12 minute read
Discutir ideias para melhor servir a comunidade • Descontos em Medicamentos Sujeitos a Receita Médica:
Discutir ideias para melhor servir a comunidade
Manuela Pacheco, Presidente da Associação de Farmácias de Portugal (AFP)
Advertisement
Na Associação de Farmácias de Portugal (AFP), trabalhamos para garantir que os farmacêuticos comunitários são reconhecidos enquanto especialistas do medicamento e valorizados como membros importantes do conjunto de provedores de cuidados de saúde pública. Queremos fazer mais e melhor pelos farmacêuticos, dando voz às suas preocupações junto dos principais reguladores e stakeholders, mas também da opinião pública e dos cidadãos.
“Com esta publicação, a AFP quer dar voz aos especialistas do setor da Saúde para que juntos possamos encontrar pistas para os desafios do futuro da Saúde. Queremos também valorizar o trabalho realizado diariamente pelas farmácias comunitárias de todo o país, contando as suas histórias, os seus testemunhos e ouvindo as suas dificuldades”
Sentindo que há uma necessidade de criar espaços de diálogo e de apresentação de ideias que contribuam para melhorar o setor farmacêutico e, em última instância, para cuidar melhor da saúde dos cidadãos, a AFP decidiu relançar a revista Infopharma.
Com esta publicação, a AFP ambiciona dar voz aos especialistas do setor da Saúde – sejam eles dirigentes de associações, de farmácias, de reguladores, ou académicos – para que juntos possamos encontrar pistas para os desafios do futuro da Saúde. Queremos também valorizar o trabalho realizado diariamente pelas farmácias comunitárias de todo o país, contando as suas histórias, os seus testemunhos e ouvindo as suas dificuldades.
Esperamos dar-vos a conhecer, trimestralmente em cada edição, um conjunto de opiniões e de visões que possam contribuir para o melhor funcionamento do setor farmacêutico.
Nesta primeira edição, por exemplo, contamos com uma análise do professor Henrique Martins, Presidente da SPMS EPE, sobre a transformação digital no setor da saúde e sobre a aplicabilidade da telessaúde nas farmácias. Este é, sem dúvida, um tema fundamental e que vai ser um driver para o futuro das farmácias. Pertinente e atual é também a análise feita pela Associação Portuguesa de Estudantes de Farmácias (APEF) ao tema da aplicação de descontos em medicamentos sujeitos a receitas médica. Um tema que a Associação de Farmácias de Portugal considera ser uma das áreas prioritárias de intervenção.
Nesta primeira edição destacamos ainda a história e o percurso de duas farmácias – a Farmácia Santos que foi a primeira farmácia em Braga a funcionar 24 horas por dia e a Farmácia Albino Lopes, em Nelas, que conta com mais de 100 anos de história e soube adaptar-se às exigências do mundo atual.
Por último, não poderia deixar de referir o destaque que damos nesta edição ao projeto “Seringas Só no Agulhão”. Um projeto inovador criado pela AFP e que veio dar resposta a um problema que até ao momento não tinha uma solução.
Esperamos que todas estas reflexões possam ajudar os farmacêuticos num melhor exercício da sua atividade.
Contamos com o vosso contributo e com as vossas visões! •
“Seringas Só no Agulhão”: destAque < O projeto pioneiro que recolheu mais de 102 mil seringas em cinco meses
NO FINAL DE JUNHO DO ANO PASSADO, A AFP LANÇOU UM PROJETO INOVADOR EM PORTUGAL, DESTINADO À RECOLHA DE SERINGAS E AGULHAS USADAS. EM CINCO MESES FORAM RECOLHIDAS MAIS DE 102 MIL SERINGAS. O OBJETIVO É LEVAR O “AGULHÃO” A TODO O PAÍS.
Autor: Associação de Farmácias de Portugal
Oprojeto-piloto “Seringas Só No Agulhão” - que consiste na recolha das seringas usadas pelos diabéticos e por todos os doentes que utilizam medicamentos injetáveis - recolheu 102 mil seringas e agulhas usadas nos primeiros cinco meses do projeto.
