Sumário Introdução................................................................... 7 PRIMEIRA PARTE – ALUNOS CÍNICOS, CONTOS DE FADAS E O MUNDO DO DESLUMBRAMENTO Capítulo 1 – Duas Razões para o Cinismo dos Alunos..................................................................... 13
Capítulo 2 – O Mundo Percebido por Histórias e Óculos................................................................. 19
Capítulo 3 – O Papel do Deslumbramento na Educação Clássica................................................. 31
SEGUNDA PARTE – PRATICANDO O DESLUMBRAMENTO
Capítulo 4 – Amor ou Lascívia? Como Ensinar Beleza aos Alunos com Eficácia.......................... 47
Capítulo 5 – O Segredo para Gerar um Aluno que Ame a Sua Disciplina.................................... 51
Capítulo 6 – Quatro Maneiras de Cultivar Hábitos da Graça em Sua Escola........................ 57
Conclusão.................................................................... 61 Sobre o TurleyTalks..................................................... 63 Sobre o Autor.............................................................. 65
T E O LO GIA D O D E S LU M B R A M EN TO
Introdução
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educação moderna está saturada de cinismo e ceticismo. É comum ouvir alunos reclamando com perguntas do tipo: “Quando na vida é que eu vou vou usar cálculo?” ou “Afinal de contas, por que precisamos aprender isso?”. Estando as sensibilidades modernistas dominadas pelo utilitarismo e pelo pragmatismo, parte-se do princípio que a educação só possui valor em virtude de sua utilidade social e de seus benefícios econômicos. Infelizmente, dada a ênfase nas notas, nos resultados dos vestibulares e nas vantagens obtidas com as “ferramentas da educação”, pais, alunos e até mesmo os educadores clássicos não estão imunes a tais tendências utilitaristas. Acredito que esse cinismo moderno possa ser enfrentado com eficácia quando apresentamos aos alunos um mundo fundamentalmente diferente, formado de uma maneira fundamentalmente diferente de adquirir conhecimento. Esse mundo inclui o que poderia ser chamado de a “cosmologia do deslumbramento”, a qual oferece uma alternativa stephen r. turley
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Introdução
profundamente bela e convidativa aos referenciais que geram e sustentam o cinismo. A seguir, exploraremos o currículo clássico como uma jornada em direção ao encontro com o esplendor de Deus. Para educadores e filósofos clássicos, um conhecimento correto desse mundo estava enraizado num tipo de eros intelectual, um amor ou desejo cognitivo para encontrar o mundo enquanto reflexo da vida divina. Comum tanto à tradição clássica como à igreja, a pessoa humana experimentava o eros, ou amor, por meio da evocação do deslumbramento, o que os gregos chamavam de thauma, que por sua vez era evocado no encontro dos valores eternos da Verdade, da Bondade e da Beleza. Aprenderemos a como superar o cinismo ensinando o aluno a enxergar o mundo como uma arena de deslumbramento e admiração. Na Primeira Parte, examinaremos o cinismo, os contos de fadas e o mundo do deslumbramento. O capítulo 1 identifica duas razões por que alunos contemporâneos são tão cínicos. O capítulo 2 explora o ensaio “A Ética da Terra dos Elfos”, de G. K. Chesterton, e como os contos de fadas nos despertam para um mundo de deslumbramento. No capítulo 3, descobriremos um ressurgimento relativamente recente da educação clássica e como ele capacita os alunos a enxergar o significado e propósito divinos em cada faceta da vida. Já na Segunda Parte, oferecerei sugestões práticas de como ensinar eficazmente esse mundo de deslumbramento aos nossos alunos. O capítulo 8
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4 nos introduz ao relacionamento entre a beleza e o amor. O capítulo 5 fornece uma visão geral de como ensinar os alunos a verem o mundo de uma nova maneira por meio da disciplina que você estiver ensinando. E o capítulo 6 faz uma lista de sugestões para o cultivo de uma linda cultura em suas escolas e salas de aula. Minha esperança é que, em se deparando com o mundo como dom divino, nossos alunos comecem a ver todas as coisas à luz daquele por meio do qual todas as coisas foram feitas, e saibam que o chamado deles é justamente o chamado ao deslumbramento e ao maravilhar-se.
