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Com o Costa Paulo no Grande Prémio de Espanha, em Jarama
por Jorge Machado
Poderão eventualmente não serem muitos os que reconhecem no Costa Paulo a sua chama como piloto de Vila Real (a sua moto Derbi 50cc impressa na tela da minha memória...), ou também como um dos seus notáveis loucos, que somos, pelo espetáculo das Corridas de Vila Real. Bastaria apenas recordá-lo como o Sócio No1 do Grupo dos primeiros 50 fundadores do Club Automóvel de Vila Real. Participou em várias provas nacionais, com natural destaque para o Circuito de Vila Real, assim como em várias provas internacionais, nomeadamente em Jerez de La Frontera ou no Grande Prémio de Espanha, em Jarama.
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Com um palmarés de 142 Taças e Troféus, brindou à sua paixão como dirigente desportivo da Federação Portuguesa de Motociclismo, seja como Delegado, Comissário Técnico, Comissário Desportivo ou Diretor de Provas. Estará sempre na primeira linha de qualquer corrida, de qualquer circuito, acelerando a sua Derbi até ao 1o lugar do meu reconhecimento e afeto.
O Costa Paulo é um piloto de Vila Real sempre presente em todas as curvas do Circuito Internacional de Vila Real! Tendo como cúmplice para estas escritas o meu amigo Paulo Vaz de Carvalho (outro notável louco pelo cheiro dos motores, mesmo que às vezes partidos...), recordo uma pequena aventura que foi a participação do Costa Paulo no Grande Prémio de Espanha do Campeonato do Mundo de Motos.
Era 1979, quando o Chico, companheiro do Costa Paulo naquela andança das corridas, veio ter comigo e, de mansinho, em tom baixo como que a recear que eu achasse de um despropósito atrevimento, me convida para uma aventura a Jarama, aonde o Costa Paulo iria correr no próximo fim-de-semana. Pensei para comigo - mas a que propósito? Ora
o convite não era totalmente inocente... tinha também a razão de angariar o máximo possível de pilotas estrangeiros para participarem no Circuito Internacional de Motos a realizar em julho. Numa fração de segundos não hesitei, e num piscar de olhos “Espanha vamos daí”. Certamente deviam saber que tenho mistura de óleo no sangue e um silvo ouum grave rouco de escape na garganta!
E assim saímos de Vila Real, numa madrugada a adivinhar um sol atrás das nuvens, certamente envergonhado destes campistas destemidos e, digamos, também um pouco “doudos!”. Moto Derbi de pé na traseira da carrinha Datsun vermelha, e lá fomos com a caixa das ferramentas permanentemente a cochichar a sua presença,
dado que a Derbi permanecia esganada, sem som, nas fitas que, cuidadosamente, o Costa Paulo tinha amarrado. Viagem sem percalços, uma sandes e um covilhete numa paragem... mais técnica... e lá chegámos ao acordar da noite ao paddocK de Jarama.
Monta a tenda, come o que houver e vamos “fazer” a pista a pé. O piso, aqui e ali, parecia mais liso, a lembrar que os valores do coeficiente de atrito, para agarrar, não estavam assim... como que muito altos para agarrar... e a curva do gancho? “Olhe que parece que este ano o piso não estará assim tão mau!” disse- me ele como que a querer que não estivesse. Mas estava!
Deitar cedo, e logo cedo erguer, não me deu mais saúde, nem me fez crescer! Mas os treinos começavam cedo, afinal eram só os então chamados “isqueiros de 50cc”, e não havia como dormir “vamos que nos fecham a porta!”. Os treinos lá foram e o Costa Paulo foi o primeiro dos últimos ou o último dos primeiros... já não me lembro bem! Não estávamos bem-humorados. O Costa Paulo com as chaves à volta do pequeno grande motor, e eu e o Chico fomos bater às portas dos panos das tendas, à procura de pilotos para convencer “O Circuito de Vila Real is very famous...” “we woud like you to join us...” “great race...!” disparava eu em todas as direções, bem... mesmo na do Chico “Oh Jorge! Olha que sou eu! Não percebo patavina!...”. No meu entusiasmo também tinha disparado para ele!...
Com os papeis assinados na mão, certos dos que talvez viessem e dos que talvez tenham fingido que vinham... regressámos à tenda. O motor da Derbi foi “descomposto” e “composto” de novo, “agora é que vai andar!” E andou, pelo menos até àquela curva no gancho... aonde o Costa Paulo caiu... e o motor partiu... Felizmente a velocidade não era as-
sim tão grande e ele não ficou sem nenhum dedo..., já os tinha perdido antes!... Não tínhamos tido sorte, mas pelo menos deu para ver e ouvir as 500cc, qual Cavalgada das Valquírias encantadas... Que som do além! Wagner ficou roxo de inveja!
Chegada a tarde, e, já tarde, levantámos ferro para o regresso na Datsun vermelha. Desta vez vim eu a guiar, com os faróis a acender as guias das deformações da estrada, como se de carris de comboio se tratassem, a manter-me nos trilhos cerrados “E ainda dizem mal das estradas em Portugal” gemi, com as costas aos “trambolhões”, mas a puxar a brasa à minha sardinha... Era noite quando chegámos a bom porto, que é como quem diz... acostámos ao molhe da “Bila”. Não terá sido uma semana de grandes feitos e efeitos mas, mesmo assim, trouxemos uma pilha de “quase contratos” assinados por muitos pilotos.
Uns vieram, mas muito poucos... Valeu a pena pelo abraço que foram esses dias, até hoje... “É certo que caíste e as nossas cores não flutuaram nos mastros, mas, estejas aonde estiveres, estarás sempre naquela primeira linha de qualquer grelha da partida...”
Depois eram duas palavras e um sorriso de amizade, num aperto de mão, sempre que nos cruzávamos nas ruas quentes ou frescas do Shopping...
Para que a memória não se escoe pelo Corgo abaixo. Um abraço Costa Paulo.
Fotografias @Coleção Costa Paulo