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Ortopedia e COVID-19: mudanças e desafios futuros

O RECRUDESCIMENTO DA PANDEMIA DE CORONAVÍRUS RESULTOU NO CRESCIMENTO DA INCERTEZA QUANTO AO FUTURO. E NÓS, COMO CIRURGIÕES, NÃO SOMOS PARTICULARMENTE BONS A LIDAR COM A INCERTEZA. A INQUIETAÇÃO DO CIRURGIÃO ORTOPÉDICO AUMENTA QUANDO LUTA COM QUESTÕES DIFÍCEIS, COMO O CANCELAMENTO DE CIRURGIAS ELETIVAS, NÃO URGENTES, MAS QUE PODEM RESULTAR EM COMPLICAÇÕES FUTURAS, POTENCIALMENTE EVITÁVEIS.

Autor: Ricardo Gonçalves, Assistente Hospitalar de Ortopedia do Hospital Dr. Francisco Zagalo - Ovar

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Como em qualquer crise, a busca de soluções representa uma oportunidade de maximização de valor e inovação na prestação de cuidados de saúde, nomeadamente na Ortopedia, que, em última análise, poderão conduzir à mudança de paradigmas e comportamentos:

1Prática de Medicina baseada na evidência: muito do que é feito em cirurgia ortopédica é baseado na experiência pessoal do cirurgião. A 2 considerável acumulação de casos durante o surto Telemedicina: pandémico poderá conduzir a necessidade de à adesão mais estrita confinamento e às diretrizes de práticas distanciamento social médicas baseadas na resultou num crescimento evidência; o que criará uma do recurso à consulta oportunidade para diminuir “virtual”, à distância. a variação injustificada de Após a resistência inicial procedimentos ortopédicos, (imposta por problemas que fornecem resultados como a falta de recursos questionáveis, para certos técnicos, questões de pacientes ou patologias. privacidade, dificuldade >

de faturação, etc.), a necessidade de manter prestadores de cuidados de saúde e doentes “afastados” tornou a telemedicina num recurso muito útil, nomeadamente em consultas de reavaliação ou acompanhamento pós-cirúrgico.

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Crescimento da Cirurgia de Ambulatório:

há evidências crescentes de que os centros cirúrgicos ambulatoriais podem maximizar o valor da maioria dos procedimentos de cirurgia ortopédica. Os doentes preferem cada vez mais centros cirúrgicos onde não há pacientes com coronavírus e estão mais motivados em regressar precocemente ao domicílio, após a cirurgia, minimizando o risco de contrair o vírus.

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Diminuição do recurso à fisioterapia formal:

a dificuldade de acesso ao tratamento fisiátrico formal obrigou a alternativas de base doméstica, recorrendo, por exemplo, a ferramentas digitais (vídeos, folhetos explicativos), no sentido de facilitar a recuperação dos doentes, aumentando o conforto, segurança e, em última análise, otimizando custos e resultados pósoperatórios. Aumento da pressão dos custos hospitalares:

fruto da crise económica associada ao coronavírus, haverá mais pressão para gerir os custos hospitalares de forma rigorosa. No caso específico da Ortopedia, os hospitais continuarão a enfrentar a pressão financeira causada pela migração de casos ortopédicos lucrativos de hospitais do Sistema Nacional de Saúde para Unidades de Cuidados Privados. Para sobreviver economicamente, os hospitais deverão adotar práticas mais económicas e eficazes, sendo um dos primeiros alvos o custo dos implantes ortopédicos, dada a sua grande variabilidade e, por vezes, falta de transparência nos preços e processos de compra.

Formação médica virtual e não presencial:

a formação médica contínua é uma 6prioridade absoluta, mas os custos associados são enormes (propinas, deslocações e alojamentos). Por outro lado, a necessidade de recuperação das listas de espera de consultas e cirurgias, proteladas pela atual pandemia, colocou uma pressão adicional na busca de alternativas educacionais virtuais, menos consumidoras de tempo e recursos. Assistimos assim ao crescimento exponencial de serviços de conferências remotas e à oferta de oportunidades educacionais, com a colaboração estratégica de organizações da indústria e da saúde. Ainda mais empolgante poderá ser o papel crescente que o virtual e o treino de realidade aumentada terão na formação futura de internos e fellows de ortopedia.

É assim de extrema importância que, para que estas estratégias funcionem, os profissionais de saúde em geral, e os cirurgiões ortopédicos em particular, se sintam seguros, protegidos e ouvidos. Aceitar estas mudanças permitirá enfrentar os desafios impostos pela COVID-19, garantindo a prestação de cuidados de qualidade aos doentes, nos anos que virão. •

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