Editorial J – Número 20 - Agosto/Setembro de 2015

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AGOSTO/SETEMBRO 2015 • NÚMERO 20 • FAMECOS/PUCRS • WWW.PUCRS.BR/FAMECOS/EDITORIAL J

Resistência ao verde

Annie Castro (3º sem.)

Por que o Brasil é o campeão mundial no uso de agrotóxicos e a venda de orgânicos ainda sofre com preço alto no país

Minoria na minoria Grupos dentro da comunidade LGBT sofrem preconceito por serem minorias entre os ativistas PÁGINAS 6 E 7

Gols que elegem Pesquisa mostra que o fato de ser dirigente de clubes de futebol impulsiona votos PÁGINA 9

Páginas resistem Tecnologia não venceu o papel, que continua na preferência entre leitor de livro CADERNO ESPECIAL

PÁGINAS 4 E 5


papo de redação

Jornal do Laboratório de Jornalismo Convergente da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Avenida Ipiranga, 6.681 Porto Alegre/RS PUCRS Reitor Ir. Joaquim Clotet

A regra dos votos

Vice-reitor Ir. Evilázio Teixeira Pró-reitora Acadêmica Mágda Rodrigues da Cunha

FAMECOS Diretor João Guilherme Barone Reis e Silva Coordenador do curso de Jornalismo Fábian Chelkanoff Thier Coordenador do Editorial J Fabio Canatta Coordenadora de produção Ivone Cassol Projeto gráfico Luiz Adolfo Lino de Souza Professores responsáveis Alexandre Elmi Fabio Canatta Filipe Gamba Flávia Quadros Ivone Cassol Marcelo Träsel Marco Villalobos Silvio Barbizan Tércio Saccol Vitor Necchi Alunos editores Annie Castro Cândida Schaedler Eduarda Endler Lopes Gabriel Gonçalves Jéssica Moraes Yasmin Luz Diagramação Bruno Ibaldo Caroline Frantz Luísa Franke Naomi Kiesel

Alunos Adrieny Couto, Amanda Fialho, Angelo Passos, Angelo Werner, Annie Castro, Aristóteles Da Silva Júnior, Bethânia Helder, Bharbara Hack, Bibiana Garcez, Bruno Cisco, Bruno Ibaldo, Camila Ferreira Lubeck, Cândida Schaedler, Caroline Frantz, Cláudia Dos Anjos, Cristhian Montanha, Deyves Goulart, Eduarda Endler Lopes, Eduardo De Conto, Eduardo Pinzon, Elisa Marinsek, Filipe Castilhos, Filipe Nascimento Da Silva, Francelle Machado, Frederico Martins, Gabriel Corrêa, Gabriel Peres Gonçalves, Gabriela Cavalheiro, Gabriela Klaus, Georgia Ubatuba, Guilherme Almeida, Guilherme Macedo, Guilherme Pacheco Mercado, Guilherme Testa, Helena Rocha, Jessica Hubler, Jéssica Moraes, Jorge Lourenço Grill, Juliana Baratojo, Juliana Forner, Kamylla Lemos, Kelly Freitas Moreira, Laura Schneider, Laura Zucchetti, Lucas De Oliveira, Lucas Vidal Domingues, Luísa Franke, Luiz Henrique Martins Escopelli, Luiza Frasson, Luiza Simão, Maria Antônia Fiorini, Maria Eugênia Boffil, Mariana Capra, Mariana Melleu, Marina Rosa, Muriell Custódio, Naomi Kiesel, Nicole Oliveira, Paula Estivalet, Pedro Silva, Pedro Trindade, Priscila Araújo, Rafaella Câmara, Rodrigo Oliveira, Roger Paz Da Silva, Thiago Valença, Tiago Bianchi, Tiago Decker, Vanessa Carvalho, Vanessa Schenkel, Vicente Carcuchinski Costa, Vinicius Spengler, Vitória Fonseca, Yanlin Costa e Yasmin Luz

CONTEÚDOS DO EDITORIAL J FamecosCast É uma webradio com programação diária de reportagens, debates, entrevistas, colunas e noticiários ustream.tv/channel/famecos-cast.

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COMO E D ITORIAL J C A LCULOU A VA NTAGEM QUE OS CARTOLAS LE VAM NA BUSCA PELOS ELEITORES

P O R Gabriel Gonçalves (6º sem.)

A

reportagem “Cargo em clube de futebol pode aumentar votos em até 2.798%” surgiu após uma série de eventos que levaram ao debate sobre o impacto que a intersecção entre futebol e política pode causar. Em 2014, os pleitos nacional e estadual contaram com as recorrentes candidaturas de nomes publicamente conhecidos pelo que fizeram em campo, enquanto atletas, ou na administração de um clube de futebol, como dirigentes. Ainda no início deste ano, a Fifa protagonizou um esquema global de corrupção, que gerou questionamentos sobre o modelo político da entidade. No meio desta sequência de eventos, surgiu a ideia de mensurar, em números, a influência do futebol na vida política brasileira. Localizamos, através de reportagens antigas, nomes de políticos reconhecidos pelo desempenho na administração pública e também na gestão privada de clubes de futebol, como cartolas. Por meio do banco de dados do site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), comparamos a diferença percentual de votos obtidos nas eleições em que estes políticos concorreram enquanto eram dirigentes de times profissionais, com as eleições em que estes mesmos

nomes disputaram enquanto estavam afastados do futebol. Os casos analisados apontaram para um padrão estatístico: todos tiveram o apogeu justamente nas eleições em que ocuparam um cargo. Matematicamente, o levantamento achou a diferença percentual de votos comparando os picos de votação de cada político em todas as eleições disputadas. Em cinco dos casos, o topo ocorreu na eleição disputada enquanto presidiam um clube. Após localizar o recorde eleitoral de cada nome, achou-se o aumento percentual a partir do confronto com o recorde negativo de votos. A diferença de votos entre estes dois extremos resultou na vantagem percentual de eleitores obtida nas eleições que haviam disputado enquanto eram cartolas. A mineração de dados, mesmo que simples, é uma das etapas que mais exige trabalho e atenção. Nesta parte da produção da reportagem, foi preciso encontrar e executar os métodos matemáticos adequados à intenção do levantamento e checar a veracidade dos dados levantados. A legitimação dos números não foi um problema, pois se tratava de um banco de dados oficial. A dificuldade encontrada consistiu na limitação temporal dos dados hospedados no site do TSE, que comporta dados eleitorais desde eleições de 1997, apenas. Após os resultados confirma-

Editorial J na TV Telejornal semanal, com pautas temáticas e reportagens sobre assuntos diversos. As edições estão disponíveis em youtube.com/ editorialj. IMPRESSÃO Gráfica Epecê - PUCRS

Laboratório de Jornalismo Convergente da Famecos www.pucrs.br/famecos/editorialj

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rem uma vantagem de até 2.798% dos votos para políticos-cartolas, foi preciso ir atrás do ponto de vista dos casos levantados. Embora os cálculos e a mineração dos dados sejam trabalhosos, as tentativas de ultrapassar as barreiras impostas pelos assessores de imprensa se tornaram o processo mais desgastante. Quando o assunto não convém aos assessorados, celulares deixam de funcionar por semanas, e secretárias particulares perdem qualquer tipo de contato particular com seus patrões. Tudo isso potencializado pela dificuldade de se estar há milhares de quilômetros de distância das fontes. Dos seis casos escolhidos, apenas o ex-deputado estadual, ex-presidente do Grêmio e atual diretor do Badesul Paulo Odone Ribeiro aceitou esclarecer seu ponto de vista sobre o levantamento.

+ Acesse a reportagem completa, que foi publicada no site do Editorial J.

Errata Na edição 19 do Editorial J, publicamos a foto ao lado na página 2 (no Papo de Redação) sem o crédito da imagem. A foto é de Juliana Baratojo. Na época da publicação, ela cursava o 3º semestre.


imprensa

50 anos de jornalismo UM A DAS P RI ME I RAS MULH E RE S DE E X P RE SS ÃO NA MÍDIA , IVET TE BRA NDA LISE AP R ES E N TO U P O R 2 2 ANOS O PRIME IRA PE SS O A, PROGRA MA EXTINTO PELA TVE

I

POR Pedro Silva (6º sem.)

