SUMÁRIO 1 O Retorno dos Nazistas............................................. 09 2 Falsificando a História............................................ 41 3 A Jornada de Mussolini........................................... 75 4 Um Segredo do Partido Democrata................ 97 5 Os Racistas Originais.............................................. 125 6 Pessoas Descartáveis................................................. 151 7 Führers Americanos................................................. 177 8 Políticas de Intimidação...................................... 207 9 Desnazificação.............................................................. 243 Referências Bibliográficas................................. 263
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Capítulo Um
O Retorno dos Nazistas Embora pareça estar morto, o fascismo pode ressurgir de diferentes formas.1 Walter Laqueur, Fascism: Past, Present, Future [Fascismo: Passado, Presente e Futuro]
Alguns dos casos mais interessantes de Sigmund Freud envolveram pessoas que faziam coisas ruins, más ou destrutivas e depois jogavam a culpa nos outros. Tais casos são, agora, padrão na literatura da psicologia. Hoje em dia, os psicólogos já estão familiarizados com pacientes que, apresentando comportamentos egoístas e viciosos, atribuem suas próprias características ao psicólogo que os assiste. Também são muito comuns, no decorrer da terapia, pacientes que, havendo apresentado hostilidade mórbida contra os próprios pais ou irmãos, apresentam hostilidade mórbida contra o próprio terapeuta. Seguindo um termo criado por Freud, os psicólogos a esse fenômeno chamam de “transferência”. A transferência, cuja injusta tarefa é a de culpar e responsabilizar, é, obviamente, uma forma de mentira. Um caso especial de transferência consiste em “culpar a vítima”. Na literatura relevante da psicologia, aquele que comete algo terrível não deixa a culpa em si mesmo, mas, impressionantemente, culpa a vítima da ofensa. Por exemplo, assassinos em série que alvejam prostitutas podem conceber que elas, na verdade, merecem ser estupradas e assassinadas. “Aquela mulher era uma prostituta. Ela sabia que isso iria acontecer”. Pensar assim possibilita o agressor a considerar-se um anjo da vingança, um instrumento da justiça. 9
A GRANDE MENTIRA
Ted Bundy é um bom exemplo para esse tipo de caso. Quando jovem, Bundy foi rejeitado por uma mulher, uma mulher morena. A partir de então, ele alimentou um ódio intenso por aquela mulher, pois ela o fez sentir-se inferior e inútil. Ted então passou a buscar por morenas jovens em câmpus universitários com o objetivo de raptá-las e assassiná-las, depositando nelas a raiva que sentia e as responsabilizando por aquilo que outra mulher cometeu uma vez. Na mente de Bundy, ele próprio havia sido rejeitado injustamente e transformado numa vítima; daí, por causa de um processo pervertido de deslocamento, ele imputava tal alcunha sobre as mulheres que matava.2 O processo de culpabilizar a vítima é, sim, uma mentira, mas vem a ser uma mentira de categoria especial. Normalmente, a mentira é uma distorção da verdade. Isso se aplica à transferência no sentido geral do termo: as qualidades do paciente são transferidas ao terapeuta. Mas quando o perpetrador culpa a vítima, ele faz mais do que culpar uma parte inocente: ele culpa precisamente a parte que ele mesmo está prejudicando diretamente. Culpabilizar a vítima envolve trocar a posição do criminoso pela da vítima: o bandido transforma-se no mocinho e o mocinho torna-se o bandido. Isso é mais do que uma distorção da verdade; é uma inversão dela. É uma grande, uma grande mentira. A grande mentira é um termo frequentemente atribuído a Adolf Hitler. Hitler supostamente o usava para descrever a propaganda nazista. Em sua autobiografia, Mein Kampf, Hitler contrasta a grande mentira com mentiras pequenas ou ordinárias. “A grande massa”, ele escreve, “torna-se vítima da grande mentira com maior facilidade do que vítima de uma mentira menor, visto que o próprio povo mente acerca das pequenas coisas, mas sentiria vergonha de cometer mentiras de maior proporção. A maioria jamais conceberá uma mentira de tamanha gravidade, e nunca será capaz de acreditar que seja possível imputar a terceiros desaforo tão monstruoso e deturpação tão infame”.3 No entanto, Hitler não está se referindo às grandes mentiras que ele mesmo cometia. Ao invés disso, Hitler faz referência às mentiras alegadamente propagadas pelos judeus. Os judeus, Hitler diz, são os mestres da grande mentira. Agora, importa reconhecer que o Mein Kampf é uma incansável repetição de calúnias e difamações contra os judeus. Eles são acusados de tudo, desde de serem capitalistas a bolcheviques; de serem impotentes a cobiçarem mulheres nórdicas, de culturalmente insignificantes a aspirantes ao domínio mundial. 10
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As acusações são contraditórias, não podem ser simultaneamente verdadeiras. E, ao mesmo tempo que mente sobre os judeus e conspira pela destruição desse povo, Hitler os acusa de mentirosos e de serem aqueles que maquinam a destruição da Alemanha. Hitler emprega a grande mentira enquanto desaprova o seu uso. Ele se retrata como uma pessoa franca e atribui a mentira àqueles sobre quem está mentindo — os judeus. Pode haver um caso mais patológico de transferência e, mais especificamente, de culpabilização da vítima? A grande mentira está de volta, e agora diz respeito ao papel do nazismo e do fascismo na política americana. A esquerda política — apoiada pelos principais meios de comunicação do Partido Democrata — insiste em dizer que Donald Trump é uma versão americana de Hitler ou de Mussolini. O GOP [Partido Republicano dos EUA], dizem eles, é a nova encarnação do Partido Nazista. Essas acusações tornam-se, por quaisquer meios necessários, a base e a racionalização da tentativa de destruir Trump e seus aliados. A “cartada fascista” também é usada a fim de intimidar conservadores e republicanos, para que estes renunciem Trump por medo de serem marcados e manchados. No fim das contas, o nazismo é a forma de ódio irrevogável e o associar-se a ele, o crime de ódio definitivo. Neste livro viro a mesa contra a esquerda democrata e provo que eles — e não Trump — são os verdadeiros fascistas. São eles que usam as táticas de ameaça e opressão nazistas e subscrevem a uma ideologia completamente fascista. As acusações que fazem contra Trump e o GOP são, na verdade, aplicáveis a eles próprios. Aqueles que se autodeclaram oponentes do ódio, são estes os verdadeiros praticantes das políticas de ódio. Por meio de um processo de transferência, os esquerdistas culpam a vítima de ser e fazer o que eles próprios são e fazem. Numa inversão doentia, os verdadeiros fascistas da política americana disfarçam-se de antifascistas e acusam os verdadeiros antifascistas de fascistas.
