Brasilturis Ed. 821 - Fevereiro

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ENTREVISTA

PARQUES E ATRAÇÕES

POLÍTICA

Diana Pomar elenca as principais conquistas e pontua o futuro da divulgação do México com o fim do Conselho de Promoção Turística

Wet’n Wild investe R$ 6 milhões nas atrações Cyclone e Meteor e registra aumento de 47% em público

Secretários estaduais de turismo e presidentes de autarquias apresentam os planos preliminares para a gestão 2019-2022

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ANO 38

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Nº 821

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FEVEREIRO 2019

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brasilturisjornal

AVIAÇÃO EM CRISE Especialistas em direito avaliam a situação da Avianca Brasil e explicam os próximos passos do plano de recuperação proposto pela aérea

CRUZEIROS MSC Yatch Club promete melhor comissão para o agente de viagens e upgrade na experiência do passageiro

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Eleito o mais luxuoso navio do mundo, Seven Seas Explorer aporta no País e comemora crescimento Pág. 18 a 20

Riviera Maya Brasileiros estão na sétima colocação entre os emissores para o destino mexicano que combina natureza e paisagens paradisíacas com cultura ancestral Pág. 22 www.brasilturis.com.br | Brasilturis

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EDITORIAL Camila Lucchesi Editora-chefe

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Contra a maré

ensar em um tema de interesse coletivo, estudar todos os aspectos e eventuais desdobramentos, confrontar dados, apurar informações, ouvir especialistas com distintos pontos de vista. Reunir todo esse material e transformá-lo em um texto que seja, ao mesmo tempo, completo e simples. Essa é a “receita de bolo” para ser um bom jornalista. Exercer o ofício com profissionalismo e ética, entretanto, exige grandes esforços no momento atual. O que importa hoje é velocidade; só quem publica antes é lembrado. Essa sempre foi uma prerrogativa do meio on-line, mas que funcionava às avessas para veículos impressos. Hoje, infelizmente, essa lógica se expandiu e é cada vez mais difícil ver matérias com análises aprofundadas, mesmo em títulos consolidados. Há quem culpe o leitor, dizendo que ele tem preguiça ou não dispõe de tempo para ler. Existem, ainda, aqueles assuntos que precisam ser divulgados, mas dispensam um olhar mais aprofundado. Em outros casos, a intenção é deliberadamente causar polêmica com a divulgação de poucas palavras e meias verdades. Entretanto, o cenário que mais preocupa é o da ausência de dados. Afinal, o que um profissional faz quando lhe falta material para desempenhar suas funções básicas? A informação preliminar é o ponto inicial do trabalho do jornalista. É a partir dela que começamos a estudar o tema, analisar as perspectivas e pinçar outros assuntos. Já escrevi sobre isso e reforço: o acesso a informações confiáveis é o “calcanhar de Aquiles” do turismo no Brasil. É claro que informações estratégicas não chegam de mãos beijadas. A curiosidade, a técnica de investigação e a formação de uma rede de fontes fazem parte do show de todo bom jornalista, e deveriam resolver a questão. Ou boa parte dela. Não é o que se vê, de fato. Buscamos informações diariamente no ímpeto de contribuir para disseminar boas práticas, noticiar novos negócios, sinalizar tendências e, quando é o caso, cobrar resultados. Sabe aquela brincadeira de “expectativa x realidade”? Pois é essa frustração que acompanha todo jornalista sério, que pensa uma pauta e acaba tendo de acionar o plano B, pois só recebeu dados antigos, números irreais, projeções ilusórias e listagens desatualizadas. Isso quando consegue falar com a fonte... Foi assim que a equipe de repórteres ficou durante a apuração dos principais planos dos secretários de Turismo das 27 unidades da federação para a gestão 2019-2022. Mais do que relacionar os responsáveis (e confirmar a nomeação para não dar bola fora), a ideia era dar o Norte e sinalizar para onde cada estado iria rumar. Uma pauta aparentemente simples e que, mesmo com o prolongamento do prazo, não foi respondida por boa parte dos entrevistados. Muita gente ainda dissemina a imagem de que todo jornalista de turismo é movido a jabá. Assim, justificam a falta de transparência nas informações – já que o perfil em questão é pautado por interesses comerciais, guiado pelas informações que coleta em almoços, jantares e viagens patrocinadas por grandes marcas. É preciso mudar essa lógica! Constatar que eles existem – e, na maioria das vezes, carregam um holofote que não faz jus à sua trajetória na área – é doloroso. O que tranquiliza é saber que a seleção natural vem sendo feita. Ainda que em velocidade reduzida. www.brasilturis.com.br | Brasilturis

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ENTREVISTA

Novos horizontes Diana Pomar Diretora para o Brasil do Conselho de Promoção Turística do México

POR LEONARDO NEVES

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pós oito anos de promoção do México no Brasil, Diana Pomar poderá deixar o País. A nova composição do Governo Federal mexicano decidiu extinguir os escritórios do Conselho de Promoção Turística do México (CPTM), em favor de outros investimentos. A promoção passará a ser feita por meio de um novo órgão que contará com investimento privado. De acordo com a Organização Mundial de Turismo (OMT), o México terminou o ano como o sexto país mais procurado do mundo e líder em viagens na América Latina. Em 2018, o país recebeu 44 milhões de viajantes estrangeiros, a maioria norte-americanos. Nesse período, 355 mil brasileiros visitaram o país – uma alta modesta na comparação com 2017 (0,03%), mas que supera os 30% de aumento nos últimos cinco anos. Deste total, 276 mil chegaram por meio de operadoras e OTAs, uma variação positiva de 4,84% em relação a 2017. Antes de deixar a função de diretora da entidade, Diana Pomar elencou as principais conquistas ao longo dos últimos anos de trabalho. A executiva exaltou o aumento de viajantes brasileiros, o reforço nas parcerias com agências e operadoras, a melhora na conectividade aérea e detalhou o futuro da promoção do turismo do México. Como avalia a relação do Brasil com o novo governo mexicano? O Brasil e o México são as duas maiores economias do continente e hoje existe uma aproximação, não só em questões relacionadas ao turismo. O acordo da indústria que foi assinado recentemente, por exemplo, permite a impor4

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tação de tequila 100% algave do México, isso sem falar no debate de aproximação do setor automobilístico, entre outros. Precisamos fortalecer, cada vez mais, os fluxos bilaterais. Em termos de indústria e tecnologia, os dois países estarão ainda mais próximos.

que será formado. Por enquanto, digo que foi uma honra servir ao meu país.

Como funcionará no curto prazo? Até a formação da nova entidade com investimento privado, os consulados de cada país ficarão responsáveis pela promoção do México. Eu devo ficar no Brasil até março para fechar o escritório e dar consultoria para o cônsul. Estimamos que o novo órgão esteja consolidado nos próximos três meses, a tempo de ser apresentado, oficialmente, durante o Tianguis Turístico México, que acontecerá de 7 a 10 de abril, em Acapulco.

Quais foram as principais conquistas da CPTM no Brasil? Há oito anos, quando comecei a atuar na CPTM, o Brasil era considerado um mercado emergente para os investimentos do Turismo do México. Ao longo desse tempo, trabalhamos focados em segmentos, na avaliação de resultados, viagens através de agências e mídia e conseguimos transformá-lo em um mercado consolidado. Hoje, o Brasil compõe o grupo de sete países (ao lado de EUA, Canadá, Reino Unido, Argentina, Espanha e Colômbia) nos quais há um foco maior em investimentos para promoção. O Ministério de Turismo continuará com o foco nesses mercados, porém, deverá também explorar novos mercados na Ásia e em países emergentes da Europa. No fim do ano passado, a Aeromexico aumentou para três voos semanais as frequências na rota São Paulo (SP) – Cidade do México; a Copa Airlines estreou o voo Panamá – Puerto Vallarta, o que ligou seis cidades do Brasil de maneira mais fácil ao México; e, em junho, a Gol irá operar Brasília (DF) – Cancun. Estivemos presentes nas mídias mais utilizadas pelos brasileiros e, consolidamos ainda mais parcerias comerciais com as operadoras. Também conseguimos nos posicionar em outros segmentos de viagens, não apenas de sol e praia. Consolidamos cultura, eventos de gastronomia, a rota Maia, avançamos no segmento LGBT, romance, luxo e Mice, com congressos e convenções. Nossa oferta de produtos não se restringiu a Cancun; trabalhamos também com outros destinos, como Los Cabos, Puerto Vallarta e Riviera Nayarit.

E quanto ao seu futuro? Neste momento, continuo como diretora da CPTM no Brasil e seguirei com minha agenda de reuniões e treinamentos que já haviam sido marcados. Ainda não há posicionamento do governo se eu permaneço na promoção do México no Brasil, dentro do novo órgão

Como avalia o trabalho feito no último ano? Conseguimos atingir e ultrapassar as principais metas de 2018, com base nos indicadores-chave de desenvolvimento. As conquistas mais relevantes, que precisam ser mantidas de agora em diante, foram a adição da nova frequência da Aerome-

Como será feita a promoção do turismo do México no futuro? A extinção da CPTM não significa o fim das ações do Turismo do México pelo mundo. A promoção será feita por meio de um novo órgão criado pelo Ministério do Turismo, com apoio do Ministério da Fazenda que contará com investimento privado, resultado da parceria com o Conselho Nacional Empresarial Turístico (CNET) e da Conextur. É uma medida de austeridade do novo governo que optou por usar a verba da CPTM para investir na Rail Maya, uma nova linha de trem turístico que vai ligar Cancun às cidades próximas que, atualmente, os turistas não conseguem visitar. Além disso, essa mudança deverá ser benéfica para os destinos de maneira individual, já que eles poderão ter sua própria representação.

xico, com ocupação média de 87%; a nova rota da Copa, que auxilia no fomento do turismo de praia, em Riviera Nayarit, e de luxo, em Puerto Vallarta; e a rota da Gol para Cancun, que é uma aliança estratégica muito valiosa. Estas conquistas foram muito aplaudidas no México, pois conseguir novas frequências e novas conectividades nos fortalece muito. Quais são os destinos mais procurados pelos brasileiros no México? Os destinos de maior confiança dos brasileiros e com as melhores oportunidades de negócios são Cancun, Los Cabos, Riviera Nayarit, Puerto Vallarta e Acapulco. Os destinos de cidades são Cidade do México, Guadalajara, Puebla, Oaxaca e Mérida. Oaxaca está sendo um destino cada vez mais procurado, assim como Yucatán, onde está havendo uma procura por parte de professores e acadêmicos, focados nesse segmento de arqueologia. Qual é o perfil do viajante brasileiro? O brasileiro se assemelha muito ao mexicano. Apesar do aumento e crescimento das OTAs e da tecnologia como um todo, ele gosta muito de lidar com pessoas com olho no olho. Os viajantes do Brasil, em média, costumam passar nove noites no México, com gasto médio de US$ 1,7 mil. Desde outubro, com o fim das eleições, o mercado brasileiro tem mostrado muito dinamismo. Assim que o resultado da presidência foi divulgado, automaticamente, as reservas das linhas aéreas aumentaram. Então podemos esperar um mercado mais ativo para o futuro. A que você atribui o crescimento? Como diz o ditado “o crescimento nunca acontece por acaso e nem por oportunismo. Ele é o resultado de todos os atores trabalhando juntos”. Então, acredito foi o trabalho em conjunto de nós, da CPTM, dos operadores, agentes, membros da imprensa, do consulado geral, das linhas aéreas e de todos os parceiros que foram consolidados através da confiança, da parceria e do esforço de todos.


