestibular: seu objetivo era conquistar oportunidades melhores no mercado de trabalho. O caminho escolhido foi o curso superior de tecnologia em produção de cachaça. Mesmo sem conhecer a área, fez a prova do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais e passou, o que despertou a curiosidade de amigos e familiares. “Por que uma área tão específica?”, perguntavam a ele. A resposta estava na ponta da língua: ele achava que ir direto ao ponto era uma maneira eficaz de mudar de vida rapidamente. E foi o que aconteceu. Os três anos de curso renderam a Souza um novo emprego. Hoje ele atua no departamento de desenvolvimento econômico de uma grande empresa do setor. Nesse período de transição, seu salário cresceu 70%, bem como a rede de contatos que detém. Tal experiência também proporcionou a Souza a vontade de seguir com os estudos – ele faz mestrado na área e não pensa em parar por aí. “Várias

portas foram abertas em minha carreira. A transformação aconteceu como eu desejava. Agora quero aprender mais para dar continuidade a esse crescimento”, diz. Não é de hoje que os cursos superiores de tecnologia – os chamados tecnólogos – têm ganhado espaço na preferência dos estudantes. De acordo com o Censo da Educação Superior divulgado pelo Ministério da Educação (MEC), de 2011 para 2012 a procura cresceu 8,5%. Atualmente, o formato representa 13,5% do total de matrículas realizadas no país. Segundo José Carlos Mendes Manzano, auditor educacional do Senai-SP, a modalidade é mais atrativa pelo fato de ser enxuta (com duração de dois a três anos) e oferecer farta variedade de opções. Só para se ter uma ideia, o Catálogo Nacional do MEC conta hoje com 113 cursos divididos em 13 áreas diferentes, desde infraestrutura até a área de segurança. Há opções que vão além dos tradicionais modelos de gestão – entre as mais procuradas estão produção joalheira, cafeicultura e eventos. Em todos os casos, as grades curriculares se diferenciam pelo

foco no mercado de trabalho, uma das características mais valorizadas pelos estudantes. “É por esse motivo que o caminho entre o tecnólogo e o mercado é mais curto. O currículo é estruturado com base em consultas a empresas do setor e especialistas”, comenta Manzano. Em vez de escolher engenharia, por exemplo, o profissional que deseja atuar diretamente no planejamento de rodovias pode realizar a inscrição no tecnólogo em estradas, que atua na construção de vias terrestres. Assim, faz-se um recorte dentro da área de preferência. Opção certeira É o caso do estudante Bruno Ritielli Paim Poli, de 23 anos. Ele sempre gostou de jogar e estava decidido a seguir por esse caminho, o que contou na hora da escolha do curso. Quando soube que havia o tecnólogo em jogos digitais no Centro Universitário Feevale, em Novo Hamburgo (RS), logo fez a inscrição, deixando para trás opções mais abrangentes, como análise de sistemas. Com duração de três anos e meio, a escolha mudou completamente a

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vida do jovem, que atuava inicialmente como programador e desenvolvedor de softwares. Durante as aulas, conseguiu um estágio em um estúdio de jogos e, com a base adquirida com professores e colegas de trabalho, decidiu abrir a própria empresa: a Otus Game Studio. “As aulas proporcionam essa coragem de apostar, pois aprendemos o processo inteiro, desde a gestão das equipes até o planejamento de divulgação. Foi com esse aprendizado que consegui tocar meu próprio negócio”, afirma. O profissional da área é responsável pela criação e desenvolvimento de jogos eletrônicos para diferentes meios (computador, celular e videogame, entre outros). Tal trabalho envolve pesquisa de mercado e de comportamento do público-alvo, análise das características culturais, estratégias de distribuição do produto, cuidados com a estética dos games, roteiro, modelagem dos personagens e a escolha do áudio, entre outras etapas. O salário inicial pode variar de R$ 1,2 mil a R$ 2 mil, sendo que São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro concentram as melhores oportunidades. De acordo com Fábio Binder, coordenador do curso de jogos digitais da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), o setor está em franca expansão. Dados do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) apontam que 23% dos brasileiros são jogadores assíduos, colocando o país entre os quatro maiores mercados do mundo. Além disso, a área de atuação não fica restrita a empresas desenvolvedoras de games. Segundo Binder, diferentes companhias investem atualmente em softwares de simulação de desempenho de equipamentos e atividades. “É uma tecnologia que proporciona segurança. O funcionário pode treinar habilidades em um ambiente virtual antes de partir para a prática”, comenta.

Divulgação/IF Sul de Minas

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O professor Leandro Carlos Paiva (esq.) e o aluno Felipe Watanabe, do curso de tecnologia em cafeicultura do IF Sul de Minas: mercado promissor

Os setores de marketing e educação também apostam na ideia – produzir jogos e animações tem sido uma forma eficaz de atrair o público-alvo. Apesar de ser uma formação mais específica, os conhecimentos adquiridos permitem que o profissional trabalhe também como programador, característica que consolida a versatilidade do curso. Novos profissionais Com a grave crise hídrica que assola principalmente o estado de São Paulo, a água e as maneiras mais eficazes de geri-la estão no centro do debate. Esse cenário tem impulsionado a procura por informações e cursos que abordam o tema. Um deles é o tecnólogo

em meio ambiente e recursos hídricos (com duração de três anos), que forma alunos capazes de planejar, pesquisar, avaliar e coordenar ações voltadas à sustentabilidade dos sistemas ambientais naturais, rurais e urbanos. “Os estudantes aprendem a identificar e a solucionar problemas com a implantação de sistemas de gestão ambiental”, comenta José Veniziani Junior, vice-coordenador do curso oferecido pela Faculdade Estadual de Tecnologia (Fatec) de Jaú, interior de SP. Segundo ele, o mercado busca profissionais com formação sólida e boas ideias para reverter os problemas atuais, o que deixa a opção ainda mais atrativa. É possível atuar em empresas privadas e públicas,

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organizações não governamentais e em projetos relacionados a pesquisa. Sempre de olho nas tendências, João Paulo Vilela Pereira, de 27 anos, estava interessado em trabalhar na área de gestão de recursos hídricos quando decidiu fazer a matrícula na Fatec. Mesmo sem conhecer os processos de perto, ele logo conseguiu estágios em grandes empresas. Formado em 2011, hoje é supervisor ambiental de obras de infraestrutura – faz inspeções, relatórios e o controle diário das construções, trabalho que exige um amplo conhecimento do setor. “Conquistei uma visão macro a

partir das aulas, que estão totalmente alinhadas com as exigências do mercado”, diz. A experiência de Juliano Rodrigues dos Santos, de 33 anos, também foi positiva. Ele formou-se em junho de 2014 pela Fatec e conseguiu um emprego um mês após o término do curso. Interessado no setor de recursos naturais, hoje é supervisor de estações de tratamento de água em uma multinacional. “O curso foi determinante para essa conquista, era uma das exigências da vaga”, diz. Com o diploma em mãos, seu ganho salarial foi de 70% em relação a experiências anteriores.

Áreas em alta O Brasil ocupa a 42ª colocação na lista de países que mais registram mortes ocasionadas por acidentes de trânsito. O dado faz parte de um estudo divulgado pela Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. São 22 pessoas mortas a cada 100 mil habitantes. Tal problema está diretamente ligado à falta de orientações mais adequadas aos condutores, de acordo com a especialista Marcia Pontes, de 48 anos. Com dois livros publicados e mais de dez anos de experiência na área, ela decidiu buscar conhecimentos teó­ricos e práticos no curso de tec-

Onde estudar? Tecnólogo em produção de cachaça Instituto Federal Norte de Minas Gerais (IFNMG) Local: Salinas (MG) Duração: três anos www.ifnmg.edu.br Tecnólogo em cafeicultura Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul de Minas Local: Machado (MG) Duração: três anos www.mch.ifsuldeminas.edu.br Centro Universitário do Cerrado Patrocínio (Unicerp) Local: Patrocínio (MG) Duração: três anos www.unicerp.edu.br Instituto Federal Espírito Santo Local: Alegre (ES) Duração: três anos www.ifes.edu.br Tecnólogo em segurança no trânsito Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) Local: a distância Duração: dois anos www.unisul.br

Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc) Local: Criciúma (SC) Duração: dois anos e meio www.unesc.net Tecnólogo em jogos digitais Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) Local: Curitiba (PR) Duração: três anos www.pucpr.br Centro Universitário Feevale Local: Novo Hamburgo (RS) Duração: três anos e meio www.feevale.br Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) Local: São Paulo (SP) Duração: dois anos e meio www.portal.fmu.br Tecnólogo em meio ambiente e recursos hídricos Faculdade de Tecnologia (Fatec) de Jahu Local: Jaú (SP) Duração: três anos www.fatecjahu.edu.br Faculdade de Tecnologia (Fatec) de Jacareí Local: Jacareí (SP) Duração: três anos www.centropaulasouza.sp.gov.br/fatec/escolas/jacarei

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nologia em segurança do trânsito, da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul). “A alta taxa de mortalidade mostra que há muito a ser trabalhado. Felizmente, a preocupação em reduzir esse índice tem sido maior, o que resulta em um mercado em expansão para quem atua na área de educação no trânsito”, explica Marcia. Além de haver oportunidades em órgãos oficiais, o profissional do setor pode ministrar cursos em empresas públicas e privadas e prestar consultoria. O investimento nesse tipo de atividade tem sido recorrente em companhias que contam com frotas grandes, já que se costuma gastar, em média, de 1% a 3% do faturamento anual com multas de trânsito. Tradição brasileira Os tecnólogos relacionados à área de recursos naturais também estão

em alta, com destaque para o curso de cafeicultura. Fundamental para a economia brasileira, o café é produzido atualmente em cinco estados, o que configura um amplo campo de atuação. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), 1.428 indústrias trabalham com o grão em todo o país – o consumo per capita chega a 4,87 kg ao ano. Quem se forma na área pode atuar­ em diferentes frentes: lavoura, industrialização, comércio e no mercado final, que são as cafeterias. Para atender tal demanda, a grade curricular do curso compreende todas as etapas que envolvem a produção do café, desde o plantio até a venda. “O campo de trabalho é amplo e promissor. O mercado sempre exige a contratação de novos profissionais em diferentes áreas de atuação”, afirma Leandro Carlos Paiva, professor do

tecnólogo em cafeicultura do Instituto Federal Sul de Minas. De olho nesse mercado, há mais de uma década Mario Antonio Silva Prado, de 63 anos, decidiu ingressar na área de comercialização e prova de café. Ele já dominava a prática, mas resolveu procurar conhecimentos teóricos no curso superior de tecnologia oferecido pelo IF Sul de Minas. “Esse perfil de aluno é muito comum. Ele já vem com uma bagagem sólida, mas deseja ter uma visão mais ampla”, comenta Manzano, do Senai. Uma das principais vantagens das aulas, de acordo com o estudante, é o contato com colegas de diferentes setores. “A troca de experiências é muito rica, principalmente para quem dominava a rotina, mas desconhecia muitas das teorias que envolvem a produção do grão. Minha vida mudou completamente”, ressalta Prado.

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Bacharelado, licenciatura ou tecnólogo?

Quando o momento do vestibular se aproxima, as dúvidas rondam a cabeça com maior frequência. Uma das decisões importantes é a modalidade do curso. O estudante pode optar entre bacharelado, licenciatura ou por um tecnólogo. Você sabe a diferença entre eles?

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Bacharelado

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É preciso ter concluído o ensino médio para ingressar em um tecnó­ logo. Sua duração é menor: tem de dois a três anos. O motivo dessa grade mais curta é o foco na área de atuação. São mais recomendados para quem está bem decidido sobre a área que deseja seguir, pois a formação é mais específica.

Formação tradicional com duração de quatro a seis anos. A modalidade proporciona conhecimentos mais gerais sobre os assuntos que englobam a área escolhida, o que possibilita a atua­ ção do aluno em diferentes frentes. É ideal para quem ainda não tem definições tão específicas sobre o campo de trabalho escolhido.

Os cursos são voltados para a formação de professores. Além de apresentar as disciplinas aos alunos, a modalidade ensina técnicas de como transmitir esse conhecimento para outras pessoas. Com duração de quatro a cinco anos, o formato engloba assuntos relacionados a didática, psicologia e filosofia.