A Cartada Racial Este é um tópico sobre o qual nunca antes escrevi. Em duas ocasiões, uma vez em 1976 e, novamente, em 1980, Reagan associou, sem cerimônias, o Partido Democrata ao fascismo. A mídia entrou naquele alvoroço já previsível, 11
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sugerindo que, mais uma vez, o velho vaqueiro estava tagarelando. “Reagan Ainda Acredita que Alguém do New Deal Defenda o Fascismo” era o título da matéria no Washington Post.4 Quando Reagan fez suas declarações, eu não tinha ideia do que ele queria dizer. Mas ele sabia. Ele cresceu na década de 1930. Ele estava lá. Ele viu as afinidades entre o fascismo e o New Deal, afinidades sobre as quais falarei melhor em um capítulo mais adiante. Somente agora, décadas depois, compreendo o que Reagan quis dizer. Gostaria de que ele pudesse ter lido este meu livro; Reagan veria que, ao invés de ser culpado de inverdade ou exagero, foi culpado de cometer um enorme eufemismo. Mas, na época, tanto eu como a maioria dos meus companheiros republicanos e conservadores éramos vítimas do paradigma progressista, embebidos em todas as essas instituições culturais, desde a academia a Hollywood, de Hollywood à mídia. Nesse caso, a história que havíamos aceitado, feito otários, era que o fascismo e o nazismo são ideias inerentes “à direita”. A esquerda é realmente boa no inventar e disseminar esses paradigmas. Quando um deles cai, eles simplesmente buscam outro. Em meu livro anterior e também no documentário Hillary’s America, desafio um outro poderoso paradigma esquerdista, o paradigma de que os progressistas e os democratas são o partido da emancipação, da igualdade e dos direitos civis. Demonstrei que, no entanto, em vez disso, eles são o partido da escravidão e da remoção indígena, da segregação e do Jim Crow, do terrorismo racial e da Ku Klux Klan, o partido da oposição ao movimento dos direitos civis da década de 1960. Meu objetivo foi tirar a cartada racial dos democratas — uma jogada que vem surtindo efeito contra os republicanos por toda uma geração. É impressionante o fato de os democratas terem recebido todo o crédito pelo movimento dos direitos civis, sendo que foram os republicanos que os conquistaram, ainda mais por que a oposição a esses direitos veio praticamente toda do Partido Democrata. Os democratas acusam os republicanos — o partido da emancipação e da oposição à segregação, à intolerância e à supremacia branca — de ser o partido da intolerância e da supremacia branca. Bom, falemos sobre o termo transferência. Essa foi minha introdução à política estratégica da esquerda de transferir a prática do racismo ao partido que vem, no decorrer da História, opondo-se ao racismo em todas as suas 12
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formas e vertentes. Os democratas foram tão bem-sucedidos neste golpe que, em 2005, o presidente do Comitê Nacional Republicano, Ken Mehlman, saiu por aí pedindo desculpas a grupos negros por pecados cometidos não pelos republicanos, mas pelos democratas.5 Igualmente espantoso, os democratas nunca admitiram seu histórico racista, nunca assumiram a responsabilidade pelo que fizeram, nunca se desculparam, jamais restituíram um centavo por seus crimes. O que mais me intrigou foi como alguém consegue se safar com tão grande mentira. A resposta é entender como é imperativo dominar todos os grandes porta-vozes da cultura, desde a academia ao cinema, do cinema aos principais meios de comunicação. Com esse arsenal cultural à disposição, grandes mentirosos podem, confiantes, espalhar mentiras e certos de que mais ninguém terá porta-vozes tão grandes a ponto de desafiá-los. Eles conseguem ter suas mentiras ensinadas nas salas de aula, transformadas em filmes e em programas de TV, e enfaticamente distribuídas nos veículos de comunicação do cotidiano público, tudo como a mais pura verdade. É assim que grandes mentiras tornam-se amplamente aceitas, às vezes até mesmo por aqueles que são os próprios alvos das mentiras. Hillary’s America foi recebido com afronta pela esquerda, mas ninguém pôde refutar um único fato do livro ou do documentário. Até mesmo as alegações mais incriminadoras que apresentei provaram ser invulneráveis. Acusei que, em 1860, ano anterior à Guerra Civil, nenhum republicano possuía escravos; todos os quatro milhões de escravos naquela época estavam sob posse democrata. Agora, tamanha generalização poderia ser facilmente refutada com uma simples lista de republicanos detentores de escravos. A esquerda não pôde fazê-lo. Houve certo pesquisador assíduo que, finalmente, pretendeu contestar-me com um único contraexemplo. Ele indicou que Ulysses S. Grant certa feita herdou um escravo da família de sua esposa. Tolerei o argumento, mas o lembrei de que, naquela época, Ulysses S. Grant não era republicano. Temendo não ter resposta substancial para o Hillary’s America, os principais meios de comunicação entraram numa negação completa. Quem tivesse somente assistido às grandes redes de TV e aos canais abertos, ou ouvido a Rádio Pública Nacional, não faria nem ideia de que o Hillary’s America existe. O livro estava em primeiro lugar na lista dos livros mais vendidos do New York 13
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Times, e a filmagem foi o documentário de maior bilheteria do ano. Ambos densos e repletos de materiais diretamente relevantes para o debate eleitoral em curso, no entanto completamente ignorados pela imprensa, totalmente a favor de Hillary. Apesar das manifestações fracassadas e da negação generalizada, o livro e o documentário surtiram efeito. Muitos consideram que ambos tanto motivaram os republicanos quanto persuadiram os hesitantes, ajudando Trump a alcançar a Casa Branca. Não tenho ideia de como medir tamanhos efeitos, mas sei que meu livro e meu documentário ajudaram a moldar a narrativa eleitoral, expondo Hillary como a criminosa que é e os democratas como seus cúmplices, todos culpados de um longo histórico de intolerância e exploração. Pela primeira vez, nas eleições de 2016, os democratas não conseguiram se servir da cartada racial e sair impunes. Mesmo após as eleições, e por consequência do livro e do documentário, agora será ainda mais difícil para os democratas lançarem mão da cartada racial. Eles tentaram, por um breve momento, suspender a nomeação de Jeff Sessions como procurador-geral de Trump. A acusação seria de que ele teria dito coisas racistas há algumas décadas. Sim, mas e quanto ao democrata Robert Byrd, conhecido como a “consciência do Senado”? Décadas atrás, era ele um líder da Ku Klux Klan. Mesmo assim, os Clintons e os Obamas o louvaram quando veio a óbito, em 2010. Os democratas descobriram, para própria consternação, que sua cartada racial passou a ser então um fracasso. Ela não funcionava mais. A festa acabou. Então, agora, os democratas passaram da grande cartada racial, que não mais funciona, para o seu maior trunfo: a cartada nazista. É claro que eles não abandonaram a cartada racial, afinal o racismo era intrínseco ao nazismo. Hitler, com seu ódio incansável pelos judeus — ódio baseado não no que fizeram ou mesmo na religião, mas simplesmente por sua identidade racial e biológica —, é o racista definitivo. Consequentemente, os democratas não esperam apenas sustentar a alegação nazista contra Trump e o GOP, mas também esperam recuperar a cartada racial com nova roupagem. Como antes, meu objetivo é fazer com esse novo paradigma, o nazista, o que meu livro anterior fez com a antiga narrativa ra14
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cial, ou seja, destruí-lo por completo. Aqui, refuto a falsa narrativa deles, exponho sua grande mentira e prendo o rabo nazista exatamente onde ele deve ficar — no burro democrata.
Reductio Ad Hitlerum Os temas nazismo e fascismo devem ser abordados com o maior cuidado, não só por envolverem sofrimento e perda de um grande número de vidas, mas também porque os termos em si têm sofrido abusos e sido deturpados sôfrega e promiscuamente em nossa cultura. Não posso melhor ilustrar essa realidade do que com a reação de várias personagens de Hollywood perante a eleição e posse de Trump. “Eu sinto Hitler andando pelas ruas”, disse a atriz Ashley Judd. O cantor John Legend afirmou que a retórica “nível Hitler” de Trump poderia transformar a América na Alemanha nazista. De acordo com um tuíte feito por RuPaul, em 8 de novembro de 2016, “a América ganhou uma gigante suástica tatuada na testa”. A atriz Meryl Streep disse que sua crítica a Trump produziu uma resposta “aterrorizante”. “Isso prepara você para todo tipo de ataques e exércitos dos camisas pardas [...] e você só pode fazer isso se você sente que deve fazer [...] Você não tem muita opção”.6 Essa é Streep fazendo sua melhor cópia de Dietrich Bonhoeffer. No entanto, exatamente de que forma esses tais de camisas pardas a estavam atacando? Acontece que esses ataques foram feitos no Twitter e em outras mídias sociais. Ninguém a espancou de verdade. Os verdadeiros camisas pardas já o teriam feito. Da mesma forma, RuPaul bem provavelmente sabe que, na Alemanha nazista, um drag queen como ele teria sido enviado para algum campo de concentração e morto por eutanásia. Se ele realmente acreditasse que a América havia se transformado na Alemanha nazista, o que se esperaria senão sua saída imediata do país? De alguma forma, RuPaul sabe, assim como todos nós sabemos, que ele está perfeitamente seguro aqui. Alguns conservadores permanecem tranquilos enquanto a esquerda rotula Trump de fascista. O historiador Victor Davis Hanson recorda, perplexo, que Ronald Reagan e George W. Bush foram ambos, em algum dado momento, ligados pela esquerda a Hitler. Daniel Greenfield devolveu a analogia de Hitler para 15