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PARQUES E ATRAÇÕES

Vsta do parque aquático

Meteor permite o visitante chegar a uma velocidade de até 100km/h

Alain Baldacci, presidente do Wet’n Wild

Adrenalina nas alturas Wet’n Wild investe R$ 6 milhões nas atrações Cyclone e Meteor e registra aumento de 47% do público em comparação ao ano passado POR FELIPE LIMA

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Wet’n Wild, parque aquático no interior paulista que completou 20 anos em 2018, decidiu comemorar a data oferecendo aos seus visitantes duas novas atrações: Meteor e Cyclone. As novidades, responsáveis pelo investimento de R$ 6 milhões, fazem parte do plano de modernização do empreendimento, que visa atrair novos clientes e despertar o desejo de retorno dos que já o conhecem. Alain Baldacci, presidente do Wet’n Wild, afirma que os novos brinquedos vão impulsionar o número de visitantes em 2019, quando se espera uma média de crescimento de 15%. “No nosso último 6

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levantamento, entre os dias 20 de outubro e 28 de janeiro, registramos um aumento de 47% do público em comparação ao mesmo ínterim do ano passado”, se orgulha o profissional. A decisão de inaugurar os dois novos tobogãs vem após quatro sem nenhuma nova atração, já que, ainda segundo Baldacci, os investimentos estavam sendo direcionados a modernizações e revitalizações em atrações já existentes. Antes de Cyclone e Meteor, a última atração inaugurada foi o Vortex, em 2014. O tobogã Cyclone possui uma cápsula situada a uma altura de 22 metros, que permite ao visitante a

sensação de queda livre fazendo-o passar por um looping de 360° na horizontal antes de chegar à piscina. Já o Meteor, detentor do título de maior tobogã com cápsula do mundo, está a uma altura de 40 metros, o equivalente a um prédio de 13 andares. Nele, o amante de adrenalina despenca da cabine para o tobogã com inclinação de 70°, chegando à piscina a uma velocidade de até 100 quilômetros por hora. SAZONALIDADE O parque recebe 400 mil visitantes por ano, com pico de visitação entre outubro e março, segundo o

O Meteor, de 40 metros, fica acima da outra atração recém-chegada, o Cyclone

presidente do empreendimento. “Férias e verão é uma ótima combinação. De outubro a março registramos nossa melhor temporada, seguido por queda nos três meses seguintes e retomada em julho, por conta das férias”, explica Baldacci. Dos visitantes que marcam a presença no verão, o executivo afirma que 5% faz parte do público internacional. Baldacci estima que esta parcela cresça em breve. “Estes anos foram muito difíceis para o Turismo. Ainda é pouco se fôssemos comparar com o que gostaríamos, mas acreditamos que é possível crescer, principalmente no Mercosul”, estima Baldacci.


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ARTIGO David Leslie Autor do livro “Turismo para Leigos e Curiosos”. leslie@cbsmarketing.com.br

Passageiro... O que é o que é?

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palavra tem origem no antigo francês passagier (atualmente: passager), possuindo diversos conceitos e uma boa quantidade de “vizinhas” que não apresentam vínculo familiar e nada têm a ver com o vocábulo original. De acordo ao Dicionário Aurélio: “Passageiro é um local por onde passa muita gente; Algo transitório, efêmero; De pouca importância; Ligeiro, insignificante; Pessoa que viaja num veículo; Viajante de automóvel, trem ou avião”. No mundo dos profissionais que lidam com transporte, viagens e turismo, a palavra tende a identificar a pessoa que é levada (num veículo e/ou por qualquer outro meio de transporte) de um lugar para outro (por via terrestre, marítima, fluvial e/ou aérea). Passageiro se aplicaria também a algo que passa, que é temporário, de pouca duração, não permanente, ou mesmo de pouca importância. Por exemplo: “esta dor de cabeça é passageira”, “este calor é passageiro”, “esta tristeza é passageira”. Entre os vocábulos “vizinhos”, encontramos conceitos como passado (um tempo que, em nossa percepção empírica, já passou); de passante (transeunte); de passagem (espaço ou forma que permite atravessar e/ou percorrer para ir de um lado a outro); passagem de ano e passaporte (documento de identidade oficial que autoriza alguém a sair do seu país e ingressar em outro ); entre muitos outros. Poderíamos também falar em “passar roupa”, “passar um assunto a limpo”, “passar de ano na escola”, “passar um tempo na casa dos tios”, “passar por cima de um desentendimento qualquer”, “passar mal devido à polui8

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ção do ar”, etc. Seria, por certo, errado considerar os agentes destas ações (isto é, aqueles que “passam roupa” e/ou que “passam de ano na escola”) como passageiros ou, mesmo, passantes. Chamamos, também, de “bilhete de passagem” aquele documento que dará permissão para o passageiro utilizar um transporte qualquer. Certamente encontraremos, neste mesmo documento, informações detalhadas sobre o transporte contratado, tais como: trecho incluído para o transporte adquirido, classe ou assento a ser utilizado, eventual direito ao transporte de bagagem acompanhada, dia e horário de saída deste transporte, condições gerais e, até mesmo, contrato entre quem utilizara este transporte ou quem adquiriu ou pagou pelo mesmo, e quem se responsabilizará e/ou operará o transporte em si. Deveríamos nos referir, preferencialmente, aos participantes de uma excursão ou de um tour e não a “passageiros” de uma excursão e/ou de um tour (apesar da nomenclatura estar correta, especialmente quando a excursão e/ou o tour se realiza, em sua totalidade, a bordo de um mesmo veículo). Todo profissional que atua em qualquer uma das áreas ligadas a transporte, viagens e/ou turismo sabe, muito bem, que o passageiro é a pessoa mais importante para o seu negócio; que o mesmo não depende dele, mas que é ele quem depende do passageiro; que o passageiro faz parte do seu ramo de atividade e não se constitui num estranho em seu ninho; que é o passageiro quem paga o seu salário e que lhe possibilita o seu sustento; que o passageiro merece o seu maior respeito, dedicação e atenção... Sempre.


MARKETING Ricardo Hida CEO da Promonde, formado em administração e pós-graduado em comunicação ricardo@promonde.com.br

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A autenticidade é autêntica?

m recente entrevista à revista Veja, o jornalista norte-americano, viajante e grande conhecedor do Brasil, Seth Kugel, levanta uma questão importante: autenticidade. A nova geração que escreve posts de internet, anúncios e jingles, infelizmente não toma os mesmos cuidados que fizeram de Washington Olivetto, David Ogilvy, Guanaes e Ricardo Freire gênios da publicidade. Basta uma foto bonita e um texto repleto de exageros e autoelogios. Tudo é superlativo. Tudo é único. Tudo é mais. Tudo é maior. E tudo é melhor. Além da mentira descarada, fica também a impressão que tudo é igual. Só o ruim, pequeno, menor é diferente. E para fugir da arapuca que os marqueteiros criaram para si próprios resolveram, tropegamente, a questão abusando do adjetivo autêntico. Tudo, então, virou autêntico. E o exemplo maior, citado por Kugel, é a Vila Madalena. Lojinhas descoladas, meninas com cortes de cabelos assimétricos, perfumes orientais e roupas com shapes exóticos andando de mãos dadas com rapazes de óculos escuros redondos, camisas floridas, barbas e milhões de pulseiras. Tudo tão “autêntico” que pode ser encontrado no Soho, no East Village, no Castro, em Ginza, no Marais e em todos os países nórdicos. Com a globalização, ninguém sabe mais o que é autenticidade. Descer em Portugal ouvindo Roberto Leal, dormir em uma oca na Amazônia cercado de índios que vestem cocares e se pintam apenas quando chegam ônibus de turistas não é autêntico. É cenográfico. Afinal, a vida hoje dos índios não é mais aquela que se vende nos pacotes – caríssimos - de muitas agências de luxo. Neste mesmo espírito – e a escolha da palavra espírito não é acidental – deixa de ser autêntico

àquele indivíduo que se apresenta iluminado aos amigos porque decide meditar no Butão, no Nepal e na Índia, quando nunca passou perto de um mosteiro ou leu algo sobre Buda aqui no Brasil. O filósofo Luiz Felipe Pondé chama esse movimento de “experiência transcendente instagramável de espiritualidade para idiotas”. O mesmo ocorre com o tal do volunturismo. Gente que nunca se prontificou a ajudar nem a mãe a pintar a casa, mas se debulha em lágrimas nos stories do Instagram em uma viagem de férias próximo a campos de refugiados sírios na Europa ou em aldeias africanas. Em absoluto debochamos de quem busca experiências espirituais e humanitárias. Mas por que ocorre só nas férias e em lugares que influenciadores determinaram como must go? Colocamos em dúvida a autenticidade de tais experiências. São uma expressão dos valores dos indivíduos ou apenas uma forma de gerar conteúdos nas redes sociais e nos churrascos com amigos? Autenticidade é verdade. Toalha quadriculada verde e vermelha em restaurante do Bixiga não é algo autêntico. Decorar restaurante em Curitiba com areia e coqueiro não é autêntico. Implantar um hotel com atmosfera parisiense ou londrina em São Paulo é fake. Não quer dizer que nada disso seja bom, mas não é autêntico. Uma baiana do acarajé em Salvador só é autêntica se ela carrega a cultura dos Orixás em sua vida pessoal. Ser autêntico é ser verdadeiro. A cultura do chimarrão no Sul é o máximo da autenticidade porque o gaúcho carrega o mate até quando vai à praia. Não é possível pensar em ofertas autênticas no turismo brasileiro se não refletirmos o quanto somos reais e conscientes de nossos valores e padrões estéticos. Não há, neste quesito, certo e errado. Mas há, certamente, real e fantasioso. www.brasilturis.com.br | Brasilturis

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DIREITO João Bueno Advogado especialista em associações e consultor jurídico para empresas de turismo e hotelaria. Membro da Comissão de Direito Aplicado à Hotelaria e Turismo da OAB-SP joaobueno@buenonetoadvocacia.com.br

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Extravio de bagagem: quais são meus direitos?

om toda certeza, você ou alguém muito próximo a você, já teve problemas com bagagem extraviada durante deslocamentos aéreos. Para ajudar o agente de viagens nesse período de alta demanda, achei apropriado trazer esclarecimentos sobre o tema, permitindo assim que você tenha a informação sobre direitos, amparo legal existentes e, principalmente, quais são as medidas indicadas, preventivamente, para informar seu cliente e, assim, minimizar os riscos. Inicialmente, é importante citar que o Brasil é signatário de um acordo mundial que tratou de estabelecer as regras necessárias ao ordenamento do transporte aéreo internacional. Este documento é conhecido como “Convenção de Varsóvia” e data do longínquo ano de 1929. Claro que, em função dos avanços e explosão demográfica, ele já sofreu uma série de atualizações - como o Acordo de Montreal, por exemplo, datado de 1975. Neste tratado, encontramos a previsão sobre o extravio de bagagem que estabelece um teto e um limite para pagamento de indenizações, valorando, assim, a bagagem transportada sem levar em conta se o volume continha ou não objetos de valor que ultrapassem o teto estabelecido. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em suas normas sobre o tema, segue a orientação da Convenção de Varsóvia fixando um valor limite para ressarcimento, como trataremos mais à frente. Em paralelo, temos o Código de Defesa do Consumidor (CDC) como ordenamento jurídico consumerista. Ele regula todas as relações de consumo efetivadas em território nacional e traz a previsão que o prestador é responsável por ressarcir integralmente o dano causado ao consumidor. Assim, temos a regra que, no caso de extravio de bagagem, a companhia aérea envolvida tem a responsabilidade legal de ressarcir o consumidor/passageiro de valor sem limitações, mas respeitando os limites da razoabilidade e bom senso. Nota-se que as duas normas são conflitantes, uma vez que uma estipula valores limitados para ressarcimento e outra, desde que comprovados e razoáveis, não estabelece um teto para a indenização. Para resolver o impasse, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em meados de 2017, que a indenização ao consumidor referente a extravio de bagagem em voos internacionais deve ser calculada de acordo com as Convenções de Varsóvia e Montreal, que 10 Brasilturis

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regulam o transporte aéreo internacional. A decisão foi muito contestada pelos órgãos de proteção aos direitos dos consumidores, uma vez que ela foi contra ao Código de Defesa do Consumidor, ordenamento jurídico nacional que trata das regras de consumo. O ponto em questão foi o fato de o extravio ter acontecido em voos internacionais, e desta maneira, a regra deveria ser os tratados internacionais vigentes sobre o tema. E quanto aos voos nacionais? A Anac baixou normas no mesmo sentido, através da resolução nº 400 de março de 2017, sobre o extravio de bagagem, estabelecendo que, caso a mala não seja encontrada, vale a indenização no valor de 1.131 Direitos Especiais de Saque (DES). Segundo cotação vigente em julho de 2018, o consumidor teria direito a ser ressarcido em, no máximo, R$ 5.952,45. Muitas vezes estas limitações são injustas e, em alguns casos, sequer reparam o valor da mala em si. Diante deste quadro, o mais indicado é que o viajante declare o valor da bagagem por meio de formulários próprios existentes para tal, garantindo, assim, que em caso de extravio, irá receber um ressarcimento mais condizente com a realidade de seus objetos transportados. Vale lembrar que, além do formulário, é importante registrar de alguma maneira o que está se transportando, através de notas fiscais, fotos e/ou filmes que são acessíveis atualmente em função da tecnologia. É importante destacar que a declaração não vale para joias, equipamentos eletrônicos e papel moeda, que devem seguir junto ao viajante, acomodados na bagagem de mão. Outra dica é a confecção de um seguro que tenha cobertura para os casos de extravio de bagagem. Existe uma série de opções no mercado e sempre é uma boa medida de prevenção e minimização de riscos ao viajante. É importante ressaltar também o prazo para propositura de eventual ação judicial buscando reparação de danos, que é de dois anos, contados a partir da data do sinistro. A orientação também contraria o Código de Defesa do Consumidor que estabelece o prazo de cinco anos. Para saber mais sobre as regras que envolvem o transporte aéreo no Brasil, indico a cartilha que o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor disponibilizada em www.idec. org.br. Outra fonte idônea de consulta é o site da Anac: www.anac.gov.br.


