Ninguém se importa com as bibliotecas
JUNHO 2012. NÚMERO 6. FAMECOS PUCRS
CADERNO ESPECIAL
A arte de eleger políticos
Eduarda Alcaraz
www.pucrs.br/famecos/editorialj
Instituições públicas estão fora do foco dos governos estadual e municipal, enfrentam pouca atualização de seus acervos e o limitado interesse da população, levando à pergunta: ainda há espaço para a literatura impressa na era digital? /6 e 7
Marqueteiros revelam as técnicas empregadas para colocar candidatos no foco das atenções durante o período eleitoral, um dos segredos para levá-los à vitória nas urnas
Bairrismo ao sul da Capital Moradores e campanha imobiliária propagam o orgulho de viver no que chamam de Zona Show /3
Arquivo pessoal
Você não sabe o quanto eu caminhei As histórias do andarilho Jonathan Dunham, o homem que saiu dos EUA em 2005 e, com seu burro, cruzou as Américas, passou pela Famecos e pretende chegar à Patagônia /4 e 5
papo de redação
Jornalismo a serviço do voto esclarecido
Caderno produzido por estudantes procura desvendar o porquê de os candidatos e suas propostas parecerem todos iguais durante a campanha eleitoral Prof. Marcelo Träsel
N
o dia 6 de julho, começa a campanha eleitoral dos candidatos a prefeito e vereador em todo o Brasil. %DVHDGRV HP VR¿VWLFDGDV pesquisas de opinião, os estrategistas de marketing produzirão impressos, programas de televisão e rádio, websites e outros materiais com propostas que apelem diretamente a anseios, medos e esperanças dos eleitores. Todavia, a escolha de um candidato não deve ser baseada apenas em sentimentos, emoções, mas principalmente em razões. E, nos últimos anos, as campanhas políticas têm oferecido argumentos muito pobres e propostas com pouca base na realidade. Um grupo de alunos do Editorial J decidiu oferecer aos eleitores informações PDLV ¿GHGLJQDV VREUH os problemas das campanhas políticas e suas possíveis soluções. Durante este primeiro semestre, eles estão produzindo reportagens não com políticos, mas com técnicos e com a população, sobre temas de campanha escolhidos com base em uma pesquisa de opinião realizada em abril.
Os dados levantados nessas reportagens serão transformados numa plataforma de campanha eleitoral ideal, sustentada por informações de quem realmente lida com os problemas de Porto Alegre em seu cotidiano. O suplemento especial encartado no jornal é o primeiro produzido por esta turma. Os alunos Larissa de Bem e Renan Sampaio entrevistaram atores da política local para tentar responder a uma questão essencial para a democracia: por que as propostas de todos os candidatos se parecem? Outras reportagens estão disponíveis em http://editorialj.eusoufamecos.net/pagos. Leia, comente, colabore no incentivo ao voto consciente.
expediente editorial J Laboratório convergente da Famecos www.pucrs.br/famecos/editorialj Jornal mensal da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Avenida Ipiranga, 6681, Porto Alegre (RS). Reitor: Ir. Joaquim Clotet Vice-reitor: Ir. Evilázio Teixeira Pró-reitora de Graduação: Solange Medina Ketzer FAMECOS Diretora: Mágda Rodrigues da Cunha Coordenador do curso de Jornalismo: Vitor Necchi Coordenador do Espaço Experiência: Fábian Chelkanoff Thier Editor: Fabio Canatta Coordenadora de produção: Ivone Cassol Projeto gráfico: Luiz Adolfo Lino de Souza Professores responsáveis: André Pase, Caroline de Mello, Eduardo Lorea, Fabio Canatta, Flávia Quadros, Geórgia Santos, Ivone Cassol, Marcelo Träsel, Marco Villalobos, Sérgio Stosch, Rogério Fraga e Vitor Necchi. EQUIPE DE ALUNOS Editores: Cassiana Machado Martins, Eduarda Alcaraz, Eduardo Bertuol Rosin, Felipe Martini e Igor Grossmann. Repórteres: Alina Oliveira de Souza, Allan de Oliveira, Anahis Vargas, Angela Ferreira, Bruna Cabrera, Bruna Canani, Bruna Essig, Bruno Moraes, Caio Venâncio,
Camila Foragi, Camila Hermes, Camila Salton, Cândida Schaedler, Carime Oliveira, Carla Simon, Carolina Matzenbacher, Caroline Corso, Caroline Rech, Carolina Teixeira, Carolini Zanini, Cassia Sirio, Cristine kist, Daniela Boldrini, Daniela Flor, Daniele Souza, Débora Ely, Dimitria Prochnow, Diogo Puhl Pereira, Emily Mayer, Fernanda Correa, Fernando Lopes, Gabriel Amaral, Gabriela Guadanin, Gabriella Monteiro, Gerson Raugust, Guilherme Tubino, Gustavo Becker, Gustavo Frota, Ian Linck, Janaina Marques dos Santos, Jean Pereira, Jéssica Mello da Rosa, Jéssica de Souza Barbosa, João Vitor Araújo, José Luiz Dalchiavon, Juliana Prato, Juliana Vencato, Julian Schumacher, Karine Flores, Kimberly Winheski, Laís Flores, Larissa de Bem, Larissa Lofrano, Liege Ferreira, Lúcia Feijó Vieira, Manoela Ribas, Manuela Ferreira, Marcela Ambrosini, Maria Eduarda Sinigaglia, Mariana Amaro, Mariana Caldieraro, Mariana Ramos, Mariana Soares, Martina Jung, Maya Lopes, Milena Haas, Muriel Porfiro, Muriell Krolikowski, Natacha Gomes, Priscila Vanzin, Rafaela Masoni, Rafael Grendene, Rafael Ribeiro, Ramiro Macedo, Renan Sampaio, Renata Paiva Dias, Roberto Stone, Rodrigo Sartori, Shaysi Melate, Stéfano de Souza, Tiago Rech, Thiago Netto, Vanessa Pacheco, Vinícius Velho, Virgínia Miranda, Vitória Di Giorgio, Yasmine dos Santos. Impressão: Apoio Zero Hora Editora Jornalística
QR Codes Nesta edição do Editorial J, também passamos a usar o recurso dos Quick Response Codes para direcionar os leitores ao nosso material extra na web. É preciso ter um software de leitura de QR-Codes instalado em seu tablet ou celular, para usar este recurso. É possível encontrar uma lista de aplicativos para diversas marcas de aparelhos no site http://reader.kaywa.com. Use o código ao lado para acessar o site do Editorial J.