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Vivência

global Quem sonha com uma experiência de aprendizado (e de vida) no exterior tem opções que vão desde cursos de idioma de curta duração até a possibilidade de graduação em uma instituição renomada. Saiba como se organizar Leandro Quintanilha

S

ão muitas as perguntas na cabeça de um jovem interessado em estudar no exterior, em uma fase da vida que já é naturalmente de muita ansiedade. Em que país? Qual curso? Quanto vai custar? Por quanto tempo? Qual seria o melhor momento? Que provas fazer? Que tipo de visto solicitar? Como se preparar? Então,

por onde começar? O melhor ponto de partida é uma pesquisa abrangente e detalhada sobre as opções disponíveis. De fato, há muito o que compreender a respeito. “Existem vários tipos de programas disponíveis para estudantes brasileiros”, adianta Claudir Castro, diretor da consultoria especializada Estudar no Exterior, de Novo Hamburgo,

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no Rio Grande do Sul. “Cada um com um objetivo, destinado a um público específico, para atender determinado objetivo”, explica. Um consultor de intercâmbio pode ajudar o estudante e sua família a destrinchar as possibilidades disponíveis para eleger o destino, o curso e o orçamento adequado para o perfil do jovem interessado. Muitas vezes é necessário que o estudante postergue o projeto, por questões acadêmicas ou financeiras. Outras vezes, será necessário obter um financiamento ou reduzir a duração do curso. Também, dependendo da complexidade do curso escolhido, pode ser necessário que o estudante primeiro se torne fluente no idioma para, só então, dar início à experiência. De acordo com os especialistas entrevistados, os custos variam muito de acordo com a duração, a modalidade e o destino – algo entre R$ 2 mil para uma semana e R$ 100 mil para um ano. Os ganhos acadêmicos, culturais e pessoais, no entanto, não podem ser estimados. “Uma experiência internacional, além dos ganhos óbvios na aprendizagem e no idioma, acrescenta a vivência em outro país, além de estimular a maturidade

Gustavo Morita

Intercâmbio

Marcela Bonafé, de 18 anos, foi pela segunda vez à Inglaterra estudar inglês: mente aberta para outras culturas

e a independência”, afirma Tereza Fulfaro, diretora da rede de agências especializadas CI, para que o jovem “aprenda viajando e viaje aprendendo”. Aprimorar o idioma André Farina, de 16 anos, aproveitou as férias de julho para estudar inglês in loco, em Vancouver, no Canadá. “Foi uma experiência totalmente diferente de tudo o que já vivi”, disse. “Convivi

Rumo a Harvard Aos 17 anos, o brasileiro Víctor Domene foi aceito ao mesmo tempo por grandes universidades norte-americanas, como Harvard, Yale, Columbia, Princeton e Duke. Ele acabou optando por Harvard, como bolsista, onde acaba de começar o ciclo básico de dois anos. Nesse período, deve escolher que carreira seguir. Ou carreiras, no plural. “Provavelmente, vou fazer ciência da computação e economia”, diz. No Brasil, ele já tinha passado em cursos diferentes no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e na Universidade de São Paulo (USP), mas sua prioridade era mesmo fazer a graduação no exterior. “Minha vida tem sido bem interessante”, diz. “Estou conhecendo gente de todos os cantos, indo a festas, mas ainda me acostumando à comida”, brinca. Para quem quer seguir seu caminho, Domene sugere que se busque apoio e informação o quanto antes. Ele contou com a consultoria da Fundação Estudar e pesquisou bem sobre os processos seletivos das diferentes instituições às quais se candidatou.

com jovens dos lugares mais variados do mundo, do México à Ucrânia”, conta. Farina fez a viagem por meio da agência Yázigi Travel, com dois amigos brasileiros. “É legal ir com conhecidos, pessoas com quem você pode contar, mas você tem de se policiar para não falar português, para aproveitar melhor a imersão.” O adolescente, que cursa o 2° ano do ensino médio, pretende estudar engenharia química. Como possivelmente trabalhará em uma multinacional, sabe que o inglês fluente fará diferença. “Uma viagem como essa, de um mês, é ótima para quem já sabe o idioma, mas precisa se soltar, falar inglês de verdade”, diz. E nada impede que isso seja feito mais de uma vez. Marcela Bonafé, de 18 anos, aproveitou as duas semanas de férias do cursinho para voltar à Inglaterra, onde fez um curso intensivo de conversação. Ela já havia feito isso aos 15 anos, quando passou um mês na cidade de Cambridge, em uma casa de família. Desta vez, mesmo com apenas a metade do tempo, dividiu-se entre Cambridge e Oxford, alternando casa de família com residência estudantil, por meio da agência especializada EF – Education First. Novamente, o foco era a conversação, mas com um bônus

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– mais diversão. “Quando você é muito novo, precisa seguir mais regras. Em geral, os cursos podem tomar o dia todo e você tem horário para chegar em casa à noite.” Mais velha, Marcela pôde usufruir da experiência com mais liberdade e fez mais amigos do que na primeira vez, com quem tem mantido contato por redes sociais. Gente da Turquia, da Itália, da Holanda e de Portugal. “Sinto que voltei com outra cabeça, com a mente mais aberta para novas culturas”, diz. Marcela conta que pretende estudar jornalismo, mas já pensa em trancar a faculdade no meio do curso, por um semestre ou um ano, para fazer um curso de extensão universitária fora. O lugar, ela ainda não escolheu. Já o jovem advogado Maurício Kinoshita de Campos fez um curso de inglês na ILSC, tradicional escola canadense, em Vancouver. Eram três os objetivos: aperfeiçoar a língua, obter uma experiência internacional e conhecer uma cultura nova. “A experiên­cia de morar fora foi uma das mais incríveis da minha vida”, lembra. “Encontrei muitas pessoas de diversas nacionalidades e pude notar diferenças gritantes na visão de mundo de cada um.” Maurício, que ficou em casa de família, conta que agora é mais aberto a diferenças e mais empático com a trajetória de vida de cada pessoa. Ponto de partida Como nas histórias acima, muitos jovens optam pelo intercâmbio para aprimorar a comunicação no idioma estrangeiro, mas a proficiência pode ser já um ponto de partida em alguns casos, do ensino médio ao doutorado. “Nesses casos, o candidato precisa apresentar uma comprovação de proficiência, como prova de que será capaz de acompanhar a turma e o conteúdo”, explica Ana Luisa Bartholo, diretora de marketing da Cambridge English Brasil. Instituições especializadas, como

Incentivo O programa Ciência Sem Fronteiras foi criado em 2011 pelo governo federal para oferecer bolsas de iniciação científica no exterior a universitários brasileiros. Até 2015, serão distribuídas 101 mil oportunidades a candidatos de todo o país. Para participar, é necessário preencher os seguintes requisitos: Estar regularmente matriculado em curso de nível superior nas áreas e temas contemplados pelo programa; Ter estudado no mínimo 20% e, no máximo, 90% do currículo previsto para seu curso, no momento do início previsto da viagem de estudos; Obter nota igual ou superior a 600 pontos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em exames realizados a partir de 2009; Ser um aluno de excelência em sua instituição de ensino superior; Comprovar proficiência no idioma estrangeiro; Não ter usufruído de bolsa de graduação sanduíche no exterior com financiamento público. Ciência Sem Fronteiras – www.cienciasemfronteiras.gov.br

a Cambridge, oferecem exames para os mais variados objetivos e faixas etárias. A classificação não perde a validade. Os exames são aceitos por mais de 15 mil instituições em todo o mundo e os preços variam de R$ 150 a R$ 600, de acordo com o nível, do básico ao avançado. Outro ponto fundamental diz respeito à acomodação, conforme destaca Felipe Trigo, diretor de Operações da Belta – Brazilian Education &

Language Travel Association, organização que congrega instituições brasileiras especializadas em intercâmbio. Atualmente, suas associadas representam mais de 90% do mercado de educação internacional no Brasil. Para Trigo, alunos de perfil mais independente devem preferir residências estudantis, em que serão completamente responsáveis por si mesmos. “Já em casas de famílias, o estudante terá alguém para zelar por ele, mas precisará respeitar os horários e costumes de quem o hospeda”, observa. Uma pesquisa recente encomendada pela Belta mostra que mais de 70% dos brasileiros que fazem intercâmbio têm entre 18 e 30 anos. A grande maioria vem das classes A e B, mas algumas agências já registram uma adesão crescente da classe C. Os perfis comportamentais também estão mais diversos. “No passado, acreditava-se que intercâmbio era para pessoas aventureiras – hoje, sabemos que é para todo tipo de gente, dos mais extrovertidos aos mais tímidos.” Para quem precisa de ajuda na hora de decidir, uma opção é procurar a Fundação Estudar, instituição sem fins lucrativos criada para ajudar jovens brasileiros a estudar fora do país, em diferentes formatos. “Trabalhamos com informação, preparação e financiamento”, afirma Renata Moraes, gerente de educação. Por meio do portal Estudar Fora (www.estudarfora.org. br), a organização propaga informações sobre as diferentes modalidades e instituições de ensino disponíveis no mercado internacional. Também há a possibilidade de o jovem contar com a consultoria de um personal prep, um preparador pessoal, para que consiga destrinchar todas as etapas de inscrição em uma escola ou universidade gringa. A Fundação Estudar também oferece programa de bolsas e de crowdfunding (financiamento coletivo, “vaquinha”, pela internet). Podem participar jovens de 15 a 34 anos.

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Intercâmbio

Escolar Programa destinado a adolescentes entre 15 e 18 anos que optam por cursar parte do ensino médio no exterior. O intercambista viverá com uma família local enquanto durar o programa, que pode variar entre um semestre letivo (cinco meses) e um ano letivo (dez meses). Dependendo do país, fluência na língua local pode ser um pré-requisito.

Curso de idioma Tem duração mínima de duas semanas e máxima de um ano, com renovação opcional. A carga horária varia entre três e seis horas por dia. Nesses programas, não há restrição etária e é possível fazer cursos específicos, de acordo com o perfil do intercambista. Alunos mais jovens podem viajar em grupo, acompanhados por um guia desde o Brasil.

Curso de idioma e trabalho Nem todos os países permitem que estudantes trabalhem legalmente, mas, quando possível, o estudante pode trabalhar apenas 20 horas semanais, em geral. Por regra,

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Conheça as opções o programa se divide em uma parte de estudo e outra de trabalho, com duração mínima de 14 semanas e máxima de um ano, havendo possibilidade de renovação. As áreas mais comuns são em serviços (hotéis, bares e restaurantes) e no cuidado de crianças.

Curso profissional e trabalho Indicados para quem já fala o idioma, programas do tipo têm foco no aprendizado técnico em áreas como TI, administração e marketing, entre outras. São ideais para quem ainda não fez faculdade, mas indicados também para alunos graduados que querem enriquecer o currículo acadêmico e trabalhar legalmente. Esses programas têm como vantagem o menor custo, em comparação com pós-graduações e mesmo cursos técnicos oferecidos no Brasil. Requerem visto de estudante e cada país tem requisitos específicos para permissão de trabalho.

Graduação gratuita Disponíveis em países como a Argentina e a Alemanha, dispensam

despesas acadêmicas, mas o aluno tem de arcar com custos pessoais de alimentação e hospedagem, além de ser necessária fluência no idioma. Em alguns casos, o estudante pode ter de pagar pelo primeiro ano, de ensino preparatório. Na Argentina, são bastante populares cursos de medicina, sem vestibular. Quem entra pode estudar de quatro a oito anos sem custos.

Programa de voluntariado É uma forma de aprimorar as relações no exterior realizando trabalho voluntário. As áreas disponíveis para trabalho são: cuidado de animais, meio ambiente, supervisão de crianças e auxílio a pessoas sem-teto. Fonte: Estudar no Exterior (material adaptado).

Preços Valores estimados de referência, com condições variáveis de período, transporte, moradia e alimentação Curso de férias: de US$ 2 mil a US$ 50 mil (média de US$ 5,8 mil)

Graduação (ano): de US$ 3 mil a US$ 70 mil (média de US$ 21,7 mil)

Curso de idioma (módulo): de US$ 1,5 mil a US$ 16 mil (média de US$ 4,8 mil)

Pós-graduação (ano): de US$ 6 mil a US$ 120 mil (média de US$ 25 mil)

Ensino médio (ano): de US$ 4 mil a US$ 78 mil (média de US$ 15 mil)

Programa de trabalho (semestre ou ano): de US$ 1,5 mil a US$ 15,5 mil (média de US$ 6 mil) Fonte: Belta

– Brazilian Education and Language Travel Association.

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EAD

Cada vez

mais cedo

Flexibilidade de horários e evolução do material didático contribuem para reduzir a média de idade dos alunos que ingressam em graduações na modalidade a distância Marcelo Daniel

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que identifica uma procura maior de estudantes com até 24 anos de idade. “Sentimos que isso ocorre por uma credibilidade maior dos cursos a distância e até uma aceitação maior do mercado de trabalho”, explica. Quem procura a graduação não presencial tem a facilidade de gerenciar os próprios horários, evita o deslocamento até as instituições de ensino e, também, encontra valores menores de mensalidade. No entanto, é necessário que o estudante se adeque ao sistema de ensino e tenha condições de se organizar para cumprir todas as exigências do curso. “Os níveis de exigência de cursos presenciais e a distância são os mesmos”, ressalta o coordenador geral do Senac EAD, Alcir Vilela Junior.

“Comecei a trabalhar aos 16 anos e sempre tive dificuldade em organizar uma agenda para cursar uma faculdade”

Gustavo Morita

Mayara Rodrigues de Oliveira, 25 anos, já está na segunda­­ graduação on-line

O

perfil tradicional de um aluno de um curso de graduação a distância aponta para alguém que tem, em média, 30 anos, provavelmente já inserido no mercado de trabalho, mas que busca uma formação mais sólida, um segundo curso superior ou, ainda, que não ingressou em uma faculdade assim que concluiu o ensino regular. Apesar da descrição acima representar a maioria dos inscritos, já há muitos casos que apontam uma mudança nesse cenário. “Nos últimos três anos, notamos uma quantidade maior de jovens que buscam essa modalidade de ensino”, afirma a diretora de ensino a distância da Kroton Educacional, Elisa Assis,

Espaço na agenda Aos 25 anos de idade, a paulistana Mayara Rodrigues de Oliveira já está no início de sua segunda graduação, sem nunca ter frequentado um curso presencial. No segundo semestre do bacharelado em ciências contábeis no Senac EAD, a estudante afirma que, à época do final do ensino médio, o ritmo de sua vida estava atribulado para ingressar em uma universidade. “Comecei a trabalhar aos 16 anos com eventos na área de administração e logística e sempre tive dificuldade em organizar uma agenda para cursar uma faculdade”, diz. O resultado foi um período de três anos adiando o início da graduação. “Meus pais descobriram a opção de um curso a distância, que parecia ser uma boa opção e, como eu estava insatisfeita com minha área de atuação, sem perspectiva de mudança, resolvi fazer.” Recentemente, o investimento na educação lhe rendeu uma vaga na área de planejamento financeiro estratégico da multinacional EMC Computer Systems.