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Goldwater e Nixon em seu artigo na FrontPage Magazine intitulado “Todo Presidenciável Republicano é Hitler”. Um outro livro meu, The End of Racism [O Fim do Racismo], perturbou tanto David Nicholson, do The Washington Post, que ele chegou a ouvir “o pesado marchar de coturnos, embora taciturnos e distantes, ainda se aproximando constantemente”.7 Esses exemplos confirmam o ponto de Hanson, de que comparar uma coisa aos nazistas geralmente não significa nada a não ser representar aquilo que a esquerda desaprova vigorosamente. Estudiosos têm se queixado de que termos como ‘nazista’ e ‘fascista’ praticamente perderam significado na cultura popular. Há muitos anos, o filósofo Leo Strauss, ele próprio refugiado da Alemanha nazista, lamentou por aquilo que chamou de Reductio ad Hitlerum, com isso pretendendo expressar a tendência de querer refutar aquilo que desaprova associando-o a Hitler. O raciocínio é o seguinte: Hitler não gostava de arte moderna, então a crítica à arte moderna é um mal reminiscente dos nazistas. Hitler detestava o comunismo, portanto os anticomunistas continuam seguindo o método de Hitler. Tudo isso, lembrou Strauss, não passa de pura tolice. Na Califórnia, onde a pura tolice abunda, ouve-se falar da “dieta nazi”, do “saudável nazi” e dos “surfistas nazi”. Nesses casos, o nazismo parece tomar uma acepção positiva, indicando compromisso rigoroso. O historiador Anthony James Gregor, um dos principais estudioso do fascismo italiano, diz que o fascismo é comumente atribuído a pessoas declaradamente cristãs, pessoas que buscam por tributações menores, que se opõem a regulamentações governamentais abusivas, que se mostram céticas quanto ao aquecimento global e que parecem indiferentes ao destino das espécies ameaçadas de extinção. “Infelizmente”, ele escreve, “o termo fascismo foi dilatado a ponto de seu uso cognitivo tornar-se mais do que suspeito”.8 Mas a acusação de fascismo e nazismo contra Trump e os republicanos não pode ser tão facilmente descartada. Na verdade, ela não está na mesma categoria que o emprego metafórico, os tropos desdenhosos comparando Reagan a Hitler ou Bush a Hitler. Em primeiro lugar, a acusação contemporânea está bem mais generalizada. Tanto antes quanto depois das eleições, a analogia nazista não foi apenas um escárnio, mas também foi empregada como descrição. A analogia é, agora, a estrutura central da cobertura sobre Trump dada pela 16
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mídia, pela academia e por outros meios, da imigração à política externa e ao comércio, tudo está agrupado sob essa mesma bandeira. Para o escritor Chris Hedges, a presidência de Trump é “o ensaio geral para o fascismo”, significando, provavelmente, que o fascismo, ainda embora não esteja presente, está prestes a se apresentar. Na mesma linha, Ben Cohen viu em Trump “os primeiros passos de um Estado fascista”. Deepak Malhotra insiste na revista Fortune que Trump representa “o espectro do fascismo domiciliar”. Andrew Sullivan advertiu na revista The New Republic que Trump “destruiu o Partido Republicano e criou, em seu lugar, o que parece ser um partido neofascista”. Aaron Weinberg, do HuffPost, diagnosticou o “engatinhar vagaroso do fascismo de Hitler”. Escrevendo para o Salon, o historiador Fedja Buric procurou criticar mudando um pouco o tom, insistindo que “Trump não é Hitler; Trump é Mussolini”. A âncora da MSNBC, Rachel Maddow, revelou que “eu tenho lido muito sobre como era na época quando Hitler se tornou chanceler [...] porque acho possível ser onde estamos agora”. O jurista Juan Cole exclamou o resultado das eleições com a seguinte frase: “Como os EUA se tornaram fascistas”. Ken Burns, cineasta e produtor de documentários, denominou Trump como “fascístico” e “hitleresco”. A reação mais exagerada veio de Sunsara Taylor, ativista de um grupo chamado Refuse Fascism [Rejeite o Fascismo]; ela apareceu no programa de Tucker Carlson para comentar sobre Trump, dizendo que “ele é mais perigoso do que Hitler jamais teria sido”.9 Como segundo ponto, a acusação de fascismo e nazismo é endossada pelos principais personagens do Partido Democrata. O candidato à presidência Martin O’Malley, um democrata, acusou Trump de carregar um “apelo fascista bem para dentro da Casa Branca”. Fazendo menção a Trump, Bernie Sanders invocou parentes que morreram no Holocausto como resultado de “um lunático [...] despertando o ódio racial”. Invocando a memória sombria dos “piores déspotas da História”, a senadora Elizabeth Warren insistiu que Trump representa uma “séria ameaça”.10 Ainda que Obama e Hillary não tenham jogado a cartada fascista ou nazista, ambos não se afastaram dela nem a repudiaram, assim como nenhuma outra autoridade do Partido Democrata. Afinal, como eles poderiam rejeitá-la? Este é, agora, o lema da oposição por parte da esquerda democrata contra Trump. Em terceiro lugar, alguns líderes estrangeiros parecem já ter aceitado que 17
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Trump seja fascista, talvez até nazista. Na Grã-Bretanha, o político do Partido Trabalhista Dennis Skinner advertiu que, se permanecesse em aliança com a América na sequência das eleições de Trump, seu país estaria caminhando “de mãos dadas” com um fascista. No Canadá, o líder do Novo Partido Democrata, Tom Mulcair, usou o rótulo fascista para descrever a proibição temporária de viagens promulgada por Trump. Dois ex-presidentes mexicanos, Enrique Calderon e Vicente Fox, compararam Trump a Hitler, e Fox declarou que o discurso de Trump durante a convenção republicana fez com que ele se lembrasse de “Hitler discursando ao Partido Nazista”. Esses comentários dão confirmação internacional ao que a esquerda americana diz aqui; e alguns deles poderiam até mesmo causar implicações para as relações diplomáticas dos Estados Unidos.11 Em quarto lugar, alguns dos principais republicanos e conservadores ecoaram a acusação da esquerda. Durante um evento filantrópico, o ex-candidato do Partido Republicano ao cargo de governador, Meg Whitman, comparou Trump a Hitler e a Mussolini. A ex-governadora republicana de Nova Jersey, Christine Todd Whitman, disse o seguinte acerca das máximas da campanha de Trump: “Esse é o tipo de retórica que permitiu Hitler avançar”. Escrevendo para o jornal New York Times, Ross Douthat, uma vez colunista conservador, concluiu que Trump é um “protofascista”. Robert Kagan, historiador neoconservador, não se deu nenhuma reserva. “É assim que o fascismo vem para a América”. Após as eleições, o senador John McCain, candidato à presidência do Partido Republicano em 2008, disse, a respeito da crítica de Trump à mídia, que foi dessa forma que os ditadores do século XX surgiram.12 Trata-se de um padrão sem precedentes. Quando várias pessoas do seu próprio partido dizem que você é um fascista, isso faz com que você realmente pareça um fascista. A esquerda mobiliza uma pilha de especialistas em apoio à equação de que Trump e o GOP estão ao lado do fascismo e do nazismo. A revista Slate entrevistou Robert Paxton, importante historiador do fascismo, sobre os paralelos entre Trump, de um lado, e Mussolini e Hitler, de outro. Bill Maher deu a deixa para o historiador Timothy Snyder, que vinculou a ascensão de Trump à ascensão de Hitler. “No meu mundo, de onde venho, estamos na década de 1930”. O biógrafo de Hitler, Ian Kershaw, defendeu a mesma posição num jornal britânico. “Os paralelos ao sombrio período entreguerras não devem ser negli-
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genciados”. E o historiador Ron Rosenbaum, autor do livro Explaining Hitler [Explicando Hitler], explicou que Trump chegou ao poder com “visões e perspectivas extraídas de um livro escrito em alemão. Esse livro é o Mein Kampf”.13 Por fim, a acusação de fascismo contra Trump não é um elemento a ser jogado fora; a esquerda apresenta uma infinidade de razões para apoiar tal acusação. O historiador John McNeill fez chegar ao Washington Post a alcunha sobre Trump dos “11 atributos do fascismo”. Escrevendo para o site Alternet, Kali Holloway declarou: “É assustador como Trump se enquadra perfeitamente no famoso guia dos 14 pontos para identificar líderes fascistas”.14 Dessa vez a esquerda e os democratas parecem confiantes de que poderão fazer o rótulo fascista pegar, de modo a desacreditar permanentemente Trump e aqueles que o apoiam.
