Moldando Mentes e Corações - Monica Whatley

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Prefácio.................................................... 05 A. A Educação cristã clássica 1. Um vislumbre........................................ 09 2. O coração.............................................. 13 3. Afinal de contas, o que é a educação cristã clássica?...................................... 17 4. Isolar, imergir ou inocular?.................... 23 5. O processo............................................ 27 6. Tesouro perdido.................................... 31 B. A educação dos dias atuais 7. Uma educação boa o bastante............... 37 8. Quanto você sabe?................................ 41 C. Filosofia da educação 9. O culpado: a filosofia e como ela modifica a cultura............................ 47


10. Colhendo o que plantamos................... 53 11. Mais um diabo habilidoso?.................. 57 D. Barreiras à educação cristã clássica 12. Mito nº 1: a educação pública é neutra................................................ 63 13. Mito nº 2: escolas cristãs são a solução.............................................. 67 14. Por que a educação cristã clássica pode não ser para você........................ 71 Apêndice A - Como chegamos até aqui, para começo de conversa................ 75 Apêndice B - A alternativa....................... 81 Agradecimentos...................................... 85 Referências bibliográficas.................... 87


Prefácio

Muitos pais cristãos se preocupam com a educação de seus filhos. Queremos escolas que darão aos nossos filhos uma base sólida e, de preferência, algo a mais. Precisamos de que nossas crianças sejam capazes de pensar criticamente e de navegar habilmente as águas do século XXI ao mesmo tempo em que a tecnologia se desenvolve e a sociedade muda. Esperamos encontrar uma escola que forneça um ambiente positivo, moral e, de preferência, cristão. A educação molda o futuro da sociedade inteira — o futuro das nossas crianças. A escola é fundamental: estamos certos em nos preocupar sobre escolhas educacionais. Como seguidores de Cristo, o impacto da educação é grande e potencialmente eterno. Moldando Mentes e Corações apresenta os fundamentos da educação cristã clássica — a educação que exibe ressurgência na América do Norte. Este livro oferece um vislumbre do que seus filhos estão aprendendo nas escolas públicas nos dias de hoje, o porquê de isso não ser o ideal e como a educação deles pode ser melhor. 5


Moldando Mentes e Corações

Conforme aprende sobre a educação cristã clássica, você pode experimentar algumas das mesmas emoções que tivemos: uma mistura de confusão e frustração, seguida de entusiasmo e paixão cada vez maiores. Este livro causará em você o desejo de ter conhecido a educação cristã clássica há muito tempo.

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A. A Educação Cristã Clássica



Capítulo 1

Um vislumbre

Manteiga doce batida derrete em biscoitos quentes. O som de talheres tinindo ressoam pelo ar enquanto as crianças apreciam a carne assada em trajes de época improvisados. Nomes em hieróglifo gravados em tortas feitas de barro fazem parte de uma coleção do quintal. Sinais como os dos primeiros egípcios forram jornais tingidos de chá. Um modelo da Via Láctea está pendurado no teto ao mesmo tempo em que a Terra permanece quase invisível, sugerindo que se pergunte: quem sou eu? Balconistas atraem compradores até suas mesas nos dias de bazar, ansiosos por um lucro em seus investimentos e também para comprar objetos de outros vendedores. A animação aumenta na medida em que Platão ou Aristóteles entram no debate. Ambos expõem e defendem excelentes argumentos. Tudo isso acontece na escola. Cada uma dessas lições inspira aprendizado. Cenários semelhantes a estes se entrelaçam e tomam forma com o método socrático e a lógica, com histórias dos gregos antigos e de civilizações romanas, com uma introdução à boa literatura, 9