Já o baiano Sáttilo Lamalon Pereira trabalhava como técnico de enfermagem em 2006 quando um colega de trabalho lhe sugeriu a possibilidade de uma faculdade a distância. Foi dessa maneira que ingressou no curso de serviço social da Unopar e, a partir disso, pôde mudar os rumos de sua carreira. “Escolhi o ensino EAD devido ao acesso à educação mais flexível, de acordo com as minhas necessidades, o que me permitiu realizar o sonho de cursar o ensino superior.” Hoje em dia, aos 34 anos, além de dar aulas, Pereira ainda comemora a aprovação em três concursos públicos. “O ensino a distância me proporcionou muito conhecimento e estabilidade profissional”, comemora. Gestor do próprio tempo No dia a dia de Mayara, estudante do Senac EAD, o ritmo da nova empresa tem sido intenso, por isso, ao chegar em casa, nem sempre ela tem disposição para uma outra jornada de estudos. “Sempre tive trabalhos que exigem muito de mim e, quando chego cansada, posso me organizar e estudar aquele conteúdo no fim de semana”, explica. Outra estratégia que o ensino a distância lhe proporcionou está ligada às provas. “Como as avaliações são bimestrais, costumo deixar os conteúdos para estudá-los, de uma só vez, a partir do início do segundo mês”, o que, segundo Mayara, lhe proporciona um melhor entendimento. No entanto, ela alerta que o EAD exige do aluno um perfil que possa se adaptar às exigências do curso. “Confesso que tem bastante leitura, o que às vezes é até difícil”, conta. Já Sátillo, ex-aluno da Unopar, que integra o sistema Kroton Educacional, se identificou com o sistema de ensino através do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) oferecido.

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EAD

“É um local que permite o acesso a um curso ou disciplina e também a interação entre os alunos, professores e tutores envolvidos no processo de ensino e aprendizagem.” Para a diretora Elisa Assis, da Kroton Educacional, essa modalidade de aprendizagem registrou, nos últimos anos, uma evolução muito grande na

qualidade do material didático, o que resulta em um crescimento no número de alunos. “Notamos uma qualidade maior na elaboração, no sentido de disponibilizar mais elementos, seja na tecnologia, com simuladores como objetos de aprendizagem, seja no material impresso, elaborado com mais diálogo com o aluno”, ressalta.

Para a especialista, todo esse preparo pode estar relacionado também a maior absorção dos alunos pelo mercado de trabalho. “Quem faz o EAD desenvolve esse perfil muito aberto para o novo, ele não tem medo do uso da tecnologia, livros digitais, além de uma alta capacidade de organização e administração do seu tempo”, conclui Elisa.

Tudo que você sempre quis saber sobre EAD *

O EAD é mais rápido? Não. O tempo mínimo de integralização (prazo mínimo para que um aluno conclua um curso) é definido por meio de resolução do MEC/Conselho Nacional de Educação, que não diferencia os cursos presenciais dos cursos a distância. É um curso mais barato? Sim. O fato de as atividades presenciais serem poucas (quando comparadas com cursos presenciais) e esporádicas faz com que os custos diretos e indiretos com infraestrutura sejam muito menores. Além disso, os cursos a distância permitem uma série de otimizações na formação de turmas e alocação de professores, que também contribuem para a redução de custos. No curso a distância eu nunca vou precisar ir até a faculdade? O número e a frequência das atividades presenciais varia muito nos cursos a distância de diferentes instituições de ensino. De qualquer forma, sempre haverá atividades presen-

Fotolia

O curso a distância é mais fácil que um presencial? Não. Os níveis de exigência de cursos presenciais e a distância são os mesmos, tanto do ponto de vista dos conteúdos ministrados e atividades desenvolvidas como em relação aos mecanismos de avaliação.

ciais, isto é, atividades que demandam a ida do aluno até a faculdade ou ao polo no qual está matriculado. No mínimo para realizar avaliações presenciais que são obrigatórias e que devem ter um peso preponderante na média final do aluno. Como são as aulas no EAD? De forma geral, os alunos têm acesso a um material básico de estudo que é disponibilizado no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Há instituições que optam por também entregar este material impresso aos alunos, enquanto outras optam por disponibilizá-lo virtualmente e permitir que o aluno o imprima. Além desse material há, com frequên­cia, aulas ministradas a distância por professores, podendo ser videoaulas disponibilizadas pela internet ou aulas transmitidas por satélite. Os alunos contam também com mecanismos de interação com os professores ou com tutores (dependendo

da instituição) que podem ser síncronos, isto é, docente e alunos estando em contato em tempo real (por exemplo em webconferências e chats) ou assíncronos, quando alunos e docente interagem mas não num mesmo momento (por exemplo em fóruns, blogs ou por e-mail). Algumas instituições optam por terem também um número de aulas presenciais. O que eu preciso ter em casa ou escritório para acompanhar as aulas? Basicamente um computador com acesso à internet. De preferência uma internet banda larga, mas é possível, em alguns modelos de educação a distância, estudar mesmo sem este recurso. Por que é mais comum que pessoas que já estão no mercado de trabalho cursem o EAD? Como regra essas pessoas têm maior dificuldade de reservar um período do dia (normalmente manhã ou noite) para, durante toda a semana, irem à faculdade. Às vezes pelo tempo requerido para o deslocamento do trabalho até a faculdade, às vezes em função do tipo de trabalho que não tem um horário fixo de entrada e saída, ou demanda inúmeras viagens. São também pessoas mais maduras e autônomas, que têm capacidade e preferem organizar sua rotina de estudo dentro de suas especificidades e necessidades. * Respostas dadas pelo coordenador geral do Senac EAD, Alcir Vilela Junior.

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Novos

Fernanda Fidelis Rocha, 20 anos, vai se formar em administração com uma bolsa do ProUni: acesso pela nota do Enem

rumos Inspirados pelo Enem e pela necessidade de um perfil mais variado de alunos, vestibulares tradicionais estão deixando de lado o modelo de memorização e buscam alternativas para uma seleção mais “acertada”

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estudante de administração de empresas Fernanda Fidelis Rocha, de 20 anos, deve se formar na Faculdade Don Domênico, no Guarujá, em São Paulo, no segundo semestre de 2015. Além de estudar, ela trabalha como assistente administrativa. Entre a rotina de trabalho e estudos, Fernanda planeja a expectativa de crescimento na carreira, um salário maior, sucesso profissional. Nada muito diferente do que a maioria dos estudantes universitários no país deseja depois do período universitário. O caso de Fernanda, porém, poderia ser bem diferente. Ela estuda com uma bolsa integral que conseguiu via ProUni (Programa Universidade para Todos), programa do Ministério da Educação criado em 2004 que concede bolsas parciais e integrais aos estudantes que ainda não têm acesso à educação supe-

rior. Parte do processo para obter a bolsa é ter alcançado uma média superior ou igual a 450 pontos no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Fernanda conseguiu mais de 500 pontos, o suficiente para entrar no curso que exigia, em 2011, 516 pontos. “Naquele ano eu era aprendiz e uma vez terminada escola eu não teria mais a vaga. Fiquei sem trabalhar e não sabia se conseguiria pagar por uma faculdade”, conta. Quando soube da possibilidade de participar de um processo bem diferente do vestibular tradicional, Fernanda se pôs a estudar. “Estava com medo, mas eu tinha de fazer. E deu certo”, conta. No primeiro semestre de 2012 ela começou o curso. O emprego ela conseguiu só no segundo semestre. “Se eu tivesse dependido de trabalho, não teria conseguido estudar, porque somente pelo vestibular tradicional da faculdade acho que não teria passado”,

Gustavo Morita

Camila Mendonça

diz. Depois dessa experiência, Fernanda quer fazer outra graduação, na área de gestão portuária ou de TI para aproveitar as oportunidades da região onde mora. Além da economia de cerca de R$ 500 por mês, o processo bem diferente do vestibular tradicional deu uma chance nova à estudante.

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Na prática, as universidades têm apostado em ferramentas novas para garantir o acesso ao ensino superior – não apenas por motivações financeiras, em que se inserem programas como ProUni e Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), mas principalmente pelo questionamento cada vez

maior do papel do vestibular e se ele de fato é a melhor ferramenta de seleção. “O vestibular ainda está voltado ao treinamento e à memorização, mas o erro está na nossa educação de modo geral, que ainda privilegia esse conceito”, afirma a coordenadora pedagógica do núcleo de educação integrada da

Fundação Romi, Luciana Bruscagin. “O problema é que esse modelo não condiz com os novos conceitos de educação, que valorizam o pensamento crítico, a liderança e a aplicação prática dos conhecimentos. Consequentemente, o vestibular tradicional não está adequado”, avalia.

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Os vestibulares tradicionais não dão conta das exigências do mundo fora dos muros das universidades

E não apenas isso. Ainda pairam sobre os vestibulares, principalmente os das carreiras mais concorridas das universidades públicas, questionamentos sobre o perfil do público admitido – normalmente egressos do ensino médio em escolas particulares e de nível de renda mais alto. Ainda há a crítica de que, da forma como hoje estão, as provas não dão chances aos alunos de escolas públicas. Todas essas mudanças impactaram o modo como o vestibular é visto e entendido. “Poucos discordam que o processo tradicional está fora do tempo e das expectativas do jovem. O vestibular e o sistema educacional ainda não conseguiram responder às perguntas que os estudantes cada vez se fazem mais: por que tenho de estudar isso ou aquilo? Como isso se aplica na minha vida?”, analisa o educador Maurício Sampaio, que atua na área de orientação vocacional e profissional. Mais que isso, os vestibulares tradicionais não dão conta das exigências do mundo fora dos muros das universidades. “Talvez o vestibular não dê conta nesse sentido, de ajudar a suprir as necessidades do mercado. Hoje, o mercado demanda algumas características de profissionais, como o fato de o profissional conhecer o seu potencial e que esse potencial traga resultado para a empresa. Será que esse sistema está formando bons líderes capazes de empreender em um mundo como o nosso?”, questiona Sampaio. Tentando acompanhar essas mu-

danças, os vestibulares sofreram modificações ao longo dos anos. E o Enem é o principal motivador das quebras de paradigmas que têm ocorrido nos processos seletivos. Criado em 1998, o Exame Nacional do Ensino Médio tinha o objetivo, como o próprio nome indica, de avaliar o desempenho do estudante ao fim do ciclo da educação básica. A ideia era que, com base nos resultados, fossem aplicadas melhorias no ensino. No primeiro ano, pouco mais de 115 mil estudantes se inscreveram para a prova. Em 2014, o Enem contou com mais de 8 milhões de inscritos. A prova será realizada nos dias 8 e 9 de novembro e é dividida em duas partes: ciências humanas e ciências da natureza; linguagens e códigos, matemática e redação. Prova unificada A criação do exame teve sua inspiração no SAT (Scholastic Aptitude Test), ou teste de aptidão escolar, uma espécie de Enem do sistema de ensino dos Estados Unidos implantado na década de 1920. Lá, o teste avalia conhecimentos e o raciocínio crítico dos jovens em três áreas: matemática, linguagem e interpretação de textos e escrita. Como é unificado e aplicado em todo o país, a prova é parte do processo de admissão do concorrido sistema de acesso às universidades norte-americanas. A prova brasileira seguiu o mesmo caminho. E é por conta desse caminho que é possível verificar mudanças im-

portantes na estrutura das seleções de ensino superior. Já nos primeiros anos, a prova passou a ser incorporada aos processos de algumas universidades. Na segunda edição, em 1999, 22 faculdades e universidades utilizaram a nota do exame de alguma forma. Em 2004, o Enem ampliou seu papel ao ser vinculada à concessão de bolsas de estudos quando o MEC implantou o ProUni. Naquele ano, mais de 2,4 milhões de estudantes se inscreveram no exame. Mas foi mesmo em 2009, quando o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) reestruturou a prova, que ela passou a ser amplamente aproveitada pelas instituições de ensino superior como parte ou mesmo como único meio de seleção. Hoje, calcula-se que cerca de 500 instituições utilizem a nota. O número pode ser maior, porque a instituição não é obrigada a informar o uso do Enem em seu processo de seleção. A atenção voltada à prova tinha explicações. Bem diferente dos exames tradicionais, o Enem privilegia a integração e a interpretação de todo o conteúdo aprendido na educação básica. São cinco competências avaliadas: dominar linguagens, compreender fenômenos, enfrentar situações-problema, construir argumentações e elaborar propostas. Na modificação de 2009, foram elaboradas novas matrizes de referência, com base em quatro áreas do conhecimento: linguagens, códigos e suas tecnologias; matemática e suas tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias; e ciências humanas e suas tecnologias. “Ainda há muito o que amadurecer, mas o Enem já forçou o sistema educacional a iniciar mudanças e a começar a rever os processos de admissão”, diz Sampaio. As alterações dos vestibulares começam bem antes, no entanto. O modo como as escolas lecionam, a

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Tudo integrado A Unicamp foi uma das universidades que aderiram o Enem ao processo de seleção logo no início, em 1999. O vestibular da universidade sempre passou por grandes mudanças. Em 1987 realizou a primeira prova própria, desvinculada da Fuvest. “De lá para cá algumas adequações foram feitas, sempre com vistas a aprimorar o processo e considerando o número crescente de inscritos”, avalia Edmundo Capelas de Oliveira, coordenador executivo da Comvest (Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp). Em 2011, o conhecido formato discursivo da prova da primeira fase deu lugar às questões de múltipla escolha. Para o vestibular 2015 também há mudanças. A redação, aplicada na primeira fase, agora será na segunda, e o número de questões na primeira fase passa de 48 para 90 testes. Apesar das mudanças, Oliveira avalia que não existe uma prova ideal. “Neste momento nos parece a maneira mais conveniente e independente de sele-

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priorização do conteúdo e os materiais didáticos já são bem diferentes da década de 1990, quando o Enem foi implantado. A partir daí, mudanças nos processos das universidades foram graduais. “O vestibular tradicional já está mudando e o Enem é a grande mudança. Ainda não é o ideal, mas é uma boa ferramenta. Acredito que pode ser o fim do vestibular tradicional”, avalia Sampaio. As principais mudanças envolvem, justamente, a utilização do conteúdo de forma mais prática, saindo da cultura do “decoreba”. “A memorização ainda prevalece na grande maioria dos processos, mas tem mudado, porque precisamos que o desenvolvimento do aprendizado priorize não apenas o conteúdo, mas também o cognitivo, afetivo e social”, avalia Luciana.