“Ele Não é o Nosso Presidente” O que me interessa aqui não são os motivos para a esquerda comparar Trump com os fascistas e os nazistas — lidarei com essas motivações no próximo capítulo —, mas o que eles pretendem alcançar com essas comparações. Evidentemente, a esquerda tem o objetivo de tornar a presidência de Trump ilegítima. Essa noção — de que, mesmo tendo vencido honesta e diretamente, Trump, de alguma forma, não merece ser presidente — foi propagada pela primeira vez, inclusive, antes das eleições. Hillary e Obama nunca trataram Trump como um candidato legítimo. Uma vez que Trump foi eleito, a esquerda democrata lançou uma cruzada sem precedentes a fim de impedir que ele tomasse posse. Ela exigiu a recontagem de votos, o que é razoável quando as margens entre os candidatos são muito próximas, como aconteceu na eleição de 2000 entre Bush e Gore. No caso de Trump, as margens atingiram um patamar significativo em todos os sentidos mais cruciais. Houve uma ou duas recontagens, e Trump acabou ganhando mais alguns votos. Depois a esquerda procurou desacreditar a vitória de Trump ao destacar que Hillary ganhou por voto popular. Novamente, é algo que soa estranho, uma vez que as eleições nos EUA não são decididas pelo voto popular. O sistema político americano é projetado para gerar equilíbrio entre a representação 19
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individual e a representação estadual. O objetivo é impedir que grandes estados monopolizem o poder. Por conseguinte, o Colégio Eleitoral dá aos estados maiores mais eleitores, mas garante que os estados menores também tenham influência eleitoral suficiente a ponto de fazer a diferença. Não é imprescindível decifrar as regras precisas do sistema. O ponto principal é que este é um sistema democrático e estas são as regras do jogo acordadas já de longa data. A esse respeito, as regras do Colégio Eleitoral são como as regras de uma partida de tênis, que é decidida não por pontos, mas por sets. Fará sentido se, em uma partida com pontuação final de 6–4, 6–4, 0–6, 1–6, 6–4, o perdedor, embora tenha vencido apenas dois sets de cinco, for premiado por ter feito dois pontos a mais que o vencedor na pontuação geral? É absurdo. Trump prevaleceu pelas regras do jogo, e sua vitória mantém-se claramente inalterada, mesmo perante a observação de que Hillary teria vencido sob algum outro conjunto de regras. Em seguida, a esquerda procurou pressionar diretamente os eleitores a não escolherem Trump no Colégio Eleitoral. Estes relataram opressão, assédio, e até ameaças. Embora a maior parte da situação fosse puro desespero — e os esforços finalmente falharam —, Peter Beinart teceu argumentos complexos para o Atlantic Monthly sobre por que “o colegiado eleitoral deveria proibir à presidência homens feito Trump”. Não importa o que tenham decidido, Beinart insistiu que os eleitores deveriam votar contra Trump, alegando ser ele um “demagogo irresponsável” e que sua vitória criou uma “emergência nacional”.15 Finalmente, a esquerda procurou desacreditar a eleição alegando que os russos a fraudaram. Eles a fraudaram, supostamente, ao invadir o servidor particular de Hillary. Nunca houve provas disso. E por que os russos prefeririam Trump a Hillary? Havendo tomado posse, uma das primeiras decisões de Trump foi lançar um ataque militar contra a Síria, aliada da Rússia. Então, o próprio conceito de que os russos pesaram a balança a favor de Trump faz pouco sentido. Mas, mesmo que os russos tivessem invadido o servidor de Hillary, não foram eles que escolheram Trump no lugar dela. Ao contrário, os eleitores americanos o fizeram. Portanto, a despeito de qual seja a evidência que os russos 20
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possam ter descoberto, no fim das contas foi o povo americano quem determinou seu valor. Foi o povo americano quem julgou tal evidência suficientemente incriminatória, a ponto de dispensar Hillary. Desde que Trump demitiu o diretor do FBI, James Comey, a esquerda — que havia criticado o papel de Comey nas eleições — ficou extremamente exasperada, gerando uma tempestade tão furiosa de acusações que o ex-diretor do FBI, Robert Mueller, foi nomeado conselheiro especial para investigar o possível conluio entre a equipe de Trump e a Rússia. Enquanto a responsabilidade de Mueller era descobrir objetivamente os fatos, a agenda sem disfarces da esquerda era usar o inquérito para impedir o desempenho de Trump, aumentar a pressão a fim de acontecer a impugnação de mandato, e (se tudo corresse de acordo com o plano) forçar sua renúncia. Enquanto tudo isso acontecia, eu coçava a cabeça pensando no esforço desesperado da esquerda para suprimir o resultado válido de uma eleição livre. Então percebi que Mussolini e Hitler também chegaram ao poder através de um processo legal — ou ao menos quase legal. Nem Mussolini nem Hitler armaram um golpe. Os camisas negras marcharam em Roma sob uma atmosfera de caos e Mussolini foi convidado pelo rei Victor Emmanuel III a formar um novo governo. Embora nunca tenha obtido maioria popular de eleitores alemães, Hitler era o cabeça do maior partido na Alemanha de 1933 quando feito chanceler pelo presidente Paul von Hindenburg. Algumas semanas depois, o parlamento alemão, o Reichstag, aprovou a Lei de Concessão de Plenos Poderes, o que essencialmente transferia seu poder a Hitler. Em outras palavras, a democracia preparou o caminho para que esses déspotas tomassem o poder. Consequentemente, para os esquerdistas que veem Trump no mesmo caminho de Hitler e Mussolini, a vitória eleitoral não justifica um fascista ou nazista americano ascendendo ao poder. Agora, cabe dizer que, quando um grande partido político basicamente rejeita o resultado de uma eleição livre, nos encontramos em território inexplorado. Isso já aconteceu uma vez nos Estados Unidos, é claro, em 1860, quando o mesmo partido, o dos democratas, recusou-se a aceitar a eleição de Abraham Lincoln. O desfecho se deu em uma guerra civil sangrenta. 21
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Desde Lincoln, então, nenhum presidente americano enfrentou maior resistência à legitimidade do que Trump. Mesmo assim, apesar de algumas discussões vagas sobre a Califórnia deixar a União, a América não está enfrentando um sério movimento de secessão do tipo que se desenvolveu no Sul, em 1860–1861. O que estamos vendo, ao contrário, é a desconfiança do próprio processo democrático por parte daqueles que perderam as eleições de 2016. Do ponto de vista deles, como a democracia poderia ter produzido um resultado tão assustador, tão contrário à razão? Quase setenta legisladores democratas recusaram-se a participar da posse de Trump, uma violação da etiqueta democrática sem precedentes, atitude que teria provocado grande indignação na mídia, caso os republicanos tivessem o feito, por exemplo, com Bill Clinton ou com Barack Obama. Presidente há apenas algumas semanas, mesmo antes de Trump ter feito qualquer coisa que pudesse ser considerada remotamente inconstitucional, Maxine Waters e Tulsi Gabbard, duas representantes do Congresso Democrata, levantaram a questão da impugnação do mandato. O colunista Richard Cohen chegou a sugerir a necessidade de um “golpe constitucional” — basicamente, uma assembleia de oficiais eleitos que, segundo Cohen, têm a autoridade para retirar do cargo um presidente que eles consideram “incapaz de cumprir os poderes e deveres de seu cargo”.16 Ainda mais escandaloso, uma ex-funcionária do Departamento de Defesa do período Obama, Rosa Brooks, levantou a possibilidade de os militares dos EUA se recusarem a obedecer às ordens de Trump e, talvez, até de o expulsarem do cargo. Se Trump ordenasse que os militares fizessem algo que os generais julgassem insano, disse Brooks, então eles deveriam recusar-se a obedecer. E, caso Trump insistisse, Brooks deu a entender, eles deveriam livrar-se dele por meio do golpe militar. Argumento semelhante havia sido desenvolvido antes das eleições no Los Angeles Times por James Kirchick, da Iniciativa de Política Externa [Foreign Policy Initiative]. Kirchick concluiu seu artigo dizendo: “Trump não é apenas impróprio à presidência, mas um perigo para a América e para o mundo. Os eleitores precisam detê-lo antes que os militares o façam”.17 Embora raramente explícitos, houve também pedidos de assassinato. Pouco depois de Trump tomar posse do mandato presidencial, a jornalista britânica Monisha Rajesh escreveu: “Já é hora de um assassinato presidencial”. Lars 22
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Maischak, historiador da Universidade Estadual de Fresno, escreveu em seu twitter: “Para a democracia americana ser salva, Trump deve ser enforcado”. Durante a Marcha das Mulheres em Washington, D.C., a cantora Madonna vociferou: “Sim, estou com raiva. Sim, estou indignada. E, sim, eu pensei muito em explodir a Casa Branca”. A comediante Kathy Griffin publicou explicitamente uma foto sua com a imagem de Trump ensanguentado e decapitado, resultando em uma tempestade de protestos que a obrigou a pedir desculpas. O rapper Snoop Dogg lançou em vídeo uma música chamada “Lavender”, na qual ele aponta uma arma de fogo para a cabeça de um palhaço vestido de Trump e puxa o gatilho, mostrando, na sequência, uma bandeira vermelha e branca em que está escrito BANG. Outro rapper, Big Sean, falou de assassinar Trump com um furador de gelo.18 É difícil saber o quanto levar isso tudo a sério, mas é possível imaginar a reação que viria à tona se alguém falasse dessa maneira contra o antecessor de Trump, Obama. Uma desconfiança do processo democrático semelhante a essa foi fundamental na ascensão fascista ao poder na Itália dos anos 1920 e na ascensão nazista na Alemanha no início dos anos 1930. Aliás, é importante notar que se trata do antigo fascismo e do antigo nazismo. Hoje, quando se pensa em Mussolini ou em Hitler, se pensa em termos da Segunda Guerra Mundial. É impossível pensar sobre o nazismo, por exemplo, sem pensar também no Holocausto. Contudo, é claro, não foi assim que os italianos ou os alemães experimentaram pela primeira vez os fascistas e os nazistas. Ninguém está dizendo que Trump hoje é o Hitler circa 1945. Trump não iniciou uma guerra mundial nem anexou ou invadiu outros países; ele, inclusive, certamente não exterminou seis milhões de judeus. Esta não é a base da crítica progressista por parte dos democratas contra Trump. Ao invés disso, eles o comparam a Mussolini e Hitler antes da guerra, alertando que, se fora de controle, ele pode acabar fazendo coisas horríveis exatamente como esses dois homens acabaram por fazer. Porém, no início dos anos 1920 e dos anos 1930, eram os fascistas e os nazistas que desprezavam a democracia parlamentar, cujas regras lhes eram incontornáveis e, no modo de pensar fascista e nazista, impraticáveis. Estes foram partidos que declararam líderes democraticamente eleitos como ilegítimos e apoiaram abertamente estratégias que tinham o objetivo de expulsá-los 23