Em ensaio fotográfico produzido por Eduarda Alcaraz (7° sem.), os alunos Rodrigo Bestetti (8°, de gravata vermelha) e Felipe Martini (6º, de gravata preta) encarnaram personagens da política e encenaram situações típicas do período eleitoral
Acesso à informação: um direito e dever dos brasileiros Texto: Eduardo Bertuol (6º sem.)
O
ano era 1776. A Suécia se tornava o primeiro país a estabelecer uma lei de acesso à informação pública. Séculos se passaram, muitos aspectos da cidadania mudaram e, 90 países depois, o Brasil, enfim, começou a mostrar que o Estado pode ser transparente ao administrar os bens públicos. No dia 16 de maio deste ano, com a instauração da Lei 12.527 de 2011, o país deu um passo à frente para a evolução do poder democrático. Numa nação onde a corrupção é notícia das mais frequentes, a lei surgiu no momento adequado para estimular a fiscalização da população sobre os detentores de mandatos e as máquinas administrativas que conduzem. Além de beneficiar a sociedade em geral, que pode obter informações antes sonegadas por pura falta de boa vontade ou por medo de abastecer críticas, a imprensa e os jornalistas também ganham com a disponibilidade de mais matéria- prima para reportagens. O brasileiro sentia falta do que era seu - o direito e o dever de cobrar do Estado o que é feito com o dinheiro da sociedade, entregue à gestão pública através de impostos. Considerando que há exemplos anteriores de leis que demoraram anos JUNHO DE 2012 / PÁGINA 2
para serem efetivamente cumpridas, é preciso ter cautela antes de celebrar os efeitos benéficos da nova regra. Podemos relembrar a Lei da Ficha Limpa, como ficou conhecida a Lei Complementar 135/2010. Mesmo aprovada, foi questionada judicialmente e acabou não tendo validade no pleito daquele ano. As ações foram promovidas por políticos que teriam sua posse vedada, mas encontraram uma maneira de conseguir adiar a execução da proposta. Como o acesso à informação ainda é muito recente, é cedo para saber se perdurará a tranquilidade no atendimento nos Serviços de Informação ao Cidadão (SIC) dos órgãos públicos. Será que esta lei terá os efeitos pretendidos por seus defensores? Será que os brasileiros perceberam a grandeza deste projeto? Dúvidas que serão respondidas com o tempo e com a averiguação dos brasileiros. Agora que todos têm o poder de fiscalizar, basta estar atento e saber cobrar - esta ação, antes concentrada principalmente na imprensa, foi descentralizada e transformada em dever da nação. Esperamos, assim, comemorar com segurança este que pode ser um grandioso, mesmo que atrasado, passo para a transparência e o controle social da democracia brasileira.
bairrismo
$OHJULD p YLYHU QD =RQD 6XO
O  apego  ao  estilo  de  vida  de  bairros  como  Ipanema  e  Tristeza  Ê  propagado  por  moradores  e  por  campanha  de  imobiliåria Texto:  Cassiana  Martins  (2º  sem.)  e  Camila  Salton  (1°) Foto:  Eduarda  Alcaraz  (7º)
A
zona  sul  de  Porto  Alegre,  ZS  quando  as  åguas  do  lago  eram  balneĂĄveis,  a  para  os  Ăntimos,  imprime  em  regiĂŁo  abrigava  casas  de  veraneio. seus  moradores  uma  per- Outro  aspecto  sociolĂłgico  Ê  destacado  sonalidade  prĂłpria.  Os  mais  por  Moraes.  “Pelo  menos  desde  1808,  o  bairristas,  orgulhosos  de  um  imaginĂĄrio  brasileiro  de  qualidade  de  vida  Ê  pedaço  da  cidade  banhado  pelo  GuaĂba  e  a  Zona  Sul.  No  Rio  de  Janeiro,  por  exem- onde  hĂĄ  mais  casas  do  que  prĂŠdios  e  mais  plo,  a  Zona  Norte  Ê  onde  se  encontram  as  verde  da  natureza  do  que  cinza  do  con- empresas,  o  Centro  Ê  uma  regiĂŁo  que  jĂĄ  FUHWR ID]HP TXHVWmR GH DÂżUPDU TXH QmR teve  importância  comercial  e  decaiu  e  a  a  trocariam  por  lugar  algum  na  cidade.  Zona  Sul  Ê  o  lugar  em  que  as  pessoas  com  TambĂŠm  chamam  os  residentes  do  lado  maior  poder  aquisitivo  moram.  A  provĂncia  Norte  da  cidade  pelos  apelidos  deprecia- sempre  tenta  imitar  a  capital,  e  a  Zona  Sul  Ê  tivos  “zenilâ€?  ou  “zenaâ€?. a  representação  desse  estilo  de  vida  dese- O  ufanismo  local  ganhou  mais  evidĂŞncia  jadoâ€?,  argumenta. depois  que  uma  imobiliĂĄria,  na  Ex-Âpresidente  da  Associação  de  onda  da  expansĂŁo  da  construção  Moradores  de  Ipanema,  AstĂŠlio  civil,  começou  a  distribuir  um  JosĂŠ  Bloise  Santos,  68  anos,  adesivo  com  os  dizeres  “A  Zona  escolheu,  em  1983,  o  bairro  dono  Sul  Ê  tudo  de  bomâ€?.  