Lançado no final de junho de 2019 pela Associação de Farmácias de Portugal AFP (e em parceria com a Stericycle), o projeto “Seringas Só no Agulhão” foi criado para dar uma resposta ao problema da falta de soluções seguras e ecológicas para a recolha das seringas usadas pelos doentes diabéticos.
As estimativas da AFP, com base nos dados da IQVIA, apontam para que todos os anos sejam gerados em Portugal mais de 250 milhões de resíduos (seringas e agulhas) em ambulatório. São resíduos que, devido à inexistência de uma recolha segura, vão parar ao lixo comum.
“Conseguimos recolher 102 mil seringas em apenas 10 farmácias. Acreditamos que se este projeto-piloto for implementado a nível nacional iremos ter um efeito multiplicador na recolha destes resíduos, contribuindo assim para a melhoria da Saúde Pública em Portugal”, assegura Manuela Pacheco, Presidente da AFP
“Tivemos conhecimento das preocupações de alguns doentes diabéticos que se deparam com a inexistência de um sistema de recolha de seringas usadas. Sabemos que estes doentes têm muitas vezes de colocar as seringas dentro de garrafas de plástico que depois depositam no lixo comum. Este não é Portugal está inserido no âmbito do PTS (Programa de Troca de Seringas) – um programa especialmente dirigido às Pessoas que Utilizam Drogas Injetáveis (PUDI). Nestes casos, as farmácias recolhem as seringas usadas (que >
de todo o destino mais adequado para este tipo de resíduos”, explica a Presidente da AFP, Manuela Pacheco.
Recorde-se que o único sistema de recolha de seringas que existe em
CONHEÇA COM MAIS DETALHE COMO FUNCIONA ESTE PROJETO
O que é? Trata-se de um projeto-piloto inovador implementado pela AFP, em parceria com a empresa Stericycle, e que se destina à recolha das seringas usadas pelos diabéticos, bem como de todos os cidadãos que necessitam de medicamentos injetáveis.
Como funciona? As farmácias aderentes ao projeto-piloto têm um contentor próprio - o “Agulhão” - onde todos os cidadãos podem colocar as suas seringas usadas, sem quaisquer custos associados.
Quais as vantagens? Com o “Agulhão”, os cidadãos passam a ter ao seu dispor, pela primeira vez, uma solução segura, ecológica e gratuita para as suas seringas usadas.
Quais as farmácias aderentes? Nesta fase, o projeto-piloto “Seringas Só No Agulhão” está implementado em 10 farmácias dos concelhos do Porto, Vila Nova de Gaia, Matosinhos, Gondomar, Braga e Vila Verde. • Farmácia Costa Macedo (Vila Verde) • Farmácia Cristal (Braga) • Farmácia da Areosa (Rio Tinto) • Farmácia de Aguiar (Gondomar) • Farmácia Falcão (Porto) • Farmácia Henriques (Porto) • Farmácia Leça do Balio (Leça do Balio) • Farmácia Monte da Virgem (Vila Nova de Gaia) • Farmácia Padrão da Légua (Custoías) • Farmácia Portela (Vila Nova de Gaia)
No entanto, e dado o sucesso da iniciativa, a Associação de Farmácias de Portugal ambiciona transformar o projeto “Seringas Só no Agulhão” numa iniciativa de âmbito nacional. AFP, Manuela Pacheco, adiantando ainda: “Conseguimos recolher 102 mil seringas em apenas 10 farmácias. Acreditamos que se este projeto-piloto for implementado a nível nacional, iremos ter um efeito multiplicador na recolha destes resíduos, contribuindo assim para a melhoria da Saúde Pública em Portugal”.
Por todas estas razões, em 2020, a AFP estará focada na sensibilização das autoridades competentes para os benefícios do programa “Seringas Só no Agulhão” e para a importância do desenvolvimento de soluções de recolhas de seringas para os utilizadores de medicamentos injetáveis nas farmácias de todo o País. Da mesma forma, a AFP continuará a trabalhar para divulgar o “Agulhão” junto das populações, para que possam beneficiar desta solução inovadora. •
depois são destruídas) e, em troca, devolvem aos cidadãos material esterilizado.