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do poder. Então, quem está fazendo isso na América? Não é o Trump. Pelo contrário, são os democratas progressistas que continuam a questionar a validade da presidência de Trump. São os progressistas que, hoje, recusam-se a aceitar os resultados dos procedimentos e regras eleitorais. Eles são os que reagem, como fizeram os fascistas e os nazistas, contra o que julgam ser um sistema democrático defeituoso. Depois, há a questão da violência. Como todos os estudiosos do fascismo e do nazismo sabem, os fascistas e os nazistas gloriavam-se dela. Mas eles não estavam sozinhos: seus rivais políticos, os socialistas e os comunistas, também acreditavam na violência. Naturalmente, essa era uma receita para banhos de sangue nas ruas. Os primeiros dias do fascismo e do nazismo presenciaram confrontos rotineiros entre os grupos políticos rivais. Na Itália, os camisas negras de Mussolini chegaram a lutar corpo a corpo contra os socialistas. Muitas pessoas foram mortas nessas guerras de rua. Hitler descreve, em sua obra Mein Kampf, como seus camisas pardas chegavam a encontros políticos, geralmente realizados em bares e cervejarias, munidos de bastões e porretes. Os comunistas podem nos superar em número, ele escreve, mas, para barrarem nossas reuniões, eles terão de nos matar. No relato de Hitler, há chuvas de golpes e combatentes caindo no chão, e lá ele permanece, prosseguindo com seu discurso, recusando-se a ser intimidado pelo caos que o cerca.19 Esses confrontos do início do fascismo e do nazismo me fazem lembrar dos confrontos entre os seguidores da esquerda e os partidários de Trump durante a campanha. Com isso, não apenas quero dizer que estes são uma reminiscência daqueles. Quero dizer, porém, que os manifestantes contra Trump se veem como que batalhando uma batalha antifascista. Seus cartazes comparam Trump a Hitler e a Mussolini. Um retrato padrão é Trump com o bigode de Hitler; outro é uma representação de Trump paralelo a Mussolini. Os manifestantes autodenominam-se antifascistas, ou, abreviando, Antifas. O período eleitoral foi dominado por confrontos acalorados, às vezes violentos. Curiosamente, todos ocorreram durante os comícios de Trump; não houve incidentes durante os comícios de Hillary. Em dada ocasião, Trump teve de cancelar um comício em Chicago, pois nem mesmo a polícia conseguiu con24
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trolar o caos. Em San José, os esquerdistas atacaram os apoiadores de Trump com ovos, gerando embates enérgicos, inclusive empurra-empurra e pancadaria. Embora esse tipo de coisa tenha sido comum na Itália e na Alemanha durante o início do século XX, não se via algo assim na política norte-americana desde os acessos frenéticos da década de 1960. O próprio Trump parecia impaciente com os desordeiros. Certa vez, ele falou de um manifestante: “Eu gostaria de dar um soco na cara desse sujeito”. Para outro, ele disse: “Nos velhos tempos, eles o arrancariam daqui bem depressa”. Trump já se ofereceu a pagar os honorários de eleitores que tomassem parte contra os manifestantes. No entanto, nenhuma vez Trump pediu que eles perturbassem os comícios de Hillary. Em geral, sua posição era: “Temos manifestantes que são sujos. Eles são realmente perigosos, eles entram aqui e começam a bater em todo mundo”. Quando um grupo de manifestantes latinos tentou interromper o comício que Trump realizava em Miami, ele disse à multidão: “Vocês podem tirá-los daqui, mas não os machuquem”.20 Mais tarde, um grupo chamado Project Veritas lançou evidências gravadas em vídeo de que a campanha de Hillary e os grupos esquerdistas haviam pagado manifestantes para provocar violência nos comícios de Trump. Ainda assim, os principais meios de comunicação culpam Trump pela violência. O argumento parecia ser o de que, mesmo quando a esquerda dá início à confusão, a violência seria uma resposta natural e justificável à retórica incendiária de Trump. A mídia retratou os baderneiros da Antifa como opositores heróicos tentando barrar a ascensão do nazismo na América. Quero, agora, concentrar-me na violência pós-eleitoral, uma vez que é algo bastante incomum na América. Afinal, a eleição acabou e o presidente está eleito. Houve, entretanto, protestos e perturbações maciças nos eventos referentes à posse presidencial. Esses protestos foram organizados por uma miscelânea, mélange, de grupos, dos quais o mais proeminente parecia ser um chamado Refuse Fascism. De acordo com um dos seus panfletos, “É o caráter fascista do regime de Trump/Pence que o torna ilegítimo e um perigo à humanidade”. O chamado do grupo à resistência foi assinado pelo ator Ed Asner, pelo ativista Bill Ayers, pelas comediantes Margaret Cho e Rosie O’Donnell, pela autora Alice Walker, entre outros.21
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A polícia se preparou para uma semana de tumultos por ocasião da posse, e ela estava certa em precaver-se. O problema começou na DeploraBall, uma reunião independente organizada por Mike Cernovich, partidário de Trump e acusado de ser da “direita alternativa” (alt-right). Centenas de manifestantes se reuniram do lado de fora, gritando “escória nazista” e levantando placas nas quais estava escrito “Alt-Reich” [“Reich Alternativo”], enquanto os convidados entravam. Dois homens, um com uma máscara de Hitler e outro com uma máscara de Mussolini, levantaram placas que diziam: “Trump é da Direita Alternativa”. Quando os partidários de Trump gritaram em resposta aos manifestantes, sobreveio o tumulto, os manifestantes começaram a jogar garrafas nos participantes da DeploraBall e nos policiais.22 A posse oficial de Trump, por si, provocou reações muito mais tormentosas vindas da esquerda. Manifestantes, trajados de preto e muitos usando máscaras, arremessaram pedras, tijolos e pedaços de concreto, quebrando vitrines, inclusive a de um McDonald’s, de um Bank of America e de um Starbucks no centro da cidade. Usando latas de lixo e caixas de jornais, eles atearam fogo no meio da rua, viraram carros e os incendiaram. Membros do movimento Black Lives Matter acorrentaram-se a cercas em pontos de controle de segurança, forçando o Serviço Secreto a interditá-los. Com helicópteros sobrevoando a região, a polícia usou sprays de contenção e granadas de atordoamento para conter os manifestantes. No entanto, quando um SUV da polícia tentou dispersar a multidão, os manifestantes atiraram pedras, quebrando a janela traseira do veículo. Ativistas da esquerda se chocaram contra os policiais, que finalmente os dispersaram com spray de pimenta. Mais de duzentas pessoas foram presas. Curioso dizer, onze delas eram jornalistas, que estavam lá supostamente atuando como mídia, mas aparentemente também participando dos tumultos.23 Simultaneamente, centenas de manifestantes mascarados apareceram na Universidade da Califórnia, em Berkeley, para impedir que um partidário de Trump, Milo Yiannopoulos, fizesse seu discurso. Eles derrubaram barricadas policiais, quebraram janelas, depredaram caixas eletrônicos e atacaram a polícia com fogos de artifício. Eles estavam acompanhados de outras várias centenas de manifestantes, estudantes e esquerdistas da grande Bay Area, carregando placas com frases como “É GUERRA”. O grupo que organizou o protesto foi 26
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chamado de By Any Means Necessary [Faça o que for Necessário], e se posicionou como uma organização antifascista. Os manifestantes divulgaram uma declaração dizendo que estavam lutando para impedir que “um grande fascista na ativa” invadisse seu câmpus. “Vamos ser claros: Milo Yiannopoulos não está buscando a liberdade de expressão. Ele está conscientemente liderando a nazificação da Universidade Americana”.24 Na realidade, convenhamos, Yiannopoulos é um provocador, é um comediante e conservador. Ele também é gay e extravagante, que se autodeclara uma “bicha perigosa” e chama Trump de “papaizinho”. Ao mesmo tempo que ataca o islã por suprimir cruelmente mulheres e homossexuais, ele não tem associação nenhuma com o fascismo ou o nazismo. Só posso imaginar como ele se encaixaria na Alemanha de Hitler. Mas não importa, do ponto de vista da oposição, Milo era o nazista e eles estavam protegendo sua comunidade do nazismo. Os manifestantes não tinham a intenção de um proceder pacífico. O objetivo claro era manter Milo do lado de fora. A polícia não pôde lidar com uma manifestação de tamanha proporção, então o evento foi cancelado. Observando os manifestantes com suas roupas pretas, de rostos cobertos, alguns deles brandindo pedaços de pau e bastões, não pude deixar de pensar nos camisas negras italianos e nos camisas pardas nazistas desfilando pelas ruas com seus capacetes, bastões, socos ingleses e correntes. A atmosfera surrealista de Berkeley refletiu, em certo sentido, o surrealismo que caracterizou a política americana desde o início do período eleitoral. Eis, portanto, a ironia. Os manifestantes de Berkeley, assim como os manifestantes contra Trump em D.C., declararam-se antifascistas. Porém, é o lado deles que impôs censura ao impedir que determinado palestrante discursasse num câmpus universitário. Foram eles também que, mesmo indo contra a lei, impediram aqueles que apoiavam Trump de participar dos eventos de posse. Enquanto os adeptos de Trump cuidam dos próprios afazeres, os esquerdistas só sabem confrontar, assediando-os, ameaçando-os, quebrando e queimando coisas, e se envolvendo em conflitos contra a polícia. Como, então, é que os supostos fascistas agem de forma visivelmente pacífica e legal enquanto os antifascistas se parecem mais com os fascistas a quem eles supostamente estão resistindo?