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cultura e pessoas excepcionais como Homero, Galileo, Gutenberg e Leonardo da Vinci. Ainda mais importante, essas lições ajudam os alunos a refletirem sobre o passado, o presente e o futuro. Tais lições os confrontam com os limites de suas próprias mentes. Eles aprendem a adquirir perspectiva: uma filosofia, uma cosmovisão, uma maneira de enxergar o mundo. A educação clássica visa ensinar um conhecimento extenso e habilidades cruciais por meio de uma abordagem integrada, de modo que esses conhecimentos e habilidades tornem-se significativos e úteis. Nós perdemos você na palavra “clássica”? Ninguém quer ser clássico na sociedade de hoje. Moderno é melhor, correto? Mas como é a educação “moderna” realmente? Falaremos mais a respeito depois. Clássica não significa antiquada, rústica ou obscurantista. Na verdade, o conhecimento clássico não se limita somente à última década ou século pela perspectiva moderna, mas busca compreender o que foi revelado ao homem no decorrer da História. Além disso, clássica não ignora o auxílio da tecnologia moderna, mas a usa ativamente como ferramenta, a qual ajuda a comunicar e praticar, ou balancear, o conhecimento. A tecnologia torna-se um auxílio para os alunos quando eles começam a compreender séculos de História. O uso moderno das tecnologias ganha propósito e significado conforme os alunos tornam-se capazes de sintetizar informações de forma rápida e eficiente. Alunos ensinados pelo método clássico absorvem muito mais informações que seus colegas que não foram ensinados 10


Um vislumbre

por essa perspectiva. Alunos do primeiro ciclo do Ensino Fundamental avidamente indicam os países do mundo, entoam fatos matemáticos, recitam regras de ortografia e gramática e têm contato com grandes obras da literatura. Eles “encontram” Alexandre, o Grande, Aquiles, Júlio César e Constantino, e podem falar com confiança sobre os gregos, os romanos e os primeiros judeus. Esses alunos do Ensino Fundamental podem ter uma melhor compreensão da fundação da cultura ocidental do que a maior parte dos alunos do Ensino Médio de hoje. Muitos pais acolhem bem a oportunidade de terem filhos “espertos”. Imagine ver seu filho naquele jantar especial citando Aristóteles ou Agostinho, ou podendo discursar com facilidade a respeito da guerra do Peloponeso, sobre os antigos Maias ou acerca de Marco Antônio. Mas a educação clássica não se resume somente a isso. Apesar de “crianças realmente espertas” serem um benefício da educação clássica, este não é seu objetivo último. Quando a educação clássica se mostra indubitavelmente cristã como tem sido por centenas de anos, ela entrelaça disciplinas baseadas nas verdades reveladas na Palavra de Deus, mudando assim para sempre a perspectiva do aluno. O propósito da educação cristã clássica não é somente o moldar da mente. Mais importante que isso, ela molda o coração. Antes de tudo, ela nutre, na criança, um desejo por Jesus Cristo e um desejo de tornar-se mais parecida com Ele, aprendendo a amar o que Ele ama. A prática torna-se hábito e o amor por aquilo que é bom e verdadeiro cresce. Corações mudam no momento em que essas crianças tornam-se autênticas seguidoras de Jesus. A partir disso tudo, surge um comportamento diferente 11


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daquele encontrado num ambiente comum de sala de aula. Os alunos que seguem a Cristo são conduzidos pelo exemplo de Cristo. A educação cristã clássica também ensina as crianças a pensar. Ela cria lentes através das quais as crianças enxergam o mundo. Os alunos não meramente absorvem qualquer coisa que lhes ensinam. Eles aprendem a enxergar através dessa lente e a apreciar o conhecimento à luz de uma compreensão mais abrangente. O aluno primeiro aprende a como pensar, e aprende ao compreender os limites de sua própria compreensão, adquirindo perspectiva durante esse processo. Os alunos memorizam porções das Escrituras e as experimentam no devido contexto. A fé e o aprendizado estão entrelaçados, não separados. Por fim, alunos ensinados pelo método clássico aprendem a analisar argumentos de forma crítica e a defender sua fé de modo eloquente. Eles adquirem um propósito claro para suas vidas: servir a Deus de todo o coração e de toda a mente. A verdadeira educação cristã clássica envolve. Ela inspira. Ela molda o que os alunos amam. Ela mune os alunos e os desafia a como pensar. A educação clássica cultiva aprendizes por toda uma vida. Esses alunos crescem em amor pelo conhecimento e continuam a desenvolver seu próprio aprendizado muito além dos anos da escolaridade formal. A educação clássica é, muito provavelmente, bem diferente da forma como você foi educado. Você pode até mesmo desejar que fosse possível voltar à escola. 12