SEGURADORA

Indenização total

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pesar de ser um produto formatado para resolver demandas de saúde, urgências e emergências médicas dos passageiros, o seguro viagem tem sido muito utilizado para resolver questões relacionadas a bagagens. Segundo Fabio Pessoa, gerente responsável pelo segmento na Omint, a demora no recebimento e o extravio dos volumes estão na lista de ocorrências mais comuns na central de atendimento. “Além das peças habituais, muitas vezes os viajantes transportam presentes, souvenires, além de itens essenciais para a viagem. No caso de voos de ida, costumam ser peças de roupa específicas para estações rigorosas, ou mesmo equipamentos para determinados fins – entre eles, acessórios para cuidados com bebês, por exemplo”, declarou. Segundo Pessoa, voos com conexão, falhas durante o check-in, descolamento da etiqueta, furtos

na área interna do aeroporto e simples enganos - quando passageiros confundem as malas - estão entre as causas mais comuns de extravios de bagagens. Para esses casos, o Seguro Viagem Omint realiza integralmente a ponte entre segurado e companhia aérea. “Realizamos a cobertura completa ao passageiro, com indenização total e atendimento qualificado, mesmo que a companhia aérea não seja responsabilizada”, esclarece o executivo. Atualmente, menos de um terço dos viajantes brasileiros atravessam fronteiras com seguro viagem na bagagem, de acordo com cruzamento de dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep) e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A maioria desses quase 30% de turistas faz a contratação apenas quando há essa exigência no país de destino, como no caso das nações europeias que fazem parte do Tratado de Schengen.

COMO EVITAR? Fabio Pessoa, gerente responsável pelo segmento de produtos para viagens na Omint, lista os principais cuidados para minimizar as chances de seu cliente ter contratempos com bagagens: 1. Limpeza geral - É recomendável eliminar as etiquetas de voos anteriores para não confundir os operadores dos aeroportos. 2. Visual único - Identificar as malas com etiquetas e elementos chamativos, como lenços, fitas e laços em cores diferentes. 3. Sem excessos - Segundo o executivo, malas com detalhes sofisticados podem chamar a atenção de contraventores. Pelo mesmo motivo, celulares, eletrônicos portáteis, celulares, joias, dinheiro, cartões de

crédito e outros objetos de valor devem ficar na bagagem de mão. 4. De olho no relógio – O passageiro deve evitar fazer o check-in muito próximo ao horário de embarque. Também deve redobrar a atenção a conexões menores que 1h em voos nacionais e 2h nos internacionais. 5. Para emergências – Oriente seu cliente para levar sempre uma muda de roupas limpas, além de itens essenciais de higiene pessoal e medicamentos na bagagem de mão para contornar os imprevistos.

WETN WILD

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POLÍTICA

Novas caras (e velhos conhecidos) do Turismo Secretários e presidentes apresentaram os planos preliminares de acordo com as demandas de cada estado POR FELIPE LIMA, JANIZE COLAÇO E LEONARDO NEVES

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ano é de expectativas. Após um período incerto, marcado pela instabilidade político-econômica, que se estendia desde o final de 2014, o País passou a flertar com um clima de otimismo. Ao fim das eleições, com os resultados obtidos,

as mudanças eram certas – e não deixariam de lado o Turismo. Algumas das 27 unidades federativas, além de darem início a uma nova gestão governamental, revelaram as novas composições das secretarias de turismo. O prin-

ALAGOAS (AL)

Rafael Brito, secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Alagoas

O objetivo de Alagoas é conseguir se consolidar como destino turístico também entre as menores cidades do País, fortalecendo as promoções e atraindo novos mercados. O objetivo é crescer em 10% o número de turistas até 2022, contando com os futuros empreendimento hoteleiros, bem como com aqueles que estão se aprimorando. Para isso, a ideia é continuar dialogando com os países do Mercosul e com o trade, além de expandir as ações para a promoção do destino na América do Norte e no continente europeu. As capacitações também visam auxiliar neste incremento de visitantes, apresentando aos vendedores “uma Alagoas diversa e preparada para receber o turista, seja ele de lazer, aventura, negócios ou cultural”, como afirma Rafael de Góes Brito, secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo. Com a nova gestão política, Brito ainda afirma esperar fomento e divulgação dos destinos turísticos, tendo em vista, por exemplo, a expansão de mais de 100% da participação de Alagoas no Mapa do Turismo do Ministério do Turismo (MTur). “Capacitar os destinos para que eles possam receber o turista e trazer novos voos para Alagoas continuam sendo medidas importantes que fazem jus à importância do Estado no cenário turístico nacional”, finaliza o secretário. 12 Brasilturis

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cipal objetivo, aliás, mostrou-se comum em todas elas: dar respaldo ao desenvolvimento do setor. Levando em conta as demandas e particularidades de cada estado, os novos secretários e presidentes das autarquias terão

AMAZONAS (AM) Roselene Medeiros, presidente da Amazonastur

Levando em consideração uma possível economia estabilizada e nas ações que estão sendo implementadas pela nova gestão da Amazonastur, as expectativas são de um aumento de 12% de visitantes até 2022, totalizando cerca de 860 mil turistas. De acordo com Roselene Medeiros, presidente da Amazonastur, o potencial turista precisa enxergar as infinidades de segmentos que abrangem o estado e experimentar diferentes produtos. “Devemos incluir nesse ‘menu’ ainda os atrativos culturais BAHIA (BA) Conforme apurado pela reportagem até o fechamento desta edição, José Alves permanece como secretário estadual de Turismo até que Rui Costa, governador da Bahia, anuncie os futuros secretários do estado. Ainda não há previsão para tal anúncio.

CEARÁ (CE) No Ceará, Arialdo Pinho permanece na gestão da Secretaria de Turismo. A reportagem tentou contato com o profissional, contudo, não obteve respostas sobre planos e expetativas para o novo mandato.

quatro anos para alcançar o que propõem. Ao Brasilturis, algumas dessas novas figuras apresentaram planos preliminares. Conheça, abaixo, o representante de cada estado e suas propostas.

e urbanos, que são únicos no estado. Para isso, desenvolveremos uma estratégia de promoção mais eficaz e eficiente”, destaca. Na questão da infraestrutura, a ideia é interagir com diferentes segmentos para a melhoria, desde os serviços básicos aos mais específicos. “O turismo precisa ser uma política de estado, não apenas de uma estrutura governamental”, alerta Roselene. A presidente da Amazonastur destaca que a revisão na Lei Geral do Turismo, e a malha aérea e viária são questões fundamentais e exigem soluções do governo central, para que o estado se desenvolva de forma satisfatória. “Outro item importante está no estímulo e financiamento a obras de infraestrutura turística, especialmente num momento em que os estados passam por uma crise de arrecadação”, complementa. DISTRITO FEDERAL (DF)

A secretaria de Turismo do Distrito Federal está sob o comando de Vanessa Mendonça, ex-diretora de marketing do MTur. De acordo com ela, é fundamental contar com o apoio e incentivo do Ministério do Turismo (MTur) para o desenvolvimento do setor. “Brasília é um dos principais hubs nacionais. Estrategicamente é um centro de excelência para o turismo de eventos nacional e internacional, tem um entorno completo para o desenvolvimento do turismo rural e de aventuras, além de ser a principal cidade brasileira como destino para o turismo cívico. Com todas essas características e com muito trabalho, tenho certeza que iremos projetar a capital federal para todo o Brasil e exterior”, diz. A ideia é reformar e revitalizar os Centros de Atendimento ao Turista e qualificar seus servidores. Além disso, haverá investimento em promoção turística em diversos nichos, como captação de eventos, turismo cívico, rural e de esporte, bem como trabalhar conjuntamente com toda a cadeia produtiva do segmento, potencializando as qualidades que a capital federal possui e transformando-as em desenvolvimento e geração de renda.


ESPÍRITO SANTO (ES)

MATO GROSSO DO SUL (MS)

Dorval Uliana, secretário de Turismo do estado do Espírito Santo

O fluxo de turistas no Espírito Santo é crescente e, segundo Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), o estado teve a maior alta de venda turística do Brasil, com 8,8%, superando estados considerados tradicionais e destinos já consolidados, como Pernambuco e Ceará. De acordo com Dorval Uliana, secretário de Turismo do Espírito Santo, cabe ao estado viabilizar políticas públicas que incluam a promoção turística tanto no Brasil quanto em outros países, articulando e viabilizando a capacitação com outras instituições, bem como buscando e disseminando conhecimento e tecnologia que complementem as atividades turísticas. Uliana espera clareza e execução de políticas públicas que permitam recursos para infraestrutura de forma equitativa e que as oportunidades de promoção nacional e internacional sejam fortalecidas. “O estado precisa viabilizar, por exemplo, um centro de eventos competitivo, à altura do exemplo de boa gestão pública que vem apresentando historicamente. O diálogo com os entes federativos também é primordial para crescermos juntos e fortalecermos a atividade como um todo. Afinal, somos um só País, mas com uma diversidade de atrativos que poucas nações possuem”, finaliza. GOIÁS (GO)

Fabrício Amaral, presidente da Goiás Turismo

Após incertezas quanto à manutenção da Goiás Turismo, cuja possibilidade de extinção foi duramente criticada pelo trade e dos municípios turísticos do estado, a autarquia será presidida por Fabrício Amaral. “Estou bastante otimista com a gestão e confiante de que alcançaremos bons resultados”, revelou. Em entrevista ao Brasilturis, o presidente pontuou preliminarmente alguns de seus planos. O destaque vai para o fortalecimento da malha aérea de Goiás. “A conectividade ainda tem muito a ser desenvolvida. Queremos trazer novos voos, conectando os viajantes domésticos e internacionais ao estado.” Entre os visitantes estrangeiros na mira da autarquia, estão os sul-americanos e europeus, que buscam, sobretudo, o ecoturismo. Outro ponto reforçado por Amaral é a criação de um Conselho Estadual de Turismo. As cadeiras serão ocupadas majoritariamente pelos empresários do setor. “O governo não será protagonista das decisões, mas coadjuvante. Nós daremos segurança jurídica às decisões do trade, ao mesmo tempo em que cobraremos respaldo ao Ministério do Turismo”, destacou.

Bruno Wendling, diretor-presidente da Fundtur

MINAS GERAIS (MG)

Romeu Zema, governador do Estado de Minas Gerais

O governador Romeu Zema fundiu as secretarias de Cultura e do Turismo na reforma administrativa encaminhada à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Ainda não há nome definido para ocupar a nova pasta e o processo de seleção seguirá a forma de recrutamento por empresa de recursos humanos, assim como foram feitas para as outras secretarias. Inicialmente, a previsão era de que a Cultura fosse integrada à Secretaria de Educação e que o Turismo entrasse na estrutura do Desenvolvimento Econômico, porém o governador voltou atrás. Por enquanto, o vice-governador, Paulo Brant, responde pelas pastas da Cultura e do Turismo. “Nosso estado tem uma rica tradição histórica e cultural. São atividades que já têm uma interface naturalmente”, avalia o governador, citando as atratividades turísticas de Minas Gerais com as cidades históricas que preservam a cultura da mineiridade.

A Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul (Fundtur) manterá Bruno Wendling na presidência. Ele é especialista em Ecoturismo/Planejamento e Interpretação em Áreas Naturais, já tendo atuado como técnico do Ministério do Turismo. Entre os planos para o estado, está a atração de investidores, parcerias com a indústria do Turismo e uma menor participação nas feiras. “Não se trata de encerrar a participação em todas as feiras, Abav Expo e WTM Latin America seguem como nossas prioridades. Não queremos nos afastar do trade, mas poder, justamente, nos concentrar em trazer resultados eficientes para o estado e ao setor privado”, esclareceu. Segundo ele, o intuito é se aliar a operadoras e agências na promoção dos destinos turísticos. Outro plano é dar meios para que a malha aérea do Mato Grosso do Sul seja ampliada. Uma das estratégias poderá ser a redução do ICMS. Além de voos diretos com outras cidades brasileiras, o intuito também é facilitar a presença de chilenos e estadunidenses. Audacioso, ainda para o primeiro trimestre deste ano, Wendling espera uma alta de cerca de 20% na ocupação hoteleira. “Para até 2022, estudamos meios de crescer com responsabilidade.”

MARANHÃO (MA) Após se reeleger, o governador Flávio Dino não deverá fazer muitas alterações em equipe durante a nova gestão. Com o lema “em time que está ganhando não se mexe”, que embalou a sua campanha, Dino deverá manter Diego Galdino de Araújo à frente da Secretaria de Estado da Cultura e Turismo. De acordo com a imprensa local, o governador deverá anunciar algumas mudanças em meados de fevereiro. Na secretaria desde 2016, Araújo não respondeu o contato feito pelo Brasilturis até o fechamento desta edição.

MATO GROSSO (MT)

Jefferson Preza, secretário-adjunto de Turismo do Estado de Mato Grosso

Com o novo governo, algumas pastas passaram por mudanças. Entre elas, o Turismo, que ficará sob o guarda-chuva da Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Jefferson Preza Moreno assumiu como titular à frente da secretaria-adjunta de Turismo de Mato Grosso. Moreno saiu da iniciativa privada em 2013, quando assumiu o cargo de secretário-adjunto de Turismo na Prefeitura de Cuiabá, no qual permaneceu até 2016. Entre 2017 e 2018, foi assessor parlamentar na Câmara dos Deputados e, agora, foi convidado para assumir a gestão do Turismo estadual. A prioridade, segundo ele, é finalizar obras inacabadas, captar novos recursos para infraestrutura de Turismo e ainda conduzir, em parceria com o trade, políticas públicas para o setor. www.brasilturis.com.br | Brasilturis 13


PARÁ (PA) O governador eleito, Helder Barbalho, incorporou a Secretaria de Turismo à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme). A secretaria será comandada pelo deputado estadual, Iran Lima, reeleito nas últimas eleições. Até o fechamento desta edição, contudo, a Sedeme não sinalizou como fica a situação do Turismo no Pará. Até o momento, nenhuma secretaria-adjunta, autarquia ou responsável foi apontado.

PARAÍBA (PB)

Ruth Avelino, presidente da PBTur

João Azevêdo, governador reeleito, anunciou no fim de dezembro que Ruth Avelino seria mantida à frente da Empresa Paraibana de Turismo (PBTur). Desde 2011, a jornalista tem se dedicado à promoção turística do estado. Entre os principais pontos que deverão ser focados nesta nova gestão, está o Polo Turístico Cabo Branco. “Lotes serão liberados para empresários brasileiros e estrangeiros construírem resorts e flats, em uma área privilegiada na frente do Centro de Convenções. Este projeto está parado desde 1988, quando foi criado, e agora será incrementado”, revelou ao Brasilturis. Com isso, segundo Ruth, bandeiras internacionais interessadas em investir no Nordeste serão atraídas. “O Governo da Paraíba vai continuar lutando por mais voos nacionais e internacionais, pela melhoria da qualificação da mão de obra que atua no setor, e também por mais promoção para o consumidor final. Vamos trabalhar para ter um crescimento na casa dos 20% até o ano de 2022”, revelou. 14 Brasilturis

Fevereiro | 2019

PARANÁ (PR)

João Jacob Mehl, presidente do Paraná Turismo

João Jacob Mehl, nome ligado ao trade turístico paranaense, foi indicado pelo governador eleito Carlos Massa Ratinho Júnior como novo presidente da Paraná Turismo. Ele já teve passagem como diretor da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), e também como presidente do Sindicato Empresarial de Hospedagem e Alimentação (SEHA). Até o fim da gestão, em 2022, Mehl pretende dobrar o número de visitantes no estado. “Por ano, recebemos 1,5 milhão de turistas. O nosso plano será dobrar esse número em quatro anos”, revelou. Segundo ele, o próprio governo estadual dará respaldo para isso. Da verba para promoção do Paraná, cerca de 35% será destinada exclusivamente ao Turismo. Outro plano do novo presidente é dar condições para a construção de novas marinas. “Planejamos duas baias no litoral e aproveitar o potencial que o Turismo náutico tem. Além disso, daremos início às concessões dos parques naturais para a iniciativa privada, investindo no turismo ecológico.”

PERNAMBUCO (PE) Rodrigo Novaes, secretário de Turismo do Estado de Pernambuco

O novo secretário, Rodrigo Novaes, segue a tendência de outros estados. O executivo espera fomentar ainda mais o turismo em destinos pouco consolidados. “Alguns destinos já conhecidos e consolidados enfrentam desafios em infraestrutura e promoção, que precisa ser intensificada. Porto de Galinhas, Fernando de Noronha, Recife e Olinda são os principais casos onde temos que dar um olhar atencioso para conquistar novos mercados”, afirmou. O secretário destacou também os destinos precisam ser ‘descortinados’, principalmente no interior do estado. “Muitos deles têm belezas, potencial, cultura e tradição suficiente, mas precisam do estado para fomentar as visitas. Ao longo dos próximos meses queremos desenvolver essas ações”, destacou Novaes. Ele apontou, ainda, o desenvolvimento de ações para auxiliar a chegada de novos empreendimentos em Pernambuco. “Precisamos destravar as coisas para que possamos permitir a chegada de novos empreendimentos, gerar mais empregos e, também, atrair turistas do Brasil e do mundo, principalmente europeus e da América Latina, conquistando mais voos. Estamos atentos ao mercado chileno”, finalizou.

RIO DE JANEIRO (RJ)

Otávio Leite, secretário de Turismo do Estado do Rio de Janeiro

Otávio Leite destacou a ênfase que o turismo terá na gestão do governador Wilson Witsel que, inclusive, afirma que o segmento será o “novo petróleo”. O secretário, porém, enfatizou o foco na melhoria da segurança pública pra aquecer o turismo no estado. “A rigor, pode-se dizer que o Rio de Janeiro é um produto pronto para ser vendido. A estrutura hoteleira tem um excelente nível, há profissionais extremamente qualificados e o interior do estado possui serviços e opções de lazer. Portanto, demonstra um potencial de crescimento”, destacou. Leite ainda sustentou que o turismo não pode ter entraves políticos e ideológicos, sustentando que seu desenvolvimento precisa envolver todas as esferas e partidos. “Sempre sustentei, ao longo de 26 anos de vida pública, que o turismo é um setor tão importante e estratégico que merece tratamento suprapartidário. Nesse sentido, a parceria com os municípios e, em especial, com o Governo Federal será a tônica do nosso trabalho”, defendeu. RIO GRANDE DO NORTE (RN)

Ana Maria Costa, secretária de Turismo do Estado do Rio Grande do Norte

Ana Maria Costa aposta na geração de renda e emprego através do turismo e exaltou os diferentes segmentos que o estado pode oferecer ao viajante. Além disso, a secretaria crê em alta de visitantes e aposta nos eventos. “As expectativas são as melhores, tanto no resultado das ações de promoção do turismo de lazer, com a esperada retomada da economia nos próximos anos, quanto na ampliação do nosso Centro de Convenções, que dobrou a capacidade do equipamento. Vamos trabalhar fortemente a captação de grandes eventos, neutralizando os efeitos da baixa temporada e mantendo a ocupação em todos os períodos do ano.” Apesar de estar responsável pelo turismo em um estado governado pela oposição do atual governo, Ana Maria acredita que o relacionamento com a esfera federal será boa. “Vamos lutar para a retorno dos Escritórios Brasileiros de Turismo, que são os representantes de mercados indutores internacionais da Embratur, de fundamental importância para o relacionamento comercial dos destinos”, enfatizou.


SANTA CATARINA (SC)

Lucas Esmeraldino, secretário de Turismo do Estado de Santa Catarina

RIO GRANDE DO SUL (RS)

Dirceu Franciscon, secretário de Turismo do Estado do Rio Grande do Sul

Dirceu Franciscon aposta na regionalização do turismo do estado, além de elencar uma série de outros pontos que serão prioritários até 2022. “Continuação e ampliação do planejamento e estruturação da oferta turística, segmentação do Turismo; qualificação dos equipamentos e serviços turísticos; promoção do destino Rio Grande do Sul nos principais mercados emissores e dentro do próprio estado e acompanhamento dos resultados alcançados”, elencou. Franciscon também espera apoio do Governo Federal para obras de espaços turísticos, além de mais ações de promoção no exterior. “Apoio à infraestrutura, incluindo a construção e reforma para adequação de espaços de interesse turístico, retorno à liberação de recursos através da verba descentralizada, liberação de recursos para o Cadastur e apoio na Promoção dentro e fora do País”, disse.

O secretário exaltou os impactos do turismo no estado – que responde, hoje, por 13% do PIB catarinense - e já traçou um plano de fomento com base na regionalização. “A ideia é identificar e alavancar o potencial de cada região, com ações de valorização, buscando crescimento e produzindo um ciclo virtuoso que, certamente, irá aquecer a economia e ampliar a geração de empregos, além de valorizar toda a cadeia da indústria, do comércio e do serviço”, afirmou. Além disso, Esmeraldino traçou um plano ambicioso até o fim de sua gestão. “Precisamos reconhecer, integrar e aproveitar as melhores práticas, e considerar o turismo como setor estratégico para a economia do nosso estado, ao encontro também do que o nosso governador, Carlos Moisés, tanto defende. Nossa missão será colocar o estado no mapa do turismo mundial até 2022”, enfatizou. SÃO PAULO (SP)

Vinicius Lummertz, secretário de Turismo do Estado de São Paulo

O secretário defendeu, durante reunião com a Associação das Prefeituras das Cidades Estância do Estado de São Paulo (Aprecesp), uma maior articulação entre as 70 estâncias paulistas. “Sabemos a importância do estado para visitação das cidades do interior e do litoral. Temos o principal aeroporto da América Latina e a visão do que ele pode promover com o turismo de ‘stopover‘, podendo estender essas visitações que ocorrem durante as paradas de conexão”, disse Lummertz. No evento, Lummertz sinalizou os esforços para que todas as ações das estâncias tenham como foco o incremento do fluxo de turistas. “Organizada, a regionalização é a melhor resposta para o desenvolvimento dos destinos”, concluiu. Procurado pela reportagem do Brasilturis, Vinicius Lummertz não retornou contato para comentar outras iniciativas de sua gestão. A equipe de reportagem entrou em contato com as secretarias de Turismo do Acre (AC), Amapá (AP), Piauí (PI), Rondônia (RO), Roraima (RR), Sergipe (SE) e Tocantins (TO), mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.