Alternativas de seleção Que mecanismos as universidades brasileiras estudam – ou poderiam estudar – para melhorar o processo de seleção Enem Já utilizado pela maior parte das universidades e faculdades, o Enem é incorporado de várias formas: há quem utiliza a nota do exame como parte do processo, ou mesmo como única forma de seleção. Cada instituição tem a liberdade de definir como usará a nota da prova. Prova interdisciplinar Ainda que não utilizem o Enem, as universidades podem mudar a prova tradicional, introduzindo conceitos mais interdisciplinares, valorizando a interpretação e a aplicação prática dos conteúdos vistos em aula. Desempenho escolar Comum nos Estados Unidos, atrelar o processo de seleção ao desempenho do estudante no ensino médio ainda é pouco usual no país, mas pode ser uma alternativa às provas únicas. Esporte Também método comum fora do Brasil, conceder bolsas àqueles que se destacam em algum esporte pode ser atrativo no país. Olheiros Uma das alternativas que estão sendo estudadas pela USP é selecionar os futuros estudantes já no ensino médio. Aqueles que se destacam mais, por algum talento que tenham, serão selecionados logo na escola e terão vagas gratuitas. Cotas Cada faculdade utiliza o sistema de cotas da forma que considera mais acertada, seja com acréscimo percentual à nota obtida pelo aluno ou alguma bolsa específica. A mais comum é voltada para alunos para escola pública.

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Hoje, cerca de 80% dos vestibulandos optam por usar a nota do Enem para compor sua nota no vestibular da Unicamp

cionar, isto é, sem abrir mão da autonomia. É importante frisar que o vestibular é um processo que passa por uma avaliação contínua”, diz. Embora o Enem esteja inserido no cálculo da nota final, o coordenador afirma que não existe a perspectiva de ele ser a única ferramenta de seleção na Unicamp. “Enquanto a universidade tiver um número maior de candidatos do que o número de vagas, sempre haverá alguma forma de seleção. Não consideraria o vestibular como ‘tradicional’, pois é um processo dinâmico, que passou por adequações ao longo dos anos”, enfatiza. Hoje, cerca de 80% dos vestibulandos optam por usar a nota do Enem para compor sua nota no vestibular da Unicamp. No ano passado, a universidade aplicou prova a mais de 73 mil candidatos. Neste ano, devem ser cerca de 80 mil. A Fuvest, por outro lado, sofreu poucas mudanças no conteúdo de suas provas. O vestibular mais concorrido do país, contudo, deve passar por uma reforma. Em junho, o pró-reitor de graduação da instituição, Antonio Carlos Hernandes, disse que era preciso mudar. E cogitou novos meios de acesso à USP a partir de 2016, desde o esquema de “olheiros”, que terão a missão de selecionar talentos já no ensino médio, tal como já fazem as universidades americanas, até a inclusão do Enem de forma integral em programas semelhantes ao ProFIS (Programa de Formação Interdisciplinar Superior), da Unicamp.

O curso-piloto, voltado aos estudantes que se formaram no ensino médio público de Campinas, utiliza apenas a nota do Enem para admissão. Ao todo são 120 vagas e o currículo do curso inclui disciplinas das áreas de ciências humanas, biológicas, exatas e tecnológicas, distribuí­das por dois anos. Depois disso, o estudante pode ingressar em cursos de graduação da Unicamp, sem precisar do vestibular, de acordo com o número de vagas disponível por curso. Os estudantes com melhor desempenho nas disciplinas obrigatórias do ProFIS têm prioridade de escolha. O curso também é formado por disciplinas eletivas. Longe do ideal “Não acho que o Enem é perfeito, mas também não acho que o vestibular é o melhor modelo”, avalia Laryssa de Almeida Saldanha, de 22 anos, que está no terceiro período em enfer-

magem na Faculdade Arthur Sá Earp Neto de Medicina de Petrópolis, no Rio de Janeiro. A estudante contou com a nota do Enem para entrar na faculdade e sem precisar passar pelo vestibular tradicional. Ela sabe bem o que são as provas da área de atuação: já prestou vestibular de medicina em várias instituições e chegou a passar em uma universidade argentina, mas desistiu de mudar de país. Para ela, ter vários meios de acesso à universidade é o ideal. “Quanto mais opção para o estudante, melhor”, diz. Na opinião de Maurício Sampaio, talvez uma mudança efetiva seja deslocar o centro de atenção do ensino – hoje, o vestibular é esse ponto central. “A maior razão para um pai escolher uma escola de ensino médio é a quantidade de alunos que esta escola aprova nos vestibulares. É dessa forma também que uma escola é tachada como boa ou ruim. Esquece-se de desenvolver competências que podem ser mais importantes, como as sociais e comportamentais”, afirma o educador. Luciana Bruscagin concorda: “O vestibular tem uma tendência de mudar de acordo com as mudanças no sistema de educação. Se as mudanças continuarem, da forma que está o vestibular tende sim a perder o seu reinado”.

LEI DE COTAS Aprovada em 2012, a Lei das Cotas (nº 12.711) obriga as 59 universidades federais e os 38 institutos federais de educação, ciência e tecnologia a reservarem 50% das matrículas por curso e turno para alunos oriundos integralmente do ensino médio público, em cursos regulares ou da Educação de Jovens e Adultos. Deste total, metade deve ser destinada a estudantes de escolas públicas com renda familiar bruta igual ou inferior a 1,5 salário mínimo per capita e outra metade para estudantes de escolas públicas com renda familiar superior a este valor. Nesse percentual também estão incluídas as vagas para aqueles que se declaram pretos, pardos e indígenas. A reserva está sendo feita gradualmente e os 50% devem ser atingidos em 2016.

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Portas de entrada O sistema de cotas e o Enem são os sistemas mais comuns na seleção de universidades e faculdades do país. Veja como os principais vestibulares utilizam estes recursos: Fuvest O vestibular mais concorrido do país não utiliza a nota do Enem para compor a nota, mas possui uma série de bonificações. Os percentuais são aplicados somente às notas da 1ª fase dos candidatos que tenham acertado pelo menos 30% da prova. São seis bonificações: para candidatos que cursaram o ensino médio somente em escolas públicas (12%); para aqueles que cursaram o ensino fundamental e médio em escolas públicas (15%); para aqueles que cursaram fundamental e médio em escola pública e participaram do Pasusp em 2013 e 2014 (15% e até mais 5%); para aqueles que estejam cursando o segundo ano do ensino médio em escolas públicas em 2014 e que participaram do Pasusp em 2014 (5%); para aqueles que cursaram os ensinos fundamental e médio em escolas públicas e se declararem pertencentes ao grupo PPI (cor ou raça preta, parda ou indígena (5%).

Unicamp O Enem pode contribuir na nota da primeira fase da prova para a Universidade de Campinas. Para tanto, o candidato precisa autorizar a utilização no Formulário de Inscrição do Vestibular. Também há bonificação aos estudantes que tenham cursado o ensino médio integralmente em escolas públicas. São 60 pontos a mais na nota final do vestibular 2015. Já os candidatos que fizerem a autodeclaração étnico-racial como preto, indígena ou pardo ganham, além dos 60 pontos, outros 20.

Unesp A universidade também considera a nota do Enem na nota da Prova de Co-

nhecimentos Gerais do vestibular. Para cada curso de graduação, a universidade destina no mínimo 25% das vagas oferecidas aos estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas ou a Educação de Jovens e Adultos em escolas públicas.

UERJ A Universidade do Estado do Rio de Janeiro atua com sistema de cotas desde 2012. Para concorrer às vagas reservadas, o candidato deverá preencher os requisitos como atender à condição de carência socioeconômica definida como renda per capita mensal bruta igual ou inferior a R$ 1.086,00. Ao todo, 45% das vagas na universidade são destinadas aos cotistas, sendo 20% para estudantes negros e indígenas; 20% para estudantes oriundos da rede pública de ensino; 5% para pessoas com deficiência, nos termos da legislação em vigor, e filhos de policiais civis e militares, de bombeiros militares e de inspetores de segurança e administração penitenciária, mortos ou incapacitados em razão do serviço. A universidade não considera a nota do Enem.

UFRJ As vagas da Universidade Federal do Rio de Janeiro são preenchidas pelo Sisu (Sistema de Seleção Unificada), ou seja, a instituição utiliza o Enem como única ferramenta de seleção, exceto cursos que exigem teste de habilidade específica. Além disso, há o sistema de cotas. Cerca de 30% das vagas são voltadas aos estudantes que estudaram em escolas públicas durante o ensino médio. Nesta cota também estão incluí­dos candidatos com renda familiar de até um salário mínimo e meio, pardos, negros e indígenas.

UFMG A Federal de Minas Gerais também adotou o Sisu como seleção e, com isso, extinguiu desde o ano passado o vestibular tradicional, adotando apenas o Enem como critério de seleção. Assim como determina a Lei de Cotas, a Universidade deve chegar a 50% do total das vagas reservadas aos estudantes que completaram o ensino médio em escolas públicas.

UFBA A Federal da Bahia seguiu a mesma linha e, por conta do Sisu, adotou apenas o Enem como critério de seleção, exceto aqueles cursos que demandam habilidades específicas. Em 2013, cerca de 45% das vagas foram reservadas aos candidatos que vieram do ensino médio público.

UFPE Seguindo as 50 federais que aderiram ao Sisu, do total de 59 existentes no país, a Federal de Pernambuco também decidiu extinguir o vestibular neste ano, centralizando a seleção pelo sistema através do Enem. A prova tradicional foi mantida apenas para os processos de meio de ano das engenharias, além dos testes específicos para os cursos de música e química.

Unifesp A Universidade Federal de São Paulo conta com o sistema Sisu também, além do vestibular misto, que além do Enem adota provas de conhecimentos específicos. Cabe ao estudante definir qual sistema prefere. A universidade também direciona 10% das vagas aos candidatos de cor preta, parda ou indígena, que cursaram o ensino médio exclusivamente em escolas públicas (municipais, estaduais ou federais).

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Provas – Vestibulares

Formatos

convergentes Vestibulares das universidades públicas de São Paulo adotam formas parecidas, mas conteúdos ainda guardam diferenças; saiba o que esperar de cada um deles Luciana Alvarez

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vestibular começa com uma primeira fase composta por 90 questões de múltipla escolha. Na segunda etapa, as questões são dissertativas abrangendo todas as áreas do conhecimento, e há necessidade de redigir uma redação. De qual vestibular estamos falando? Pode ser da Fuvest, da prova para a Unicamp ou para a Unesp. Neste ano, os exames de admissão para as três universidades públicas estaduais de São Paulo seguem um formato idêntico.

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“Embora cada prova tenha suas peculiaridades, estamos vendo uma convergência de formatos”, afirma Edmilson Motta, coordenador geral dos cursos pré-vestibulares da rede Etapa. Diversas mudanças graduais estavam encaminhando os vestibulares para esse momento de convergência. Na edição de 2015, pela primeira vez, a Unicamp terá uma primeira fase só de testes, e a redação será cobrada apenas dos que passarem pela nota de corte. Para a coordenadora do colégio e curso Objetivo, Vera Lúcia da Costa Antunes, ter as três provas exatamente nos mesmos moldes é uma boa ajuda aos alunos que prestam vários vestibulares. E, aparentemente, esse modelo tem se mostrado o mais eficaz para recrutar os melhores candidatos. “Todas as universidades querem para si os estudantes mais bem

preparados. Portanto, são todas provas bem elaboradas, sem pegadinhas, que visam medir o conhecimento e se preocupam com o programa do ensino médio”, afirma. Olhar crítico Quando se trata da forma como os conteúdos são cobrados, a tendência tem sido de questões demandando cada vez mais um estudante crítico, capaz de interpretar bem um texto, ler tabelas e gráficos, conectar assuntos diversos. “Todas procuram um aluno articulado, que relacio­ne mais os conhecimentos, embora a Fuvest ainda tenha uma prova mais objetiva e exigente em relação aos conteúdos”, afirma Alessadra Venturi, orientadora educacional do Cursinho da Poli. Outra tendência que vem se consolidando é o fortalecimento das ações

afirmativas para uma maior inclusão de alunos egressos do ensino público, e também dos que fazem parte do grupo denominado PPI: os autodeclarados pretos, pardos ou índios. No vestibular 2015, os bônus para esses candidatos ficaram maiores na Fuvest e a reserva de vagas cresceu na Unesp. (Leia mais na reportagem a partir da página 36.) Nesse ponto, a seleção para as Fatecs – Faculdades de Tecnologia de São Paulo – é a mais eficiente: elas têm atualmente cerca de 80% dos alunos matriculados vindos do ensino médio público. Na USP e na Unicamp a média é de cerca de 30%; na Unesp, de 50%. Para as Fatecs, porém, além do chamado Sistema de Pontuação Acrescida, contribui o perfil do aluno que procura pelos cursos, já que a maior parte dos vestibulandos vem da rede pública.