Capítulo 2

O coração: por que o conhecimento e a cosmovisão não são suficientes Podemos enviar nossos filhos às melhores escolas. Eles podem superar seus colegas em exames padronizados e se tornar enciclopédias ambulantes. Eles têm acesso a praticamente tudo o que o homem conhece hoje. Com mais conhecimento na ponta de seus dedos do que jamais alguém teve, nossos filhos estão preparados para o futuro? Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração, porque dele procedem as fontes da vida (Pv 4.23). A educação cristã clássica vai além de dizer aos alunos tudo o que existe para ser aprendido. Ela vai além de produzir alunos que sabem como pensar. Ela inclusive supera o ato de ensinar aos alunos caráter ou virtude. O propósito último, o âmago da educação cristã clássica é, antes de tudo, modelar os alunos, moldando quem eles são e o que amam, pois: O objetivo completo da verdadeira educação não é simplesmente fazer com que as pessoas façam as coisas certas, mas com que desfrutem delas; não 13


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só produzir coisas, mas amar a produção; não só fazero que é justo, mas ter sede e fome de justiça. (John Ruskin)1 Em Desiring the Kingdom [Ansiando pelo Reino], James K. A. escreve que “o que nos define é aquilo que amamos”.2 O que você ama? Se “o nosso amor/desejo final é moldado por nossas práticas, e não por ideias que meramente nos são comunicadas”, então nós, na posição de pais, temos uma grande responsabilidade.3 O que estamos comunicando a nossos filhos? Estamos como que lhes dizendo que o hóquei ou o basquete ou o futebol estão acima da igreja? Estamos lhes mostrando que o dinheiro deve ser gasto somente com nós mesmos? O que lhes transmitimos por meio de nossas práticas? As mídias sociais. O shopping. Os esportes. O entretenimento. Smith diz que estas são as “práticas”, ou as formas, de “adoração” que moldam a maneira como pensamos e agimos hoje. Mensagens subliminares correm em uma velocidade perigosa. Nossa cosmovisão é formada conforme praticamos esses hábitos, pois nossa “orientação perante o mundo é moldada mais no corpo de cima do que da cabeça para baixo. As liturgias almejam nosso amor para diferentes fins, precisamente preparando nosso coração por meio de nosso corpo”.4 Sendo assim, ficaremos surpresos se nossos filhos preferirem os esportes à igreja quando estiverem na universidade? Ou se escolherem o domingo como um dia para cumprir tarefas? As práticas moldam aquilo que amamos e, por fim, nos definem. Como Agostinho escreve em Confissões, “nosso coração 14


O coração: por que o conhecimento e a cosmovisão não são suficientes

andará inquieto até que encontremos descanso em [Deus]”.5 Somos criados para desejar o reino. James K. A. Smith diz que captamos muito mais por meio do sentir do que através do pensar. Nossa “cosmovisão é mais uma questão de imaginação do que de intelecto”, portanto construir uma cosmovisão cristã baseada no intelecto não é o bastante.6 Podemos aprender todas as respostas corretas por meio das lentes corretas, mas ainda sendo amantes do mundo. Na realidade, não é o que sabemos, mas o que praticamos. É nossa adoração cristã, e ela vem antes da cosmovisão. Nós a amamos antes de compreendê-la ou conhecê-la. Discipulado e formação são [...] uma questão de desenvolver um conhecimento prático cristão que intuitivamente “compreenda” o mundo à luz da plenitude do Evangelho. E visto que uma compreensão está implícita na prática, as práticas da adoração cristã são cruciais — o sine qua non — para desenvolver uma compreensão cristã distinta do mundo.7 A escola cristã clássica prepara o coração mediante a prática. As práticas formam os hábitos, os hábitos moldam nosso caráter e o caráter forma nosso futuro. A educação cristã clássica causa um desejo pelo reino em nossos corpos frágeis e terrenos. Os alunos crescem em seu desejo pelo reino à medida que seguem a Cristo, primeiro com o coração e depois com tudo o que [eles fazem] “dele procede” (Pv 4.23). O conhecimento é ajustado.

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