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AVIAÇÃO

Turbulência

Especialistas em aviação e direito avaliam a situação da Avianca Brasil e explicam os próximos passos do plano de recuperação judicial proposto pela aérea que tem quase R$ 500 milhões em dívidas acumuladas POR JANIZE COLAÇO

H

á cerca de dois meses, a Avianca Brasil tornou-se um assunto quase que diário nos noticiários. A quarta maior companhia aérea brasileira foi acionada judicialmente, nas últimas semanas de 2018, pelo não pagamento do arrendamento de aeronaves, uma dívida acumulada que beira os R$ 500 milhões. Para evitar que os aviões fossem retomados e as atividades prejudicadas, a decisão foi encaminhar um pedido de recuperação judicial à 1ª Vara Empresarial de São Paulo. A companhia afirmou que a solicitação foi feita a fim de proteger os passageiros. “Como primeira decisão da Justiça, teve seus pedidos garantidos, como a liberação de sua frota para o cumprimento de todos os voos programados nos aeroportos onde opera”, descreveu a empresa, em comunicado oficial. No documento, a Avianca Brasil argumenta que a retomada dos aviões acarretaria na redução de 30% da sua frota. “Sofremos com a alta do dólar, com o aumento histórico do querosene de aviação e com a greve dos caminhoneiros. Tivemos que parar e rever nosso plano para o ano e era parte fundamental deste exercício a negociação de nossos contratos de leasing de aeronaves. Infelizmente, enfrentamos dificuldades nesse processo”, revelou Frederico Pedreira, presidente da Avianca Brasil no LinkedIn, reforçando a intenção de proteger clientes e operações. Apesar disso, ao mesmo tempo em que protege os credores, o pedido de recuperação não cobre os arrendamentos – fonte de toda a frota de 46 aeronaves da empresa. A companhia tem negociado com as empresas de leasing há cerca de dois meses. Em dezembro, a BOC Aviation e a Constitution Aircraft, empresas de Cingapura e Irlanda, respectivamente, conseguiram liminares que determinaram a devolução de 12 das 60 aeronaves arrendadas. Ainda no mesmo mês, a BOC teria informado a recuperação de 16 Brasilturis

Fevereiro | 2019

dois aviões, enquanto a Constitution obteve uma. Já com a aprovação do pedido de recuperação, no último dia 14 de janeiro, a Avianca conseguiu estender por mais duas semanas o prazo de apresentação de um plano de pagamento de dívidas atrasadas às empresas donas de aeronaves arrendadas. A prorrogação foi concedida em audiência de conciliação na Justiça com credores. “Assim, seguimos transportando nossos clientes com o carinho e a dedicação de sempre, enquanto continuamos negociando e preparamos nosso plano de recuperação”, escreveu Pedreira. A aérea ainda terá de apresentar, até o dia 1° de fevereiro, as propostas de pagamento das dívidas vencidas ou um plano de devolução das aeronaves. Ela também se compromete a realizar pagamentos que estão para vencer a partir do dia 1º de fevereiro nas datas previstas pelos contratos originais. O plano de Recuperação Judicial, aliás, segue sendo elaborado pela companhia aérea. O documento será apresentado em audiência no dia 14 de fevereiro. A aprovação, contudo, dependerá da decisão dos credores. A companhia, porém, não tem dívidas apenas com as empresas de leasing. De acordo com a lista de credores, a conta da Avianca Brasil apenas com os aeroportos é de cerca de R$ 100 milhões. Em Guarulhos, onde o montante é de R$ 26 milhões, a Avianca conseguiu honrar a última parcela do compromisso. Especula-se, porém, que a empresa negocia um aporte com a norte-americana United Airlines. PROCEDIMENTOS DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL Procurado pelo Brasilturis, Armando Luiz Rovai, professor de Direito Empresarial da Universidade Presbiteriana Mackenzie, pontua que o pedido é necessário quando uma empresa passa por desestabi-

Frederico Pedreira, presidente da Avianca Brasil

lização, mas que ainda há vias de salvação. “A recuperação judicial nada mais é que um mecanismo, assegurado pelo sistema judiciário, que visa à continuidade da empresa e à manutenção da sua função social”, explica. Assim, a Avianca Brasil deverá elaborar um plano de resgate que demonstrará que a companhia está, novamente, viável ao mercado. Além disso, o documento deve ser votado pelos credores em até 180 dias. Se for aprovado, a companhia efetivamente dará início à Recuperação Judicial. Caso contrário, a Justiça pode converter a recuperação em falência. Rovai destaca ainda que muitas empresas passam por situações semelhantes e conseguem dar a volta por cima. “A Avianca, nos últimos anos, tem se mostrado uma empre-

sa bastante próspera. Caso ela consiga entrar em entendimento com os credores, a retomada não será difícil”, defendeu. FALÊNCIA OU RECUPERAÇÃO? É importante destacar que não é a primeira vez que uma companhia aérea entra com o pedido de recuperação judicial. A Vasp, no ano 2000, passou por situação bastante semelhante. A empresa de leasing Victoria Regia recebeu da Justiça brasileira o direito de reaver três aeronaves Boeing 737. Ainda no mesmo ano, a companhia viu sua frota passar de 48 para 29 aeronaves. Somente em 2005 a empresa entrou com o pedido de recuperação. No entanto, após não chegar a um acordo efetivo com os credores, entrou em falência. “Infelizmente para

EM RESUMO Armando Luiz Rovai, professor de Direito Empresarial da Universidade Presbiteriana Mackenzie, revela quais são os trâmites de uma Recuperação Judicial. Entenda: • Em situações de abalos financeiros graves, a empresa apresenta o pedido de recuperação judicial à Justiça no intuito de retomar sua função social; • Apresentadas as exigências legais, o magistrado responsável determina o processamento da recuperação; • Não há problema caso a empresa queira continuar operando. Porém, é necessário esclarecer no plano como custeará e de que maneira quitará os débitos; • O plano de recuperação deverá ser apresentado aos credores. Estes, por sua vez, deverão estar de acordo com os termos estabelecidos; • Se o plano não for aprovado pelos credores, a Justiça decretará a falência da empresa. Caso seja aprovado, a recuperação será concedida e a empresa deverá cumprir todos os termos estabelecidos; • A empresa terá dois anos para cumprir o plano. Caso contrário, será decretada a falência.


a aviação brasileira, a Vasp não conseguiu alcançar um acordo eficiente com os credores. Isso, porém, não necessariamente é uma regra que será repetida pela Avianca Brasil”, pontua Ricardo Collucci, professor de Direito de Aviação Civil da Universidade Anhembi Morumbi. Pantanal e Passaredo são outras aéreas brasileiras que entraram em recuperação judicial e sobreviveram. A primeira foi comprada em 2009 pela Latam (quando ainda TAM), por R$ 13 milhões; a segunda enfrentou o processo entre 2012 e 2017. Durante esse período, a companhia conseguiu cumprir todos os pontos estabelecidos com os credores e quitou suas dívidas. Collucci destaca que companhias aéreas internacionais também entraram com o recurso. American Airlines, Delta Air Lines e United Airlines apelaram para o requerimento voluntário de proteção contra falência nos Estados Unidos. Lá, o recurso é conhecido como Chapter 11. “A American Airlines passava por uma situação delicada, visto a competitividade com as demais aéreas, além dos custos de manutenção e mão de obra. Porém, foi com o requerimento que a companhia conseguiu se reerguer e se mantém como uma das principais companhias dos Estados Unidos”, pontua. DADOS OPERACIONAIS Em nota, a Avianca Brasil afirma que “permanece focada em garan-

tir a continuidade de suas operações e a sustentabilidade do negócio e, por isso, segue trabalhando no plano de reestruturação da empresa.” Embora esteja em processo de recuperação judicial, a companhia tem apresentado crescimento sólido nos últimos anos. Desde 2013, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a aérea dobrou a sua participação no setor aéreo do País. Apenas em 2018, essa fatia representou 10,6%. A Associação Brasileira das Empresas (Abear), que tem a Avianca Brasil como membro, não se pronuncia acerca da situação financeira das companhias. No entanto, revelou que a aérea foi responsável pelo transporte de 12,05% passageiros nas operações domésticas apenas no último mês de dezembro. Ao todo, foram 946.958 viajantes – 5,16% em relação ao mesmo período do ano anterior. Ainda de acordo com a Abear, a oferta (ASK) da companhia durante o período foi de 1,2 bilhão de assentos por quilômetro (-1,14%). Enquanto isso, a demanda (RPK) foi de 1,1 bilhão de assentos por quilômetro (-0,83%). O fator de aproveitamento, no entanto, cresceu 0,27%, chegando a 87,4%. Em contrapartida, as operações

Alberto Weisser, vice-presidente de Vendas e Marketing da Avianca Brasil

internacionais estiveram em alta. Na quarta colocação entre as brasileiras, a Avianca foi responsável por 8,68% do share. Em relação ao mesmo período de 2017, a aérea cresceu 2,82%, saindo da casa dos 6,08%. Ao todo, foram 69.316 passageiros transportados. CORTE DE OPERAÇÕES E PDV Uma das maneiras encontradas pela aérea para reduzir os custos foi o corte de frequências internacionais. Em 16 de janeiro, a Avianca Brasil anunciou que deixará de operar em Santiago (Chile), Miami e Nova York (EUA), a partir de 31 de março. Com o encerramento dessas rotas, a aérea passa a operar em 26 destinos, estando presente em 28 aeroportos, com 243 voos diários. A frota cairá de 46 para 38 aeronaves. Ao Brasilturis, Alberto Weisser, vice-presidente de vendas e mar-

keting, afirmou que decisão está atrelada à devolução das respectivas aeronaves que operam tais rotas, como parte do planejamento de recuperação judicial. Ainda segundo o executivo, não há estimativa de retorno da operação. “Decidimos focar nos voos domésticos, pois tenho sido muito questionado pelo trade sobre a frota e a forma que continuaremos nossas operações. Portanto, vamos investir mais em nossa atividade doméstica e melhorar a atuação no Brasil”, ressalta. Outra medida já adotada pela companhia é o programa de demissão voluntária (PDV). Em 24 de janeiro, os funcionários da Avianca Brasil aprovaram a proposta, bem como a possibilidade da licença não remunerada (LNR). Ambos os programas serão destinados a comissários de bordo, pilotos e comandantes de aeronaves. O acordo, aprovado em assembleia, prevê inicialmente o programa de licenças. Ao todo, serão afastados 167 pilotos e copilotos e 433 comissários de bordo. A empresa se comprometeu a não efetuar demissões fora do acordado. Segundo informa o Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), a Avianca “não irá efetuar demissões de aeronautas, desde que não guardem relação com o cometimento de faltas graves, durante o mês de fevereiro de 2019, exceto aos optantes do PDV. Caso as adesões não atinjam o número necessário, em seguida, será colocado em prática o Programa de Demissão Voluntária”, informou o sindicato. No final de 2018, o Governo Federal publicou a Medida Provisória que permite a entrada de até 100% de capital estrangeiro em companhias aéreas brasileiras. Assim, apesar de estar em recuperação judicial, a Avianca poderá ser alvo de grupos internacionais. “Seria um momento propício, mas por enquanto nem a companhia deixou clara a intenção da venda completa ou parcial”, finalizou Collucci. www.brasilturis.com.br | Brasilturis 17


CRUZEIROS

Um dos deques do navio

MSC Fantasia no porto de Ilhéus (BA)

Estrutura de transatlântico; serviço de iate Melhor comissão para o agente de viagens e upgrade na experiência do passageiro

Espumante com bilhete de boas-vindas

POR VELMA GREGÓRIO

V

ender uma cabine de navio, principalmente para quem nunca fez um cruzeiro, demanda muita informação. Cabine interna ou externa, com ou sem varanda, na proa ou na popa, andares altos ou baixos… Enfim, qual é a diferença se, afinal, todos estão no mesmo navio? A equação preçoserviço-satisfação tem tantas variáveis que é preciso garantir que o cliente esteja totalmente ciente das condições para que a experiência seja igual ou melhor do ele espera. Se o agente de viagens compartilha todas as informações necessárias, não só garante uma comissão melhor, como também a satisfação do cliente, que terá uma viagem superior e atribuirá o sucesso a quem lhe apresentou a possibilidade. Esse é o caso da experiência MSC Yacht Club, que oferece a sensação de estar em um iate, mesmo a bordo de um navio enorme, com mais de quatro mil pessoas. Vale a pena? Essa provavelmente será a primeira pergunta do cliente depois de indagar o preço. Para responder com propriedade é preciso entender as possibilidades que o cliente tem à disposição quando vai reservar uma área privativa. “A exclusividade e os serviços são os fatores que importam”, 18 Brasilturis