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A Racionalização da Violência A princípio, pensava estar simplesmente testemunhando consequências chocantes de uma eleição chocante. A esquerda não esperava que Trump vencesse. Em 20 de outubro de 2016, a revista American Prospect publicou um artigo intitulado “Trump No Longer Really Running for President” [“Trump já não mais Concorre à Presidência”], cuja intenção era concluir que o “objetivo político real de Trump é tornar impossível o governo para Hillary Clinton”. O resultado das eleições foi, nas palavras do colunista David Brooks, “o maior choque de nossas vidas”.25 Trump venceu contra probabilidades praticamente insuperáveis, entre elas os grandes meios de comunicação que fizeram campanha aberta a favor de Hillary, além da guerra civil dentro do GOP com toda a ala intelectual do movimento conservador recusando-se a apoiá-lo. A princípio, interpretei a revolta impetuosa por parte da esquerda como uma reação atordoada e calorosa, porém momentânea, à maior vitória da história política dos Estados Unidos. Então, duas coisas me fizeram perceber que eu estava errado. Primeiro, a violência não desapareceu. Houve protestos violentos como o “Not My President’s Day” [“Dia de Dizer: Não é o meu Presidente”] por todo o país, em fevereiro; as violentas manifestações de 4 de março nos comícios de Trump na Califórnia, Minnesota, Tennessee e Flórida; as manifestações de abril contra os impostos de Trump, todas supostamente destinadas a forçar Trump a revelar suas declarações de impostos; as manifestações pró-impeachment de julho, buscando impulsionar a retirada de Trump do cargo; e as múltiplas, e convulsivas, manifestações em Berkeley.26 Em Portland, os esquerdistas arremessaram pedras, bolas de chumbo, latas de refrigerante, garrafas de vidro e dispositivos incendiários, tornando necessária a intervenção policial sob a chamada “Alerta, alerta, temos um motim”. Mais cedo, no Capitólio Estadual de Minnesota, alguns esquerdistas lançaram bombas de fumaça na multidão pró-Trump enquanto outros preparavam fogos de artifício dentro do prédio, fazendo com que pessoas fossem tomadas pelo medo de um ataque terrorista. No rol de detidos estava Linwood Kaine, filho do candidato à vice-presidência de Hillary, Tim Kaine.27 Mais do mesmo, sem dúvida, está guardado pela esquerda pelos próximos quatro anos.
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O que isso mostrou é que a esquerda esteve envolvida em violência premeditada; não uma violência ocasionada por surtos de fervor, mas uma violência como estratégia política. Muitos da esquerda justificaram a violência e defenderam o motivo por que a estavam causando. Como, então, em uma sociedade democrática, alguns cidadãos pensam ter o direito de calar outros eleitores e de interromper os resultados de uma eleição sob os ditames da democracia? De acordo com Jesse Benn, ao escrever para o HuffPost, Trump não passa de um fascista do século XXI. Além do mais, “Trump não existe em um vácuo. Ele é a consequência natural da ala republicana, que perdura em racismo [...] e do uso de imigrantes como bodes expiatórios”. A ascensão do fascismo, ele diz, não é um “típico desacordo político entre os partidários”. Historicamente falando, os fascistas só foram contidos por uma “insurreição impetuosa”. Acreditar de forma diferente, ele insiste, é “pôr em risco sua oposição e expor-se à cumplicidade com uma nova era da política fascista nos Estados Unidos”.28 Escrevendo para a Atlantic Monthly, Vann Newkirk insiste que “uma vez que as instituições democráticas não impediram a ascensão de Trump [...] por que as pessoas que ele pretende ludibriar e marginalizar deveriam confiar nas instituições democráticas para as proteger?”. A verdadeira agenda de Trump, argumenta Newkirk, é baseada na violência: a violência da construção do muro, a violência da deportação, a violência de manter as pessoas fora da América por causa de sua religião, a violência de “punir a mulher por abortar”. Por consequência, um voto em Trump significa “um voto a favor da ampla disseminação da violência”. Diante de uma ameaça fascista à vida e à liberdade, os manifestantes não têm escolha senão usar de força para a própria defesa. A única maneira de cessar a violência é fazer com que Trump desista de sua agenda ou que seus defensores o substituam por “alguém menos virulento”.29 Escrevendo para a Nation, Natasha Lennard inicia com a premissa de que, porquanto Trump representa o fascismo, “é constitutivo ao fascismo exigir um tipo diferente de oposição”. Lennard argumenta que não faz sentido lutar contra o fascismo com argumentos; em vez deles, o fascismo só pode ser interrompido com o uso da força física, do mesmo tipo que foi usada pelas brigadas que combateram Franco na Espanha ou pelos grupos comunistas que lutaram contra os nazistas na década de 1920 e no início dos anos 1930. Os antifascistas, ela conclui, estão empenhados em impedir que os fascistas tenham voz: “a 29
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característica essencial do antifascismo é que ele não tolera o fascismo; não se trata de uma plataforma para debates”.30 Escrevendo para a Salon, ainda no período de campanha eleitoral, o ativista Chauncey DeVega começou por admitir que “numa democracia em funcionamento, a violência política deveria, quase sempre, ser condenada”. No entanto, neste caso, DeVega estaria disposto a fazer uma exceção, porque Trump é um “incendiário político” que, além disso, está “do lado errado da História”. Segundo DeVega, a violência da esquerda é “uma resposta às ameaças abertas e implícitas de danos físicos e outros prejuízos e males causados por Donald Trump e por aqueles que o apoiam contra imigrantes hispânicos sem documentação, americanos negros, outras pessoas de cor e muçulmanos”. Observe com cuidado a linguagem usada por DeVega: mesmo que os partidários de Trump não sejam de fato violentos, caso considerados “ameaças abertas ou implícitas”, a esquerda possui justificativas para usar de violência efetiva contra eles.31 Sentimentos como esse também ecoaram no artigo do ativista Kelly Hayes intitulado “No Welcome Mat for Fascism: Stop Whining About Trump’s Right to Free Speech” [Sem Tapete de Boas-Vindas para o Fascismo: Pare de Choramingar pelo Direito de Trump à Liberdade de Expressão].32 De fato, o argumento total de todos esses escritores pode ser resumido em uma única frase: “Não à liberdade de expressão para os fascistas”. Esta frase — percebe-se — remonta à década de 1960, quando usada pela Nova Esquerda em protestos contra a Guerra do Vietnã. A inspiração para tal lema veio de um professor de Berkeley chamado Herbert Marcuse, boa parte das vezes esquecido em nossos dias, mas um guru para os radicais dos anos 1960; sua base argumentativa, porém, está agora no centro do debate político contemporâneo. Marcuse argumentou que a esquerda é o partido da tolerância, mas que a tolerância não é para todos: só para pessoas tolerantes. Na visão de Marcuse, a esquerda não deve ser tolerante com os intolerantes. As pessoas intolerantes, segundo ele, são basicamente fascistas. Elas se recusam a respeitar o processo democrático; assim, por que deveriam receber o respeito que recusam aos outros? Marcuse então argumenta que, em vez de tolerar esses fascistas de direita, a esquerda deveria reprimi-los, calá-los, e até mesmo espancá-los ou matá-los. Em essência, a esquerda deveria destruir o fascismo por todos os meios necessários, do contrário os fascistas os destruiriam. 30
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O argumento de Marcuse ecoa o próprio Hitler, que disse que ou os nazistas destruiriam os judeus ou os judeus destruiriam os nazistas. “Se eles vencerem”, escreve Hitler, “Deus nos ajude! Todavia, se nós vencermos, que Deus os ajude!”. Marcuse mesmo era um refugiado da Alemanha nazista. Ele também fugiu da brutalidade do nazismo. Mas, ao mesmo tempo, ele também viu a eficácia nazista em dispersar seus inimigos e levar o próprio povo alemão à submissão. Marcuse basicamente argumentava que, para derrotar o nazismo na América, seria preciso que a esquerda se valesse de táticas nazistas. Por táticas nazistas não me refiro apenas à violência de estudantes e ativistas irritados. Também me refiro ao que os nazistas chamaram de Gleichschaltung. O termo em si significa “coordenação”, “uniformização”, e refere-se ao esforço nazista de usar a intimidação em todas as instituições culturais da sociedade para que todos se alinhem às prioridades e à doutrina nazistas. Os progressistas na América estão usando seu predomínio — na verdade, seu total monopólio — na área acadêmica, no campo de Hollywood e nos meios de comunicação para impor seu próprio Gleichschaltung. Eles fazem isso não somente por meio da propaganda descarada e da completa mentira que deixaria Joseph Goebbels orgulhoso, mas também através da batalha implacável e da exclusão forçada das vozes dissidentes de suas instituições culturais, de modo que a voz deles seja o único ponto de vista comunicado à grande maioria dos estudantes e cidadãos. Novamente, do ponto de vista da esquerda, tais intimidações e exclusões são justificadas porque é correto e adequado que os antifascistas usem de repressão contra aqueles que eles consideram fascistas. Todo esse modus operandi — que Marcuse chamou de “tolerância repressiva”, e que está encapsulado na doutrina não à liberdade de expressão para os fascistas — está, agora, no cerne de nosso debate político. Isso levanta duas perguntas importantes. Primeiro, é verdade que os fascistas não merecem ser ouvidos e é justificável negar-lhes direitos civis e constitucionais? Em segundo lugar — a pergunta mais importante —, é verdade que as pessoas que a esquerda chama de fascistas e nazistas são de fato fascistas e nazistas?