Na frente do programa, caracterizou suas entrevistas por não seguir um roteiro de perguntas. “Tenho que saber ouvir e, a partir do que a pessoa me diz, fazer a pergunta seguinte. Sempre trabalhei com pegar as deixas, coisa que aprendi no teatro”, comentou. Decorado apenas por uma mesa, duas cadeiras e um fundo preto, o cenário simples do Primeira Pessoa foi marcado por grandes entrevistas durante as mais de duas décadas em que foi ao ar. Pela bancada passaram figuras como Sebastião Salgado e Yamandu Costa, entre outros. A apresentadora diz ter tido sorte ao ser chamada para entrar na TVE, em 1987. No programa eram levados convidados para entrevistas, em que ela, de maneira envolvente deixava-os à vontade para conversar. “Tive experiências maravilhosas com pessoas que nunca imaginei que poderia ter numa entrevista e, claro, outras nem tanto. Mas, em sua maioria, as pessoas que passaram pelo programa me surpreenderam muito nesses anos”, comentou. Ivette defende que a televisão pública, como a TVE do Rio Grande do Sul, é pública, não do governo. “Ela é feita para servir ao público”, enfatizou. Segundo ela, a seriedade e a res-

Juliana Baratojo (4º sem.)

vette Brandalise foi uma das primeiras figuras femininas na mídia gaúcha a ganhar notoriedade. Hoje, já são 50 anos de jornalismo em televisão e rádio. Sua coluna diária de opinião na Rádio Guaíba, em 1968, chamada Cinco Minutos com Ivette Brandalise, repercutia, principalmente por se tratar de uma mulher em um espaço relativamente novo. Apresentou ,durante 22 anos na TV Educativa (TVE), o programa Primeira Pessoa, tido como o mais duradouro da grade de programação do canal, mas extinto no início do ano. Em junho, Ivette passou uma tarde no Editorial J e concedeu uma entrevista à FamecosCast. Acostumada a fazer perguntas para compreender a personalidade de suas fontes, foi um dia em que ela inverteu o papel. A jornalista, que também é formada em Psicologia, continua apresentando o programa As músicas que fizeram sua cabeça, da rádio FM Cultura – que, juntamente com a TVE, forma a Fundação Piratini – e disse que ficou surpresa com sua dispensa do vídeo. “Não esperava ser demitida, adorava fazer o programa e recebi a novidade muito mal”,

admitiu. Em janeiro deste ano, houve corte de quase 53% de gastos do governo com a Fundação Piratini, o que reduziu as atividades das emissoras de televisão e de rádio. Na TVE, sete apresentadores foram demitidos. Ela reconhece, porém, que sempre teve preferência pela rádio. “As pessoas têm uma intimidade com a rádio. O ouvinte escuta dentro de casa, quando está de pijama, quando vai ao banheiro, quando está indo trabalhar”, justificou. Sendo uma das primeiras mulheres a ter sua opinião exposta nessa mídia, Ivette ingressou na Guaíba quando Flávio Alcaraz Gomes a convidou para fazer comentários diários na emissora. Seu quadro, chamado Cinco Minutos com Ivette Brandalise, envolvia opinião, o que na época tinha que ser feito de forma sutil. O programa durou 18 anos e, paralelamente, ela mantinha crônicas no jornal Folha da Tarde, outro veículo grupo Caldas Junior que circulou entre 1936 e 1984. No Primeira Pessoa, a apresentadora de 75 anos entrevistou personalidades de diversos segmentos: políticos, escritores, jornalistas, esportistas e artistas. Também levou ao programa personagens desconhecidos, cujas histórias de vida, entretanto, inspiram mensagens ao telespectador.

Ivette recebeu muito mal a notícia de sua dispensa do vídeo, mas segue trabalhando na FM Cultura AGOSTO/SETEMBRO DE 2015 • PÁGINA 3

ponsabilidade são essenciais para fazer um programa nesse tipo de televisão. É preciso construir credibilidade e assim conquistar a audiência. Antes de pensar em se tornar jornalista, Ivette, que é natural de Videiras (SC), veio para Porto Alegre, em 1953, com planos de estudar Engenharia Química e, mais tarde, trabalhar ao lado do pai. A paixão por sua futura profissão veio por uma colega do Colégio Júlio de Castilhos, Gladis Fischbend, que ingressou no curso de Jornalismo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em 1963, a jornalista começou a trabalhar no Diário de Notícias, escrevendo a página feminina do jornal. Um ano depois ingressou na TV Gaúcha, atuando em um dos primeiros telejornais gaúchos, o Show de Notícias, no qual fazia participações críticas, curtas e sarcásticas. “Não fazia nenhum comentário ostensivo ao governo na época, mas só minha expressão para a câmera já demonstrava dizer muita coisa”, brinca, pelo fato de seu olhar sério, característico no comentário. “Não era de propósito, eu tinha problema de visão, então olhava bem no fundo da câmera, o que trazia a ideia de olhar diretamente ao público em casa”, explicou. Além do jornalismo, Ivette começou a trabalhar no Teatro de Equipe – primeira experiência de teatro profissional no Rio Grande do Sul –, onde atuava, fazia produção, fotografia e divulgação. Além de encenar espetáculos, o local era palco para laboratórios, debates e conferências que marcaram a cena cultural de Porto Alegre. Mergulhado em dificuldades financeiras, o Teatro de Equipe fechou as portas em setembro de 1962. Ivette acha que “foi bom o teatro ter falido, pois muitos de seus colaboradores poderiam ser presos quando a ditadura militar se estabeleceu no país a partir de 1964”. Analisando o atual momento do jornalismo e, mais especificamente, da televisão, a jornalista disse que a mídia está superficial. “A televisão está muito vulgar. De um modo geral, baixou muito o nível no sentido de pegar público de qualquer maneira. Os jornais também estão muito descuidados, muito superficiais”, afirmou. Para ela, a busca por audiência enfraqueceu o conteúdo jornalístico: “Eles estão tão preocupados em fazer o leitor, em fazer o ouvinte, em fazer o público. Antigamente, tínhamos mais paixão no jornalismo. Vivíamos atrás do furo, o que hoje é mais difícil. Quando tu vais publicar no jornal, já foi noticiado em todas os outros veículos”, completou. * Participaram da entrevista na FamecosCast: Jéssica Moraes (6º sem.), Yasmin Luz (6º sem.), Georgia Ubatuba (5º sem.) e Paula Estivalet (3º sem.)


história conhecimento

A persistência do livro M E S MO C O M S U RGI M E NTO D E PLATAFORMAS DE LEITURA DIGITA L, E- BOOKS R E P RE S E N TA M A P E NAS 2% A 3% D O FATURAME NTO DE EDITORAS NO BRASIL Frederico Martins (8º sem.)

Vendas de livros digitais patinam e leitores ainda preferem o papel, pois estabelecem uma relação afetiva com o objeto P O R Francelle Machado (7º sem.)