Fevereiro | 2019

afirma Giuseppe Pane, diretor de hotelaria do MSC Fantasia. “Escolha é a palavra”, complementa Ivan Mauro, executivo de vendas da MSC Cruzeiros. Assim, o passageiro do MSC Yacht Club poderá escolher entre ficar com todas as pessoas, participar dos eventos coletivos ou ter um espaço reservado, com serviços exclusivos. A diferença de preços varia de 30% a 40% a mais do que o valor regular de uma cabine equivalente. É um cruzeiro all inclusive, mas que além de comida e bebida, oferece serviços e área exclusivos e privacidade. Dependendo do que o agente combina no pacote - como serviços separados para cabines externas, por exemplo experiências e pacotes de bebidas - o preço não será tão diferente. EXPERIÊNCIA VIP O Brasilturis embarcou no MSC Fantasia para o roteiro entre o Rio de Janeiro (RJ), Salvador e Ilhéus (BA) para compartilhar com os agentes de viagens o que o cliente poderá desfrutar ao optar pelo produto. O navio foi o primeiro da MSC a oferecer o Yacht Club; hoje, todas as embarcações mais novas contam com a área. O Fantasia recebe

até 4.345 passageiros e tem uma tripulação de 1.370 pessoas. A área do Yacht Club recebe cerca de 200 pessoas, ou seja, menos de 5% do total. Sem contar os serviços de cozinha e limpeza, aproximadamente 30 tripulantes estão dedicados exclusivamente a essa área. As diferenças de ser um passageiro Yacht Club são percebidas desde a chegada no porto. Os clientes contam com espaço privativo de embarque e não passam pelas longas filas dos grandes cruzeiros. Na área de espera são servidos água, sucos e espumante até que o embarque seja autorizado. No nosso caso, o traslado do galpão ao navio foi feito em microônibus. Um atendente acompanhou os pequenos grupos de hóspedes até uma recepção exclusiva para a realização do check in. Antes de ir para as cabines, mais celebrações com espumantes até que todos fossem atendidos pelo concierge e encaminhados às respectivas acomodações. As cabines deste serviço estão localizadas na frente do navio, nos andares 15 e 16. Todas são externas com varanda, para no máximo três pessoas. As camas têm colchões de viscoelástico, os lençóis são de algodão egípcio, o frigobar é cortesia e ainda há

Hóspedes do Yacht Club têm restaurante privativo

um mordomo para atender cada hóspede. GASTRONOMIA Na chegada, uma garrafa de espumante no gelo dá as boas-vindas e, todas as noites, há mimos no quarto, como cestas de frutas, petit fours, morangos ao chocolate, entre outros. O hóspede também pode escolher o jornal de sua preferência que será entregue pela manhã. O serviço de quarto está incluso no pacote. O café da manhã pode ser servido na cabine, há um cardápio específico para qualquer hora do dia e da noite e, ainda, pizzas que podem ser encomendadas até 3h da manhã. Há ainda um espaço – o Top Sail Lounge – com vista para o mar à frente do navio, com comidinhas e


bebidas disponíveis o tempo todo. É um lugar confortável, ótimo para ler, com uma vista incrível, excelente para os dias mais nublados, frios, ou quentes demais, nos quais se quer tranquilidade e conforto. Atendendo a uma superstição italiana de que o número 17 traz má sorte, o MSC Fantasia não tem 17º andar e é no 18º que ficam o deque The One Pool, com uma piscina e duas Jacuzzis exclusivas. Enquanto permanece aberto, há serviço de toalhas. No MSC Fantasia, o The One Pool não tem banheiros e o hóspede precisa ir ao quarto. Mas, segundo Pane, essa questão foi solucionada nos navios que vieram em seguida. No 18º também está o The One Bar, que serve drinques o dia todo até 22h, além de refeições e lanches, tudo incluso no pacote. No The One Pool não se ouve praticamente nada dos sons da área de entretenimento comum do navio e, como é para poucos hóspedes, não há trânsito intenso de pessoas. As crianças são bemvindas mas, como há áreas do navio dedicadas a elas, dificilmente o hóspede encontrará uma pelos corredores. No lado oposto ao The One Pool, há o Exclusive Solarium, de acesso apenas ao Yacht Club. Os hóspedes também têm um restaurante exclusivo em que o passageiro não precisa agendar o horário para tomar café da manhã, almoçar ou jantar. Sempre haverá uma mesa para ele. No Fantasia, o restaurante é o L’Etoile. O menu é internacional, com entrada, prato principal e sobremesa, sempre acompanhado de bebidas selecionadas por um sommelier que fica a bordo. No Fantasia, o restaurante fica fora do Yacht Club, mas é possível chegar até ele tanto pelo deque externo do navio quanto por áreas cobertas. Mauro ressaltou, durante um treinamento para operadores e agentes de viagens, que o Yacht Club é uma experiência de exclusividade que prepara os passageiros para a próxima iniciativa da MSC, que é o lançamento de cruzeiros de ultraluxo, nomeada como MSC World Class e que deve estrear em 2022. “Os navios ainda não têm nomes divulgados, mas deverão comportar aproximadamente 500 passageiros”, explicou o executivo de vendas. AGENTES A BORDO A MSC convidou 23 agências e operadores de turismo para conhe-

Spa

Lounge da recepção do Yacht Club Restaurante L’Etoile

Bar exclusivo do Yacht Club

Cabine externa com varanda

cer o MSC Yacht Club. “É uma oportunidade de quebrar paradigmas na venda de cruzeiros no segmento de luxo. É uma experiência diferenciada que posso oferecer aos meus clientes”, disse Patrícia Bastos, da Bastour Operadora de Turismo, de Curitiba (PR). Como a experiência MSC Yacht Club é uma garantia de escolha, os passageiros podem optar por utilizar a estrutura do navio que tem 18 deques, cassino, bares externos e internos, restaurantes, lojas, freeshop, cinema 4D, academia, simulador de Fórmula 1, boite e shows no teatro. As instalações esportivas atendem a quem gosta de corrida, caminhada, tênis, basquete, minigolfe. A área termal, que fica ao lado

da academia, também é de livre acesso para os hóspedes do Yacht Club - só não inclui massagens e terapias. O complexo de piscinas do parque aquático conta com uma piscina com teto retrátil, que pode ser fechado se o tempo não estiver bom. Todas as manhãs, o passageiro recebe a programação do dia impressa na cabine com as atividades e os horários de funcionamento dos bares e restaurantes. Com todo esse cardápio de opções, avise ao seu cliente que passar pelo Yacht Club pode ser uma experiência sem volta. Ele nunca mais vai querer abrir mão desse conforto. Viagem realizada a convite da MSC Cruzeiros, com seguro Affinity

Piscina exclusiva www.brasilturis.com.br | Brasilturis 19


CRUZEIROS

Seven Seas Explorer

Átrio do lobby principal

A área da piscina e lazer

Com 360m², Regent Suite tem dois quartos, saunas seca e a vapor, além de um spa exclusivo interno

Explorer: O navio mais luxuoso do mundo POR JANIZE COLAÇO

O

navio mais luxuoso do mundo esteve, pela primeira vez, em portos brasileiros. O transatlântico Seven Seas Explorer, lançado em 2016, veio de Cape Town, na África do Sul. No Brasil, a embarcação passou por Rio de Janeiro (RJ), Ilha Grande (RJ), Búzios (RJ), Paraty (RJ), Santos (SP), São Francisco do Sul (SC), e, por fim, Porto Belo (SC). A marca, conhecida por atender um público seleto, comemora o crescimento contínuo de hóspedes brasileiros. E, para este ano, os executivos da companhia projetam resultados ainda melhores. “A Regent tem sido cada vez mais solicitada pelos brasileiros”, destaca Harry Sommer, vice-presidente de vendas e marketing para o mercado internacional da NCL. “Isso prova que se trata de um mercado em ascensão. Trouxemos o nosso navio mais luxuoso para a América Latina e, também, atracamos em alguns 20 Brasilturis

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dos principais portos brasileiros”, explicou o executivo. De acordo com Estela Farina, diretora geral para o Brasil da Norwegian Cruise Line Holdings, dentre os roteiros mais requisitados pelos brasileiros, o destaque vai para o Mediterrâneo e o Alasca. Além disso, entre os principais atrativos estão as facilidades de compra. “O pagamento feito em moeda local e as opções de parcelamentos em até dez vezes sem juros tornam as reservas mais atraentes. E, para atender a demanda, nós temos a preocupação de manter representações ativas nas principais capitais”, destaca. SOBRE O NAVIO O Seven Seas Explorer foi eleito o mais luxuoso do mundo pela Cruise Critics. A embarcação transporta, no máximo, 750 viajantes. Após passar pelo Brasil, a próxima

parada da embarcação é em Punta del Este (Uruguai). Assim, o programa completo pode durar 12 noites e acabar em Buenos Aires (Argentina). Ou, ainda, se estender até a capital chilena, Santiago, com duração de 28 noites. Ademais, o navio apresenta umas das mais altas taxas da indústria de cruzeiros na equação espaço (m²) e tripulação em relação aos passageiros. Isso reforça o posicionamento da armadora como uma das mais inclusivas linhas de cruzeiros de luxo do mundo. MAIS NOVIDADES O próximo ano será de novidades para o grupo. O Regent Seven Seas Splendor deverá ser inaugurado em fevereiro de 2020. Apesar de ainda faltar pouco mais de um ano, cerca de 80% das cabines já foram

Frank Medina, vice-presidente de Vendas e Marketing para América Latina e Caribe; Estela Farina, diretora geral para o Brasil; e Harry Sommer, vice-presidente internacional de Vendas e Marketing

vendidas. “E há brasileiros que já compraram com bastante antecedência”, revela Estela. Ademais, a Regent anunciou a encomenda de um novo navio. A previsão de entrega é para 2023. A nova embarcação deverá ser irmã do Explorer e do Splendor e também transportará até 750 passageiros em cada viagem.


TURISMO SEM CENSURA

Airbnb não é hotel!

O

que caracteriza a hospitalidade? Se fosse definida apenas como um lugar para se instalar em troca de pagamento, qualquer casa – da simples à sofisticada - poderia se tornar um hotel instantaneamente. É claro que hospitalidade é bem mais do que acolher pessoas em busca de pouso durante uma viagem. Ou este conceito não teria se transformado, ao longo de séculos, em bem-estruturada e próspera indústria. Diariamente, uma gigantesca onda de novos hóspedes das mais diversificadas matizes busca viver uma experiência única. Assim, hotelaria pode se traduzir na arte de receber, acomodar e tratar bem o cliente em instalações feitas sob medida e com profissionais capacitados para isto. Hotéis não pipocam do nada, como cogumelos em final de chuva. Por trás de cada estabelecimento – pelo menos os sérios - há pesados investimentos em estudos de viabilidade econômica, assim como arquitetura, construção e equipamentos, além da formação de equipe. Não importa de onde o viajante venha, ele precisa encontrar em um hotel a sensação de ser bem-vindo. Mais que edificações equipadas e cheias de boas intenções, a melhor hotelaria é a que se nutre da arte milenar da hospitalidade. Essa extensa abertura foi só para frisar que hotel e Airbnb não são a mesma coisa. Basta lembrar o histórico deste antigo aplicativo originalmente despretensioso, filhote da economia compartilhada e que, um dia, virou gente grande. Não mais que dez anos atrás Airbnb não passava de uma sopa de letrinhas que ninguém tinha interesse em decifrar. No estilo irreverente dos criadores, o nome combinava duas coisas. As letras iniciais foram emprestadas de “air bed” - colchão inflável, usado nos Estados Unidos quando surgem visitas para pernoitar. Já a segunda parte da palavra veio de “bed & breakfast”, ou seja, cama e café da manhã. Virou uma forma de proprietários de casas e apartamentos com quarto sobrando

ganharem um dinheirinho com aluguel temporário. Na época, ninguém deu muita bola para o aplicativo, que nem de longe ameaçava a sólida (e arrogante) indústria da hotelaria. Hoje se pode dizer que foi sério erro de avaliação menosprezar seu poder de fogo. O Airbnb entrou no universo da hospitalidade pela porta dos fundos, que pelo jeito estava destrancada. Qual foi o nervo exposto da hotelaria que permitiu o crescimento explosivo do Airbnb? Seria simplista culpar apenas o preço - ou restaurantes tradicionais teriam desaparecido, dando lugar apenas a comida por quilo, fast food e padaria. O fato é que, longe de casa, até o mais durão dos hóspedes sente-se carente de atenções e precisa sentir-se querido. O mérito do aplicativo foi resgatar o toque humano de uma casa de família, que recebe com carinho um parente ou amigo. Como ocorre nestas situações, diante da gentileza do anfitrião, as visitas perdoam pequenos deslizes, falhas e improvisos. Como o chuveiro capenga, o ar-condicionado barulhento ou com defeito, a portaria sem segurança em rua escura, o barulho do vizinho, limpeza meia-boca, roupa de cama gasta, decoração piegas, cheiro esquisito do lugar. Só que na saída (ou seria check-out?) fica um certo gostinho de enganação. Afinal, não se tratou de cortesia, mas de um serviço pago! Cadê a cama confortável, limpeza, silêncio, ar-condicionado, chuveiro perfeito, segurança, serviços ao hóspede? Nesta hora dá saudade dos hotéis, que já têm no DNA a hospitalidade profissional. A reação dos hotéis ao Airbnb demorou, mas veio. Eles apren-

deram a tratar seus clientes de forma ainda mais personalizada. Entenderam que no seu papel de anfitriões devem reconhecer que cada pessoa tem sua própria história. E que sensações e emoções determinam escolhas, já que ninguém quer se sentir ocupante provisório de um quarto impessoal. Como irmãos xifópagos, hotéis e turismo dependem um do outro. Juntos, têm imenso poder de motivar pessoas a sair de casa e visitar destinos. Pois aí mora a diferença entre hotéis e Airbnb. Enquanto o aplicativo funciona como ganha-pão adicional e des-

FABIO STEINBERG Jornalista e administrador, trabalhou como executivo e consultor de comunicação em grandes empresas como IBM, Rede Globo e AT&T. Edita o site Turismo Sem Censura (www.turismosemcensura.com.br) e é autor de três livros. fabio@steinberg.com.br

compromissado para amadores, a hotelaria vive da própria essência do negócio. Até porque, diferente das casas de família, se não fizer direito, ele fecha as portas.

