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• SIGREM: um modelo circular para medicamentos e suas embalagens (parte II
from Infopharma nº2
by editorialmic
EMBORA O SECTOR DO MEDICAMENTO REPRESENTE MENOS DE 1 % DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS PRODUZIDOS EM PORTUGAL, A EXISTÊNCIA DE UM SISTEMA DE RECOLHA DE EMBALAGENS VAZIAS E MEDICAMENTOS FORA DE USO É DE GRANDE IMPORTÂNCIA. DE FACTO, A ESPECIFICIDADE DO MEDICAMENTO ACONSELHA E EXIGE A EXISTÊNCIA DE UM PROCESSO DE RECOLHA SEGURO E, POR ISSO, UM PROJECTO DESTA NATUREZA JUSTIFICA-SE EM TERMOS DE SAÚDE PÚBLICA E AMBIENTAL.
Autor: Luís Figueiredo, Diretor Geral da VALORMED
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Foi consciente disso que em 1999 a indústria farmacêutica, através da Apifarma, criou a VALORMED, a que de imediato se associaram farmácias e distribuidores, instituindo-se dessa forma um sistema autónomo e próprio para o sector do medicamento. Desta forma, fechou-se aquilo a que podemos denominar o “ciclo do medicamento”, que se inicia com o processo de Investigação & Desenvolvimento e termina com o tratamento ambiental dos resíduos produzidos.
A VALORMED foi criada para a concretização de dois objectivos fundamentais: minimizar o impacto que os resíduos de embalagens e medicamentos podem vir a causar sobre o ambiente e promover a não acumulação doméstica de medicamentos. Assim, graças a essa recolha selectiva, passou a contribuirse para o uso racional do medicamento e automedicação indevida, evitandose que os que foram prescritos para um determinado tratamento sejam utilizados posteriormente sem o necessário controlo médico e sanitário. Até 2008, os resíduos eram na totalidade encaminhados para incineração e depositados em aterro mas, desde então e contrariamente ao que muitos ainda continuam a pensar, todo o material recolhido nas farmácias é, depois do armazenamento intermédio nos distribuidores com o objectivo de permitir uma transferência em quantidade, encaminhado para um Centro de Triagem. Aí, os resíduos são separados e classificados, e depois enviados para reciclagem ou incineração com valorização energética.
Assim, o contributo do sector do medicamento na vertente ambiental foi reforçado nos últimos anos, especialmente com a entrada em funcionamento do tapete de triagem para os resíduos recolhidos no âmbito do SIGREM. De facto, centenas de toneladas de resíduos passaram a ser recicladas, outras valorizadas energeticamente, evitando-se a sua deposição em aterro sanitário, verificando-se, por isso, uma diminuição significativa da contaminação dos aterros com resíduos das embalagens contaminadas com medicamentos.
A VALORMED é uma sociedade por quotas, cujo objecto social corresponde e remete expressamente para a legislação em vigor, designadamente em matéria de gestão de resíduos de embalagens. Tem como sócios fundadores as principais instituições representativas dos operadores económicos que constituem a “cadeia do medicamento”, com um capital social repartido por uma estrutura que reflecte os três subsectores principais do sector (indústria, distribuidores, farmácias), consubstanciando uma “visão global” em relação ao futuro do País e do Planeta.
Os próximos anos são cruciais para o futuro das organizações, tendo em conta que as agendas das alterações climáticas, desenvolvimento sustentável e energia estão unificadas a uma escala global. É o momento de agir, aproveitando esta oportunidade sem precedentes, pelo que importa, pois, promover a unicidade de 4 elementos: Ambiente, Social, Económico e Identidade.
Não queria deixar de recordar, por isso, alguns dados que nos devem motivar, mas, sobretudo, levar a agir desde já: • Actualmente a União Europeia importa seis vezes mais materiais e recursos naturais do que exporta;
• Consumimos recursos renováveis a um ritmo 50 % superior ao necessário para a sua substituição; • A classe média à escala mundial deverá registar um aumento correspondente a 4 mil milhões de pessoas até 2035;
• Nos mares, são lançados cerca de 500 quilos de resíduos por segundo, tratando-se na sua grande maioria de plásticos.
Chegou, por isso, o momento de nos concentrarmos num novo rumo. É sobejamente conhecida a reputação da Europa em matéria de inovação e competências, a sua capacidade em resolver questões de grande complexidade, a sua fama em saber partilhar os seus conhecimentos e conjugar os seus recursos. Durante cinquenta anos, isso fez da Europa uma potência económica mundial, sendo que, hoje em dia, as empresas europeias continuam na vanguarda da economia verde à escala mundial, representando um terço do mercado mundial de tais tecnologias.
Numa economia circular em que a preocupação incide sobre a reparação dos produtos, a manutenção, a actualização e a retransformação caracterizam-se por uma utilização muito mais intensiva de mão-deobra do que as indústrias extractiva e transformadora em instalações altamente automatizadas. Deste modo, tal pode resultar na criação directa de um grande número de novos postos de trabalho em toda a União Europeia. De um modo indirecto, o acesso a recursos reciclados pouco dispendiosos, com baixo teor de carbono e de elevada qualidade, pode reduzir a nossa dependência face às matérias-primas importadas e contribuir em maior grau para o emprego, o crescimento e a reindustrialização da Europa. A economia circular vai ser o principal desafio de inovação nas próximas décadas, pelo que destaco que a própria Natureza poderá guiarnos nesse sentido. •