A

plicativos infinitos para tablets e smartphones, músicas e filmes distribuídos sem o uso de CDs ou DVDs, internet disponível sem a necessidade de fios. No período em que vivemos, a tecnologia dá um toque especial aos momentos de trabalho e lazer. Porém, apesar dessa explosão tecnológica, ainda restam algumas atividades de consumo cultural em que o comportamento do público permanece “à moda antiga”. Dentre elas, está a literatura, que segue conquistando leitores para a plataforma física, mesmo com a opção dos e-readers. Desde 2007, quando o e-reader Kindle foi lançado pela Amazon, a expectativa era de que a plataforma de leitura digital superasse rapidamente os livros físicos em vendas e na aceitação dos leitores. Com livros em formato PDF, que são a migração das páginas físicas para o eletrônico, e ainda os e-PUBs, livros desenvolvidos especialmente para a leitura digital, a tecnologia se apresentou como substituta dos livros em papel. Porém, o desempenho dos leitores digitais não foi tão positivo como o esperado. Nos Estados Unidos, primeiro país a receber o

Kindle, o hábito de leitura em e-books não se sustentou por muito tempo. De acordo com um estudo realizado pelo Pew Research Center em 2014, 69% das pessoas que leram pelo menos um livro no ano, optaram pelo formato impresso, enquanto apenas 28% utilizaram a plataforma digital. No Brasil, o cenário não é diferente. De acordo com a última edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro (IPL) em 2012, apenas 30% dos brasileiros conhecem os e-readers e, dentre estes, 82% nunca leram através da plataforma. Apenas 5% se declararam como leitores de livros digitais e, após a primeira experiência de leitura em e-books, 37% afirmaram que ainda utilizariam com frequência o livro impresso. Para Tito Montenegro, editor e sócio da Arquipélago Editorial, um dos motivos que dificulta a receptividade dos leitores é a imaturidade da ferramenta. “Acho que para muitos leitores ainda é desconfortável ler na tela. Apesar da tecnologia da tinta eletrônica que não tem luz por trás e tende a não incomodar tanto os olhos, o papel ainda é considerado, pelos leitores brasileiros pelo menos, a melhor plataforma para se ler”, explica. Montenegro afirma que, no cenário editorial do Brasil, apenas 2% a 3%

vam, não está identificada só com o digital. do faturamento das empresas vêm dos livros “É uma coisa afetiva. Por um lado, o iPad digitais, e na própria editora em que ele tratem uma certa frieza que o papel impresso balha, este não passa de 1%. não tem, se cria um outro tipo de relação”, Mesmo após o conhecimento e uso da comenta. ferramenta digital, e com oito anos desde Responsáveis pelo consumo cultural seu lançamento no mercado, ela ainda não do futuro, os jovens representam o maior cativou permanentemente o público-alvo público leitor de acordo com mais desejado. Os adolescena pesquisa Retratos da Leitura tes e jovens ainda não abanno Brasil (14% dos entrevisdonaram o livro físico, apesar É uma tados entre 5 e 10 anos, 10% de permanecerem conectados entre 11 e 13 anos, 11% entre à internet o tempo todo. “É coisa afeti14 e 17 anos e 14% entre 18 e sintomático que os jovens que va, o iPad 24 anos. A partir dos 25 anos, têm tanta facilidade para lidar a porcentagem de leitores cocom tecnologia e são tão ligatem uma meça a cair) e as portas de endos em mobile ainda leiam em frieza.” trada para esse mundo são, em papel, desde Harry Potter até muitos casos, livros best sellers vários outros fenômenos mais Tito como os de John Green, Nichorecentes como a saga CrepúsMontenegro las Sparks ou J.K. Rowling. Com culo. Isso pode ser explicado a literatura investindo em histópela necessidade que o livro rias que chamam a atenção de faixas tem de que a pessoa tenha uma etárias cada vez mais novas, Montenegro imersão, e em relação a isso é muito mais avalia como positiva a inserção destes na licômodo que a pessoa leia em papel. Nele tu teratura, seja por qualquer tipo de livro, pois não tens tantas possibilidades de distração, acredita que é uma forma válida de ponto de como se tem em um tablet, por exemplo”, entrada para uma massa de novos leitores garante Montenegro. O editor afirma que a do meio impresso. “A infância e a adolesgeração que nasceu na virada do século, ao cência são períodos de muita curiosidade e contrário do que algumas pessoas espera-

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segundo, os colecionadores serão ainda mais que a bateria do e-reader acabe no momento responsáveis pela movimentação financeira mais importante. Isso já aconteceu comigo e do setor. “A gente está em um momento foi realmente irritante”, relata. de transição. Ainda há muitas pessoas que A cada novidade proporcionada pela consomem tanto livros quanto CDs. Mas o tecnologia, surgem dúvidas sobre o que se que me faz consumir um CD? Se é uma obra tornará obsoleto. Mas diferentemente de de relançamento, que tem uma edição caprioutros tipos de produtos culturais como CDs chada, um projeto gráfico bacana, do artista e DVDs, que registram queda de vendas em que eu gosto muito e quero apoiar, isso me função dos downloads de conteúdo on-line, motiva a comprar um trabalho. os livros impressos contraCaso contrário, as pessoas não riam as expectativas e ainda têm essa motivação toda de se mantêm como plataforma compra”, reconhece. mais escolhida para leitura. O A gente Mesmo que não consiga professor de Publicidade e Proestá em um desbancar o lugar dos livros paganda da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande momento de físicos, a tecnologia dos e-readers pode se manter, no futuro, do Sul (PUCRS) Ticiano Patransição.” em outras vertentes que não a ludo, que também atua como literatura por prazer. O editor produtor musical, afirma que Ticiano da Arquipélago Editorial acreos livros têm sofrido menos Paludo dita que “para um acadêmico com a queda de vendas do que que tenha que carregar os livros os CDs. O meio musical possui de um lado para o outro, é obviamaior facilidade de dissemimente mais fácil que ele baixe esses nação de conteúdos por meio livros em um dispositivo”. Dessa forma, a de pirataria, e o professor ainda aponta um literatura didática pode ser um caminho de outro motivo para a queda de vendas. “As sucesso para o digital, tanto pela redução pessoas escutam música em casa, no comde custos com papel e impressão, quanto na putador, ou escutam caminhando. Escutam praticidade para os estudantes. em players digitais ou no celular, e nenhum Além dos e-books, os audiobooks tamdesses dispositivos roda um CD”, explica. bém podem facilitar a compreensão de conEm comparação com os CDs, que no teúdos didáticos. A sugestão é da professora futuro devem ter um público mais seleto, e pesquisadora da Faculdade de Letras da os livros impressos ainda podem ser vistos PUCRS Vera Wannmacher Pereira, que cocomo plataforma que mantém sua pereordena o Núcleo de Pesquisa em Cognição, nidade, pois não perdem público, mesmo Cultura, Linguagens e Interfaces: Ciência, em meio à crise causada pelo meio digital. Arte e Tecnologia. Após realizar uma pesPara Paludo, ainda há um mercado aberto quisa com as duas plataformas digitais de aos livros e CDs no futuro, mas no caso do

leitura, ela concluiu que as estratégias de compreensão da leitura são as mesmas utilizadas em um e no outro, mas a compreensão detalhada (do conteúdo) é mais intensa no audiobook do que no e-book. “Porque no segundo dispositivo é mais fácil o leitor voltar, ele enxerga e volta ao ponto, e no audiobook ele tem que achar o ponto se quiser retornar ou avançar. É mais difícil. Certamente o sujeito participante percebeu essa dificuldade e preferiu ficar mais atento”, afirma Vera. A professora acredita que a dificuldade de adaptação dos leitores ao texto em uma tela é questão de mudança de hábitos sociais e propõe uma análise acerca da utilidade das novas tecnologias. “A gente tem que achar o que é importante, o que é melhor para um audiobook ou para um e-book. A gente vai levar um tempo até achar um bom formato, e para isso precisamos de pesquisas. Para essa visão científico-didática, para aprendizagem, pode ser um bom caminho”, opina. Diferentemente de outros meios impressos como jornais e revistas e ainda de outros produtos culturais como CDs e DVDs, os livros físicos e os e-books têm, no futuro, uma oportunidade de coexistência. Para públicos distintos, momentos e necessidades diferenciadas, ambas as plataformas têm espaço reservado. “É importante que coexistam, porque cada um no seu formato atinge determinados aspectos do desempenho cognitivo de cada um de nós”, aponta Vera. Além dela, a pesquisa do Instituto Pró-Livro comprova essa tendência: 52% das pessoas entrevistadas acredita que o livro impresso não irá acabar e que uma plataforma não deve substituir a outra no futuro.

Frederico Martins (8º sem.)

ainda muita possibilidade de descoberta. Vai ter gente que vai melhorando seus níveis de leitura, lendo coisas mais profundas, muitas vezes por essa entrada, por um tipo de texto mais simples e fácil”, garante. Mesmo não sendo um país com expressivo número de leitores assíduos (entre os entrevistados pelo IPL, apenas 28% declarou ter a leitura como hobby), o Brasil ainda se mostra receptivo aos livros físicos, devido a vários motivos. O principal deles é a diferença sensorial do meio impresso, como afirma Montenegro: para os leitores, o toque, o ato de virar as páginas, a organização da coleção na estante e até mesmo o cheiro de um livro faz a diferença. Há, ainda, a facilidade em presentear outra pessoa com um livro, trocar ou emprestar livros aos amigos e, em tempos de redes sociais, fazer a denominada shelfie - foto publicada no Instagram, ao estilo da conhecida selfie, porém com uma estante de livros ao fundo. Para o professor e pesquisador da Faculdade de Comunicação Social da PUCRS, Eduardo Pellanda, a preferência pelos livros físicos pode ser questão de costume. Ele alerta: “O importante é entender que o digital e o impresso são coisas bem diferentes. Não é só uma substituição, mas toda uma nova forma de ler”. Pellanda compara a tecnologia dos e-readers ao surgimento das câmeras digitais, e acredita que, assim como no caso das câmeras, as pessoas mudarão seus hábitos assim que perceberem os benefícios da plataforma digital de leitura. A estudante de jornalismo Ana Szevcynski, 21 anos, é leitora desde criança. Influenciada pela avó, que sempre lhe dava livros de presente, ela já registra mais de 360 livros lidos no perfil que possui na rede social Skoob (rede social direcionada exclusivamente para leitores). Ana afirma que lê em ambas as plataformas, tanto física quanto digital, e mesmo não tendo dificuldade na leitura digital, valoriza a própria ação, o momento de ler. “O ritual de leitura que um livro físico necessita é uma das coisas que mais gosto na vida”, assegura. Para a estudante, apesar da facilidade de manuseio e do baixo custo de um livro digital, a melhor forma de cativar novos leitores é uma velha conhecida. “Acredito no encantamento que livros físicos ainda têm sobre as pessoas. Sem falar nos inúmeros cenários em que um livro pode chegar até alguém: um presente entregue em mãos, um livro perdido, um livro herdado por alguém da família. Ou apenas uma capa bonita com um título interessante em alguma biblioteca”, acrescenta. Assim como Ana, a professora de inglês Fernanda Rodrigues, 28 anos, é leitora assídua e valoriza a leitura física, como tantos outros leitores, pelas características sensoriais e pela relação diferenciada que se estabelece com o texto impresso. “Querendo ou não, é isso que faz um leitor apostar em um autor que ele nunca tenha lido”, afirma. Fernanda escreve sobre os vários livros que já conheceu no blog pessoal Algumas observações e, apesar de ler e-books esporadicamente, não migra totalmente para esse formato por limitações que encontra na própria ferramenta. “Nenhum leitor quer se sentir cansado durante a leitura ou quer

Obras impressas não perdem público e devem coexistir com suportes alternativos no futuro AGOSTO/SETEMBRO DE 2015 • PÁGINA 5


preconceito história

Quando a minori Mesmo em grupos que defendem minorias, alguns integrantes são silenciados. O fenômeno atinge os ativistas que, além dos marcadores sociais produzidos por um movimento como o de defesa das conquistas LGBT, acumulam outros, como serem negros ou pobres, por exemplo. Quanto mais marcadores uma pessoa tiver, mais propensão tem para sofrer exclusão dentro de grupos de minorias. Especialistas explicam que, embora não seja correto, é comum que isso aconteça como reflexo da própria sociedade, que nega a igualdade de direitos.

POR Eduarda Endler Lopes (3º sem.)

bica feminista da Marcha Mundial das Mulheres, explica que em uma sociedade capitalista há maior dificuldade para “ existir acesso aos direitos de igualdade e necessário que existam pessoas que, no caso de uma população vulneráque sofram mais do que outras”, vel, como é o caso dos LGBTs, a situação questiona Demétrio Moreira, gay, é ainda pior pela própria impossibilidade negro e pobre. Para ele, a comude acesso ao capital. Segundo a militante, nidade LGBT reproduz o que acontece na membros do grupo com maior poder ecosociedade, além de valorizar mais alguns nômico têm menos problemas que os com grupos em detrimento de outros. Um exemmenor poder aquisitivo, da mesma forma plo que reforçaria a preconceito: ele tamque LGBTs brancos têm menos problemas bém lembra que a comunidade é muito mais do que LGBTs negros. Há um acúmulo de G (gay) do que L (lésbica), por exemplo, e, discriminação, que se aplica em escalas. O por isso, essas minorias dentro do grupo preconceito, dessa forma, é um constructo são silenciadas. Moreira faz parte de uma social, estratificado e cumulativo, e a cominoria silenciada dentro de um grupo de munidade não está imune a ele, de acordo minorias e constata que nenhum grupo está com a especialista. “É fácil reproduzirmos livre de sofrer isso. dentro do movimento preconceitos os mais Existem outros marcadores além da variados, como de gênero, racial, contra orientação sexual, como a raça e a classe deficientes físicos, social, dentre outros. social. Quando o intercruzamento destes Vejam o exemplo dos/das transexuais (isso acontece, ocorre o silenciamento ou a inviporque existem transexuais femininas e sibilidade. Claudia Penalvo, colaboradora masculinos), que hoje sofrem todo o tipo do coletivo SOMOS - Comunicação, Saúde de violação de identidade dentro da própria e Sexualidade, pontua que a comunidade comunidade LGBT, ou das/dos bissexuais, LGBT existe dentro da sociedade excludenabsolutamente invisibilizados nas pautas e te. Dessa forma, é muito fácil repetir esses reivindicações LGBTs”, afirma Ana. modelos. Ela ressalta que ainda há proSegundo Roselaine Dias, conselheira blemas de saúde, como HIV, que agravam coordenadora do Conselho Estadual LGBT, ainda mais a condição de minorias. “Se a a sociedade brasileira é machista, racista e pessoa for mulher, pobre, negra, lésbica e misógina. “O movimento, pelo seu processo com aids, ela está na ponta de tudo”, lamende formação histórica, muitas vezes traz ta. Claudia afirma que esses marcadores esses elementos pra dentro da sua ação”, interferem ainda mais no acesso de direitos explica. Ela conta que, como militante, da comunidade LGBT. Um gay, branco, tenta reeordenar essa forma de atuação. estudado, magro e bonito pode ter acesso a Roselaine é também articuladora nacional praticamente tudo, mas um gay, pobre, sem da Liga Brasileira de Lésbicas, que foi criaestudo e afeminado, por exemplo, quase da para lutar por uma visibilidade exclusiva não tem acesso a direitos. das mulheres no ativismo de gênero. Ela Moreira, que é estudante de Relações cita ainda a Rede Afro LGBT, que tem como Públicas na Universidade Federal do Rio premissa a pauta da negritude e da juventuGrande do Sul (UFRGS), nasceu em São de. “Temos tensionamentos no movimento Paulo e veio para Porto Alegre por ter por deflagarmos as especifidasido aprovado no vestibular. des”, salienta. Ou seja, existem Conta que a pressão existe até grupos distintos porque as dimesmo dentro da instituição, ferenças são promovidas. que ainda exibe uma caractePobre, A orientação sexual e a rística marcante. “São poucos negra, lésidentidade de gênero das pesnegros dentro da universidasoas acabam influenciando a de e, quando tem, existe um bica e com trajetória de vida. A experiênsilenciamento desse grupo”, aids está na cia de pessoas trans - que tivelamenta. Segundo o estudante, ram o corpo lido e designado os gays negros estão nas marponta.” como sendo de um gênero, mas gens, ou seja, na periferia, nos Claudia que perceberam em si o ousub-empregos, e uma grande Penalvo tro gênero -, é completamente parcela não vai ocupar espadiferente de um cisgênero (indiços legítimos na sociedade tão víduo cujo gênero é o mesmo que o facilmente quanto ele teve a designado no nascimento). Segundo Gussorte de conseguir. Ele completa o raciocítavo Passos, mestre em Educação, tarefas nio com o argumento de que a violência vai cotidianas para uma pessoa cis, como o uso além da verbal e da rejeição. Além de sofrer de um banheiro público, se transformam dentro do local de estudo, já foi vítima de em um problema para uma pessoa trans. agressões físicas e roubado ao se afastar do Ele conta que são comuns os relatos de mugrupo de amigos. Moreira entende que sua lheres trans que são hostilizadas ao tentar sexualidade foi o fator determinante para usar tanto o banheiro feminino quanto o ter sofrido a agressão. masculino. Além do mais, Passos lamenta Ana Naiara Malavolta, militante lés-

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Para pessoas como Moreira, que é n


ia cala a minoria Juliana Baratojo (4º sem.)

xuais, que mesmo existindo e trabalhando, que o Brasil é o país que mais mata pessoas estão apagados, quando comparados com o trans e travestis em todo o mundo. Entre conhecimento do movimento de homossejaneiro de 2008 e abril de 2013, foram 486 xuais. Além do mais, Gomes, que também mortes. Crimes que em sua maioria fica é voluntário no G8 - Generalizando, Grupo claro o requinte de ódio de gênero aplicado de Direitos Sexuais e de Gênenas vítimas. “Uma travesti não ro do SAJU/UFRGS, fala que é morta na rua com uma facao debate na comunidade gira da ou um tiro. Infelizmente, em torno do casamento iguaé muito comum recebermos Na hora litário, que é uma demanda de notícias de travestis que foram de fazer uma classe social específica. mortas com sete, dez, quinze Isso não quer dizer que nas facadas, com o rosto deformajustiça não as pessoas não desedo e o pênis cortado”, conta existe julga- periferias jam construir uma família ou Passos, que também trabalha adotar, mas que esses arranjos na Associação de Travestis e mento.” não fazem parte de uma preoTransexuais do Rio Grande do Demétrio cupação ideológica. Ou seja, a Sul (Igualdade - RS). Moreira classe dominante faz com que a Luísa Stern, mulher trans bandeira do casamento e da adoe militante dos Direitos Hução se tornem centrais em detrimenmanos e LGBT, acrescenta que to de outras. “Alguém já ouviu uma travesti ao mesmo tempo em que as minoriais são negra e pobre, por exemplo, levantando invisibilizadas, ainda há grande erotização essas bandeiras antes de defender, em pridos gays negros. Segundo ela, há a crença meiro lugar, o direito de viver sem medo de de que o homem negro é mais potente e, por ser assassinada?”, questiona. isso, são tratados como objetos sexuais, até Moreira, que reside na Casa do Estudanmesmo por homossexuais brancos de classe te da UFRGS, lamenta que em muitos casos média alta. Além disso, Luísa lastima a má a Justiça não age. Ele cita a Parada Gay desretratação da comunidade LGBT na mídia e te ano como exemplo de um momento em que são raros os momentos em que pessoas que a sociedade, em parceria com o Poder do grupo são mostradas de maneira correta. Judiciário, apontou um culpado e tomou “Na maioria dos casos, só aparecem em prouma atitude, em relação à mulher transegramas e notícias sensacionalistas, quando xual que fez um protesto como se estivesse sofrem algum tipo de discriminação ou, crucificada. Ele lembra também do caso da ainda, como criminosas”, destaca. travesti Verônica, que foi presa após uma As minorias não são apenas prejudicabriga com a vizinha idosa. Dois dias depois das física e psicologicamente, mas também da prisão, ela apareceu em fotos com o rosto privadas de outros direitos por não ter acesdesconfigurado e com roupas rasgadas. O so ao reconhecimento de sua identidade de estudante lamenta que os policiais que a gênero. Muitas pessoas trans deixam o enagrediram saíram impunes e ninguém vai sino básico pelo preconceito que enfrentam. saber quem cometeu mesmo o crime. “Na Conforme Eric Seger, membro do Instituto hora de fazer justiça não existe julgamenBrasileiro de Transmasculinidade (IBAT), to”, desabafa. muitas travestis são analfabetas ou semiA coordenadora de políticas LGBTs e -analfabetas. Ele reconhece que existem dos Direitos Humanos do Rio Grande do políticas de nome social promovidas pelo Sul, Marina Reidel, conta que hoje existem Ministério da Educação (MEC) e instituigrupos de negras e negros LGBTs que estão ções de Ensino Superior, o que já produz se organizando e seguindo pautas específium avanço, mas que ainda assim o preconcas de recortes de raça, ou seja, discutem ceito faz com que a implementação seja difimaneiras para que não exista preconceitos cultada. Seger ressalta a importância de ter dentro do próprio grupo. Marina acredita noção dos marcadores, que mostram todas que dentro do movimento há esse difícil as diferenças que podem existir dentro de trabalho, assim como os recortes geraciouma mesma comunidade, para que, dessa nais, que também pesam muito e acabam forma, não exista nenhuma opressão. sendo deixados de lado. Segundo ela, não O movimento hemogênico consegue há dados que afirmem o número de inteacessar os meios de comunicação e por isso, grantes LGBTs no Rio Grande do Sul, pois se tornar representativo. “A comunidade eles migram dentro do Estado e para fora LGBT e suas demandas são retratadas do dele. Há pouco tempo o Rio Grande do ponto de vista branco e cissexista (e tamSul assinou o Termo de Cooperação para bém machista)”, diz Guilherme Gomes Enfrentamento à Homofobia, que visa à reFerreira, assistente social da Igualdade. Ele alização de ações no sentido de capacitar os acrescenta que não é por acaso que se fala órgãos de segurança pública. Marina conta em um movimento social chamado GGGG, que o diálogo foi retomado devido à troca ao invés de LGBT, isto é, gay, branco, de de governo e que há uma nova conversa soclasse dominante e cisgênero. Ele questiona bre a segurança pública envolvendo outros as pessoas sobre o conhecimento que possetores, como diversidade sexual. suem de organizações de travestis e transe-

negro, pobre e homossexual, o acesso a direitos torna-se mais difícil

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humor história

“Faço desenhos com a mesma violência” CART UN I S TA F RA N C Ê S JE AN P LANTU D IZ QUE NÃO DEIXOU DE CRITICA R A MEA ÇAS AOS D I RE I TO S H U M A NOS APÓS ATAQUE À S E DE DO CHA RLIE HEBDO EM PA RIS Juliana Baratojo (4º sem.)

POR Rodrigo Oliveira (4º sem.)*

O

humor é um bicho que pode assumir diferentes formas. Há quem o considere habitante de um universo intocável, no qual o importante é fazer rir e nada mais. Ao mesmo tempo, não é errado encará-lo como instrumento de crítica e de reflexão. Afinal, carrega a possibilidade de torcer a realidade para expor seus significados. O cartunista francês Jean Plantu é um daqueles que escolheu fazer uso da piada para questionar. O ilustrador da capa do Le Monde veio à Capital, em julho, para palestrar na Casa de Cultura Mario Quintana, a convite da Aliança Francesa, e aproveitou para conversar com docentes e estudantes na Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da PUCRS. No encontro, Plantu comentou os limites da liberdade de expressão e discutiu o panorama do cartum após o ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo, em janeiro. A seguir, trechos da entrevista concedida ao Editorial J: Editorial J – A função da charge se mantém, buscando a contestação e a reflexão além do usual, ou mudou em relação a 1972, quando você entrou no Le Monde? Jean Plantu – Com a internet, temos que entender que acabou a época em que podíamos nos expressar como se estivéssemos em uma mesa de bar. Agora nos endereçamos ao planeta, e essas pessoas podem não entender nada das nossas charges. É a novidade. J – A imprensa francesa carrega uma tradição na sátira e no questionamento dos costumes, da política e da religião. Após o ataque ao Charlie Hebdo, este cenário está ameaçado? Plantu – Não devemos parar de desenhar para que o medo não se instale. Na França, o medo se instala dentro das redações. Quando se vira cartunista agora dizem: ‘Ah, sim! Mas ele não deveria desenhar uma sinagoga ou um barbudo. A gente vai ter problemas’. É muito mais fácil publicar uma foto com uma manequim estilo Chanel. Quando me aposentar, acredito que me substituirão por uma imagem que não incomoda. Serei substituído por publicidade Givenchy. J – Depois do ataque ao Charlie Hebdo, Rénald Luzier (desenhista

Artista esteve na Famecos e falou sobre cartunismo francês, acossado pelo atentado terrorista que estampou a capa após o atentado), conhecido por “Luz”, declarou ter perdido a inspiração. De que forma o ataque afetou o seu trabalho e a sua vida? Plantu – O ataque tocou minha vida, porque agora ando acompanhado de guarda-costas, mas a minha vida como desenhista não mudou nem um pouco. Nada mesmo. Faço os mesmos desenhos. Com a mesma força, a mesma violência. Às vezes, abordo assuntos como os atentados aos direitos humanos. É a minha prioridade e não a largarei. J – Aqui no Brasil as pessoas estão mais atentas, ajudando a impor um limite entre o cômico e o desrespeitoso, principalmente no que se refere às minorias. Você concorda com esse limite ou acredita que essa fiscalização impossibilita uma crítica mais incisiva? Plantu – Sempre pensei que é uma

demagogia dizer que um desenhista pode falar tudo, fazer tudo e permitir tudo. Não conheço nenhum exemplo de desenhista que vá até o final, o tempo inteiro, do que ele pensa. J – Você se policia ao desenhar? Plantu – Sim. Às vezes, penso que o desenho foi muito violento e que, da próxima vez, poderia fazer diferente. Não tenho razão absoluta. J – Acredito que o seu trabalho não esteja baseado em criticar os agentes de um problema, mas o processo... Plantu – Quando critico um homem político, critico realmente a pessoa, e também a sua política. Mas, às vezes, quando desenho Sarkozy (presidente da França entre 2007 e 2012), falo de sua pessoa, porque a sua pessoa também faz parte da sua política.

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J – O que é possível criar com o poder da charge nos dias de hoje e o que se deve tomar distância? Plantu – Acho liberdade, igualdade e fraternidade uma unificação magnífica. Liberdade é a minha liberdade, a sua liberdade e a liberdade dele de se expressar. De também pensar que a liberdade dele não deve se sobrepor a liberdade de pensar do outro. Igualdade me agrada. Quando 4 milhões de pessoas desfilam nas ruas da França, por causa do atentado da Charlie Hebdo, também podemos pensar por que não saíram 4 milhões quando houve 2 mil vítimas do Boko Haram na África. Acho que quando nos expressamos devemos pensar na fraternidade do outro. Se o outro não entende as charges, temos que proporcionar uma fraternidade a ele. Devemos mostrar de forma diferente para que ele entenda. Proponho uma pedagogia para que entendam as imagens. *Entrevista traduzida por Gabriela Dias (3º sem.)


política

Futebol eleitoral L EVA N TA M E N TO E XCLUS IVO F E ITO PE LO E DITORIA L J REVELA INFLUÊNCIA DOS CLU B E S DE F U T E BOL NO E LE ITORADO POLÍTICO DE DIRIGENTES ESPORTIVOS

No infográfico abaixo, é possível notar a influência de funções diretivas em um clube de futebol na hora de concorrer a cargos públicos. A discrepância mais evidente é a de José Perrella, que aumentou o número de votos em 2.798%. O levantamento de dados foi feito com base no banco de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE):

Era cartola

Não era Cartola

2006 2002 1999

Votos de José Perrella 185 mil 2 milhões 69 mil

2010 1998 1994

Votos de Eurico Miranda 86 mil 106 mil 17 mil

2014 2010 2006 1998 1994

Votos de Paulo Odone 34 mil 38 mil 83 mil 63 mil 17 mil

2014 2010

Votos de Evandro Leitão 31 mil 70 mil

Votos de Gustavo Carvalho 2014 2010 2006

N

ão é só para os atletas considerados ídolos por suas torcidas que os clubes de futebol se transformam em trampolim eleitoral para cargos públicos. Segundo levantamento exclusivo feito pelo Editorial J, ocupar um cargo na direção de um clube profissional de futebol pode aumentar em até 2.798% os votos de políticos. Com base no banco de dados do site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), comparou-se o desempenho nas urnas de dirigentes esportivos quando disputam eleições na condição de presidentes de clubes e quando as disputam longe dos holofotes do futebol. Os casos analisados expõem um padrão estatístico: os cartolas obtêm seus ápices de votos quando concorrem sob o impulso de também ocuparem a direção de um time. O exemplo mais extremo é o do senador José Perrella (PSDB-MG). Quando completou seu sétimo ano sob a presidência do Cruzeiro, o político atingiu quase três milhões de votos nas eleições de 2002, elegendo-se senador pelo estado de Minas Gerais. Em 2006, na primeira campanha política que promoveu após se afastar do futebol, Perrella obteve 69 mil votos. Na comparação entre esse intervalo, a diferença de votos chega a 2.798%. Segundo o professor de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Bernardo Buarque de Hollanda, a existência de personalidades que transitam entre a esfera privada do futebol e a esfera pública da política é relativamente comum na história brasileira do século 20. Ele lembra da criação da Confederação Brasileira de Desportos (CDB), em 1916, cujo bastidor teve ligação com o Ministério das Relações Exteriores, além do antigo Conselho Nacional de Desportos (CND), concebido em 1941 em pleno Estado Novo, quando o governo federal passou a fiscalizar a centralização das federações e confederações esportivas vigentes. “Basta mencionar o caso de Berlusconi na Itália, catapultado de presidente de um clube de alcance nacional, como é o caso do Milan, ao topo do poder no país, para que possamos mensurar a influência do futebol na vida contemporânea”, afirma o professor. No Rio Grande do Sul, o ex-deputado estadual pelo PPS Paulo Odone Ribeiro obteve seu recorde de votos em 2006, atingindo 83 mil eleitores, no mesmo ano em que presidia o Grêmio. Na última eleição, em 2014, quando estava há dois anos afastado do futebol, o político angariou apenas 17 mil votos - diferença de até 388% em comparação

+

40 mil 49 mil 57 mil

Votos de Patrícia Amorim 2012 2008 2004 2000

P O R Gabriel Gonçalves (6º sem.)

24 mil 23 mil 21 mil 11 mil

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à eleição que disputou quando administrava o Grêmio. Procurado pelo Editorial J, Paulo Odone admite: “É obvio que o Grêmio ajudou”. Embora reconheça a influência do clube no aumento do eleitorado, aponta para o time gaúcho como responsável pela sua queda nos votos em 2014: “Passei por um processo de desconstituição da minha imagem de dentro do clube, nos consulados. Eu tinha meu patrimônio político longe do Grêmio”, afirma. No ranking geral do levantamento, o atual presidente do Vasco da Gama, Eurico Miranda, é o segundo político que mais impulsionou seu eleitorado sob a gestão de um clube de futebol, com um salto de até 523% nos votos em eleições que disputou sob a presidência do Vasco. Em 1998 conquistou sua eleição mais expressiva, com 106 mil votos em todo o estado do Rio de Janeiro. Em 2010, há dois anos afastado do clube, Eurico Miranda amargurou 17 mil votos. Procurado pela reportagem, o assessor de Eurico afirmou que o presidente não teria condições de dar entrevista, devido aos protestos de uma torcida organizada vascaína durante um treinamento de jogadores do time em São Januário. Dos seis casos levantados pela reportagem, os únicos políticos que obtiveram aumento progressivo de votos em todas as eleições são aqueles que ocuparam a presidência de um clube de futebol em todas as disputas para cargos públicos que participaram. É o caso do atual presidente do Ceará e deputado estadual (PDT-CE), Evandro Leitão. Desde que assumiu a presidência do time, o dirigente esportivo também começou a concorrer, com sucesso, a eleições para cargos públicos. Em 2010, na sua primeira empreitada política, o dirigente elegeu-se deputado estadual, com 31 mil votos. Após seis anos à frente do clube, o eleitorado político de Leitão deu um salto de 125%. Em 2014, o deputado foi reeleito com 70 mil votos, atingindo a 12º maior votação do Estado. O levantamento ainda mostra que a exposição dos holofotes esportivos também pode ser negativa, dependendo do desempenho à frente do time. É o caso da ex-vereadora pelo Rio de Janeiro e ex-presidente do Flamengo, Patrícia Amorim. Até então conhecida por ser uma ex-atleta olímpica do clube, a política do PMDB teve a chance de alavancar sua popularidade eleitoral sob a presidência do time com maior torcida da América do Sul. Mas a gestão marcada por conflitos com a torcida, além das acusações envolvendo seu gabinete municipal, ajudaram a reduzir em até 118% o eleitorado da ex-vereadora em eleições.


transporte história

Nova direção PROJ ETO Q U E E S T Á S E N DO IMPLANTAD O E M PORTO ALE GRE BUSCA CORRIGIR PROBLEMA DE O RI E N TA Ç Ã O C OM P LACAS D E S INALIZ AÇÃO NAS PA RA DAS DE ÔNIBUS Juliana Baratojo (4º sem.)

Projeto da EPTC informa nome e número das linhas, mas placas já sofrem com problemas de manutenção, como colagem de adesivos POR Nicole Oliveira (2º sem.)

A

ndar de ônibus em Porto Alegre é uma tarefa confusa para os usuários do transporte público. O principal motivo é a falta de informação, um dos problemas de mobilidade da capital gaúcha. Contudo, as ações da prefeitura acontecem somente à medida que aparecem conflitos entre os passageiros e os órgãos oficiais. Com a intenção de oferecer maiores informações aos usuários, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) trabalha, desde outubro do ano passado, na instalação de novas placas de sinalização nas paradas. Porém, elas foram fixadas em apenas 105 pontos dos 3.500 que a empresa estima

cobrir até maio de 2016. O Editorial J analisou, em maio, seis paradas com as novas sinalizações na rua Plínio Brasil Milano e proximidades. Dentre elas, três estavam encobertas pelo telhado do próprio ponto de ônibus e uma por folhas e galhos de árvores, o que impossibilitava a visão total da placa para quem estava dentro do abrigo. As outras duas não apresentavam nenhum obstáculo visual, embora os usuários reclamassem do tamanho das letras. A EPTC pretende lançar, a cada mês, um pacote para instalar placas de sinalização nas paradas de ruas e avenidas consideradas importantes em Porto Alegre. O plano prevê três tipos de placas, a menor medindo 60 centímetros por 40, e

como é o caso de Yui Sakuma. A estudante a média, na proporção de 80 por 60 centíintercambista japonesa conta que utilimetros. O terceiro modelo, de acordo com zar ônibus em Porto Alegre a empresa, ainda não está é muito confuso, porque a totalmente concluído, devido sinalização consiste apenas à dificuldade de implantaNão é só na informação do nome e do ção. O intuito seria fornecer falta de panúmero da linha. “No Japão, mais informações do que as posso saber qual ônibus vai existentes nas outras duas dronização, chegar no ponto que estou estruturas, como o itinerário é falta agora, porque a direção e o e os primeiros e últimos hohorário dele estão escritos na rários das linhas. de inforparada”, afirma Yui. A fim de A falta de sinalização gera mação.” melhorar sua circulação em desorientação. Até mesmo Porto Alegre, ela usa o aplicamoradores da Capital costuSimone tivo para smartphone Moovit, mam se atrapalhar quando Carbelon que permite atualizações simulalteram seus trajetos. O protâneas das condições do trânsito e blema aumenta ainda mais das linhas de transporte público. quando estrangeiros buscam informação,

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A aposentada Mara de Oliveira, que esperava o ônibus no terminal da linha 608 - IAPI, na Avenida Plínio Brasil Milano, garante que as letras usadas nas placas são muito pequenas e que as cores empregadas no fundo não estão adequadas, o que complica a visualização das linhas de ônibus. Além disso, cita como um ponto negativo a altura das estruturas, para ela muito elevadas. De acordo com a EPTC, as placas são fixadas entre 2,10 e 2,30 metros de altura. “Sou míope e não consigo enxergar claramente as informações”, reclama a aposentada. Mara reconhece que a ação dos vândalos prejudica o trabalho da prefeitura e sugere que, por isso, deveria existir uma proteção contra os prejuízos causados por eles. A arquiteta e chefe da Equipe de Informação de Mobilidade Urbana da EPTC, Simone Carbelon, revela que o projeto estava guardado há aproximadamente dois anos e é o começo de um trabalho contínuo que irá contar com pesquisa de satisfação junto aos passageiros. “A ideia é que a gente consiga evoluir e tentar chegar a um nível onde todas as pessoas possam realmente ter acesso às informações. Nós precisamos informar os usuários independentemente da idade que ele tenha, da condição cultural, financeira ou étnica”, explica. Simone relata que a equipe está combinando uma série de materiais com o mesmo projeto de identidade visual para que as pessoas se acostumem a visualizar sempre o mesmo padrão. “Houve uma falha de planejamento durante esse tempo todo. Não houve interesse em investir nisso por parte do poder público”, admite a arquiteta, a respeito dos problemas enfrentados pelos passageiros diariamente. “Não é só falta de padronização, é falta de informação mesmo”, acrescenta. Atualmente, as maneiras de os cidadãos porto-alegrenses se informarem sobre o transporte público não são práticas. O site POA Transporte, desenvolvido com a finalidade de pesquisa do itinerário de ônibus e lotações no município, é uma opção para as pessoas que acessam a internet pelo celular. No entanto, não contempla o público que depende do transporte público em Porto Alegre por ser um recurso que precisa do uso de tecnologias que nem todas as faixas etárias dominam. Além disso, o site não abrange o acesso de pessoas com deficiência visual. Com o propósito de amenizar a situação, a EPTC disponibiliza os números de telefone, que não são gratuitos, 118 e 156 para as solicitações dos usuários. Ainda há uma publicação anual de guias e mapas das principais linhas com os horários, os roteiros e as paradas dos coletivos. O material é distribuído gratuitamente nos pontos de informações, alguns pontos turísticos, na Estação Rodoviária, no Aeroporto Salgado Filho e no site da EPTC para download. A inexistência de uma cultura de planejamento por parte do poder público reflete na desordem da sinalização, segundo o engenheiro de trânsito Mauri Panitz. “É preciso monitorar após a instalação para

padronizada é válida. Porém, a tipologia verificar o funcionamento ou não, se as escolhida (ver ilustração) apresenta corpo pessoas estão entendendo as informações pequeno para uma rápida visualização. e se as placas estão sendo depredadas”, Ela sugere que o ideal seria pensar posdiz. Panitz ainda ressalta que é preciso síveis sinalizações com outras estruturas. realizar uma consulta pública com o ob“Quem sabe construir estruturas à parte, jetivo de saber o nível de satisfação dos como murais - que já existem em algumas usuários. Durante o período de observaparadas - que possam estar fixados com ção da nova sinalização pelo Editorial J, uma sinalização mais clara, já foi possível constatar que visível e legível”, completa. algumas placas estavam com Danusa assegura que as noproblemas de manutenção, É preciso vas placas não apresentam com adesivos colados. Em critério quanto ao posicionarelação à proposta da EPTC, monitorar mento e à altura em que são Panitz comenta: “A ideia é se as instaladas. interessante, mas ninguém Com a demora do poder acerta na primeira vez. Com pessoas público em adotar uma polícerteza, ela não vai atender estão enten- tica pública de orientação, a todas as necessidades, então sociedade busca compensar. é preciso que eles façam uma dendo.” Realizada em 2012, a interrevisão desse projeto”. Mauri Panitz venção do coletivo de publiciA professora de Design da tários Shoot the Shit colaborou Faculdade de Comunicação para atrair a atenção da mídia, da Social da Pontifícia Univerpopulação e da EPTC. O grupo colou adesidade Católica do Rio Grande do Sul sivos nas paradas de ônibus para que os (PUCRS) Danusa de Oliveira acredita que próprios passageiros pudesssem escrever a iniciativa da prefeitura de desenvolver quais linhas circulavam nelas. De acordo um projeto gráfico que envolva a criação com Luciano Braga, um dos criadores do de uma sinalização e uma identidade

“Que ônibus passa aqui?”, o projeto surgiu a partir da identificação do problema de falta de sinalização em pontos de ônibus e procurava encontrar uma solução barata e facilmente replicável. “Fizemos um projeto de financiamento coletivo na plataforma Catarse e pedimos para as pessoas doarem dinheiro para imprimirmos seis mil unidades e saímos colando pela cidade”, conta. Devido à grande repercussão, a EPTC decidiu trabalhar em parceria com a proposta do grupo e, após cinco meses de desenvolvimento, colocou nas ruas um adesivo contendo as linhas de ônibus. Contudo, os atos de vandalismo fizeram a EPTC desistir do projeto. "A gente insistiu para eles continuarem, até chegamos a pensar em formas de diminuir o vandalismo, mas eles bateram o pé e engavetaram o projeto", relata Luciano. Os resultados obtidos pela iniciativa proporcionaram dois prêmios internacionais, um deles organizado pelo jornal britânico The Guardian. A respeito da nova sinalização, comenta que “ainda é um número pequeno de paradas, mas já é um começo".

+ O que observar nas placas Sinalização implementada pela EPTC indica as regiões da cidade para as quais os ônibus se deslocam, os números das 400 linhas que servam a população de Porto Alegre e também algumas das formas de contato para os usuários tirarem suas dúvidas. No quadro abaixo, alguns exemplos das informações disponíveis:

Cores

Quadro

A EPTC utiliza cinco cores para ilustrar as placas. O azul indica a Zona Sul, o vermelho a Zona Norte, o verde a Zona Leste, o azul mais claro a linha Metropolitana e o ocre identifica a empresa Carris.

Indica o número e o nome da linha correspondente. Em Porto Alegre, existem 400 linhas de ônibus.

Contato A empresa disponibiliza dois telefones, o 118 e o 156, não gratuitos para mais informações, além do site POA Transporte que contém os itinerários dos ônibus e lotações.

Inter-bairros As linhas iniciadas com B conectam os bairros. Conheça as linhas representadas por outras letras abaixo.

Rápida

Essa linha para apenas nas principais paradas e não contempla todas que constam no itinerário.

Transversais

Conectam as diferentes regiões sem passar pelo centro.

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Madrugadão Opera em horário especial noturno.


Annie Castro (3º sem.)

Movimento noturno da Cidade Baixa faz com que aves cantem em horários incomuns, como durante a madrugada

Onde os pássaros não dormem SON S U RB A N O S D E REGIÃO BOÊ MIA E NOVA ILUMINAÇÃ O COM 1 0 3 LÂ MPA DAS NA R UA DA RE P Ú B L I C A , E M P ORTO ALE GRE , ALTE RAM CICLO DE SONO DE A NIMA IS P O R Angelo Werner (3º sem.)

A

s madrugadas na Cidade Baixa, bairro boêmio de Porto Alegre, já são famosas pelo agito e pelo barulho de quem visita seus bares e danceterias para aproveitar os finais de semana. Mas durante a semana, quem também faz a festa são frequentadores bastante inusitados da região: os pássaros com sua cantoria. A sinfonia incomum, que se origina na copa das árvores da Rua da República, ocorre cada vez mais cedo, chama a atenção dos moradores da região, tornando o assunto frequente entre eles. O canto dos pássaros pode ser ouvido durante quase toda a madrugada e começa em horários que variam da 1h às 3h. Não existe mapeamento oficial das aves presentes na região por parte de nenhum órgão público, sob o argumento de que a região é pequena demais para representar um ecossistema relevante. Porém, quem a frequenta sabe reconhecer algumas apenas com o olhar atento. “Sabiá e pardal são que nem pulga, tu vês em todo lugar. E alguns rabo-de-palha aparecem de vez em quando, mais para roubar o ninho dos outros”, lista Fausto Marques, jornaleiro na esquina com a João Pessoa há 28 anos. Pedro Gil, estudante de 19 anos, mora

na República desde criança e percebeu a mudança de comportamento assim que ela começou a acontecer. “Tudo começou há uns dois ou três anos, logo depois que instalaram as novas lâmpadas aqui na rua. Os pássaros claramente não gostaram da mudança e começaram a cantar fora de hora, coisa que nunca tinham feito”, conta Gil. Ele também relata que algumas aves sumiram do local desde então, sendo possível notar a ausência de seus cantos: “Tinha um monte de papagaios antes por aqui, por exemplo. Agora tu não encontras mais nenhum, foram todos para algum outro lugar”. Quando fala em iluminação, Gil refere-se às 103 lâmpadas instaladas nas três quadras da República entre a Rua João Alfredo e a Avenida João Pessoa no ano de 2012. A colocação dos pontos de luz faz parte do projeto Porto Alegre + Luz, que pretende renovar a iluminação da cidade, trocando postes defasados e danificados, além de instalar novas luminárias de vapor metálico no lugar das antigas, de vapor de mercúrio. As novas são 30% mais econômicas, além 100% mais eficientes. Em locais específicos da Capital, como parques, locais turísticos e prédios históricos, as lâmpadas são especiais e visam dar iluminação de destaque. É o caso da República, onde a luz se projeta para cima, atingindo a copa das árvores. Assim como o projeto, o efeito sobre

os pássaros não se restringe apenas à rua da República. Conforme o ciclista Vitor Kremer, outro ponto de destaque é a Praça Júlio Mesquita, na esquina da rua Washington Luiz, local que também recebeu iluminação diferenciada. “Quando eu passo por lá de bicicleta às 2h da madrugada é uma baita cantoria, parece até que é horário de amanhecer”, comenta Kremer. A relação entre a nova iluminação e a mudança nos hábitos dos pássaros é explicada pelo biólogo Vilmar Bittencourt. Conforme ele, as aves são estimuladas pela luz a acordarem e começarem a cantar. O despertador natural é a luz do Sol. Com as novas lâmpadas, mais fortes e altas, ocorre um descompasso quanto ao fotoperíodo, o período de luz natural. Mas Bittencourt descarta a possibilidade de que isso possa estar ligado ao desaparecimento de certos pássaros do local ou que possa trazer qualquer prejuízo aos animais. “Só a iluminação sozinha não explicaria o desaparecimento de diversas espécies da região. Isso pode estar ligado com algum possível caso de fotofobia, mas precisaria se investigar mais a fundo o caso”, explica Bittencourt. Outro especialista que confirma a teoria é Glayson Bencke, ornitólogo e pesquisador da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul. Bencke ainda vai além e adiciona outro fator ao problema: o barulho urbano

intenso. As aves usam o canto como forma de anunciar a posse de territórios, além de expressar o desejo de reprodução e chamar a atenção das fêmeas. Sendo assim, o canto precisa ser emitido em um horário com menor concorrência sonora para ser melhor propagado. Nas cidades, os sons de carros e vozes começam cada vez mais cedo, antes mesmo do amanhecer, e a madrugada se torna o melhor horário disponível, com um ar mais parado e silencioso. Bencke não descarta a possibilidade de que a privação do sono possa trazer danos à saúde das aves, mas acha que mais estudos devem ser feitos quanto ao assunto. Entretanto, teoriza que a nova condição possa ser até mesmo benéfica para as novas gerações. Com um dia de atividades mais longo, eles podem coletar mais alimentos para cuidar da sua ninhada e fugir da concorrência. “O tempo de descanso para uma ave é muito menor do que o para um humano, porque o processamento de informação é bem menor. Menos aprendizado, menor atividade intelectual. Então elas podem dormir muito menos, senão não teríamos aves no Polo Norte, com períodos de Sol que chegam a 24 horas”, explica Bencke. De qualquer maneira, permanece iluminada e barulhenta a Rua da República, onde os pássaros não dormem.


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