Beleza Redimida - Steve Turley

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Sumário Introdução................................................................... 7 PRIMEIRA PARTE – A BELEZA É FUNDAMENTAL

Capítulo 1 – O que é Beleza?............................... 13

Capítulo 2 – Beleza e Virtude: A Orientação de Nossos Amores........................ 17

Capítulo 3 – Redimindo os Sentidos................... 25

SEGUNDA PARTE – CRIANDO UMA ESTÉTICA ELEVADA DENTRO DE NOSSAS ESCOLAS

Capítulo 4 – Música............................................... 31

Capítulo 5 – Arte.................................................... 35

Capítulo 6 – Arranjo Espacial............................... 39

Capítulo 7 – Jardins e Paisagismo....................... 45

Capítulo 8 – Cultura Escolar................................. 49

Capítulo 9 – Currículo........................................... 53

Resumo........................................................................ 59 Sobre o TurleyTalks..................................................... 63 Sobre o Autor.............................................................. 65



B E LE ZA RE D IM IDA

Introdução

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ste livro é sobre compreender a Beleza, sobre apreciar a forma como o Belo afeta os amores de nossos alunos. Minha preocupação reside na possibilidade de, sendo nós pais e educadores atuantes no movimento das escolas clássicas, nossos esforços no ensinar a Verdade, a Bondade e a Beleza tenderem a enfatizar tanto a Verdade quanto a Bondade, mas em detrimento da Beleza. Costumamos ser competentes no ensino da Verdade, em especial quando entendemos quão importante é formar a cosmovisão do aluno e a ênfase que esta importância toma. Quanto ao ensino da Bondade, somos relativamente proficientes, em termos da dimensão moral de nossa fé e como ela se refere à disciplina da sala de aula e questões semelhantes. No entanto, em se tratando da Beleza, o que ela é e como nós a ensinamos, nossas certezas se dissipam e todo tipo de confusão toma lugar. Por exemplo, em minha experiência como docente do Ensino Médio e superior, tenho presenciado experiencialmente como os pressupostos modernistas têm se infiltrado na vida de nossos stephen r. turley

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Introdução

alunos. Quando peço aos meus, seja na escola clássica, seja na universidade onde leciono, que me deem uma descrição básica do conceito clássico de Beleza e os questiono a respeito, as respostas proporcionam exemplo sólido de uma devoção total e absoluta ao relativismo estético. De forma alguma estou exagerando. A bem da verdade, se você interrogar seus próprios professores e pais quanto à existência de algo como Beleza objetiva, e, caso exista, perguntar o que ela é, do que se trata, como ela pode ser percebida, qual a função e o papel dela na vida do aluno e da escola, eu creio que as respostas não seriam de impressionar. Isso me faz pensar que, embora tenhamos dado bastante atenção ao ensino da Verdade e da Bondade dentro de nossas escolas clássicas, fizemos isso comprometendo o ensino da Beleza. E devo confessar: não sou imune a isso! Leciono apologética há anos enquanto também ministro um curso de estética, e nunca nem sequer notei carência da estética na apologética. Por exemplo, quando ensino os elementos básicos de determinada cosmovisão na cadeira de apologética, foco em cinco elementos: teologia, metafísica, antropologia, epistemologia e ética. Mas perceba o que está faltando: não há estética! Nossas cosmovisões são compostas pela Verdade e pela Bondade… mas não há Beleza! Preocupo-me com a possibilidade de nossos esforços educacionais estarem, na verdade, sendo minados por um relativismo, sorrateiro, que se faz cada vez mais presente. A Verdade, a Bondade e a 8

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Beleza não estão separadas — elas dependem umas das outras e uma conduz à outra. E se a Beleza for desprovida de sua natureza transcendente e realocada para somente dentro dos processos psicológicos particulares, logo a Verdade e a Bondade farão o mesmo. O que, contudo, tenho descoberto é que, quando os alunos verdadeiramente encontram a Beleza, adivinhe só? Eles a consideram belíssima! Eles se apaixonam por ela, eles a amam; eles são atraídos pela Beleza, pelo próprio conceito em si. Várias e várias vezes eu ouço de meus alunos do último ano que a aula favorita deles lecionada por mim é a de estética: o estudo e o encontro da Beleza. Enquanto crescendo e se desenvolvendo, esses alunos sempre sentiram que algum elemento crítico esteve em falta na educação que receberam e no formar de suas cosmovisões — mas quando descobrem a Beleza, ah, então eles reconhecem: “É isso! Era isso o que me faltava!”. A seguir, desejo propor-lhe a essência da Beleza. Primeiramente, exploraremos o que é a Beleza, em particular no que tange à Verdade e à Bondade. Em seguida, exploraremos a relação da Beleza com a criação e formação da virtude na vida de nossos alunos. Descobriremos, por fim, algumas formas consideráveis de embelezar nossas escolas e transformá-las em lugares sagrados para a contemplação do Verdadeiro, do Bom e do Belo.