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Os Verdadeiros Fascistas Essas são as perguntas que pretendo responder neste livro. A primeira pergunta eu deixo para o capítulo final, onde a respondo com um ressonante não. Irônico o bastante, os esquerdistas deveriam gostar da resposta que dou, pois basicamente estou dizendo é que não se pode privá-los de seus direitos civis e constitucionais. Eles são os verdadeiros fascistas, mas ainda assim merecem a plena proteção da constituição e da lei. E também concordo com o princípio de que os fascistas não podem ser combatidos do modo convencional. É preciso especial coragem para derrotar um movimento tão vicioso e perverso. O que se faz necessário para derrotar a esquerda é nada menos que a desnazificação, e no final deste livro mostro como isso pode ser feito. Meio que tendo dado a resposta, respondo agora à outra pergunta, mais abrangente e mais importante: quem são os verdadeiros fascistas da política americana? Essa pergunta raramente é feita de forma séria, e por isso quero dar crédito a dois importantes predecessores notáveis que já araram este solo. Primeiro, o economista Friedrich Hayek, cujo livro The Road to Serfdom [O Caminho para a Sujeição], publicado pela primeira vez em 1944, fez a afirmação surpreendente de que democracias ocidentais sob o Estado do bem-estar social [Welfare State], tendo derrotado o fascismo, estavam se movendo inexoravelmente na direção fascista. Hayek identificou o fascismo como um fenômeno de esquerda, um primo do socialismo e do progressismo. E alertou: “O surgimento do fascismo e do nazismo não foi uma reação contra as tendências socialistas do período anterior, mas um resultado necessário dessas mesmas tendências”. Embora o livro de Hayek tenha sido escrito num tom pedante e medido, apelando aos progressistas que aprendessem de alguém que testemunhou experiencialmente a ascensão do fascismo na Europa, estudiosos progressistas, como, por exemplo, Herman Finer, puseram-se de imediato a criticar Hayek, acusando-o de exibir um “profundo desprezo hitleriano pelo homem democrático”.33 Se percebida nessa reação a tentativa progressista, que já soa familiar, de se apossar da cartada hitleriana e jogá-la de volta contra Hayek, então já há um vislumbre de como a grande mentira funciona. Aqui está Hayek argumentando como os progressistas estão se movendo em direção a Hitler; porém, sem 32
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responder à acusação, não propondo nenhuma evidência que lhes dê algum suporte, a esquerda se volta e acusa Hayek de ser feito Hitler. Jonah Goldberg recebeu praticamente o mesmo tratamento ao seu importante livro Liberal Fascism [Fascismo Liberal]. Goldberg argumenta: “O que chamamos de liberalismo — o edifício remodelado do progressismo americano — é, de fato, um descendente e uma manifestação do fascismo”. Goldberg argumenta que o fascismo e o comunismo, longe de serem opostos, são “concorrentes históricos intimamente relacionados para os mesmos constituintes”. Goldberg nomeia o progressismo de “movimento irmão do fascismo” não menos que o comunismo, o qual exibe uma “semelhança familiar que poucos admitem reconhecer”.34 Goldberg traça inúmeros paralelos entre o progressismo e o fascismo, deixando clara a longa lista esquerdista nas plataformas de Mussolini e de Hitler, para, em seguida, mostrar seu paralelo com o progressismo americano moderno. Goldberg consegue ir fundo, detectando até mesmo o odor do fascismo nas políticas modernas de ambientalismo progressista, vegetarianismo, medicina holística e políticas pedagógicas. Embora às vezes exagere nas comparações que faz com o fascismo, seu livro vale muito a pena ser lido em virtude da originalidade e abrangência apresentadas. Pois então, mais uma vez, a esquerda, vingativa, colocou-se contra Goldberg, acusando-o de ser, sem contar todas as demais coisas, fascista. Hayek e Goldberg são o ponto de partida para o meu livro. Mas vou muito além e cavo em áreas de pesquisa intocadas por eles. Hayek, por exemplo, afirmou que o fascismo e o nazismo emergiram da esquerda, mas nunca explicou como isso aconteceu. Com base no trabalho de estudiosos como Anthony James Gregor, Renzo De Felice e Zeev Sternhell, conto a fascinante história de como o fascismo e o nazismo emergiram de um debate dentro do socialismo. O problema surgiu quando as profecias centrais do marxismo não se cumpriram. Foi em uma enorme crise que a esquerda caiu, e o marxismo basicamente dividiu-se em dois campos: o primeiro tornou-se o leninismo e o bolchevismo, o outro tornou-se o fascismo e o nazismo. Goldberg associa a esquerda americana ao fascismo, mas não se atreve a fazer ligação equivalente com o nazismo, provavelmente não querendo se ar33
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riscar a associar a esquerda com genocídios e campos de concentração. É daí que realmente começo com meu livro. Conforme Goldberg bem sabe, o fascismo e o nazismo são duas coisas diferentes. Hitler praticamente nunca referiu a si mesmo como fascista, e Mussolini nunca se autodenominou nazista ou nacional-socialista. Pretendo demonstrar que há conexões profundas não apenas entre a esquerda e o fascismo, mas também entre a esquerda e o nazismo. De certa forma, os democratas progressistas estão ainda mais próximos dos nazistas alemães do que dos fascistas italianos. Os fascistas italianos, por exemplo, eram muito menos racistas do que o Partido Democrata nos Estados Unidos. Não existem, referindo-se à Itália, paralelos para o terrorismo racial disfarçado do Ku Klux Klan, que também era apoiado pelo Partido Democrata, mas estes são encontrados na Alemanha nazista. As políticas democratas de supremacia branca, segregação racial e discriminação fomentadas pelo Estado eram também estranhas ao fascismo italiano, mas comuns ao Terceiro Reich. Aqui, por exemplo, está uma passagem do livro The Anatomy of Fascism [A Anatomia do Fascismo], de Robert Paxton: “Pode ser que o fenômeno mais antigo a ser eficientemente ligado ao fascismo seja americano: a Ku Klux Klan”. Muito antes dos nazistas, Paxton salienta, a KKK adotou seu uniforme segregado, de vestimentas e capuzes, e engajou-se no tipo de intimidação e violência que ofereceu “uma prévia contundente do modo como os movimentos fascistas deveriam funcionar na Europa no período entreguerras”.35 Ainda que pareça uma concessão surpreendente quando por um progressista, Paxton protege seu lado político não mencionando que, durante esse período, a Ku Klux Klan era o braço terrorista da família do Partido Democrata. O racismo do Partido Democrata na América não só precedeu o racismo dos nazistas, mas perdurou por muito mais tempo — mais de um século, em comparação com os doze anos do domínio nazista sobre a Alemanha. O racismo do Partido Democrata após a Guerra Civil foi precedido pela defesa da escravidão e pelo apoio às políticas de reassentamento e extermínio de índios americanos por parte desse mesmo partido. Pensamos em conceitos como “genocídio” e “campos de concentração” como exclusivos ao nazismo, mas que termo exceto genocídio usar para descrever o reassentamento em massa dos índios pelo presidente democrata Andrew Jackson? Jackson e seus aliados não buscaram sistematicamente despojar, deserdar e desmembrar os índios como povo? 34
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Usando a definição oficial de genocídio dada pelas Nações Unidas, demonstro que, sim, foi um genocídio. Além disso, o que mais seriam as fazendas de escravos senão um tipo particular do campo de concentração? Sim, pode parecer uma analogia ultrajante. Como comparar um sistema de trabalho forçado, por mais injusto que seja, aos campos nazistas, projetados e usados para matar seres humanos? No entanto, como mais adiante será analisado, os campos de concentração também eram campos de trabalho. Nos campos de concentração alemães e nas fazendas de escravos regidas pelos democratas, em ambos o trabalho forçado era empregado com “ferramentas humanas” unicamente no que dizia respeito à produtividade, mas com pouca ou nenhuma consideração pela vida dos trabalhadores, que eram, em ambos os casos, considerados inferiores e até mesmo sub-humanos. A analogia entre dois dos piores sistemas de confinamento compulsório e de trabalho forçado na história da humanidade não é meramente legítima; ela já passou da hora de ser feita. Além do mais, toda essa questão foi levada a um patamar completamente novo desde a publicação do livro, um marco pioneiro, do historiador Stanley Elkins, Slavery [Escravidão]. Elkins, tecendo paralelos bem elaborados, não só se refere às fazendas de escravos como um “sistema fechado” consanguíneo do campo de concentração, mas também mostra que a escravidão produziu tipos de personalidades estranhamente semelhantes às descritas pelos sobreviventes dos campos nazistas. Logo, a questão é que, mesmo em algumas das instituições e práticas associadas exclusivamente aos nazistas — do genocídio aos campos de concentração —, os democratas, em determinado sentido, foram os primeiros a chegar lá.