O projeto-piloto “Seringas Só No Agulhão” arrancou com 10 farmácias do norte do País e em cada farmácia foi instalado um contentor próprio - o “Agulhão” – onde todos os cidadãos podem colocar as suas seringas usadas, sem qualquer custo adicional.
Os resultados positivos obtidos até ao momento confirmam a convicção da AFP na relevância desta iniciativa. “O projeto permitiu encontrar uma solução segura que melhora a vida dos cidadãos e tem efeitos ambientais positivos”, explica a Presidente da
Telessaúde: A sua aplicabilidade nas farmácias
AS FARMÁCIAS NÃO ESTÃO À MARGEM DA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL. SÃO, EM MUITOS CASOS, PIONEIRAS NA DIGITALIZAÇÃO DA ATIVIDADE QUE ANTERIORMENTE ERA REALIZADA EM PAPEL, PELO QUE A TELESSAÚDE PODERÁ APRESENTAR-SE COMO UMA CONTINUIDADE DESSE TRABALHO.
Autor: Henrique Martins, Presidente da SPMS EPE
Numa sociedade envelhecida, com uma carga crescente de multimorbilidades, há implicações ao nível do acesso a cuidados de saúde e da sustentabilidade do sistema. O recurso às tecnologias de informação e comunicação é um meio para alavancar novas soluções que melhor respondam às necessidades.
A Saúde Digital e, em particular, a área da telessaúde, tem vindo a ser reconhecida internacionalmente como uma oportunidade para fazer frente aos grandes desafios, na promoção da saúde e na prestação de cuidados. Para além de permitir a transposição de barreiras geográficas, permite um acompanhamento mais próximo.
Tal como em outros países, em Portugal há múltiplas iniciativas de novos modelos de prestação de cuidados de saúde assentes no conceito de telessaúde - no serviço público e no privado. A teleconsulta, a teletriagem, a telemonitorização, o telediagnóstico ou o telerrastreio são disso exemplos. No Serviço Nacional de Saúde (SNS) muitas destas iniciativas são locais - isto é, desenvolvidas por equipas de profissionais em hospitais e centros de saúde. Outras têm âmbito regional ou mesmo nacional. Em outubro de 2016 o Conselho de Ministros criou, através da resolução 67/2016, o Centro Nacional de TeleSaúde, no seio da SPMS, E.P.E. e atribui-lhe a tarefa de “promoção da Telemedicina e ...(da) utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação, como parte integrante de processos de reforma dos cuidados de saúde, com vista a alcançar um nível mais elevado de articulação, integração e melhoria da qualidade dos cuidados (...)”.
É neste contexto que em outubro de 2019, e após extensa elaboração e consulta pública, a Tutela da Saúde aprova e é lançado pela SPMS o primeiro
Plano Estratégico Nacional para a Telessaúde PENTS (2019-2022).
Assim, a telessaúde deverá ajudar a inovar os modelos de prestação de cuidados de saúde fora das instituições, assim como a inovação terá que fortalecer a utilidade da telessaúde como meio de apoio à prestação de cuidados de saúde. Estas tendências devem ser integradas sempre que contribuam para aportar valor ao cidadão e ao SNS.
Os cidadãos também devem contribuir para a melhoria do SNS, através de um maior conhecimento e confiança para desempenhar um papel ativo nos seus cuidados, e da participação na investigação através dos seus dados de saúde.
As farmácias não estão à margem da transformação digital. São, em muitos casos, pioneiras na digitalização da atividade que anteriormente era realizada em papel, pelo que a telessaúde poderá apresenta-se como uma continuidade desse trabalho.
Neste contexto surge o termo telefarmácia, que consiste no uso de tecnologia eletrónica de informação e comunicação para apoiar o negócio e prestação de serviços farmacêuticos quando a distância separa os diferentes participantes e intervenientes da ação a ser executada.
Internacionalmente, este é um tema que surge em vários países e com casos concretos de aplicação. Foi na Marinha dos Estados Unidos da América (EUA) onde se verificaram as primeiras experiências de telefarmácia, de forma sistematizada e continuada. O extenso alcance geográfico deste ramo militar significa a impossibilidade da presença física de um farmacêutico em todos os locais onde os medicamentos são fornecidos.