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Riviera Maya mescla a beleza e o entretenimento do Caribe mexicano com a cultura e história da formação do país

DESTINO

A pirâmide mais alta e escalável de Cobá

Cenote subterrâneo

Ruas de Playa Del Carmen

Riviera Maya: Outro lado do Caribe mexicano POR LEONARDO NEVES

A

inda era cedo, mas o sol já estava alto, deixando o aeroporto de Cancún bem quente. Era esse o tão falado calor do Caribe? Em novembro, a um mês do início do inverno no Hemisfério Norte, a temperatura estava de derreter. “Aceitam água e um pano úmido?”, sugeriu o funcionário do Grand Velas dentro do veículo que faria nosso transfer. O resort foi a primeira parada do grupo na Riviera Maya e o cuidado foi essencial para nosso conforto ao longo dos 40 minutos de estrada. Quando eu pensava nos destinos caribenhos do México, tinha uma imagem bem definida em mente. Ela era composta por grupos de jovens com, no máximo, 30 anos reunidos em praias paradisíacas ao som de música eletrônica e embalados por drinques. É... Pode até ser o caso durante o “Spring Break”, quando os jovens norte-americanos aproveitam o período 22 Brasilturis

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para viajar para a região, mas estávamos com a época mais fria – apesar do calor de rachar. No caminho entre o aeroporto e o resort (comumente oferecido para os hóspedes de todos os resorts locais) só se via árvores de mata fechada dos dois lados. Onde estava a água cristalina e as paisagens que rendem as melhores fotos? Não demorou para me dar conta que, talvez, as coisas seriam diferentes do que eu estava condicionado a imaginar. E isso era ótimo. A Riviera Maya faz parte do estado de Quintana Roo, região mexicana que recebeu cerca de 300 mil viajantes brasileiros ao longo de 2018. Apesar de o índice ser superior ao registrado em 2017, ainda não é o suficiente para fazer o País alcançar o top 5 de emissores, ficando na sétima posição, atrás da Espanha. Estados Unidos (mais de 8 milhões de visitantes), Canadá (cerca

de 2 milhões), Reino Unido (450 mil), Colômbia (mais de 400 mil) e Argentina (cerca de 400 mil) compõem a maior fatia de visitantes da região. De acordo com Lilian Zanon, brasileira e proprietária da DMC AT Travel, que oferece tours em português, os viajantes do Brasil estão voltando à Riviera Maya e 2019 promete. “Tivemos uma baixa em 2018, mas os números começaram a despontar novamente após a eleição. Neste ano, já temos diversos grupos corporativos fechados que devem incrementar em 20% o negócio”, destacou. MUNDO MAIA Para honrar o nome da região, em praticamente todos os locais há alguma menção ou inspiração relacionada ao povo Maia, que habitou a região antes da colonização dos espanhóis. “Eles acreditavam

que a raiz da seiva era uma passagem para onde os deuses ficavam. A península inteira está coberta de cenotes, poços de água formados por rios subterrâneos onde eles acreditavam que havia entradas para este ‘infra-mundo”. A descrição de Jorge Ruiz, gerente de tours e viagens para a América Latina do resort Grand Velas, provava que a história não era apenas uma questão turística, mas algo intrínseco à cultura local, passada por diversas gerações entre os moradores da região. Os melhores lugares para sentir esse clima são os sítios arqueológicos. Alfredo Curi, guia do receptivo AllTourNative faz questão de lembrar que os Maias não eram apenas nativos que faziam sacrifícios, mas um povo com habilidades muito avançadas para a época. “Eles ergueram torres de onde podiam monitorar toda a costa de Tulum, faziam desenhos simétricos em


pedras, criaram um sistema que levava água para as construções mais altas, tinham conhecimento em engenharia. As pessoas precisam deixar de ver os Maias apenas como um povo que fazia sacrifícios humanos”, destacou. O local é um prato cheio pra quem admira história, arquitetura e atividades ao ar livre. Para chegar às pirâmides de Tulum, primeiro você tem de passar por uma pequena área com lojas e lanchonetes. Chega-se às ruínas após cerca de 10 minutos de caminhada por uma pequena estrada. O mar do Caribe ao fundo torna a passagem pelo local um dos marcos da viagem. O ponto baixo da visita é que as pirâmides têm acesso restrito ao público geral. O que é diferente em Cobá, a 40 minutos de carro. O local é encoberto por árvores densas e as trilhas de terra batida são caminhos retos até as principais ruínas. Quem não estiver muito a fim de caminhar pode fazer o trajeto em uma bicicleta com condutor. A última e mais alta pirâmide maia do local pode ser escalada, mediante algum esforço físico. Virar o corpo em 180º e admirar o horizonte verde e plano, entretanto, faz tudo valer a pena.

A rua parece ser uma subida - mas é plana

Braço do rio formando uma piscina para os visitantes do parque Xcaret Artista do Cirque Du Soleil

Apresentação do Xcaret

BANQUETE LOCAL A dica é fazer a pausa para o almoço na modesta comunidade Tres Reyes, um pouco à frente de Cobá que atrai turistas de diferentes partes do mundo. Lá é possível provar algumas das iguarias caseiras do México, preparadas pelas famílias locais, que apostaram na parceria com a AllTourNative como uma forma de renda alternativa, por meio do turismo. O pequeno banquete inclui arroz, feijão e tortilhas caseiras com recheios artesanais - dos mais picantes aos mais suaves – acompanhado por suco de hibisco. A última parada é em um cenote que corre abaixo de uma caverna com morcegos. Para chegar à agua, é preciso fazer uma caminhada por trilha de 10 minutos que leva a um pequeno santuário maia. Ali, um senhor totalmente vestido de branco começa a entoar uma benção no antigo dialeto Maia. Próximo ao rio subterrâneo, pequenas construções de madeira funcionam como vestiário e guarda-volumes. Antes de cair na água, é obrigatório tomar uma ducha gelada para retirar sujeira e suor do corpo e evitar a contaminação do cenote. Depois da passagem por uma

Escultura Maya em Playa del Carmen

escada de madeira, o teto escuro da caverna destaca os mamíferos voadores que fazem do local a sua casa. O breu só não é total porque a água cristalina do cenote reflete a luz dos holofotes instalados na parte de baixo. PARQUES E ATRAÇÕES Outros destaques da região são os parques que formam o Experiências Xcaret. No mais antigo, o Xcaret by Mexico, há atrações mais tradicionais e relaxantes como nado em cenote, piscinas naturais formadas por braços do mar caribenho, algumas quedas d’agua e até um mini zoológico. O local tem um plano de expansão em andamento e as novidades devem ser inauguradas até 2020. O forte de lá é o entretenimento nas apresentações e shows. Um deles acontece dentro do maior auditório do local e conta a história do México, desde os tempos dos Maias. O roteiro destaca, também, características marcantes das principais províncias que são contadas através de dança, acrobacias e mui-

ta música, com direito a orquestra ao vivo. Há opção de reservar um jantar especial, com preço pago à parte. O Xenses, como o nome já indica, brinca com os sentidos. Diferentes atrações confundem até a nossa perspectiva. Estávamos subindo, descendo ou em linha reta? O truque de ilusão na área que simula um vilarejo mexicano é tão bom em entrelaçar a mente que faz perder o equilíbrio. Uma das principais atrações do Xenses é o trajeto de 20 minutos por um caminho totalmente escuro, onde os únicos guias são sua audição e o tato. Já o Xplor Fuego aposta na aventura, com rios de lama, nado e remo em cavernas, tobogãs e as maiores tirolesas da região. O caminho para entrar no parque uma descida com tochas que levam a área de recepção, dentro de uma antiga caverna - dá o tom de toda a experiência. Um dos maiores destaques é a trilha de 30 minutos dirigindo um buggy 4x4 em um trajeto propositadamente acidentado para dar emoção e balançar mais o carro.

Uma das principais atrações do Xplor Fuego

A Riviera Maya é também casa do único show fixo do Cirque du Soleil fora dos Estados Unidos. A apresentação Joya, realizada no teatro do resort Vidanta é tão surpreendente quanto os principais shows do grupo nos EUA. A experiência VIP – opcional - começa com uma pequena apresentação de drinques. No jantar, a apresentação dos pratos reforça a experiência com cardápio em papel comestível, uma colherada de framboesa congelada em nitrogênio, carne assada em uma bandeja que emanava uma luz laranja e diversos doces dentro de um livro. Tudo faz parte do show. Ao fim da viagem, a antiga imagem de Cancún já havia se dissipado. Os conceitos foram substituídos por algo ainda mais amplo. A Riviera Maya não é apenas o mar cristalino, a areia e os resorts. O lugar tem atrativos que o tornam completo, com história, cultura e atrações que vão além de um “simples” destino de sol e praia. Quando seu passageiro reservar um roteiro para Cancún, sugira a ele encarar 40 minutos de estrada para conferir o que o local reserva. Ele poderá se surpreender. www.brasilturis.com.br | Brasilturis 23


DESTINO DIFÍCIL DECISÃO Escolher um resort na Riviera Maya pode ser uma tarefa difícil em meio a tantas opções disponíveis ao longo do litoral. Praticamente todos oferecem a combinação de localização “pé na areia” e sistema all-inclusive, que seriam mais do que suficientes pra agradar qualquer hóspede em férias. Um olhar mais atento, entretanto, mostra que cada resort tem características únicas. Duas boas indicações são o Grand Velas Riviera Maya e o Hotel Xcaret Mexico. Os empreendimentos se assemelham na estrutura e qualidade dos serviços, mas que operam de maneira distinta. Enquanto o primeiro investe cada vez mais em experiências intimistas, o segundo dá andamento a um ambicioso plano de expansão. O empreendimento, fundado pelos responsáveis do parque de mesmo nome na Riviera Maya, foi aberto no fim de 2017. “Estamos realizando campanhas em todo o mercado latino-americano, com uma agência dedicada para o continente e estamos tendo uma resposta muito positiva do Brasil”, apontou Anita Hernández, porta-voz do grupo. Os planos futuros incluem a abertura de outras 11 propriedades nos próximos dez anos, somando seis mil quartos ao portfólio, com investimento de US$ 2,5 bilhões. “Os hotéis que queremos abrir terão tamanhos e estilos diferentes, para atender todos os tipos de públicos, sempre tendo o toque do Xcaret”, destacou Anita. Casa de la Playa, o primeiro deles, deverá ser inaugurado em dezembro deste ano e já está com reservas abertas. A propriedade de ultra-luxo é composta por 63 vilas e consumiu US$ 83 milhões. O Grand Velas segue em outra linha e conta, inclusive, com uma consultora exclusiva para a realização de casamentos, comandada por Ary Iturralde. De acordo com ela, apenas na propriedade de Riviera Maya, ocorrem 25 cerimônias ao ano, com quantidade variada de convidados. A maior teve 1,2 mil participantes. A especialista destacou os olhares atentos do grupo para os casais do Brasil. “O brasileiro procura por um clima parecido, a diversidade e atividades oferecidos em todo o resort e o carinho latino que é familiar para ele”, apontou. 24 Brasilturis

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Jorge Ruiz, gerente júnior de viagens e tours