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Provas – Vestibulares

Fuvest

língua portuguesa A

Fuvest é o maior vestibular oficial do Brasil: registrou no ano passado 172 mil inscritos e é responsável por selecionar estudantes para a universidade mais bem conceituada do país, a Universidade de São Paulo (USP). Não é à toa que também seja uma das mais temidas provas entre os vestibulandos. E neste ano, em decorrência de uma mudança na forma de aplicação dos bônus para estudantes advindos do ensino público, as notas de corte para a segunda fase devem subir em média dois pontos em todas as carreiras. Um motivo a mais para os candidatos se prepararem bem e ficarem atentos a detalhes que podem fazer a diferença na nota final. Apesar das mudanças, o coordenador de comunicação da Fuvest, José Coelho Sobrinho, garante que a prova não será nem mais fácil nem mais difícil do que nas edições anteriores. “A percepção pode mudar, pois cada ano são pessoas dife-

rentes que elaboram a prova e que respondem a prova. Mas, para nós, nunca é uma prova difícil. As questões contemplam apenas conteúdos que estão descritos nos Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino médio, determinados pelo MEC”, afirma o coordenador. A Fuvest seleciona atualmente para as 11.057 vagas da USP, mais 120 do curso de medicina da Santa

Principais datas: Prova da primeira fase: 30/11/14 Provas da segunda fase: 4/1/15 (português e redação) 5/1/15 (todas as disciplinas básicas) 6/1/15 (duas ou três disciplinas, de acordo com a carreira)

Imagens: Fotolia

Atenção à

Casa. Na primeira fase, os candidatos têm cinco horas para responder a 90 questões de múltipla escolha, sendo algumas delas interdisciplinares. Em média, três candidatos por vaga são convocados para a segunda fase. Na segunda fase, os vestibulandos fazem provas discursivas por três dias seguidos: no primeiro dia, serão dez perguntas de português e é preciso fazer uma redação; no segundo dia, são 16 questões interdisciplinares, incluindo conteúdos de biologia, física, geografia, inglês, matemática e química; no último dia, mais 12 questões sobre duas ou três disciplinas, dependendo da carreira escolhida. Algumas carreiras também exigem uma prova de habilidades específicas, em datas divulgadas no manual do candidato. Mesmos moldes O exame da Fuvest se mantém exatamente nos moldes das provas anteriores; a diferença este ano está nos bônus concedidos pelo Inclusp –

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programa de inclusão da USP. Numa tentativa de aumentar o número de egressos do ensino público na universidade, o bônus será concedido integralmente a todos que acertarem mais de 27 questões na primeira fase. Antes, o bônus era calculado de acordo com o desempenho do aluno e só recebia o valor máximo aquele que acertasse no mínimo 61 questões. O bônus será de 12% para quem fez o ensino médio na rede pública do Brasil e 15% para quem esteve na rede pública brasileira desde o ensino fundamental. Candidatos que estudaram em escolas públicas por todo o ensino fundamental e médio e também se declararem pertencentes ao grupo de pretos, pardos ou indígenas terão 5% de bônus adicional. No ano passado, o bônus médio concedido pela Fuvest foi de 9%. Boa formação geral Independentemente de ter cursado ensino público ou particular, quem pretende entrar na USP precisa, acima de tudo, ter uma boa formação geral. “Nos testes, são cobrados conhecimentos de forma completa e abrangente, de todas as disciplinas”, afirma Edmilson Motta, coordenador geral do cursinho Etapa. Passada a primeira bateria de testes, o candidato deve se preparar para exigências mais aprofundadas – e não apenas em relação às disciplinas ligadas à carreira escolhida. “Na segunda fase há também uma prova de conhecimentos básicos do ensino médio – esta ainda mais complexa, por misturar as disciplinas. Portanto, quem vai tentar as carreiras mais disputadas deve estudar tudo, não pode se focar na sua área preferida. A matéria mais decisiva para a aprovação em direito tem sido física e matemática”, diz. E não adianta só decorar conteú-

Apesar de todas as matérias serem importantes, nenhuma é tão indispensável para as provas quanto a língua portuguesa

dos; faz tempo que o famoso “decoreba” está perdendo espaço para questões mais reflexivas e analíticas, dizem os professores acostumados a preparar candidatos para a Fuvest. “É uma prova muito inteligente, que avalia os conhecimentos, mas também exige raciocínio. Ou seja, o aluno vai precisar usar os conhecimentos para responder as questões”, avalia Vera Lúcia da Costa Antunes, coordenadora do colégio e curso Objetivo. A orientadora educacional do Cursinho da Poli, Alessandra Venturi, observa que o candidato deve ser capaz de estabelecer relações entre os conteúdos. “É uma prova que exige muito do aluno: ele tem de ser autônomo, leitor, conseguir fazer conexões

Carreiras mais concorridas / Vestibular 2013: Candidato/ Vaga

Curso Medicina Ribeirão Preto

62,91

Medicina São Paulo

58,57

Engenharia civil São Carlos

50,85

Publicidade e propaganda

49,98

Psicologia

48,57

Jornalismo

45,10 Outras informações: www.fuvest.br

entre os tempos históricos e os dias atuais”, afirma. Língua portuguesa E os candidatos devem sempre se lembrar de que, além de treinar a fazer testes, precisam estar em dia com a sua expressão escrita para dar conta da segunda fase. “Além de saber o conteúdo, o estudante precisa saber escrever. Para muitos essa é uma grande dificuldade; eles chegam ao fim do ensino médio com pouca base de português”, avalia. Ou seja, apesar de todas as matérias serem importantes, nenhuma é tão indispensável quanto a língua portuguesa. Ter um bom português é condição para o sucesso, pois ele é necessário para entender corretamente os enunciados desde a primeira fase, saber se expressar para responder as questões dissertativas da segunda e, é claro, para responder a prova da disciplina e fazer a redação. Um terço da nota da segunda fase – 100 pontos – vem diretamente do português. “O foco do português não é tanto a gramática, mas a capacidade de interpretação do texto. Em geral, metade das questões é de literatura, por isso é importante ler os livros indicados”, recomenda Motta. Outro ponto que assusta muitos candidatos é a redação. “Os temas muitas vezes envolvem questões filosóficas, exigem uma reflexão profunda. Não basta defender um ponto de vista, saber de atualidades”, conclui o coordenador do Etapa.

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Provas – Vestibulares

Unicamp

Exame

ampliado A

Unicamp adota este ano uma nova fórmula para o seu vestibular: pela primeira vez a redação será cobrada na segunda fase – até a edição de 2014, era aplicada na primeira. A primeira fase passa a ter 90 questões de múltipla escolha, contemplando as disciplinas de português e literatura, matemática, história, geografia, física, química, biologia, inglês, filosofia e sociologia, além de questões interdisciplinares. Antes, eram apenas 48 questões. A opção por levar a redação para a segunda fase deve-se ao crescimento no número de inscritos. O vestibular de 2014 teve quase 74 mil inscritos e espera-se que este ano a quantidade de candidatos chegue aos 80 mil. O temor da organização era de que a qualidade da correção dos textos acabasse prejudicada pelo aumento de redações a serem avaliadas pela banca. Para a segunda fase, passam cerca de 15 mil candidatos. Nesse novo formato, a redação cai como primeiro critério de seleção, mas ganha mais peso na composição da nota final. Ela responderá por 20% da nota; até então, ela respondia por cerca de metade disso, variando de 9,5% a 13,5%, dependendo da carreira. Com as mudanças, as questões de

inglês passaram da segunda fase, que é discursiva, para a primeira, que é de múltipla escolha. Além da primeira fase de testes e da segunda fase composta por três dias de provas discursivas, com questões comuns a todas as carreiras, os candidatos aos cursos de arquitetura, artes cênicas, artes visuais, dança e música têm de passar por uma prova de habilidades específicas. Na Unicamp, são oferecidas 3.320 vagas em 70 graduações. Apesar de os conteúdos exigidos continuarem os mesmos, as mudanças provocam muita inquietação en-

Carreiras mais concorridas / Vestibular 2014: Curso

Candidato/ Vaga

Medicina Unicamp

145,4

Arquitetura e urbanismo (Noturno)

104,5

Medicina Famerp (A medicina Famerp terá seleção própria para 2015)

74,5

Engenharia civil

51,8

Engenharia química

46,9

Outras informações: www.comvest.unicamp.br

Prova da 1ª fase: 23/11/14 Provas da 2ª fase: 11/01/15 (redação, língua portuguesa e literatura), 12/01/15 (matemática, história, geografia), 13/01/15 (física, química, biologia)

Imagens: Fotolia

Principais datas:

tre os vestibulandos. “É natural que o estudante fique inseguro. Uma preparação básica é resolver as provas dos anos anteriores, mas não existe uma prova anterior nesse modelo”, afirma Edmilson Motta, coordenador geral do cursinho Etapa. Para Vera Lúcia da Costa Antunes, do Objetivo, porém, não há motivos reais para o aluno se preocupar. “A prova da Unicamp já foi uma prova mais longa, muito trabalhosa. Eles diminuíram o número de questões, agora mudaram a redação. São mudanças que só vêm ajudar”, garante. Candidatos que prestaram o Enem em 2013 ou em 2014 podem usar o resultado para somar pontos no vestibular da Unicamp. A comissão de vestibular aproveita a melhor nota de quem prestou nos dois anos; a nota é utilizada segundo uma fórmula padronizada. Se o resultado do Enem abaixar a média do candidato, ele é descartado e o estudante se mantém com a pontuação inicial. O vestibular da Unicamp também dá bônus a alunos que tenham cursando integralmente o ensino médio em escolas públicas do Brasil. Após, a segunda fase, são adicionados 60 pontos à nota. Destes, os que se declararem pretos, pardos ou indígenas terão outros 20 pontos extras, além dos 60.

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Principais datas:

Unesp

Prova da primeira fase: 16/11/14 Provas da segunda fase: 14 e 15/12/14

Modelo

interdisciplinar U

m vestibular cuidadoso, bastante interdisciplinar, em que as matérias das humanidades têm maior peso do que as exatas. Assim é a prova que seleciona para as 7.260 vagas dos 174 cursos da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho, a Unesp, instituição espalhada por 24 cidades do estado. Na primeira fase, as 90 questões de múltipla escolha são divididas por três eixos, sendo 30 de cada um deles – linguagens, códigos e suas tecnologias (que reúne elementos de língua portuguesa, literatura, língua inglesa, educação física e artes); ciências humanas e suas tecnologias (história, geografia e filosofia) e ciências da natureza, matemática e suas tecnologias (biologia, química, física e matemática). A segunda fase é feita em dois dias: no primeiro, os candidatos respondem a 12 questões dissertativas do eixo de linguagens e redigem uma redação; no dia seguinte, 24 questões dos outros eixos – 12 de ciências humanas, 12 de ciências da natureza e matemática. A opção por dividir as questões por “áreas de conhecimento” em vez das disciplinas tradicionais faz com que a prova acabe sendo naturalmente mais interdisciplinar. Dos vestibulares das

três grandes universidades públicas de São Paulo, é o modelo que mais se aproxima ao do Enem. Com esse formato, outra característica marcante do vestibular da Unesp é o grande peso que as matérias de humanas adquirem frente às de exatas. “De história e geografia você vai ter cerca de 12 testes, 4 questões dissertativas. De matemática, como divide espaço com mais disciplinas, serão 7 ou 8 testes, 3 questões escritas na segunda fase”, explica Edmílson Motta, coordenador geral do Curso Etapa. A seleção da Unesp tem ainda outras duas peculiaridades: costuma exi-

Carreiras mais concorridas / Vestibular 2013: Curso

Cidade

Candidato/ Vaga

Medicina

Botucatu

216,4

Direito (Matutino)

Franca

68,6

Arquitetura e urbanismo

Bauru

51,4

Engenharia química

Araraquara

50,0

Engenharia civil

Bauru

43,8

Outras informações: http://vestibular.unesp.br/

gir conhecimentos bastante específicos de filosofia, sobretudo na segunda fase, e não trabalha com lista de leituras obrigatórias. Apesar das diferenças, a prova tende a ser vista como mais “fácil” pelos vestibulandos. “A Unesp tem um vestibular muito cuidadoso. Foi a primeira das grandes universidades de São Paulo a se preocupar com a parte gráfica, incluir questões com bons mapas e gráficos, tudo com muita clareza. Mas ela tem mesmo um nível menos exigente do que a prova da Fuvest”, afirma Vera Lúcia da Costa Antunes, coordenadora do colégio e curso Objetivo. A Unesp utiliza o Enem para a composição da nota final dos candidatos que assim desejarem, respondendo a 10% da nota – para os cursos que exigem prova de habilidades específicas, o Enem representará 6,66% da nota final. A universidade conta ainda com o Programa de Inclusão Social que visa destinar, gradativamente, até 2018, 50% das vagas oferecidas em cada curso a estudantes que tenham feito todo o ensino médio em escolas públicas e 35% destas vagas, ou seja, 17,5% do total, a egressos das escolas públicas que se declarem pretos, pardos ou índios. No vestibular para ingresso em 2015, a reserva está em 25%.

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Provas – Vestibulares

Fatecs Imagens: Fotolia

Ênfase

Principais datas:

na lógica C

om 54 questões de múltipla escolha e uma redação, numa prova que dura um total de 5 horas, o vestibular da Fatec seleciona estudantes para 71 cursos de graduação tecnológica, que têm uma carga horária de 2.400 horas, ou três anos de duração. Os exames são realizados em apenas uma fase, duas vezes por ano – uma a cada semestre. Para o início em 2015, são mais de 13 mil vagas em disputa. A prova única será realizada no dia 14 de dezembro. A prova da Fatec costuma exigir boa capacidade de leitura e interpretação, além da necessidade de o candidato estar por dentro de notícias da atualidade. Fatos do noticiário podem servir de base para questões em diferentes matérias. Há 40 questões relativas às disciplinas tradicionais – português, matemática, química, física, biologia, história, geografia e inglês –, cinco testes de raciocínio lógico e nove para verificar a capacidade de resolução de situações-problema. Nas questões de raciocínio e resolução de problemas, a atenção é essencial, dizem os professores. “É uma prova mais específica, porque busca outro perfil de aluno”, afirma

Prova única: 14/12/2014

Alessandra Venturi, orientadora educacional do Cursinho da Poli. A ideia é selecionar candidatos com um perfil um pouco diferente do de outros vestibulares. “A prova tem um estilo muito diferente da Fuvest, exige menos conhecimento de conteúdos, mas um grau de lógica maior. A forma de pergunta lembra um pouco o da Unicamp”, diz Alessandra. Portanto, o aluno que quiser entrar na Fatec também precisa ter uma preparação diferente. Apesar de muitos alunos considerarem-no um exame mais sim-

Cursos mais concorridos / segundo semestre 2014: Curso

Candidato/ Vaga

Análise e desenvolvimento de sistemas (Noturno)

11,94

Gestão empresarial em EAD

11,63

Construção civil – edifícios (Noturno)

10,93

Automação industrial (Noturno)

10,38

Comércio exterior (Noturno – Barueri)

8,75

Outras informações: www.vestibularfatec.com.br

ples, com mais tempo para responder, Alessandra lembra que é sempre preciso ter uma estratégia para não deixar o tempo estourar, respondendo primeiro as perguntas que sabe e deixando as questões mais complicadas para o fim. “Se a gente fala ‘pode ir com calma’, o aluno vai achar que tem a vida inteira para responder cada questão, e isso não é verdade. Para ajustar bem o ritmo, o ideal é o candidato simular o tempo com provas anteriores”, recomenda. Bônus Os vestibulandos que cursaram todo o ensino médio em colégios públicos do Brasil podem se beneficiar com um bônus de 10% da nota graças ao Sistema de Pontuação Acrescida. Para os egressos do ensino público que se declarem afrodescendentes, há mais 3% de bônus. Em média, 80% dos estudantes matriculados nas Fatecs estudaram anteriormente em escolas públicas. O candidato também pode usar a nota da prova objetiva do Enem para ajudar na nota final; o cálculo é feito de forma que o Enem corresponda a 20% da média final – o Enem só é usado se aumentar a nota obtida no vestibular da Fatec. São aceitas as notas das últimas três edições do Enem.