Aprendendo com Hitler Neste livro, mostro o que a esquerda aprendeu com os nazistas e também o que, por sua vez, a esquerda lhes ensinou. Acontece que a esquerda forneceu aos nazistas certos esquemas políticos muito importantes, os quais, por sua vez, foram por eles implementados na Europa com disposição assassina. Por exemplo, Hitler disse especificamente que pretendia deslocar e exterminar os russos, os poloneses e os eslavos do mesmo modo como os americanos na era jacksoniana haviam deslocado e exterminado os índios. As leis nazistas de Nu35
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remberg foram diretamente modeladas com base nas leis de segregação e nas leis contrárias ao casamento inter-racial, já implementadas décadas antes no Sul democrata. A esterilização forçada e a eutanásia, cujos objetivos eram eliminar os “defeitos” raciais e produzir uma raça nórdica “superior”, foram outros dois programas que os nazistas tomaram dos progressistas americanos. Não é minha opinião sobre o assunto, esta era a visão dos eugenistas da Alemanha nazista. No início do século XX, a eugenia e o darwinismo social eram muito mais predominantes na América do que na Alemanha. Margaret Sanger e seus companheiros eugenistas e progressistas não tomaram dos nazistas suas ideias de matar aqueles seres indesejáveis — ou de impedir-lhes a concepção. Mas foram os nazistas que as tomaram de seus homólogos americanos, os quais dominavam o campo internacional da eugenia. Há, portanto, uma via de mão dupla entre o nazismo e a esquerda americana. Essa é uma história que compromete profundamente os heróis do progressismo americano: Woodrow Wilson, Franklin D. Roosevelt e John F. Kennedy. Wilson foi um verdadeiro progenitor do fascismo americano. Eu o chamo de protofascista. Ademais, foi ele um racista que carrega praticamente toda a culpa pelo ressurgimento da Ku Klux Klan, organização que, de acordo com o historiador Robert Paxton, foi a precursora americana mais próxima de um movimento nazista. Mussolini era, o que ficará evidente, avidamente admirado por Franklin D. Roosevelt (FDR), que procurou importar programas fascistas italianos para a América. FDR também colaborou com os piores elementos racistas do solo americano, trabalhando com eles para impedir as leis contrárias ao linchamento, para excluir os negros dos programas do New Deal e nomear um ex-membro da Ku Klux Klan à Suprema Corte. Mussolini, por sua vez, elogiou o livro de FDR, Looking Forward [Olhando Adiante], e basicamente o considerou mais um companheiro fascista. Hitler também o tinha por congênere de espírito, em consonância com o jornal oficial do Partido Nazista, Volkischer Beobachter, e outros impressos da Alemanha nazista que louvavam o New Deal por este ocupar um tipo americano de fascismo. JFK percorreu a Alemanha nazista na década de 1930 e voltou efusivo, te36
O RETORNO DOS NAZISTAS
cendo elogios a Hitler e sua teoria da superioridade nórdica. “Cheguei à conclusão”, escreveu JFK em seu diário, “de que o fascismo é o caminho certo para a Alemanha e para a Itália”. Ao visitar a Renânia, JFK fez eco à propaganda nazista da época. “As raças nórdicas parecem definitivamente superiores aos romanos”. A hostilidade a Hitler, insistiu JFK, decorria sobretudo de ciúmes. “Os alemães realmente são muito bons — é por isso que as pessoas conspiram contra eles”. Apesar de ter lutado na Segunda Guerra Mundial, JFK continuou tendo uma queda por Hitler, inclusive até 1945, quando ele o descreveu como “a suma das lendas [...] Hitler emergirá do ódio que agora o rodeia e será considerado uma das figuras mais significativas que já viveu”.36 Tais fatos incriminatórios são do conhecimento de muitos intelectuais progressistas. E foi depois da Segunda Guerra Mundial, quando este grupo passou a dominar cada vez mais a academia — um domínio completamente consolidado no final da década de 1960 —, que os progressistas reconheceram como seria esmagador se os americanos conhecessem a verdadeira história do progressismo e do Partido Democrata. E se o povo, especialmente o público jovem, soubesse dos vínculos entre figuras progressistas reverenciadas hoje como Wilson, FDR e JFK, de um lado, e, do outro, aquelas repudiadas como Mussolini e Hitler? Chegar a esse conhecimento não simplesmente derrubaria heróis progressistas de seu pedestal, mas, basicamente, sinalizaria o fim do progressismo e do Partido Democrata. Desse modo, os progressistas decidiram contar uma nova história, e esta é a história que hoje vigora. Nesta história, o fascismo e o nazismo, que eram, desde o princípio, reconhecidos como fenômenos de esquerda por ambos os lados do Atlântico, agora foram transportados para os pilares da direita. De repente, Mussolini e Hitler tornaram-se “de direita”, ao contrário daqueles que supostamente os levaram ao poder, que transformaram-se em “conservadores”. A esquerda, então, tornou-se a gloriosa resistência contra o fascismo e o nazismo. Para que a história funcionasse, o fascismo e o nazismo tiveram de ser radicalmente redefinidos. O grande problema era que Mussolini e Hitler identificavam o socialismo como o cerne do fascismo e do weltanschauung nazista. Mussolini era a figura principal do socialismo revolucionário italiano e nunca renunciou sua fidelidade ao sistema. Já o partido de Hitler definiu-se como de37
A GRANDE MENTIRA
fensor do “nacional-socialismo”. Assim, os progressistas tiveram de descobrir como transportar esses esquerdistas confessos para a direita e como arrancar o “socialismo” do “nacional-socialismo”. Não foi uma tarefa fácil. Como fazê-lo? Pegando uma deixa dos marxistas, a esquerda resolveu, já na década de 1960, suprimir completamente o fato de que o fascismo e o nazismo eram, ambos, sistemas de pensamento, conjuntos de crenças. De acordo com Denis Mack Smith, historiador de esquerda, “o fascismo italiano não se originou como doutrina, mas como método, como uma técnica para ganhar poder, ainda que, à primeira vista, seus princípios não fossem claros até para os seus próprios membros”. O historiador Ruth Ben-Ghiat, citado constantemente pela mídia que vincula Trump ao fascismo, insiste, no entanto, que o fascismo é “uma daquelas palavras muito difíceis de definir com precisão”, porque “o regime fascista dizia respeito a tudo quanto era contradição, e esse tipo de ambiguidade permaneceu no fascismo”.37 Na verdade, tais tolices só podem ser sustentadas quando há recusa de levar os próprios fascistas a sério. Conforme o historiador Anthony James Gregor escreve: “Sob a influência desagradável da análise que o marxismo faz do fascismo, as declarações fascistas nunca são analisadas como tais. Elas são sempre “interpretadas”. Os fascistas nunca são compreendidos naquilo que dizem. Por consequência, houve, até o momento, pouquíssimo esforço para fornecer um relato sério do fascismo como ideologia”.38 Entretanto, a esquerda reconheceu no fascismo tendências amorfas que poderiam ser aplicadas com facilidade em outras várias doutrinas políticas: o autoritarismo, o militarismo, o nacionalismo, etc. Pense no seguinte: conhecemos o nome do filósofo do capitalismo, Adam Smith. Também conhecemos o nome do filósofo do marxismo, Karl Marx. Então, rápido, qual o nome do filósofo do fascismo? Pois é, exatamente. Você não sabe. Praticamente ninguém sabe. Meu ponto é: a razão disso não é que não havia pensadores basilares para a formação e estruturação do corpo fascista — seus nomes aparecem neste livro —, mas, sim, que a esquerda teve de livrar-se deles para evitar o confronto com suas inevitáveis propensões socialistas e esquerdistas. Pois então — assim como quando o Hillary’s America surgiu —, os progressistas concordaram entre si dizendo: “Vamos fingir que nada disso existe, pode ser?”. Eis a grande mentira a todo vapor. 38
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Se o estatismo e o coletivismo estão no cerne do fascismo, o nacional-socialismo acrescenta outro ingrediente explosivo — o antissemitismo. Trata-se de algo já bem conhecido. O que os progressistas têm cuidadosamente disfarçado, no entanto, é o quanto o antissemitismo nazista surgiu do ódio de Hitler pelo capitalismo. Hitler estabelece uma distinção crucial entre o capitalismo produtivo, que ele consegue suportar, e o capitalismo financeiro, que ele associa aos judeus. Para Hitler, o judeu é o avarento improdutivo no centro do capitalismo financeiro, o empreendedor trapaceiro par excellence. Dificilmente parece ser de “direita”; com efeito, em havendo alguma leve modificação, isso ecoa uma retórica progressista sobre os gananciosos banqueiros da Wall Street. Nessa condição, os progressistas perceberam a necessidade de esconder a verdadeira base do antissemitismo de Hitler; para tanto, o próprio antissemitismo precisou ser redefinido. Como você pode facilmente perceber, o que está em cena é uma grande, uma grande mentira — uma mentira que continua a crescer e que contém várias mentiras menores —, e é daí que o meu trabalho fica mais fácil. Mas, antes, é preciso compreender a grande mentira em todas as suas dimensões, a fim de nos mantermos livres dela. Uma vez livres, a esquerda estará acabada. O seu poder sobre nós desaparecerá. Eles tinham em mãos a cartada racial e agora têm a cartada nazista, mas não têm nenhuma outra cartada. Se eles a perderem, perderão seu capital moral e estarão expostos ao que realmente são — fanáticos, intolerantes, facínoras, assassinos, vis e egoístas, ladrões da vida e da liberdade. Eles são os verdadeiros descendentes de Mussolini e de Hitler; ao derrotá-los, poderemos finalmente descansar dos fantasmas do fascismo e do nazismo.
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