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PRIMEIRA PARTE ALUNOS CÍNICOS, CONTOS DE FADAS E O MUNDO DO DESLUMBRAMENTO
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CAP ÍT ULO 1
Duas Razões para o Cinismo dos Alunos
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E todas as vezes que olhar para o céu” — eu dizia à minha turma de Teologia Bíblica —, “e vir pássaros voando de asas abertas formando uma cruz e na formação em V, você será lembrado da vitória da cruz de Cristo sobre o pecado, sobre a morte e sobre o diabo”. “Como você sabe disso?”, um dos meus alunos perguntou. “Como sabemos que há de fato alguma relação entre a letra ‘V’, pássaros e a cruz?”. Como professores ou pais praticantes do ensino domiciliar, eu duvido que você tenha enfrentado esse cenário específico de sala de aula, mas todos teremos de lidar, em algum dado momento, com o aluno cínico. Na verdade, o cinismo deve ser considerado, por professores, a postura padrão de um grande número, senão da maioria, dos alunos. De forma simples, não há nada mais cansativo para um professor do que deparar-se com alunos irreverentes e insolentes. stephen r. turley
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Duas Razões para o Cinismo dos Alunos
O que está por detrás desse cinismo? Por que alunos são tão desdenhosos e ficam tão entediados com as disciplinas que amamos? Há dois porquês de nossos alunos serem cínicos: 1. Eles aprendem somente por meio da dúvida. A ascensão do Iluminismo no século XVIII trouxe consigo um novo caminho para se conhecer o mundo: o conhecimento estava limitado unicamente àquilo que pudesse ser verificado por um método, isto é, a aplicação da ciência e da razão. Argumentava-se que apenas as coisas que pudessem ser verificadas pelo método empírico poderiam ser conhecidas de modo totalmente à parte das preconcepções do observador. Qualquer coisa que não estivesse sujeita ao método ou que falhasse quando subordinada a ele era reduzida ao estado de relativismo pessoal e excluída do campo das coisas que podem ser conhecidas. Assim, o conhecimento agora estava aberto ao homem: tudo o que ele precisava fazer, em qualquer área da vida, era aplicar o método.
Agora, há uma padrão importante aqui. Desse ponto de vista metodológico, o conhecimento está enraizado na dúvida. Em outras palavras, tenho o direito de duvidar de qualquer coisa, a menos que algo contrário me possa ser provado. O conhecimento verdadeiro ocorre somente quando a dúvida for deixada para trás.
2. Eles veem todos os sistemas mais significativos como sendo fabricados. Com o surgimento de uma nova definição de conhecimento confinada 14
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ao método científico, todo o senso de significado e propósito do mundo desaparece. Porque o significado e propósito divinos são inacessiveis ao método científico, eles não podem ser conhecidos, tornando-se, portanto, cada vez mais plausível ver o mundo como composto de processos de causa e efeito sem significado, se fora do escopo que as pessoas, particular ou culturalmente, utilizam para conferir significação. Isso quer dizer que os alunos intuem que todas as normas culturais, todas as leis sociais são inerentemente arbitrárias; estas não refletem nenhuma moral cósmica transcendente e estão lá somente porque algumas pessoas têm o poder de colocá-las lá. Desta maneira, relacionamentos humanos são irredutivelmente compostos de relações de poder arbitrárias. Agora, eu creio que ambos os referenciais, o conhecimento influenciado pela dúvida e o significado imaginado, amalgamam-se para dar vida a um profundo senso de que nada é o que foi feito para ser, e que todos os relacionamentos humanos envolvem algum nível de manipulação e coerção. De um lado, são esses dois referenciais que, em grande medida, influenciam o modo de nossos alunos interpretarem expectativas acadêmicas, e as várias regras, práticas e etiquetas que constituem nossa vida escolar, de outro. Primeiro, estando o conhecimento enraizado na dúvida, o professor ou o gestor escolar está stephen r. turley
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Duas Razões para o Cinismo dos Alunos
naturalmente na defensiva; você, que é o professor, deve provar para mim, que sou o aluno, que esse livro, música ou aula é algo digno do meu tempo e da minha atenção. Do contrário, pare de gastar o meu tempo. Depois, os padrões formais e as regras da escola são naturalmente percebidos como arbitrários, uma vez que não há significado e propósito objetivos no mundo sustentando todas as coisas. Nossos alunos recebem uma compreensão tácita de que todas as regras e expectativas acadêmicas são arbitrárias, existindo somente por causa que algumas pessoas têm o poder de as exercer. Sendo assim, como nós, educadores e pais, responderemos a esse cinismo enraizado na dúvida e no poder? Acredito que esse cinismo moderno possa ser efetivamente contornado ao introduzir alunos a um mundo fundamentalmente diferente, composto de uma maneira fundamentalmente diferente de aprender. Esse mundo é composto de o que podemos chamar de “cosmologia do deslumbramento”, cuja oferta é uma alternativa profundamente bela e convidativa perante o sistema de crenças fundamental à criação e sustentação do cinismo. O deslumbramento é despertado ao convidarmos nossos alunos a que recebam o mundo como uma dádiva. Por exemplo, se os alunos veem o mundo apenas como processos físicos arbitrários sem nenhum significado inerente, logo eles podem, corretamente, esperar que os professores devem 16
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convencê-los de que essa aula, matéria ou esse livro é digno de seu tempo e atenção. No entanto, se o mundo é uma dádiva, se o mundo está repleto de significado e propósito divinos, e se essa aula ou matéria ou livro nos desperta para tal significado e propósito divinos, então tanto o professor quanto o aluno abordam essa aula ou matéria ou livro não como algo a ser digno do nosso tempo, mas, ao invés disso, como algo de que nós não somos dignos. Bem, e como ensinamos uma cosmologia do deslumbramento? Para responder a tal pergunta, devemos nos voltar a G. K. Chesterton e seu magistral ensaio “A Ética da Terra dos Elfos”, com o qual aprenderemos o papel do deslumbramento por meio da correta compreensão de nosso mundo.
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