A  campanha  de  uma  das  vistas  mais  bonitas  se  tornou  popular  e  hoje  pode  da  cidade  para  ser  seu  lar.  Ele  Ê  ser  vista  na  traseira  de  diversos  XPD GHVVDV VLPSiWLFDV ÂżJXUDV TXH carros  na  Capital.  Redes  sociais  habitam  as  margens  do  GuaĂba.  tambĂŠm  reunem  os  fĂŁs  da  regiĂŁo  “Depois  que  eu  me  aposentei,  o  -  a  pĂĄgina  da  campanha  no  Face- meu  limite  Ê  o  Shopping  Praia  de  book  tinha  909  curtidores  atĂŠ  13  Belas.  Dali,  eu  nĂŁo  passo,  a  nĂŁo  de  junho. ser  por  necessidade.  Seguramente,  Se,  por  um  lado,  a  descrição  faz  uns  12  anos  que  nĂŁo  caminho  de  calmaria  interiorana  gera  Adesivo  pode  ser  na  Rua  da  Praiaâ€?,  garante. visto  em  carros paixĂľes,  quem  prefere  o  estilo  Seu  AstĂŠlio,  como  prefere  ser  de  vida  urbano  faz  divertidas  chamado,  tem  um  jeito  calmo  e  provocaçþes  com  a  caricatura  conciso  de  falar.  É  representante  da  Zona  Sul  -  em  tom  de  piada,  a  nomeia  do  estilo  de  vida  parecido  com  o  do  interi- como  zona  rural  e  sede  campestre.  “NĂŁo  or,  em  que  todos  se  conhecem  e  as  compras  se  pega  ônibus  de  linha  para  a  Zona  Sul,  se  sĂŁo  anotadas  em  cadernetas.  embarca  na  rodoviĂĄriaâ€?,  ou  “na  Zona  Sul  Acompanhado  do  cachorro  Pereba,  um  nĂŁo  se  mora,  se  escondeâ€?   sĂŁo  algumas  das  vira-Âlata  que  achou  na  beira  do  lago,  AstĂŠlio  frases  jocosas  mais  comuns. mostra  a  casa  em  que  moram  e  as  re- Para   o  sociĂłlogo  do  Departamento  cordaçþes  de  um  tempo  em  que  a  årea  era  Municipal  de  Habitação  de  Porto  Alegre  mais  preservada.  “Mesmo  com  a  condição  (Demhab)  Aldovan  Moraes,  a  cidade  tem  natural  que  Ipanema  tinha  nĂŁo  sendo  mais  uma  relação  com  a  Zona  Sul  que  nĂŁo  Ê  igual  a  mesma,  o  movimento  de  veĂculos  tendo  à  estabelecida  com  outras  regiĂľes.  “Na  aumentado  e  o  rio,  que  era  razoavelmente  linguagem  popular  sĂł  existe  Centro,  Norte  limpo,  estar  uma  imundĂcie,  ainda  assim  e  Sul,  a  Zona  Leste  Ê  esquecida.  Apesar  eu  considero  a  Zona  Sul  o  melhor  lugar  de  ser  uma  regiĂŁo  de  muitos  morros,  hĂĄ  para  se  morar.  Somos  bairristas,  mas  nĂŁo  uma  ligação  quase  que  automĂĄtica  com  o  excludentes.  Pessoas  de  outros  lugares  sĂŁo  GuaĂba,  que  se  deve  ao  passado  da  ci- sempre  bem-Âvindas  quando  visitam  a  Zona  dadeâ€?,  destaca  o  sociĂłlogo,  lembrando  que,  Sulâ€?,  argumenta.
(QWUH R RĂ€FLDO H R SRSXODU AtĂŠ  a  dĂŠcada  de  1970,  o  “rioâ€?  GuaĂba  -  posteriormente  designado  como  lago  -  tinha  condiçþes  para  o  banho,  e  bairros  como  Ipanema  eram  årea  de  veraneio  de  Porto  Ale- gre.  Apenas  em  1973,  quando  a  Free  Way  (BR-Â290)  foi  inaugurada,  facilitando  o  acesso  ao  litoral  norte  do  Rio  Grande  do  Sul,  a  atração  pela  regiĂŁo  nas  fĂŠrias  diminuiu  e,  por  outro  lado,  tornou-Âa  opção  de  vida  permanente  de  muitos  moradores. 2ÂżFLDOPHQWH D SUHIHLWXUD GH 3RUWR $OHJUH FRQVLGHUD TXH D =RQD 6XO p FRPSRVWD por  22  bairros,  abrangidos  nas  regiĂľes  do  Orçamento  Participativo  8  (Restinga),  11  (Cristal),  12  (Centro-ÂSul),  13  (Extremo-ÂSul)  e  15  (Sul).  Alguns  desses  bairros,  como  BelĂŠm  Velho,  Lami  e  Lageado,  sĂŁo  considerados  åreas  rururbanas,  um  hĂbrido  entre  zonas  urbana  e  rural.  Para  parte  da  população,  bairros  como  Menino  Deus  e  Praia  de  Belas,  que  tecnicamente  fazem  parte  do  Centro,  tambĂŠm  constituem  a  ZS. Outra  curiosidadade  Ê  que  o  bairro  Tristeza,  tido  como  pĂłlo  comercial  da  regiĂŁo,  ganhou  esse  nome  em  homenagem  ao  seu  morador  mais  antigo,  JosĂŠ  da  Silva  Guima- rĂŁes.  Seu  semblante  sem  expressĂŁo  de  alegria  primeiro  virou  apelido,  depois,  sobre- QRPH GH VXD IDPtOLD H SRU ÂżP EDWL]RX D ORFDOLGDGH
Lago  GuaĂba,  sĂmbolo  da  Zona  Sul,  Ê  famoso  por  seu  pĂ´r-Âdo-Âsol
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aventura
O homem
FOTOS:  Arquivo  pessoal
Texto:  Ian  Linck   (6Âş  sem.)  Â
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ĂŁo  houve  muito  planejamento.  A  decisĂŁo  foi  do  tipo  “ok,  Ê  isso  que  eu  estou  fazendo  agora,  vai  ser  interessante  e  me  ajudarĂĄ  a  me  concentrar  nas  coisas  que  acho  importantesâ€?.   Assim,  sem  mais,  nem  porquĂŞ,  Jonathan  Dunham  começou  sua  jornada.  O  bioquĂmico  norte- americano  de  39  anos  iniciou,  hĂĄ  cerca  de  uma  dĂŠcada,  uma  travessia  que  o  levou  desde  Portland,  estado  de  Oregon,  nos  EUA,  atĂŠ  a  AmĂŠrica  do  Sul.  Percorreu  todo  o  trajeto  a  pĂŠ,  na  companhia  de  seu  burro,  Judas.  Fazendo  uma  mĂŠdia  de  25  quilĂ´metros  por  dia,  cruzou  14  paĂses,  incluindo  MĂŠxico,  Venezuela,  ColĂ´mbia  e  Paraguai,  onde  atravessou  a  fronteira  para  o  Brasil.  Ele  pretende  seguir  viagem  atĂŠ  a  PatagĂ´nia.  Em  terras  brasileiras,  jĂĄ  passou  pelo  ParanĂĄ,  Santa  Catarina  e  Rio  Grande  do  Sul.  O  acaso  acabou  o  trazendo  a  Porto  Alegre,  onde  conversou  com  uma  equipe  do  Editorial  J  em  uma  sexta-Âfeira  ensolarada,  dia  27  de  abril,  na  Famecos. Dunham  Ê  um  sujeito  simpĂĄtico  e  inteligente,  de  fala  mansa.  O  bioquĂmico  se  GHÂż QH XPD SHVVRD WtPLGD H LQWURVSHFWLYD H conta  que  a  solidĂŁo  na  estrada  o  agrada,  pois  dĂĄ  tempo  de  ler,  escrever  e  se  concentrar  HP VXDV UHĂ€ H[}HV Âł+i WDQWDV GLVWUDo}HV no  mundo  moderno,  sempre  tem  algo  acontecendo  na  TV,  no  rĂĄdio,  no  celular  e  na  internet,  nunca  estamos  sozinhos.  Aprender  D Âż FDU VR]LQKR IRL ERP´ FRQWD A  viagem  de  Jonathan  Dunham  sĂł  foi  possĂvel  graças  à  bondade  de  estranhos  que  o  encontram  no  caminho,  e  à  ajuda  do  seu  burro.  O  animal  foi  recebido  como  doação,  assim  como  suas  roupas. Â â€œĂ€s  vezes  estou  bem  vestido,  à s  vezes,  nĂŁo,  pois  dependo  das  peças  que  me  dĂŁo.  As  pessoas  sĂŁo  bastante  generosas  e,  ao  mesmo  tempo,  Ê  uma  lição  de  humildade.  Muitas  vezes,  tentamos  nos  expressar  atravĂŠs  da  escolha  das  nossas  roupas.  Eu  nĂŁo  tenho  essa  possibilidade,  visto  apenas  o  que  me  foi  dadoâ€?,  raciocina. O  destino,  entĂŁo,  o  levou  atĂŠ  Porto  Alegre.  Logo  ele,  que  sempre  evitava  cidades  grandes  por  causa  do  burro.  Na  Capital,  foi  hospedado  durante  alguns  dias  por  Oziel  Alves,  funcionĂĄrio  da  PUCRS.  Parte  da  famĂlia  de  Oziel  vive  no  municĂpio  de  Caçapava  do  Sul,  e  foi  lĂĄ  que  os  dois  se  conheceram.  No  mesmo  dia  da  entrevista,  os  dois  irmĂŁos  do  caminhante  desembarcaram,  vindos  dos  EUA,  para  visitĂĄ-Âlo  pela  primeira  vez  no  Exterior. Sobre  o  Rio  Grande  do  Sul,  ele  diz  que  recebeu  muito  mais  atenção  da  mĂdia  do  que  em  outros  lugares  -  apesar  de  que  uma  busca  no  Google  revela  que  ele  jĂĄ  saiu  atĂŠ  no  New  York  Times.  Por  aqui,  involuntariamente,  se  tornou  uma  espĂŠcie  de  celebridade  em  cidades  interioranas  gaĂşchas,  gerou  mais  reportagens  em  pequenos  jornais  e  era  reconhecido  facilmente  ao  caminhar  à  beira  GD HVWUDGD FRP VHX Âż HO EXUUR
Jonathan  Dunham  Ê  muito  grato  ao  antigo  companheiro  Judas,  o  burro  que  morreu  no  Rio  Grande
Um Judas do bem A  viagem,  atĂŠ  esse  ponto,  foi  tĂŁo  longa  que  Jonathan  Dunham  nĂŁo  sabe  dizer  ao  certo  se  estĂĄ  hĂĄ  nove  ou  10  anos  na  estrada.  $ LPSUHFLVmR WDOYH] VH GHYD jV LQWHUUXSo}HV que  teve  de  fazer  ao  longo  do  caminho,  pois,  por  duas  vezes,  voltou  à  sua  casa  para  ver  a  PmH 1XPD GHODV Âż FRX GRLV DQRV 'HSRLV retomou  a  viagem.  A  trajetĂłria  começou  no  Oeste  dos  Estados  Unidos,  que  cruzou  num  ano,  atĂŠ  chegar  à  fronteira  com  o  MĂŠxico.  Inicialmente,  nĂŁo  queria  entrar  no  paĂs,  pois  tinha  medo  da  regiĂŁo  da  fronteira  e  sequer  falava  espanhol.       1R Âż P GDV FRQWDV WRPRX FRUDJHP H seguiu  viagem  ao  sul.  ApĂłs  duas  semanas,  conheceu  uma  famĂlia  no  norte  do  MĂŠxico  que  o  acolheu  em  sua  fazenda,  onde  viveu  por  um  ano  ajudando  na  lida  do  campo.  No  perĂodo,  aprendeu  a  andar  a  cavalo,  a  ordenhar  vacas  e  a  falar  espanhol. No  MĂŠxico,  Jonathan  tambĂŠm  ganhou  seu  companheiro,  o  burro  Whothey,  que  com  um  nome  de  pronĂşncia  difĂcil  para  falantes  de  espanhol,  acabou  virando  Judas.  Ao  contrĂĄrio  do  personagem  bĂblico,  o  burro  nunca  o  traiu  e  ainda  o  ajudou  de  vĂĄrias  maneiras:  carregando  seus  mantimentos,  livros  e  roupas,  fazendo  companhia  e  contribuindo  para  fazer  amizades  durante  o  caminho.  $Âż QDO GH FRQWDV XP VXMHLWR TXH FDPLQKD pela  estrada  com  um  burro  ao  seu  lado, Â
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certamente  chama  atenção  e  atrai  curiosos  por  onde  passa.  “Burros  nĂŁo  sĂŁo  mais  usados  hoje  em  dia,  sĂŁo  coisa  do  passado.  Para  os  mais  velhos,  Ê  algo  nostĂĄlgico,  enquanto  que  os  mais  jovens  nunca  viram  um  e  perguntam  ‘isso  Ê  uma  vaca’?  (risos).  EntĂŁo,  como  eu  sou  um  cara  tĂmido,  o  burro  me  ajudava  a  conhecer  pessoasâ€?,  confessou.  Um  verdadeiro  quebra-Âgelo  sobre  quatro  patas.  O  caminhante  detalha  que  o  burro  ainda  era  capaz  de  pressentir  o  perigo,  UHFRQKHFHQGR XPD SHVVRD FRP PiV LQWHQo}HV ou  pressentindo  a  aproximação  de  outros  animais  perigosos.  Infelizmente,  as  terras  gaĂşchas  trouxeram  mĂĄ  sorte.  Judas  morreu  no  dia  15  de  março  de  causas  desconhecidas  em  Caçapava  do  Sul,  no  interior  do  Estado.  AtĂŠ  o  fechamento  desta  edição,  Jonathan  estava  em  Cruz  Alta  se  preparando  para  seguir  viagem  com  outro  burro,  oferecido  por  um  criador  de  animais  do  interior  paulista.  De  SĂŁo  Paulo,  o  animal  serĂĄ  transportado  atĂŠ  Santana  do  Livramento,  onde  Jonathan  cruzarĂĄ  a  fronteira  com  o  Uruguai  para  seguir  na  jornada,  por  nĂŁo  ter  conseguido  renovar  seu  visto  de  permanĂŞncia  no  Brasil.  O  novo  animal  ainda  nĂŁo  tem  nome.
e o burro Entre a fĂŠ e a ciĂŞncia
A pergunta mais difĂcil
Afinal,  por  que  Jonathan  Dunham  faz  essa  viagem?  É  a  pergunta  mais  comum  e  tambĂŠm  a  mais  difĂcil  de  responder.  Relatos  na  mĂdia  jĂĄ  deram  conta  de  que  o  bioquĂmico  estaria  atrĂĄs  do  sentido  da  vida,  à  procura  de  Deus  ou  de  si  prĂłprio.  Talvez  seja  um  pouco  disso  tudo.  A  mera  menção  da  pergunta  desencadeia  uma  longa  conversa  filosĂłfica  que,  se  nĂŁo  explica  bem  VXDV PRWLYDo}HV SDUD D YLDJHP DR PHQRV SURYRFD UHIOH[}HV Jonathan  explica  se  considera  um  cristĂŁo,  para  quem  a  concepção  budista  de  Deus,  por  exemplo,  nĂŁo  explica  coisas  como  o  mal,  o  amor,  entre  outros.  JĂĄ  o  Deus  cristĂŁo,  sim.  “Eu  estudei  bioquĂmica  e  os Â
“A  parte  mais  compensadora  da  viagem  nĂŁo  Ê  chegar  ao  GHVWLQR Âż QDO $ FKHJDGD Vy p ERD por  causa  de  tudo  que  se  passou  antes.  Para  mim,  aprender  sobre  as  pessoas  e  suas  vidas  Ê  muito  mais  interessante  do  que  poder  dizer  que  caminhei  20  mil  TXLO{PHWURV´ Âż ORVRID 'XQKDP Mesmo  depois  de  tanta  conversa,  ele  admite  que  nĂŁo  respondeu  à  pergunta.  Talvez  Jonathan  nĂŁo  precise  de  um  PRWLYR FRQFUHWR SDUD MXVWLÂż FDU o  que  faz.  Basta  a  vontade  de  VHJXLU HP IUHQWH Âż FDU LPHUVR HP seus  pensamentos  e  conhecer  lugares  e  pessoas  novas  ao  longo  do  caminho. Talvez  o  bioquĂmico  procure  um  sentido,  queira  se  isolar  do  mundo  ou  esteja  fugindo  de  alguma  coisa.  Ou  talvez  nem  saiba  ao  certo  o  que  busca.  Mesmo  depois  de  tantas  linhas  escritas  a  seu  respeito,  ninguĂŠm, Â
bioquĂmicos  sĂŁo  muito  materialistas.  Eles  contam  a  histĂłria  do  Big  Bang,  de  como  tudo  se  formou.  Sob  essa  abordagem,  a  vida  Ê  algo  aleatĂłrio  que  se  formou  ao  acaso.  NĂŁo  hĂĄ  sentido  na  vida.  Um  dia  tudo  vai  acabar  e  nĂŁo  hĂĄ  significado  em  nada  do  que  fazemos.  A  partir  dessa  visĂŁo,  a  pergunta  ‘por  que  vocĂŞ  estĂĄ  fazendo  isso?’  se  torna  insignificante.  Eu  poderia  responder  ‘por  que  vocĂŞ  estĂĄ  fazendo  isso?’.  Eu  nĂŁo  rejeitaria  a  parte  prĂĄtica  da  ciĂŞncia,  mas  sim  a  filosĂłfica,  pois,  segundo  ela,  nĂŁo  haveria  significado.  Para  mim,  para  haver  sentido,  tem  de  haver  uma  vontade,  algo  que  escolha,  o  que  tradicionalmente  seria  Deusâ€?,  explica.