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Provas – Vestibulares Outros exames Veja a seguir as datas de alguns dos principais vestibulares do país, entre públicas e particulares

São Paulo Unifesp Vestibular é necessário para apenas alguns cursos: medicina, ciências biológicas, fonoaudiologia e engenharia química. Provas: 11 e 12 de dezembro www.vestibular.unifesp.br ITA O Instituto Tecnológico da Aeronáutica oferece seis graduações nas áreas de engenharia. Provas: 9, 10, 11 e 12 de dezembro www.vestibular.ita.br Famerp Oferece medicina e enfermagem em São José do Rio Preto. Provas: 18 e 19 de dezembro www.vunesp.com.br/fmrp1401 Mackenzie Entre as 32 graduações da universidade, direito, arquitetura, publicidade, psicologia e engenharias são algumas das mais tradicionais. Provas: 1º e 2 de dezembro www.mundomackenzie.com.br PUC-SP Com mais de 40 cursos em diversas áreas, se destaca pela graduação em direito e as licenciaturas. Prova: 7 de dezembro www.vestibular.pucsp.br PUC-Campinas São mais de 50 cursos, em todas as áreas, com destaque para alguns

bem atuais como design digital, engenharia ambiental e sanitária. Provas: 28 e 29 de novembro www.puc-campinas.edu.br FGV Instituição oferece graduações em administração, economia e direito. Provas: 14 de dezembro – administração; 23 de novembro e 7 de dezembro – economia; 20 e 23 de novembro, 15 a 19 de dezembro – direito www.fgvsp.br/vestibulares Metodista Entre as 40 graduações se destacam veterinária, odontologia, cursos na área de gestão e comunicação. Prova: 25 de outubro portal.metodista.br/processoseletivo Unisantos Direito, engenharias e licenciaturas estão entre as 29 graduações oferecidas pela instituição. Prova: 2 de novembro www.unisantos.br/vestibular Anhembi Morumbi Prova específica para medicina: 13 de dezembro portal.anhembi.br/top50 FAAP Administração, artes visuais, moda e relações públicas e internacionais estão entre os cursos mais reconhecidos pelo mercado. Prova: 16 de novembro www.faap.br/processo_seletivo

Rio de Janeiro Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Medicina, direito, desenho industrial, jornalismo, economia, letras e engenharias são algumas das carreiras mais concorridas. Prova: 30 de novembro www.vestibular.uerj.br PUC-Rio Cursos vão de ciências sociais, comunicação e direito a engenharias e ciências da computação. Provas: 12 e 13 de outubro www.puc-rio.br/vestibular Minas Gerais Universidade do Estado de Minas Gerais Além dos cursos mais tradicionais em todas as áreas, se destaca nas artes, com graduações em música, artes plásticas e design. Prova: 30 de novembro copeps.uemg.br Paraná UEL Com um total de 54 cursos, a Universidade Estadual de Londrina se destaca especialmente pela qualidade de suas 15 licenciaturas Inscrições até: 11 de setembro Prova: 1ª fase em 2 de novembro; 2ª fase em 30/11 e 01/12 cops.uel.br Universidade Estadual de Maringá Oferece 64 graduações, como administração pública, biologia, física, história, letras e pedagogia Inscrições até: 17 de setembro Provas: de 7, 8 e 9 de dezembro vestibular.uem.br

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Redação Enem

A rapidez da

proposta Como um candidato que está fazendo o Enem pode, no tempo curto da prova de redação, elaborar uma proposta de intervenção que realmente convença os examinadores

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Luiz Roberto Wagner e Djenane Sichieri Wagner Cunha*

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A

maioria dos vestibulares exige, para redação, o tipo de texto argumentativo. O Enem, no entanto, escolheu como norte o texto dissertativo-argumentativo: a redação esperada pelos examinadores precisa defender uma ideia usando explicações para justificá-la. Mas, além de apresentar uma tese sobre o tema, apoiada em argumentos consistentes, a redação deve oferecer uma proposta de intervenção na vida social, respeitando os direitos humanos. Essa proposta deve considerar os pontos abordados na argumentação, deve manter vínculo direto com a tese desenvolvida e coerência com os argumentos usados, já que expressa a visão do autor, das possíveis soluções para a questão discutida. O candidato deve recorrer aos conhecimentos desenvolvidos na escola para elaboração de propostas de inter-

venção solidária na realidade, respeitando os valores humanos e considerando a diversidade sociocultural. Vamos aqui trabalhar mais especificamente essa proposta de intervenção, que tem sido um dos entraves dos alunos, acostumados sempre com a chamada “conclusão”. A divisão aristotélica usada até hoje (introdução, desenvolvimento e conclusão) é convertida pelos professores, desde o fundamental, numa terminologia que nos faz aprender a produzir textos com “começo, meio e fim”. É esse “fim” que é confundido equivocadamente pelos candidatos com a “proposta de intervenção”. Viável O Guia do Participante, do MEC-Inep, sugere que a proposta de intervenção seja “detalhada” para “permitir ao leitor o julgamento sobre sua exequibilidade”. Significa dizer que ela deve conter a exposição da intervenção sugerida e o detalhamento dos meios para realizá-la. A proposta deve, ainda, refletir os conhecimentos de mundo de quem a redige, e a coerência da argumentação é decisiva para a avaliação. O verbo “intervir” origina-se do latim intervenire, que apresenta dois significados: atuar diretamente, agindo ou decidindo, e emitir, expor opinião. Daí a intervenção que os candidatos ao Enem devem propor com a tomada de ações e suas prováveis soluções. Que tema pode cair na redação? Essa é uma das maiores preocupações

O verbo “intervir” origina-se do latim intervenire : atuar diretamente, agindo ou decidindo, e emitir, expor opinião

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As chaves

para a prova para um bom desempenho na redação do enem, é preciso estar atento a Alguns tópicos e não fugir daquilo que é proposto pelos examinadores Modalidade formal Texto deve ser claro e objetivo, usar vocabulário variado e preciso, diferente do usado na fala, e seguir as regras da modalidade escrita formal do idioma. Mas evitar vocabulário rebuscado. Compreender a prova Texto deve compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas para desenvolver o tema. Deve demonstrar a verdade de uma tese e expor um aspecto relacionado ao tema, defendendo uma posição e demonstrando que o candidato está atualizado com o mundo. Proposta para intervenção Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos. Mecanismos para argumentar Frases e parágrafos devem estabelecer entre si uma relação que garanta a sequência coerente do texto e a interdependência entre ideias. Cada parágrafo deve ter períodos articulados; cada ideia nova precisa estabelecer relação com as anteriores. Deve-se substituir palavras repetidas por sinônimos e prestar atenção se não houve deslizes na pontuação – separar sujeito de predicado com vírgula é falha grave –, e acentuação, conforme o novo acordo ortográfico. Selecionar, relacionar, interpretar Trata-se da inteligibilidade do texto, ou seja, sua coerência, a plausibilidade entre as ideias, o que depende de fatores como: relação de sentido entre as partes do texto; precisão vocabular; progressão adequada ao desenvolvimento do tema; adequação entre conteúdo do texto e mundo real.

iStockphoto

Redação Enem

dos estudantes. Todos os conhecimentos adquiridos nas disciplinas – língua portuguesa e literatura, história, geografia, filosofia, sociologia e outras – darão aos alunos suporte não só para desenvolver a fase intertextual (citações), como criar a fase textual, com coesão, coerência e, sobretudo, correção gramatical. Vale a pena analisar se a introdução apresenta o tema pedido na prova, se os argumentos sustentam a tese escolhida, se as propostas de intervenção social são convincentes e se têm conexão com o começo do texto. Coesão Para exemplificação, citamos ao longo destas páginas excertos de redação de candidatos que obtiveram nota mil nos últimos vestibulares do Enem, só com as iniciais de seus nomes. Destacamos elementos coesivos: coincidentemente, os exemplos selecionados trouxeram o mesmo, a conjunção conclusiva “portanto”. Os candidatos devem saber, contudo, que há outros elementos coesivos, como “assim”, “logo”, “por conseguinte”, “então”, “pois” (após o verbo), todos expressando a mesma relação conclusiva. O candidato deve sempre buscar propostas concretas, específicas, consistentes com o desenvolvimento de suas ideias. Antes de elaborá-la, deve procurar responder às perguntas: O que é possível apresentar como proposta de intervenção na vida social? Como viabilizá-la? Deve-se elaborar uma proposta de intervenção detalhada, relacionada ao tema e articulada à discussão desenvolvida no texto. Ela deve ser clara, inovadora e, sobretudo, viável.

Modelos A redação deve apresentar caráter dissertativo (explicações, exemplificações, análises ou interpretações de aspectos presentes na temática solicitada) ou argumentativo (defesa ou refutação).

*Luiz Roberto Wagner é pós-doutor em linguística pela Unesp de Araraquara (SP); Djenane Sichieri Wagner Cunha é doutora em língua portuguesa pela PUCSP. Esse texto foi publicado originalmente na revista Língua Portuguesa.

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Exemplos de redação Antes da conclusão A proposta da candidata B. P. D. mantém vínculo direto com a tese; inicia o texto com citação – um argumento de autoridade – retomada no final, após as explicações da proposta “Segundo Thomas Hobbes, é necessário estabelecer um contexto social em que o governo garanta a segurança do povo e iniba um convívio caótico. No entanto, o alcoolismo no Brasil é um dos fatores que impede a harmonia no trânsito e oferece riscos à vida humana. [...] Pode-se dizer, portanto, que a iniciativa do governo federal produz

benefícios incontestáveis, mas que ainda não são plenamente aplicados. Para tanto, é preciso intensificar a divulgação de propagandas midiáticas que demonstrem as vantagens da nova lei, além de aumentar a fiscalização das vias públicas, por meio da atuação da polícia militar, principalmente em regiões de maior fluxo veicular. Tais medidas,

associadas ao incentivo ao uso de táxis com a redução de custos possibilitados por subsídios governamentais são importantes. Afinal, assim será possível, ao menos, garantir a harmonia defendida por Hobbes diante da ordem e do progresso estampados em nossa bandeira.”

Linhas gerais Com o tema da “lei seca”, a aluna B. N. C. transfere sua proposta para uma sociedade mobilizada e para o governo, valorizando disciplinas como cidadania e segurança “Portanto, a lei seca é importante para a redução do número de acidentes de trânsito. Porém, sua efetividade completa só ocorrerá com a mobilização da sociedade. Sendo assim, é preciso que o governo acrescente ao currículo es-

colar disciplinas como cidadania e segurança no tráfego, além de tornar mais rígidas as punições pelas transgressões e aumentar o número de postos de fiscalização. Ademais, deve-se fazer uma reforma no sistema de transportes públicos, aumen-

tando o número desses nos horários noturnos e nas cidades periféricas. Dessa forma, será possível reduzir o número de mortes no trânsito e chegar a uma sociedade menos individualista.”

Até a simplicidade conta Ao abordar o “movimento imigratório”, a candidata Y. R. V. propõe que o governo crie uma “cartilha do imigrante” “Torna-se evidente, portanto, que o país precisa administrar de forma mais consciente a expressiva chegada de imigrantes. Com esse objetivo, além das medidas

anteriormente citadas, a criação da ‘cartilha do imigrante’ ajudaria no estabelecimento desses indivíduos, uma vez que eles ficariam cientes de suas possibilidades, sendo papel do

governo elaborá-la. Com os imigrantes incrementando não só a cultura como a economia, a reação social de transformação em país do futuro certamente será agilizada.”