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PRIMEIRA PARTE A BELEZA É FUNDAMENTAL



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CAP ÍT ULO 1

O que é Beleza?

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ara entendermos a Beleza, temos de entender sua relação com a Verdade e a Bondade. Embora vastamente utilizados na linguagem empregada na educação cristã clássica, convém tomar esses três termos e começar aqui com um panorama do real significado desta terminologia. Os termos Verdade, Bondade e Beleza (do grego: alethia, agathos e kalos) surgiram de certa forma eminente na vida grega por volta da época de Platão (c. 428–347 a.C.). No século V a.C., os respeitáveis cidadãos da Pólis, a cidade-estado da Grécia, foram chamados de kalos kai agathos, o “bom e o belo”, denominação esta contraída posteriormente para um único termo, kalokagathia. Mas foi no tempo de Platão que surgiu essa interação sistemática entre Verdade, Bondade e Beleza. De um lado, estas na qualidade de valores macrocósmicos; do outro, a alma humana como uma classe da réplica microcósmica desses valores. Pelo fato de os seres humanos serem criados, por assim dizer, à imagem da Verdade, stephen r. turley

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O que é Beleza?

da Bondade e da Beleza, eles também carregam essa tripla dimensionalidade na alma: o intelectual, o moral e o emocional, mais conhecida pela formulação de Aristóteles das três partes da persuasão retórica: logos, ethos e pathos. De um lado, tal interação entre os valores macrocósmicos da Verdade, da Bondade e da Beleza; do outro, a faculdade tríplice da alma microcósmica, intelecto, ética e emoção — ambos os pontos serão muito importantes para a compreensão do papel que a Beleza exerce sobre a formação da virtude na vida de nossos alunos. Estejamos certos, porém, de que temos entendimento sólido do significado de cada um dos termos: O termo grego alēthia (Verdade) significa literalmente “revelar ou desvendar”. É uma negação da palavra lethein, cujo significado é “esconder”; a verdade revela a natureza da realidade a nossas capacidades intelectuais, nosso logos. O termo agathos (Bondade) conota “a excelência de algo ou de alguém” e foi por fim desenvolvido por filósofos para designar a finalidade, o propósito ou o significado da existência. Minha esposa e eu temos um bom casamento, se ambos cumprimos o propósito do casamento; eu tenho um bom relógio, caso ele me indique as horas de forma precisa. Conforme a Verdade revela a realidade às minhas capacidades intelectuais, a Bondade revela a realidade às minhas capacidades volitivas e morais, aquilo que Aristóteles chamou de ethos, e Platão de thymos. 14

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O que talvez seja mais assombroso nesta relação micro-macrocosmo é o papel que Platão atribui ao kalos, ou Beleza, particularmente no discurso de Diotima em sua obra intitulada O Banquete (Simpósio). Para Platão, e praticamente para todos os filósofos e teólogos clássicos e cristãos que vieram após ele, Beleza é o encanto, o esplendor, o deleite, a delicadeza do Verdadeiro e do Bom, que conduz o ser humano à Verdade e à Bondade na ocasião de direcionar aquilo que Platão chamou de eros (o pathos de Aristóteles), ou um desejo ardente dentro do ser. Agora, é crucial notar que a Beleza é um tipo de física no mundo clássico. É por isso que associamos Beleza à atração; Beleza é força gravitacional, um raio trator (essa é para vocês, fãs de Star Wars!). Mediante a Beleza somos tragados para o Verdadeiro e o Bom, a fonte divina da vida, pelo despertar de nossos desejos. Nós desejamos tudo aquilo que achamos belo. Essa é a primeira coisa da qual queremos nos certificar que de fato entendemos: a Beleza é uma física. A Beleza não é, enfaticamente, um sentimento ou uma preferência pessoal; ela não é opinião ou inclinação subjetivas. No mundo clássico, a Beleza opera da mesma forma que a lei da atração; trata-se de uma atração gravitacional que existe exterior a mim e me atrai para determinado lugar. Por definição, a Beleza — como esplendor e deleite — deve atrair-me ao Verdadeiro e ao Bom. stephen r. turley

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O que é Beleza?

Mas, espere aí! Um momento de reflexão revelará que nem tudo aquilo que acho Belo é Verdadeiro e Bom. Como se pode afirmar que a Beleza necessariamente guia ao Verdadeiro e Bom, sendo que por tantas vezes somos atraídos por coisas que, enfaticamente, não são Verdadeiras e Boas? Além disso, essa discrepância não confere uma dimensão completamente pessoal, particular à Beleza? Se você e eu somos atraídos por coisas diferentes, não quer dizer que o Belo envolva ao menos algum grau de sentimento subjetivo ou preferência pessoal? Menciono acima que a interação entre os valores macrocósmicos e a alma microcósmica será muito importante no entendimento do papel que a Beleza exerce na formação e no forjar da virtude na vida de nossos alunos. Perguntas como as feitas acima nos levam precisamente a esse tipo de interação. No próximo capítulo, exploraremos o papel da Beleza na orientação de nossos amores subjetivos.

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