Longe do materialismo Mas  como  a  viagem  se  conecta  a  isso?  Estaria  Jonathan  Dunhan  GH IDWR SURFXUDQGR R VLJQLÂż FDGR GD existĂŞncia  humana  em  suas  andanças?  “Eu  nĂŁo  acho  que  esteja  procurando  VLJQLÂż FDGR 0LQKD YLDJHP IRL HP parte,  para  me  separar  da  cultura  moderna,  que  tipicamente  acha  VLJQLÂż FDGR HP GLQKHLUR HP SRGHU Eu  acho  que  hĂĄ  de  haver  algo,  alĂŠm  das  nossas  vidas,  e  isso  seria  Deusâ€?,  sustenta  o  caminhante.  Como  exemplo  do  materialismo  da  sociedade  americana,  ele  conta  que  muitas  pessoas  consideram  sua  viagem  ridĂcula  e  uma  perda  de  tempo.  “Mas  se  eu  escrevesse  um  livro  e  ganhasse  dinheiro  e  fosse  IHLWR XP Âż OPH D UHVSHLWR Dt HVWDULD bomâ€?,  complementa.  Tudo  estaria  MXVWLÂż FDGR VH IDWXUDVVH DOJXQV dĂłlares  com  essa  jornada.  Sobre  a  caminhada,  Jonathan  admite  que  a  iniciativa  nĂŁo  Ê  nada  QRYD Âł0XLWDV SHVVRDV Mi Âż ]HUDP viagens  muito  maiores  que Â
a  minha,  mas  muitas  nunca  aprendem  uma  lĂngua,  nĂŁo  tĂŞm  contato  com  as  pessoas.  Escrevem  livros  contando  quantos  quilĂ´metros  caminharam,  que  tipo  de  calçado  usaram.  SĂŁo  coisas  interessantes,  mas  meu  livro,  caso  escrevesse  um,  nĂŁo  seria  sobre  isso,  e  sim  sobre  o  que  aprendi  com  as  pessoas,â€?  especula.
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atĂŠ  agora,  conseguiu  entender  EHP DV UD]}HV GHVWD MRUQDGD ( R TXH HOH DSUHQGHX DÂż QDO" â€œĂ‰  como  perguntar  ‘o  que  vocĂŞ  aprendeu  em  quatro  anos  de  faculdade?  É  difĂcil  de  explicar.  Uma  coisa  que  gostei  da  cultura  latina  em  geral,  seja  na  AmĂŠrica  do  Sul  ou  Central,  Ê  que  as  pessoas  tĂŞm  outros  valores.  Eles  valorizam  a  famĂlia  muito  mais  e  nĂłs  [americanos]  nĂŁo.  Por  outro  lado,  acho  que  os  americanos  tĂŞm  uma  Êtica  no  trabalho  muito  forte  e  os  latinos  nem  sempre.  EntĂŁo  hĂĄ  coisas  boas  e  ruins.  SĂł  de  falar  com  as  pessoas  e  tentando  incorporar  o  que  eles  acreditam  dentro  do  que  eu  acredito.  A  vida  Ê  uma  interpretação.  VocĂŞ  pega  as  suas  experiĂŞncias  vividas  e  tenta  fazer  sentido  delas.  Mas  Jonathan  aparentemente  nĂŁo  faz  questĂŁo  de  ser  compreendido.  Ele  apenas  segue  em  frente.
cultura
A  Biblioteca  do  Estado,  que  funciona  na  Casa  de  Cultura  Mario  Quintana  durante  a  reforma  da  sede,  recebe  bem  menos  visitas  que  as  de  SC  e  PR
O vazio das bibliotecas Das  sete  instituiçþes  estaduais  e  municipais  da  Capital,  trĂŞs  recebem  atĂŠ  20  pessoas  por  dia  cada,  em  mĂŠdia Texto:  Cândida  Schaedler  (1Âş  sem.)   e  JanaĂna  Marques  (3Âş)             Fotos:  Ingrid  Flores  (7Âş)
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ocalizada  no  quinto  andar  da  Casa  de  Cultura  Mario  Quintana  (CCMQ)  enquanto  sua  sede  estĂĄ  em  reforma,  a  Biblioteca  PĂşblica  Estadual  (BPE)  recebeu  29  mil  visitantes  em  2011.  Em  FlorianĂłpolis,  cidade  que  tem  apenas  30%  da  população  de  Porto  Alegre,  a  Biblioteca   PĂşblica  de  Santa  Catarina  registrou  42  mil  visitas,  quase  50%  mais.  E,  em  Curitiba,  a  Biblioteca  PĂşblica  do  ParanĂĄ  contou  616  mil  no  mesmo  perĂodo.  A  falta  de  interesse  UHĂ€HWH R SRXFR LQYHVWLPHQWR GRV governos  estadual  e  municipal.  No  Rio  Grande  do  Sul,  apenas  0,1%  do  Produto  Interno  Bruto  (PIB)  Ê  destinado  à  cultura,  que  abrange  a  manutenção  dos  acervos. AlĂŠm  da  frequĂŞncia  limitada,  a  diretora  da  biblioteca  gaĂşcha  Morgana  Malcon  conta  que,  desde  1992,  nĂŁo  sĂŁo  realizados  concursos  pĂşblicos  para  bibliotecĂĄrios  no  Estado,  deixando  precĂĄrio  o  atendimento.  Outro  problema  para  a  BPE  Ê  a  falta  de  espaço.  Como  a  obra  no  prĂŠdio  histĂłrico  da  biblioteca,  na  Rua  Riachuelo,  se  prolonga  desde  2009,  parte  do  acervo  foi  transferido  para  a  CCMQ.  PorĂŠm,  o  local  nĂŁo  tem  espaço  para  abrigar  todos  os  240  mil  livros. Para  Morgana,  uma  das  razĂľes  deste  comportamento  Ê  a  presença Â
das  novas  plataformas  de  leitura  online,  relegando  a  produção  em  papel  ao  segundo  plano.  “As  pessoas  nĂŁo  frequentam  bibliotecas  porque  elas  realmente  nĂŁo  sĂŁo  atraentesâ€?,  admite  a  diretora.  Reforçando  a  tese,  uma  pesquisa  do  Instituto  PrĂł-ÂLivro  revela  que  cerca  de  75%  da  população  brasileira  jamais  foi  a  uma  biblioteca. Para  movimentar  o  lugar,  Morgana  criou  o  Clube  de  Leitura,  com  reuniĂľes  quinzenais  para  discutir  livros.  TambĂŠm  Ê  realizada,  ocasionalmente,  uma  feira  de  troca  de  livros.  Segundo  a  diretora,  as  duas  açþes  tĂŞm  bom  pĂşblico.  3DUD R ÂżQDO GR DQR HVWi SUHYLVWD D abertura  de  um  andar  do  prĂŠdio  da  BPE,  mas  a  obra  deve  ser  concluĂda  daqui  a  dois  anos. Segundo  a  coordenadora  do  Sistema  Estadual  de  Bibliotecas  PĂşblicas  do  Estado,  Rosana  de  Lemos  Vasques,  ainda  neste  ano  haverĂĄ  concurso  para  bibliotecĂĄrios.  Ela  promete  que  todas  as  instituiçþes  serĂŁo  modernizadas,  e  explica  que  o  governo  lança  editais  para  premiar  projetos  propostos  pelas  bibliotecas.  “O  objetivo  Ê  fazer  com  que  elas  se  empenhemâ€?,  afirma.  No  entanto,  do  total  de  531,  apenas  cerca  de  80  instituiçþes  apresentaram  projetos.