Em termos de experiência em telefarmácia, é provavelmente nos EUA onde existem mais pilotos por todo o País, especialmente em Estados com baixas densidades populacionais.
A Dinamarca é também um exemplo, quando, em 2011, uma associação de farmácias dinamarquesas forneceu uma solução centralizada, com um serviço de aconselhamento online através do seu website. Poder-se-iam apontar mais exemplos, em países como a Austrália ou o Egito.
Os casos práticos em telefarmácia variam, dependendo da região, das necessidades a que dão resposta, das leis ou regulamentos e também >
da disponibilidade das entidades, mas poderiam resumir-se a quatro áreas de atuação: • Monitorização de terapêuticas farmacológicas. • Aconselhamento farmacológico entre profissionais de saúde. • Pedidos e distribuição remota de medicamentos. • Aconselhamento e esclarecimento terapêutico a cidadãos.
Nas 12 medidas do PENTS, os serviços de telefarmácia podem ter cabimento nestas seis:
• Garantir um modelo sustentável para a telessaúde; • Tornar a telessaúde num meio para a criação de sinergias; • Garantir a segurança da informação e interoperabilidade dos sistemas de informação; • Garantir as condições operacionais para o exercício da telessaúde; • Desenvolver novas ofertas de telessaúde; • Promover e divulgar o conceito de eSaúde junto de cidadãos e profissionais e sensibilizar para as suas mais-valias.
Mas, para além do potencial, há que dar a conhecer alguns exemplos nacionais, já reais. Por exemplo:
A Telefarmácia na Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano, EPE, onde em 2017 foi dado um passo importante na aproximação entre os cuidados de saúde diferenciados (Hospital) e os cidadãos utentes dos centros de saúde. Trata-se de um serviço que visa a descentralização para as unidades de cuidados de saúde primários da dispensa direta ao doente de medicamentos que são exclusivos da farmácia hospitalar. Neste serviço é sincronizado o transporte e entrega dos medicamentos em condições de segurança no centro de saúde, através de uma teleconsulta efetuada no momento da dispensa da medicação ao doente.
O Centro de Contacto do Serviço Nacional de Saúde - SNS 24, que dispõe de farmacêutico 24/7, para apoio a enfermeiros no aconselhamento sobre medicamentos de venda livre (over the counter - OTC). É realizado também o aconselhamento farmacológico no que se refere a interações medicamentosas e de posologia. Desde novembro de 2016 até 15 de janeiro foram efetuados 79.864 atendimentos neste âmbito.
O Projeto USFarmácia, que tem como objetivo testar um conceito de modelo colaborativo entre uma Unidade de Cuidados de Saúde Primários (está a ser testado com a USF S. Julião) e as Farmácias Comunitárias de proximidade. Foram definidos os seguintes serviços digitais do lado da farmácia, devidamente articulados com os Cuidados de Saúde Primários (CSP):
• Registo do Cidadão no Registo de Saúde Eletrónico | Área do
Cidadão; • Consulta das medições de saúde registadas tanto no RSE | Área do
Cidadão como nos CSP; • Registo de medições no SIFARMA que são transmitidos para o RSE |
Área do Cidadão; • Pedido de marcação de consulta; • Pedido de renovação de medicação crónica.
O último serviço a ser implementado foi o da partilha bidirecional de histórico de medições do utente. Em 16/10/2019 a informação de todos os utentes-piloto ficou disponível no RSE| Área do Cidadão, tanto para consulta por parte dos profissionais da USF S. Julião, como por parte dos farmacêuticos – nesta fase deverá estar a Associação Nacional de Farmácias a trabalhar nas conclusões deste piloto. Em relação a números, temos mais de 1.700 medições registadas.
Ou seja, há um lugar para as farmácias e os farmacêuticos na saúde digital, e na telessaúde, em particular. Há que experimentar e desenvolver soluções, para tal o PENTS, suas orientações e princípios podem certamente ajudar. Mais informação sobre estas matérias pode ser obtida no site da SPMS em www.spms. min-saude.pt •