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Sisu

Iara Pereira dos Santos, de 20 anos, saiu de São Luís (MA) para estudar em Brasília (DF): adaptada à geografia da nova cidade

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Rayssa Coe

Longe

do ninho

Em busca de ensino superior público e gratuito, jovens deixam família e amigos para trás e atravessam o país para estudar. Saiba como eles se adaptam a essa nova – e nem sempre fácil – rotina Jéssica Oliveira

S

air da casa dos pais é um passo natural na vida adulta. A hora de organizar as malas e levar junto uma boa quantidade de saudade, medo e dúvidas chega para todo mundo. Mas, desde o lançamento do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), essa etapa tem sido mais frequente na vida de jovens estudantes de todo o Brasil. Desenvolvida em 2009 pelo Ministério da Educação (MEC), a plataforma usa as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para selecionar estudantes em cursos de graduação de universidades federais e institutos tecnológicos de ensino superior. A oportunidade de estudar numa instituição pública e gratuita faz com

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Sisu

Sisu em números* Oferta (instituições/vagas) Instituições: 67 (61 federais e seis estaduais) Norte (7 – 1.397):

Centro-Oeste (4 – 1.142):

Estado

Instituições Vagas

Estado

ACRE

1 120

DISTRITO FEDERAL

1

AMAPÁ

1 160

GOIÁS

1 84

PARÁ

1 25

MATO GROSSO DO SUL 2

RONDÔNIA

1 160

RORAIMA

1 70

Sudeste (24 – 23.798):

TOCANTINS

2 862

Estado

Instituições Vagas 83 975

Instituições Vagas

ESPÍRITO SANTO

2

931

Nordeste (23 – 18.568):

MINAS GERAIS

14 10.135

Estado

RIO DE JANEIRO

7 11.612

SÃO PAULO

1

Instituições Vagas

ALAGOAS

2 576

BAHIA

6

CEARÁ

3 2.180

Sul (9 – 6.507):

MARANHÃO

1 3.108

Estado

PARAÍBA

4 3.657

PARANÁ

2 3.974

PERNAMBUCO

3

RIO GRANDE DO SUL

5

1.705

PIAUÍ

1 2.484

SANTA CATARINA

2

828

RIO GRANDE DO NORTE 2 SERGIPE

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Instituições Vagas

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Cursos: 1.447 / Vagas: 51.412

Perfil e concorrência Inscritos: 1.214.259 58% mulheres, 42% homens 59% têm idade entre 18 e 24 anos Minas Gerais teve mais instituições participantes (14) e maior número de inscritos (438.469). Em seguida estão Rio de Janeiro (382.486), Bahia (193.040) e Paraíba (169.528). As instituições mais procuradas foram Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com 177.307 inscritos; Universidade Federal do Piauí (UFPI), com 142.832; e Universidade Federal do Maranhão (Ufma), com 142.018. Os cursos mais procurados foram medicina (180.479 inscrições / 131 candidatos por vaga) e direito (119.639 inscrições / 87 candidatos por vaga). *Dados da segunda edição de 2014.

que muitos jovens mudem não apenas de nível de formação, mas de cidade, estado e até região. Os dados mais recentes do MEC sobre mobilidade em função do Sisu são da primeira edição de 2013, que teve 1.949.958 inscritos. Desses, 13% (cerca de 253 mil) deixaram seus estados de origem para estudar. Os estados que mais “enviaram” estudantes foram Rondônia (94%), Distrito Federal (83%) e Santa Catarina (47%) e os que mais receberam foram Paraná (27% – sendo 6% de estados que não são vizinhos), Santa Catarina (25% – 11% de estados que não são vizinhos) e Distrito Federal (23% – 10% de unidades da federação que não fazem fronteira). Desde 2010, o Sisu tem duas edições por ano, uma no início de cada semestre. Nessas dez edições, mais de 11 milhões de estudantes se inscreveram na plataforma. Somente na segunda edição de 2014, foram 1.214.259 candidatos inscritos, um crescimento de 54% em relação à mesma edição do ano anterior. Em entrevista coletiva, o ministro da Educação, Henrique Paim, disse que a quantidade de inscrições no Sisu do segundo semestre de 2014 mostra o aumento de interesse dos estudantes pela oferta de ensino superior. “Demonstra que estamos acertando na política de expansão da educação superior e também no próprio processo de seleção unificada”, disse. Única porta Nascido em Exu, uma cidade de 32 mil habitantes no interior de Pernambuco, Joelton Barboza da Silva, de 19 anos, adotou o sistema em 2013. Cursar o ensino superior era um sonho de infância, que ele sabia depender de duas questões fundamentais: estudar longe de casa, pela falta de uma universidade em sua cidade; e conseguir uma vaga numa instituição pública e

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gratuita, uma vez que nem ele nem a família poderiam pagar a graduação. “Procurei o Sisu porque é um processo que dá acesso a faculdades públicas em todo o país. Também na escola, os professores e gestores incentivavam a fazer o Enem. E minha família sempre me deu carta branca e aval para fazer o que fosse necessário em relação aos meus estudos”, conta. Selecionado, o jovem arrumou as malas e fez a matrícula em jornalismo na Universidade Federal do Cariri (UFCA). Na nova cidade, Juazeiro do Norte, ele se deparou novamente com o obstáculo financeiro, já que não podia se sustentar e precisava viajar diariamente para frequentar o curso. Para pagar o ônibus universitário interestadual, ele dava aulas de manhã e de tarde numa escola particular de sua cidade a alunos de séries iniciais e estudava à noite.

O Sisu tem aproximado estudantes das regiões onde querem atuar, fazendo com que alguns atravessem não só estados, mas todo o país

“Essa correria me deixava muito exausto, pensei muitas vezes em desistir. Então surgiu a possibilidade de participar da bolsa de iniciação acadêmica que a UFCA disponibiliza todos os anos para alunos de baixa renda. Eu participei e graças a Deus fui selecionado”, recorda. Hoje, ele trabalha doze horas semanais na própria instituição e conseguiu auxílio para pagar sua moradia, benefícios de suma importância, segundo ele. “Muitos estudantes real-

mente não têm condições financeiras de se manter em uma graduação. Por mais que seja um curso que não pagamos, por fora existem vários gastos extras, com xerox, almoço, jantar, passagens etc.”, explica. Mercado próximo Além da oportunidade do ensino público, gratuito e, em alguns casos, em instituições tradicionais, o sistema tem aproximado estudantes das regiões onde querem atu-

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Auxílios Em dezembro de 2010, o MEC anunciou o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), para as universidades estaduais que oferecessem vagas pelas notas do Enem. Um dos objetivos era garantir o recebimento e permanência dos alunos de outros estados nas instituições. Nem todas as instituições possuem moradia gratuita, mas todas oferecem algum tipo de auxílio, os mais comuns destinados a moradia, alimentação e transporte. O Instituto Federal de São Paulo, por exemplo, oferece alguns benefícios que variam de acordo com o campus, podendo ser transporte, alimentação, moradia, apoio didático, saúde e creche. A Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG) utiliza o PNAES para o auxílio-alimentação integral (três refeições por dia a custo zero) aos alunos com perfil socioeconômico com até 1,5 salário mínimo, e o restante para outros auxílios, como o de permanência. De acordo com a universidade, a ideia é ampliar esses benefícios, oferecendo moradia estudantil em 2015. Entre os auxílios, a Universidade Federal de Lavras tem um programa de moradia estudantil com capacidade para 400 moradores, no próprio campus, e restaurante universitário, com refeições que variam de R$ 1 a R$ 5. A Universidade Federal do Piauí (UFPI) oferece moradia ao estudante em situação de vulnerabilidade social, proveniente do interior do Piauí ou de outros estados. Já a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) ainda não tem residência estudantil, mas oferece programas de auxílios para apoiar os alunos em vulnerabilidade social, e um auxílio emergencial aos alunos que se deslocarão de cidades distantes (mais do que 50 km) dos locais de aula.

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Thailyta Feitosa

Sisu

Natural de Exu (PE), Joelton Barboza da Silva, de 19 anos, hoje cursa jornalismo em Juazeiro do Norte (CE): bolsa foi fundamental

ar, fazendo com que alguns jovens atravessem não apenas estados, mas todo o Brasil. É o caso de João de Assis Farias Filho, de 18 anos, que saiu de Nhamundá, no Amazonas, para estudar na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, campus de Dois Vizinhos. “No início, alguns familiares reagiram um pouco contra, pois eu já tinha vaga garantida para estudar em Manaus e, na visão deles, era melhor ficar perto de casa. No entanto, na hora de decidir o meu coração falou mais alto”, conta. Determinado a estudar fora de casa, ele conquistou o apoio da família e frequenta atualmente o primeiro ano de agronomia. O curso

foi escolhido ainda na infância, em função do que viveu com a família e da paixão herdada do pai. “Desde pequeno sempre tive contato com a área agrária. Meu pai, já falecido, me levava para nossa humilde fazenda, onde eu tinha contato frequente com diversos animais”, lembra. Antes da graduação, João fez o técnico em agropecuária, no Instituto Federal do Amazonas (Ifam) campus Parintins e percebeu a importância de diferentes estados na produção agropecuária nacional. Com objetivos bem definidos – terminar a graduação, mestrado e doutorado na área, prestar um concurso e um dia ter seu próprio negócio no ramo –, João se convenceu

Os estudantes têm a possibilidade de disputar uma vaga em qualquer lugar do país sem precisar se deslocar para prestar o vestibular

de que precisaria sair do Amazonas e procurou o Sisu para estudar em um local com as características que desejava. “Ano passado fiz alguns vestibulares e, apesar de obter êxito em todos, a oportunidade do Sisu foi a que abracei pelo fato de ter ligação direta com um grande sonho”, afirma. Mesmo com a certeza em relação ao curso e de já conhecer um pouco da profissão, ele lembra que até o último momento em sua cidade ficou preocupado “em fazer alguma besteira”. “No dia de mudar confesso que pensei bastante sobre o que estava fazendo”, recorda. Mas aos poucos ele percebeu que a dúvida era normal, que outras viriam. “Entreguei na mão de Deus e segui em frente.” Outro estudante que atravessou regiões para realizar um sonho é Caio Henrique Nemeth Santos, 25 anos. Para desenvolver próteses de alta performance e órgãos sintéticos, o jovem natural de Alta Floresta d’Oeste, em Rondônia, trocou o curso de medicina da Universidad Técnica Privada Cosmos (Unitepc), na Bolívia, e uma extensão no Canadá, pelo de engenharia mecatrônica no Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais (IF Sudeste), no campus de Juiz de Fora. “Meus pais me apoiaram totalmente. Num primeiro momento me pediram que repensasse, pois estava indo muito bem em medicina e tinha conseguido o intercâmbio no Canadá. Mas, quando disse o meu objetivo, investiram até o que não tinham em passagens, que estavam caríssimas por causa da Copa, estadia e translado. Só estou aqui porque eles me apoiaram”, diz. Concorrência ampliada Outra questão que tem feito estudantes optarem pelo Sisu é a possibilidade de disputar uma vaga em qualquer lugar do país sem precisarem se deslocar para prestar o vestibular da instituição,

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Além de encontrar moradia e condições para se sustentar, eles aprendem a conviver com uma palavra bem conhecida: saudade

por exemplo, uma vez que o Enem é o parâmetro para seleção. Natural de São Luís, a maranhense Iara Pereira dos Santos, de 20 anos, que o diga. Ela sempre quis morar em Brasília, mas estudar na capital não estava nos planos, tanto que prestou o vestibular tradicional no Maranhão. No entanto, quando viu que poderia concorrer a uma vaga em gestão pública no Instituto Federal de Brasília (IFB) sem sair de casa, não pensou duas vezes e arriscou. “Fiquei extremamente feliz com a aprovação, principalmente por ter sido um curso muito concorrido. Lembro que foram cerca de 12 mil inscritos para 40 vagas.” Assim como João, Iara enfrentou a reação inicial de desaprovação da família. No caso dela, filha única, a ideia de se mudar sozinha para Brasília não foi aceita rapidamente. “Todos ficaram felizes com a minha

aprovação, mas tristes com a minha partida”, conta. Com o tempo e ao ver que a filha estava adaptada ao novo lar, a família se orgulhou do crescimento pessoal da jovem. Questão de tempo Seja qual for o motivo que leva o estudante a procurar o Sisu e estudar longe de casa, uma vez no novo lar todos passam pelo período de adaptação. Além de encontrar moradia e condições para se sustentar, eles aprendem a conviver com uma palavra bem conhecida na língua portuguesa: saudade. João, que trocou a região Norte pelo Sul, lembra que no começo estava muito ansioso para conhecer um “mundo totalmente diferente”. “Foi um choque cultural bastante engraçado, principalmente em relação

Atento ao edital O calendário de 2015 ainda não foi divulgado, mas o procedimento permanece o mesmo. Para participar do Sisu, o estudante precisa ter feito o Enem no ano anterior e não ter zerado a redação. A seleção é feita com base na nota do Enem e eventuais ponderações, como pesos atribuídos às notas ou bônus. Na inscrição, o candidato deve escolher duas opções de curso, indicando a sua prioridade. Além disso, ele define se irá concorrer às vagas de ampla concorrência, às vagas reservadas de acordo com a Lei nº 12.711/2012 (Lei de Cotas) ou às vagas destinadas às demais políticas afirmativas das instituições. Diariamente, o sistema divulga a nota de corte preliminar de cada curso com base na nota do Enem dos candidatos. Durante esse período, o participante pode alterar essas opções se achar que tem mais chances de ser aprovado em outro curso ou instituição. Essas e as demais informações estão no site http://sisu.mec.gov.br/.

ao meu jeito de falar, sendo motivo de graça aos colegas. O frio assustou um pouco, mas não da forma como eu esperava, pois este ano o inverno não foi rigoroso como me falavam que era”, diz. Segundo ele, os primeiros meses foram bem difíceis, tanto pela saudade de casa como por certa resistência a fazer novos amigos. Mas aos poucos veio a adaptação à nova vida e novas amizades. “Hoje os meios de comunicação favorecem muito nesse contato. Sempre que posso ligo para alguns familiares e amigos, além de trocar mensagens pelas redes sociais”, diz. Até o momento, ele não precisou de auxílio da instituição e teve ajuda de um conhecido que morava na cidade para encontrar moradia. As dificuldades foram na própria instalação, porque precisou comprar os móveis e “roupas de frio”. A maranhense Iara também precisou se adaptar ao clima mais frio e teve dificuldades para “andar” em Brasília, que possui um jeito único de localização. “Isso só o tempo resolveu. Já estou há um ano e sete meses aqui, sei me achar nos lugares e me acostumei”, explica. Iara faz estágio na coordenação de Aquisição e Licitação da faculdade e tem outro emprego. As oportunidades ajudaram tanto na adaptação quanto na questão financeira. Primeiro a estudante ficou na casa de uns primos e hoje mora em um apartamento perto da faculdade e do trabalho. Mesmo permanecendo na região Nordeste, Joelton deixa o Ceará para visitar sua cidade em Pernambuco com frequência por causa de exames preparatórios para uma cirurgia. Mesmo com as visitas, ele diz que ainda sente muita falta da família e dos amigos, e destaca esse como o ponto negativo de estudar longe de casa. “Quando estou no Cariri, sem-

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Sisu

pre mantenho contato com minha família através de ligações e das redes sociais”, explica. Com cerca de dois meses em Minas Gerais e ainda em processo de adaptação, Caio conta que continua enfrentando dificuldades com a questão financeira, pois o curso é integral e ele não pode trabalhar. “Sei que para alcançar meu objetivo preciso

realmente saber o conteúdo da matéria, então a dedicação tem de ser integral. Procurei o apoio do instituto que me atendeu provisoriamente em caráter de urgência, mas ainda não resolvi”, explica. Por enquanto, ele tem recebido suporte de conhecidos da sua mãe e aguarda a abertura do edital para o auxílio-moradia na universidade.