Romano  Reif Pessoas  cadastradas:  6.233 FrequĂŞncia  mĂŠdia  por  dia:  50  a  70  pessoas Frequentaram  no  último  ano:  sem  dados Acervo  da  biblioteca:  22,5  mil  obras Faixa  etĂĄria  do  pĂşblico:  20-Â70  anos A  Biblioteca  Estadual  Romano  Reif  dispĂľe  de  trĂŞs  computadores  antigos  que,  segundo  a  funcionĂĄria  Ana  Paula  Oliveira,  nĂŁo  estĂŁo  em  condiçþes  de  funcionamento.  Atualmente,  a  biblioteca  tem  um  salĂŁo  multiuso  ocupado  pela  administração  do  Parque  Alim  Pedro  para  atividades  como  dança  e  ginĂĄstica  voltadas  à  terceira  idade.  A  bibliotecĂĄria  Édina  Fell  conta  que  diversas  atividades  culturais  eram  realizadas  na  Romano  Reif,  mas  cessaram  quando  a  funcionĂĄria  responsĂĄvel  pelas  promoçþes  foi  transferida.  “O  pessoal  adorava  a  hora  do  conto,  atĂŠ  porque  tem  muitas  creches  aqui  perto.  Em  torno  de  30  a  40  crianças  vinham  quando  esses  eventos  eram  realizadosâ€?,  relata.  A  biblioteca  tem  projetos  para  cursos,  palestras  e  seminĂĄrios,  porĂŠm  sem  previsĂŁo  de  realização. Endereço:  Praça  Largo  da  Bandeira,  64  –  Bairro  IAPI
Leopoldo  Boeck Pessoas  cadastradas:  3,3  mil FrequĂŞncia  mĂŠdia  por  dia:  15  pessoas Frequentaram  no  último  ano:  sem  dados Acervo  da  biblioteca:  16  mil  obras Faixa  etĂĄria  do  pĂşblico:  todas  as  idades A  Biblioteca  Estadual  Leopoldo  Boeck  estĂĄ  equipada  com  dois  computadores  sem  acesso  à  internet.  Costumava  ser  bastante  frequentada  quando  promovia  eventos  como  palestras  e  horas  do  conto.  Entretanto,  desde  que  a  funcionĂĄria  Idione  'HPDUFKL ÂżFRX VR]LQKD SDUD FXLGDU GR ORFDO D SURJUDPDomR IRL VXVSHQVD (OD DÂżUPD que  trabalhou  sem  ajuda  por  trĂŞs  anos  e,  mesmo  agora,  com  novas  funcionĂĄrias  para  auxiliĂĄ-Âla,  as  atividades  nĂŁo  foram  retomadas. Endereço:  Rua  RepĂşblica  do  Peru,  398  –  bairro  Jardim  SabarĂĄ
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Público infantil da Lucília Minssen encontra nas prateleiras clássicos da literatura, mas obras novas chegam somente por intermédio da Associação de Amigos
Josué Guimarães
Lucília Minssen
Pessoas cadastradas: 3.518 Frequência média por dia: 40 pessoas Frequentaram no último ano: 2 mil Acervo da biblioteca: 30 mil obras Faixa etária: adulto
Pessoas cadastradas: 905 Frequência média por dia: sem dados Frequentaram no último ano: sem dados Acervo da biblioteca: 20.987 obras Faixa etária: infantil
A Bilbioteca Municipal Josué Guimarães é a única informatizada com código de barra nas carteiras de associados e está em boas condições. A prefeitura libera uma verba anual de R$ 8 mil para a compra de livros e disponibiliza funcionários, como eletricistas e engenheiros, para a manutenção do prédio. Carmem Thober, bibliotecária e diretora do espaço, conta que o acervo recebe livros, jornais e revistas de associados e outros colaboradores. Assim que novos livros chegam, obras repetidas ou em mau estado são doados para bibliotecas de bairros. Em 2006, foi enviado à Secretária Municipal de Cultura um plano de modernização. As solicitações para instalar rampa de acesso, câmeras de segurança e um catálogo on-line não foram atendidas. Segundo a diretora, o catálogo aproximaria o público, pois a divulgação atual se dá por meio de folhetos. Endereço: Avenida Erico Verissimo, 307 – bairro Menino Deus. Localizada no Centro Municipal de Cultura Lupicínio Rodrigues
Destinado ao público infantil e situado no terceiro andar da Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ), o espaço tem como objetivo proporcionar um ambiente lúdico em que as crianças possam entrar em contato com os livros desde cedo. A diretora Marília Sauer relata que há uma desatualização do acervo, restringindo-o a clássicos literários. Novas obras são adquiridas somente por meio da Associação de Amigos da biblioteca, composta majoritariamente pelos pais das crianças que a frequentam. A BLM promove, anualmente, concursos de contadores de histórias, festivais de poemas infantis e diversas atividades culturais. No mês de outubro, período em que se realizam estes eventos, mil crianças, em média, visitam o local. Endereço: Rua dos Andradas, 726, 5° andar da CCMQ – Centro
Ramal 1 Restinga Pessoas cadastradas: 1 mil Frequência média por dia: 20 pessoas Frequentaram no último ano: sem dados Acervo da biblioteca: 7 mil obras Faixa etária do público: todas as idades Inaugurada em 2001, a Biblioteca Municipal Josué Guimarães – Ramal 1 Restinga atende a população adulta e infantil do bairro. Conta com poucos leitores cadastrados e consegue atender seu público, basicamente, por meio de doações. Durante o período letivo, a movimentação é mais intensa. Endereço: Rua Antônio Rocha Meirelles Leite, 50 – bairro Restinga Nova