Ary Iturralde, coordenadora de casamentos

Área externa do Grand Velas

Uma das suítes do hotel

Piscina do complexo Zen

ACOMODAÇÃO O Grand Velas aposta em três estilos diferentes. Ao todo, são 539 quartos divididos em três complexos (Grand Class, Ambassador e Zen) com duas categorias em cada área, além de uma suíte presidencial na área Grand Class. Os dois primeiros são a visão clássica dos resorts de Riviera Maya, com quartos que incluem extensas varandas e vista para o mar. No interior, um grande espaço com camas queensize (uma ou duas dependendo da categoria casal/individual ou família) e um toalete, com banheira, maior que muitas salas de estar. Porém, o destaque do Grand Velas está no complexo Zen. “Aqui buscamos oferecer mais contato com a natureza. É uma área mais requisitada por hóspedes asiáticos que tendem a valorizar mais esse tipo de ambiente”, afirmou Jorge Ruiz, gerente júnior de tours e viagens para a América Latina. Não é

pra menos. O local, inclusive, fica em um espaço mais afastado da praia e dos complexos Grand Class e Ambassador. O transporte de vans do resort, disponível 24 horas, leva cerca de 5 minutos (ou 15 minutos a pé) para transitar entre os ambientes. Tudo para oferecer um ambiente mais calmo e intimista, encoberto por vegetação local. O Hotel Xcaret aposta em modernidade, tanto nas áreas comuns quanto nas acomodações. A disposição e a tecnologia oferecida nos 900 quartos disponíveis, divididos em quatro categorias (Suites, Junior Suites, Swim Up e Master Suite), é o que mais chamam a atenção. Além de ter tomadas por todos os lugares, dos sistemas touch para chamar o serviço de quarto ou conferir a agenda do dia, o Xcaret oferece pulseiras impermeáveis para identificar os hóspedes. Assim, mesmo na piscina, restaurantes, spa ou lojas, não há necessidade de se preocupar em

Restaurante de culinária molecular

deixar o cartão de acesso para trás. Os quartos contam com um desenho que foge do tradicional. Na categoria mais básica, a divisória fica apenas na área do chuveiro e no ambiente do vaso sanitário. Banheira, pia e espelhos são integrados ao mesmo ambiente, passando a impressão de um local mais amplo. GASTRONOMIA Nesse quesito, os dois hotéis se assemelham bastante. Além dos variados bares, o Grand Velas conta com oito restaurantes, de culinárias francesa, italiana, mexicana (fazer uma refeição no Frida é mandatório), asiática e um self-service variado. O Xcaret conta com dez locais de refeição tão variados quanto os do


Foto: Divulgação

Anita Hernández, gerente de RP

concorrente, fora os bares. O destaque do Grand Velas é o Cocina de Autor e sua culinária “molecular”. O restaurante tem classificação de cinco diamantes. O estilo não aposta em pratos requintados ou grandes quantidades, mas sim na experiência, que é uma palavra muito utilizada e que virou clichê, especialmente no turismo. Porém, é o conceito que melhor descreve uma refeição no local. Composto por dez “micro-pratos”, o jantar surpreende desde a apresentação até os variados sabores. Cada prato conta com um gosto diferente e que complementa o anterior. A maioria pode ser devorada em 30 segundos, mas os comentários sobre as diferentes sensações serão o assunto da mesa ao longo da noite. Só provando para saber. No Xcaret, o Mercado de la Merced traz tudo que compõe a tradicional culinária mexicana. Com decoração que remete aos mercadões do país, o espaço self-service traz desde as tortillas de tacos e pimentas mais picantes (cuidado com a Habanero) até ingredientes e pratos mais comuns da cozinha norte-americana (os maiores emissores de hóspedes). ENTRETENIMENTO O Hotel Xcaret comercializa o pacote “all fun inclusive” que, inclui todos os parques do complexo no valor da estada, com direito a acesso e transfer gratuito para as experiências. Conta, ainda, com bares que funcionam até altas horas e que, com um pouco de música, se

Vista aérea do Hotel Xcaret Mexico

tornam verdadeiras baladas com pista de dança, atraindo o público mais jovem. Definitivamente, o Xcaret não deixa a desejar. O Grand Velas, em contrapartida, aposta na tranquilidade. Não que as noites nos bares não possam ficar mais agitadas (o karaokê que o diga), mas o perfil intimista e familiar do resort se traduz em uma experiência relaxante. Não há demérito em dizer que o maior entretenimento do Grand Velas é curtir uma praia pela manhã, passar a tarde no circuito do Spa – considerado um dos 30 melhores do mundo em 2018 pelo guia de viagens da Forbes - e aproveitar o melhor da cozinha à noite. LOCALIZAÇÃO Um dos grandes trunfos dos dois é a localização. Ambos ficam a 15 minutos de carro de Playa Del Carmen, a principal cidade de Riviera Maya. Além disso, em menos de uma hora o visitante pode chegar a Cancún, o que propicia a combinação de visita a sítios arqueológicos com o agito da noite caribenha. A escolha do resort deve ser cuidadosa, seguindo o perfil da viagem e dos viajantes. Para família com crianças pequenas, casais de idade mais avançada ou para

O hóspede do Xcaret pode navegar de caiaque na piscina natural do hotel

Praia do Xcaret

quem quer mais privacidade, o Grand Velas é uma opção mais atraente pela tranquilidade e graças ao espaço infantil instalado no complexo Ambassador. Para grupos de jovens, casais novos e famílias com crianças maiores ou adolescentes, o Xcaret traz mais flexibilidade e opções de entretenimento. SERVIÇO Grand Velas Riviera Maya www.rivieramaya.grandvelas.com Hotel Xcaret Mexico www.hotelxcaret.com Receptivos - AT Travel www.attravel.com.br Alltournative

Restaurante Mercado do Xcaret

Um dos quartos

www.alltournative.com Parques - Experiencias Xcaret www.xcaretexperiencias.com.br Viagem realizada a convite da CPTM e da Copa Airlines com seguro Affinity e dados móveis Flexiroam www.brasilturis.com.br | Brasilturis 25


SUSTENTABILIDADE Fundado por Horácio Neves, em 1981. O primeiro jornal criado especialmente para a indústria do turismo nacional, Brasilturis atualmente é de propriedade da Editora Via LTDA-ME, grupo de comunicação especializado em publicações segmentadas sobre turismo.

Cássio Garkalns CEO da GKS Negócios Sustentáveis e professor do curso de pósgraduação em Gestão Estratégica da Sustentabilidade (FIA/USP) cassio@gks.com.br

Produção Associada ao Turismo

A

o começarmos 2019, fiz uma reflexão sobre a minha vida, como muitos fazem a cada ano novo. Analisei aspectos positivos e negativos das vivências, o que eu quero para o futuro, o que devo buscar e o que devo abandonar. Da mesma forma, refleti sobre temas relacionados ao turismo sustentável e consegui elencar diversas práticas muito positivas que merecem reconhecimento. Decidi compartilhar algumas delas nesta e nas próximas edições desta coluna. Um dos aspectos que mais me chamou a atenção nas boas iniciativas foram questões de valorização cultural sob o aspecto amplo de cadeia produtiva. Esta perspectiva sinaliza para a importância de investir na estruturação e qualificação da Produção Associada ao Turismo (PAT) enquanto importante pilar sociocultural para o desenvolvimento sustentável da atividade turística. De acordo com o Ministério do Turismo, o conceito diz respeito a “qualquer produção artesanal, industrial ou agropecuária que detenha atributos naturais e/ou culturais de determinada localidade ou região, capaz de agregar valor ao produto turístico. São as riquezas, os valores, os saberes, os sabores; é o desenho, o estilismo, a tecnologia, o moderno e o tradicional.” Considerando a realidade socioeconômica de muitos dos municípios brasileiros, marcados por carências e falta de oportunidades profissionais, esse é um caminho viável para o desenvolvimento. Os produtos, fortalecidos e integrados em uma cadeia produtiva, podem ampliar o leque de ofertas aos turistas, agregando valor à experiência final e qualificando os destinos. As cadeias produtivas que se prepararem de forma inteligente e estratégica podem desenvolver o setor de forma mais inclusiva e, as26 Brasilturis

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sim, promover efetivamente a economia local. Os benefícios gerados para a atividade turística incluem diversificação e agregação de valor à oferta; aumento da atratividade do destino; e fortalecimento da identidade local. Por outro lado, as cadeias de produtos associados também são potencializadas, estimulando novos cenários que valorizam e fortalecem os produtos locais; geram negócios, muitas vezes de base familiar; ampliam os canais de comercialização; oportunizam a qualificação de produtos; e estimulam a profissionalização e a formalização de pequenos negócios. É necessário, entretanto, ter um planejamento estratégico adequado de toda a cadeia de produção associada ao turismo, mobilizando os principais setores e atividades produtivas, ordenando os atores, qualificando os produtos e desenvolvendo os canais de promoção e comercialização que materializem os resultados econômicos para as comunidades locais. Nesse processo, estão envolvidos pequenos e médios comerciantes, empreendedores, artesãos, artistas culturais e criativos, pessoas envolvidas com gastronomia e produtos agropecuários, além de produtos e serviços representativos da região. Cabe ao poder público contribuir para o ordenamento da atividade, estimulando as pessoas interessadas e criando as bases para que uma governança local se empodere do processo e assuma suas próprias rédeas no médio prazo. Os benefícios gerados pelo engajamento na atividade turística têm a capacidade de ativar um ciclo virtuoso que opere com o aumento do orgulho das comunidades, inclusão profissional de jovens, estímulo a empreendedores e sustentabi-

lidade econômica. Dois exemplos bem-sucedidos desse processo e que estão em pleno desenvolvimento são: Polo da Baia de Todos os Santos (BA) e o do município de Extrema (MG). A Baía de Todos os Santos, maior baía das Américas e segunda maior do mundo, reconhecida como “Amazônia Azul”, ainda não teve sua imagem reconhecida pelo valor que realmente possui. Seu território é berço da colonização brasileira, com inúmeros contos, fatos e relatos históricos, detendo um vasto patrimônio arquitetônico de grande relevância, ricas e vibrantes manifestações culturais, uma gastronomia secular, fruto da fusão indígena-africana-europeia, e um artesanato autêntico e diversificado. Associado a todo esse acervo histórico e cultural, as belezas naturais e sua navegabilidade, enriquecem o leque de oferta para atender às necessidades dos visitantes. O governo da Bahia vem desenvolvendo um conjunto de programas estruturantes, com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento, para o estímulo e apoio à estruturação e qualificação deste destino, incluindo um específico para a Produção Associada. No município de Extrema, a prefeitura identificou o potencial da Produção Associada ao Turismo e está apoiando a formatação de um produto com este tema, alinhado às rotas já estruturadas. A capacitação dos empreendedores, a criação do roteiro e o suporte para desenvolver atividades relacionadas à cultura mineira são o foco do trabalho da Secretaria de Turismo, em parceria com uma das associações locais. Ainda há muito a ser feito nesse enorme Brasil, mas alguns importantes passos já vêm sendo dados. Vamos em frente!

Avenida Angélica, 321 - Cjs. 92 e 93, Higienópolis - São Paulo/SP - Brasil CEP: 01227-000 Tel.: +55 (11) 3259-2400/ 3255-4956 DIRETORIA Sócia-diretora: Ana Carolina Melo CEO: Amanda Leonel amanda@editoravia.com Diretora de relações institucionais: Velma Gregório velma@editoravia.com REDAÇÃO Editora-chefe: Camila Lucchesi camila@editoravia.com REPÓRTERES Felipe Lima: felipe@editoravia.com Leonardo Neves: leonardo@editoravia.com Janize Colaço: janize@editoravia.com Repórter cinematográfico: Danilo Menezes video@editoravia.com Arte e diagramação: Diego Siliprando arte@editoravia.com Colaboradores: Antonio Salani, Cássio Garkalns, David Leslie, Fabio Steinberg, João Bueno, Ricardo Hida e Velma Gregório. PUBLICIDADE E MARKETING Diretor de negócios: Marcos Araújo marcosaraujo@editoravia.com Gerentes comerciais: Alex Bernardes - alex@editoravia.com Vanessa Leal - vanessa@editoravia.com ADMINISTRATIVO E FINANCEIRO Gerente: Rita de Cassia Leonel financeiro@editoravia.com REPRESENTANTES BRASIL Salvador (BA): Ponto de Vista Gorgônio Loureiro (71) 3334-3277 e (71) 9972-5158 gorgonioloureiro5@gmail.com Brasília (DF): Ibis Comunicação Ivone Camargo (61) 3349-5061, (61) 9666-7755 e 8430-7755 ivone@ibiscomunicacao.com.br REPRESENTANTE EUA: Claudio Dasilva +1 (954) 647-6464 / claudio@braziltm.com Assinaturas: info@editoravia.com Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião deste jornal.

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