Dicas

de quem

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chegou lá

Leia tudo a respeito do Sisu e principalmente: não pense que não vai dar certo, porque vai.” Caio Henrique Nemeth Santos, 25 anos. Saiu de Alta Floresta d’Oeste (RO) para estudar engenharia mecatrônica no Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais (IF Sudeste MG), campus Juiz de Fora. Fique sempre atento nas informações disponibilizadas no site e separe toda a documentação necessária exigida com antecedência para não haver imprevistos.” João de Assis Farias Filho, de 18 anos. Saiu de Nhamundá (AM) para estudar na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), campus de Dois Vizinhos.

“Acredito que essa assistência seja essencial para que eu permaneça estudando”, afirma. Apesar das dificuldades, ele não classifica nada como negativo, pois defende que todos os sonhos e objetivos exigem sacrifícios, inclusive pessoais. “Sinto muita falta da minha noiva e da minha família, mas sei que esse é o caminho para realizar o que pretendo”, diz.

Primeiro procure alguém que possa esclarecer todas as dúvidas sobre o processo seletivo do Sisu. Se aprovado, não tenha medo de ir para uma universidade em outra cidade ou estado. Às vezes é preciso sair da casa dos seus pais para ganhar maturidade e aprender a encarar as coisas da vida, e morar sozinho ou com amigos é uma das melhores experiências.” Adriana da Silva Ricardo, 19 anos. Saiu de Sorocaba (SP) para estudar engenharia florestal na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), campus Dois Vizinhos. Se tiver a oportunidade de ir pra outra cidade/estado para cursar a graduação que deseja, meu conselho é: vá! No começo é difícil, mas com o tempo se torna uma experiência ímpar, você acaba vivendo coisas únicas e fazendo amizades que talvez jamais faria.” Paloma da Penha Gonçalves, 20 anos. Saiu de Belo Horizonte (MG) para estudar na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).

Não tenha medo, seja determinado, esteja aberto a novas experiências.” Thiago Ferreira Siqueira de Sá, 30 anos. Saiu de Governador Valadares (MG) para estudar agroecologia no IF Baiano – campus Uruçuca.

Escolha o curso de que goste, fique atento às datas e procure informações com alunos do campus de interesse sobre tudo aquilo que possa facilitar o seu ingresso, sua mudança de localidade e adaptação.” Marcelo dos Santos Farias, 34 anos. Saiu de Belo Horizonte (MG) para estudar tecnologia em automação industrial no Instituto Federal de São Paulo (IFSP), campus Piracicaba.

Dedique-se muito na faculdade, não deixe que nada atrapalhe seu desenvolvimento acadêmico. Faça amizade com seus veteranos, pois eles podem e irão ajudar muito.” Marina Mariane Camargo, 19 anos. Saiu de São José do Rio Preto (SP) para estudar engenharia florestal na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), campus Dois Vizinhos.

Sair da casa dos pais e mudar de cidade é uma decisão muito delicada. Tem de pensar em muita coisa antes, nas consequências negativas e positivas, mas vale muito a pena. Pesquise bastante sobre o curso em que deseja se inscrever e as áreas em que se pode atuar.” Iara Pereira dos Santos, 20 anos. Saiu de São Luís (MA) para estudar no Instituto Federal de Brasília (IFB).

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Estudo

Como ficar

sozinho Na hora de estudar para o vestibular, celular, internet e redes sociais são grandes concorrentes. Especialistas e alunos contam como ficar conectado o tempo todo pode atrapalhar a concentração e a memória – e como fazer para ficar off-line Gabriel Jareta

O

escritor americano Jonathan Franzen é conhecido por ser um crítico feroz da onipresença das novas tecnologias na nossa vida cotidiana. Para ele, o modelo dessas ferramentas é o de um “vício”. Por isso, quando precisa escrever, Franzen chega a remover fisicamente o acesso wi-fi do laptop ou tampa a entrada do cabo de internet. Em seu decálogo sobre regras para escrever, ele afirma: “É questionável que alguém com conexão à internet em seu local de trabalho esteja escrevendo boa ficção”. Se um escritor experiente como Franzen enfrenta essas dificuldades para se manter isolado do mundo conectado a fim de fazer seu trabalho, o que dizer de um adolescente estudando para o vestibular, alguém cuja vida social, assim como a de outros jovens da

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além do nervosismo e da ansiedade com a proximidade das provas. “Eles são muito ansiosos em relação ao futuro, e é comum descontarem essa ansiedade no álcool e no cigarro”, diz. Redes sedutoras Para o psicólogo Cristiano Nabuco de Abreu, coordenador do Grupo de Dependência de Internet do Instituto

de Psiquiatria da USP, o uso excessivo de internet se assemelha ao vício em jogo de azar ou à compulsão por compras – são comportamentos que liberam dopamina no cérebro, o que provoca sensação de prazer, mas que exigem cada vez mais para obter o mesmo efeito de bem-estar. “As redes sociais têm um apelo extremamente forte. Para o jovem, quanto mais ele Gustavo Morita

mesma faixa etária nos anos de 2010, é indissociável da internet? Como se concentrar em geometria analítica quando o celular está piscando para avisar que há novas mensagens de WhatsApp? Ou como ler sobre a Guerra do Paraguai se a discussão no Twitter sobre algum tema tão aleatório quanto desimportante está pegando fogo? Para especialistas que lidam com o tema, a solução é radical: internet e concentração nos estudos não combinam, é preciso fazer uma escolha. A psicoterapeuta Myriam Durante, que lançou recentemente o livro Aprendizagem acelerada – Elimine o estresse e aprenda melhor, afirma que é ilusão imaginar que é possível estudar com computador e celular chamando atenção no ambiente. “É uma falsa sensação que temos, de que somos capazes de fazer mil coisas ao mesmo tempo. Nós não conseguimos. Por isso os jovens começam a ter problemas de memória, chegam na prova e têm o famoso ‘branco’”, diz. Um dos problemas mais graves da falta de controle sobre o uso da internet são os prejuízos ao sono. Se assistindo à televisão à noite é possível cochilar e até dormir profundamente, com a internet é diferente: há necessidade de interagir com a tela e as pessoas. Não é raro para um adolescente hoje dormir às 2h tendo de acordar às 6h. “A falta de sono compromete a memória, quem não dorme fica sem energia. O aluno se preocupa com conteúdo, mas se esquece do emocional”, afirma Myriam. Por isso, entre as suas recomendações, uma é fundamental para quem usa o celular como despertador: deixar sempre no modo “avião”, sem conexão à internet. De acordo com a psicoterapeuta, o adolescente hoje tem um grave problema de procrastinação – ou seja, vive adiando o início das tarefas e não é capaz de gerenciar o próprio tempo. No consultório, as queixas dos pacientes apontam para um excesso de matéria para estudar e a falta de tempo para assimilar tudo,

A estudante de medicina Sumaya Ghaffar: esforço off-line valeu a pena

No armário Hoje estudante do terceiro ano de medicina na USP, Sumaya Abdul Ghaffar, de 21 anos, se via obrigada a trancar o laptop no armário para conseguir se dedicar aos estudos sem as tentações da internet. Durante o período de cursinho, frequentava as aulas até as 12h30, almoçava e voltava a estudar até as 20h. Durante a semana, nada de computador. Eventualmente, após um simulado cansativo às sextas-feiras e mesmo aos finais de domingo, passava alguns momentos no Facebook ou lendo alguns blogs de que gostava. Mas só. “Eu falei para mim mesma que não dava para continuar usando a internet. Qualquer olhadinha de dez minutos virava uma hora. A maioria dos meus amigos não estava na mesma pegada, então às vezes eu só ia descobrir algum evento na véspera de acontecer”, conta. Mesmo quando precisava usar a internet para se inscrever em algum vestibular, se forçava a usar o computador da mãe no escritório para não cair em tentação. A estratégia deu certo: além de passar na USP, conseguiu ser aprovada em outros vestibulares, inclusive na concorrida Unesp de Botucatu. Hoje ela pode se dar ao luxo de usar a internet – inclusive a do celular – mais vezes durante o dia. Mas, mesmo assim, quando precisa estudar para as provas da faculdade, procura manter o celular longe e no silencioso. Além das redes sociais, Sumaya gosta de ler sobre outros assuntos, como moda e história. “Às vezes é preciso passar um tempo na internet, não dá para viver sem”, diz.

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Estudo

é interrompido com notificações, maior o valor social que ele se autoatribui”, explica. Abreu explica que, além desses instrumentos “altamente sedutores”, o jovem está condicionado a ler a tela do computador como se estivesse desenhando rapidamente um “F” com o olhar, isto é: o olho acompanha uma faixa horizontal superior, desce um pouco, olha horizontalmente de novo, e finalmente baixa o sentido do olhar verticalmente. “É nesse modelo que ele passa a entender o entorno. O jovem tem dificuldade em se sentar e ter um momento de estudo duradouro”, diz. De acordo com o psicólogo, antes da massificação da internet no celular, a estimativa era de que 20% dos usuários de computador fossem dependentes da internet. Agora, ele acredita que o número aumentou. Para quem tem dúvidas se está usando a internet de maneira excessiva, ele orienta que se observe o seguinte: se o usuário não consegue ter controle sobre os momentos de uso; quando começa a competir com outras atividades do dia a dia; e quando traz prejuízos para a vida acadêmica ou o trabalho. Nesses casos, talvez seja necessária uma intervenção te-

rapêutica – e, em alguns casos mais graves, até medicamentosa. Estratégias Para quem está no dia a dia de estudos, algumas estratégias são fundamentais para conseguir garantir o sossego. Mesmo na sala de aula, o celular é um fator de distração e algumas escolas proíbem o seu uso. No Curso Etapa, em São Paulo, a regra é clara: acesso à internet é vedado durante as aulas. “O aluno está na aula, com pouco tempo, investindo em um professor super qualificado para condensar aquelas informações. O que ele tem que ver na internet?”, questiona o coordenador-geral da instituição, Edmílson Motta. O que não significa que o colégio seja “contra” tecnologia. “Nós usamos AppleTV e tablets, mas tudo preparado para alguém qualificado dar aula”, diz. O estudante Gabriel Camera Campos da Silva, de 17 anos, entende que neste ano de preparação para o vestibular vai ter de deixar a internet de lado. Na rotina dele, de estudo em período integral, o Facebook é visitado apenas uma vez por semana. “Se você ligar o Facebook enquanto está fazendo exercício, acabou”, diz. O mesmo vale para o WhatsApp, que fica piscando o dia todo avisan-

Relaxe A psicoterapeuta Myriam Durante dá algumas dicas para quem precisa se desligar Comece a respirar apenas pelo nariz para evitar hiperventilação. Isso ajuda a relaxar. Se for inevitável manter o celular próximo ou usá-lo como despertador, deixe no modo “avião”. Estude no máximo 50 minutos sem parar. Depois disso, pare, levante-se, vá beber água e só depois volte aos livros. Na hora de dormir, mantenha a TV desligada e o celular sem conexão à internet. Antes de estudar, faça o relaxamento proposto no vídeo “Aprenda a relaxar”, de autoria dela, disponível no YouTube.

do sobre novas mensagens. “Eu tento ignorar o máximo possível, mas deixo o celular perto porque alguém pode ligar em alguma emergência”, conta. Gabriel pretende prestar engenharia mecânica nas três universidades públicas paulistas e também se prepara para encarar o temido vestibular para aeronáutica no ITA. Em média, entre aulas e estudo, são nove horas por dia dedicadas à preparação para o vestibular. Sem internet, ele perde muito do que está acontecendo entre os amigos que vão prestar vestibular para cursos mais tranquilos. Também desfez um namoro e parou de jogar videogame. Passou a se deitar mais cedo e percebeu uma diferença “enorme” depois de uma noite bem dormida. Apesar de tudo, acha que vai valer a pena quando vir seu nome na lista de aprovados: “A concorrência é alta, não posso relaxar, mas é um ano só”, lembra. Já a relação do estudante João Norberto Miranda, de 18 anos, com o vestibular é um pouco mais tranquila: ele vai prestar os exames para economia no Insper e na FGV, em São Paulo, que são cursos concorridos, mas acredita que o conteúdo está dominado depois de terminar o ensino médio e estudar sozinho em casa uma média de quatro horas por dia. O único problema é deixar o Twitter e o Facebook de lado. “Eu tenho que fechar, mas não tem como controlar dar uma espiada de vez em quando. O problema é que quando eu vou ver já se passou meia hora”, conta. Quando ainda estava no ensino médio, o sono era um problema para João. Agora, sem o compromisso de acordar cedo para ir à aula, seus horários estão desregulados, mas mesmo assim ele acredita que consegue dar conta da divisão entre sono, estudos e internet. “Eu pensei em sair do Twitter e do Facebook quando vi que estava tendo problema com sono durante o ensino médio, mas agora não. Se eu tivesse compromisso de manhã me atrapalharia, com certeza”, diz.

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