Lígia Meurer Pessoas cadastradas: 11.257 Frequência média por dia: 20 pessoas Frequentaram no último ano: sem dados Acervo da biblioteca: 27.880 obras Faixa etária do público: 60 anos A Biblioteca Estadual Lígia Meurer já teve uma média diária de 200 leitores, quando estava situada na rua Félix da Cunha, em um prédio da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). Porém, a universidade solicitou o prédio de volta ao governo do Estado. Comovida com a situação, a Associação Cristóvão Colombo emprestou parte de seu prédio em 2002. Localizada neste espaço desde então, o local mais se assemelha a um “galpão”, segundo a bibliotecária Flávia Faccio. A biblioteca conta apenas com cerca de 20 frequentadores por dia e amplia seu acervo por meio de doações de livros, revistas e jornais. O que não é aproveitado pelos leitores é vendido para empresas de reciclagem ou a um comerciante que revende o material no Mercado Público. Com o valor arrecadado, novas obras são compradas em sebos. A instituição tem um computador, mas sem acesso à internet. Endereço: Rua Câncio Gomes, 786 – bairro Floresta
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feira  livre
Um mosaico de cores Desde  500  a.C.,  o  comÊrcio  direto  com  os  produtores  atrai  fregueses  em  busca  de  alimentos  frescos  e  baratos
Texto:  Gerson  Raugust  (6º  sem.)                  Fotos:  Alina  Souza  (6º)
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or  mais  que  as  cidades  cresçam  e  se  transformem,  certas  caracterĂsticas  se  mantĂŞm.  Entre  elas  estĂĄ  uma  das  mais  antigas  formas  de  comĂŠrcio,  a  negociação  direta  entre  produtor  e  consumidor,  preservada  nas  feiras  livres. Esses  pequenos  eventos  cotidianos  sĂŁo  um  mosaico  de  cores,  cheiros,  sabores  e  personagens.  Embaixo  de  cada  tenda  e  no  entorno  delas,  histĂłrias  se  cruzam  enquanto  pessoas  trabalham  por  seu  sustento. NĂŁo  hĂĄ  informaçþes  precisas  sobre  quando  as  feiras  surgiram.  HĂĄ  relatos  de  que  em  500  a.C.  jĂĄ  aconteciam  no  Oriente  MĂŠdio,  na  )HQtFLD XPD UHJLmR RQGH KRMH ÂżFD R /tEDQR 1R Brasil,  existem  desde  o  perĂodo  de  colonização  e,  atĂŠ  hoje,  o  “fazer  a  feiraâ€?  estĂĄ  presente  no  cotidiano  nacional.  Em  Porto  Alegre,  sĂŁo  realizadas  semanalmente  49  feiras.  Apenas  nas  segundas-Âfeiras  nĂŁo  existe  programação. O  que  motiva  os  consumidores  Ê  a  busca  por  produtos  frescos  a  preços  baixos.  Atualmente,  a  variedade  de  artigos  transcende  a  tradicional  trĂade  de  frutas,  verduras  e  legumes.  Carnes,  PDVVDV Ă€RUHV H FRQVHUYDV DXPHQWDP D RIHUWD A  variedade  nĂŁo  se  restringe  à s  mercadorias.  Feirantes,  biscateiros  e  ambulantes,  cada  trabalhador  tem  seu  jeito  de  oferecer  o  produto  e  se  relacionar  com  os  clientes.  O  objetivo  Ê  garantir  o  ganho,  mantendo  o  principal  traço  desses  lugares,  o  alto  astral. 1DV IHLUDV GH ViEDGR GR /DUJR =XPEL GRV 3DOPDUHV DQWLJR /DUJR GD (SDWXU QR bairro  Cidade  Baixa,  circula  com  frequĂŞncia  a  estudante  Andrea  Delgado,  23  anos.  “Eu  reparo  sempre  na  qualidade  dos  produtos.  O  que  estĂĄ  bom,  eu  compro.  Gosto  da  feira  porque  conheço  todo  mundo,  as  pessoas  sĂŁo  muito  gentisâ€?,  conta.  Ela  destaca  que  uma  das  grandes  vantagens  Ê  o  fato  de  tratar  diretamente  com  o  produtor,  diferente  de  supermercados. Os  feirantes  estĂŁo  lĂĄ  desde  cedo.  Antes  mesmo  das  6h30min,  quando  as  barracas  terminam  de  ser  montadas,  os  primeiros  fregueses  chegam  e  dĂŁo  inĂcio  ao  movimento  frenĂŠtico  que  dura  cerca  de  quatro  horas,  FXOPLQDQGR FRP R PRPHQWR GD [HSD e R ÂżP da  feira,  quando  os  preços  caem,  a  negociação  H D SHFKLQFKD DXPHQWDP H DV VDFRODV ÂżFDP cheias. A  feira  estĂĄ  longe  de  ser  lucrativa  apenas  para  os  donos  das  bancas.  O  local  vira  um  verdadeiro  shopping  center  do  comĂŠrcio  informal  e  de  prestação  de  serviços.  De  um  lado,  hĂĄ  o  ambulante  que  vende  meias  e  toucas  de  lĂŁ,  antenas  de  TV  e  capas  de  celular.  Os  taxistas  chegam  e  saem  a  todo  instante,  levando  para  casa  aqueles  que  vieram  a  pĂŠ. A  diversidade  de  personagens  e  mercadorias  cria  um  universo  único  e  torna  a  feira  um  dos  últimos  espaços  democrĂĄticos.
Clientes  fiĂŠis,  como  Odilon  Nogueira  (acima),  nĂŁo  perdem  a  feira  um  sĂĄbado  sequer;Íž  Cristiano  Martins  (abaixo)  gosta  de  vender  abacaxi  “no  gritoâ€?,  impondo  seu  vozeirĂŁo  sobre  o  burburinho  das  bancas
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