7 minute read

Entrevista a José Miranda da Silva, Presidente da APCIVR

Next Article
Agradecimentos

Agradecimentos

(Associação Promotora do Circuito Internacional de Vila Real)

A Associação Promotora do Circuito Internacional de Vila Real (APCIVR) é, a par do Clube Automóvel de Vila Real (CAVR) e do Município de Vila Real, uma peça fundamental na organização das Corridas de Vila Real. Com o seu espetro de ação em tudo o que está ligado ao Circuito fora do âmbito desportivo, com essa pasta a estar entregue ao CAVR, a APCIVR tem como missão tornar as corridas cada vez melhores. É por isso pertinente falar com o presidente da Associação, José Silva, tentando entender a visão da associação e claro, a ligação às corridas.

Advertisement

Como para a maioria dos Vilarealenses, a paixão das corridas começou cedo para José Silva, quer pela azáfama que se apoderava da cidade, quer pelo momento de partilha em família:

“Como quase todos os Vilarealenses, sempre vivi as corridas com a mesma paixão com que todos os miúdos da altura viviam. Era engraçado porque via as corridas como se fosse a verdadeira festa do Natal, pois era nessa altura que reuníamos a família. Juntávamo-nos todos em casa para celebrarmos e vivermos de forma intensa as corridas. Brincava com os meus primos e amigos e víamos as corridas na “Quinta do Teixeirinha”. Mais tarde, passámos a ir para o que então designávamos, “Rio da Timpeira”. Um dos momentos que naquela época me marcou, foi assistir com o meu pai pela primeira vez às corridas da bancada, que ficava junto da meta. Era uma corrida de motos. Lembro-me que os pilotos, ao terminarem a prova, caírem para o lado de exaustão, o que me deixou muito espantado. Lembro-me ainda do carro do Giannone, que era um Porsche, e dos miúdos andarem todos maravilhados com aquela máquina. Mas acima de tudo, foi o convívio com a família e os amigos que mais me marcou.”

O futuro encarrega-se de levar as pessoas por caminhos por vezes inesperados e foi isso que aconteceu com José Silva que viu a sua paixão pela corrida levá-lo, de forma quase acidental, para a presidência da associação que é responsável pelo regresso das “Corridas da Bila”:

“Passados muitos anos, fruto do acaso da vida, vejo-me envolvido na organização das corridas de Vila Real. Aquando da candidatura do Eng. Rui Santos um dos objetivos seria fazer regressar as corridas à nossa cidade, numa altura em que um grupo de pessoas se tinha juntado para criar a Associação Promotora do Circuito Internacional de Vila Real. E como a Associação queria um ou dois elementos para fazer a ligação com o município o meu nome surgiu. De um momento para o outro vi-me envolvido na organização deste evento sem nunca ter feito nada do género. Durante um ano estivemos como comissão instaladora e só depois foram eleitos os órgãos sociais, tendo então sido fui eleito presidente da associação, cargo que vou mantendo. Em 2014, quando organizamos as provas nacionais, tive a primeira amostra do que era organizar corridas. Só aí entendi a complexidade de organizar uma prova como a nossa, especialmente por se tratar de um circuito citadino. Na altura éramos menos de uma dezena de pessoas, mas o evento correu bem. Passado um ano, contra todas as expectativas, surgiu a oportunidade de recebermos o WTCC. E aí sim, percebi o que

é organizar uma prova do campeonato do mundo com a chancela FIA. Tal com eu e os meus colegas da APCIVR nesse primeiro ano, as pessoas não fazem uma pequena ideia do que é coordenar e montar algo deste género. Não foi completamente inesperado, mas era situação para a qual não estávamos verdadeiramente preparados. Afinal, era a primeira vez na já longa história do nosso circuito, que tínhamos uma prova mundial. As pessoas não

imaginam as autocríticas que fizemos no final do evento, quando foi feito o balanço. Como habitualmente, fizemos uma reunião para registarmos o que correu mal, ou o que correu menos bem. Nesse encontro esteve presente o Rui Santos, Presidente da Câmara. E quando ele viu a lista de coisas que achávamos que tínhamos feito mal, ele ficou espantado, pois eram duas ou três folhas. Disse-nos que estávamos a ser muito autocríticos, pois as corridas tinham sido um sucesso. Mas tínhamos a noção que tínhamos de melhorar muito. E a partir daí fomos sempre aperfeiçoando. Agora, temos mais gente na associação, temos muitas pessoas que, não fazendo parte dos órgãos sociais da Associação, nos ajudam e a máquina está mais ou menos oleada. Desafiado a recordar os momentos mais altos desta caminhada, José Silva lembra os memoráveis pódios das vitórias de Tiago Monteiro, festejados efusivamente pelo público presente no local:

“Os pontos altos para mim são o fim das corridas, quando tudo está concluído e vemos que fomos bem-sucedidos. Daqui destacava as duas vitórias do Tiago Monteiro. Diria até que a primeira vitória do Tiago, em 2016, foi o ponto mais alto. Sobretudo por causa daquele surpreendente pódio e dos milhares de pessoas que se juntaram para comemorarem com o Tiago aquele seu primeiro lugar na prova. No segundo pódio já estávamos preparados para o que podia acontecer, quer logisticamente quer ao nível da segurança e já havia acessos criados para as pessoas se poderem deslocar. Mas no primeiro ninguém esperava. Lembro de estar na zona VIP com o Nuno Augusto e decidirmos ir assistir à cerimónia. Mas fomos confrontados com aquele mar de gente que vinha de todos os lados e que estavam a ser impedidos pelos seguranças, pois não estávamos preparados para aquele acontecimento. Tivemos então de abrir caminhos e pedir para deixarem passar as pessoas. E depois, também de forma inesperada, totalmente imprevisível, veio aquele pequeno instante e que a todos encantou e comoveu, e que se tornou imagem de marca do nosso circuito. Milhares de pessoas a cantarem o hino nacional à capela.”

Claro que uma caminhada como esta também tem momentos menos bons e sustos: “O maior susto que apanhei nas corridas foi no primeiro ano, em 2014, num acidente na rotunda da M Coutinho, em que um miúdo de bicicleta foi atingido por um carro. Apesar das medidas de seguranças implementadas, naquela zona havia um espaço por onde um dos carros passou e atingiu uma ambulância que estava naquela escapatória, acertando no rapaz que por lá passava. Eu e o Nuno Augusto fomos os primeiros a chegar ao local e foi um grande sobressalto. Felizmente as coisas acabaram por correr bem. Acompanhá-

mos o miúdo, que apenas teve ferimentos ligeiros, falámos com os pais e oferecemos-lhe uma nova bicicleta nova. Curiosamente, no dia seguinte, lá estava ele, cujo nome não me recordo, com um amigo a assistir novamente às corridas. Aquela situação foi inesperada, mas revelou uma falha que foi colmatada no ano seguinte. A segurança é um processo de constante evolução. “

No entanto, há algo que a APCIVR quer sempre, que é melhorar a segurança, um trabalho constantemente inacabado e que exige a maior atenção de todos. Neste capítulo ninguém facilita:

“A primeira e maior preocupação que temos é a segurança que é um trabalho que está sempre inacabado. O orçamento ao nível da segurança passiva aumentou muito, mesmo o policiamento aumentou. Todos os anos são implementados incrementos na segurança.”

A paragem de dois anos, devido à pandemia, retirou algum ímpeto à festa transmontana. Mas José Silva acredita que se voltará ao que já vimos. Este primeiro ano é uma espécie de recomeço, para se voltar a caminhar rumo a um futuro ainda mais risonho:

“As questões orçamentais são muito importantes e temos limitações financeiras que não vale a pena escamotear. Claro que temos apoios. Quer da parte do governo, quer de outras instituições e patrocinadores/empresas de índole particular. Apesar de todos esses apoios, as limitações financeiras mantêm-se. Aqui, reconheço o enorme esforço que é feito pelo executivo camarário e a extraordinária liderança daquele que é o grande responsável pelo regresso e manutenção das Corridas de Vila Real, o Rui Santos. Mesmo assim, e é essa a nossa realidade, conseguimos organizar um evento que a todos orgulha.

Tanto em 2020, como em 2021, no ano em que se comemorariam os 90 anos do CIVR, estávamos preparados para, uma vez mais, fazermos uma grande festa. Contudo, a pandemia não nos permitiu levar a efeito as muitas ações que estavam programadas. Este ano, sem aquelas preocupações, o WTCR está de volta, com os pilotos que as pessoas gostam e conhecem, mais carros, mais marcas e no final, uma festa que, estamos em crer, será a maior de todas até aqui realizadas.

Quanto ao futuro, continuamos a trabalhar e a contactar promotores de outras provas internacionais para se juntarem a nós e enriquecermos dessa forma a já brilhante história do nosso circuito.”

Para José Silva, o que torna as corridas especiais são as pessoas. A paixão pelas corridas, o gosto pela festa que faz, o orgulho de transformar uma cidade do interior num palco internacional é o que faz de Vila Real, um circuito único:

“A grande diferença é que as corridas são de todos. Há um sentimento de pertença e para as pessoas de vila real as corridas são as “nossas” corridas. Este orgulho que as pessoas têm é muito raro e é o que torna Vila Real diferente e especial. A paixão e o orgulho dos Vilarealenses é o mais importante.”

This article is from: