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SIGREM: Um modelo circular para medicamentos e suas embalagens
SIGREM: Um modelo circular para medicamentos e suas embalagens (Parte I)
VERIFICA-SE NO SETOR FARMACÊUTICO UM INTERESSE CRESCENTE NO MODELO DE ECONOMIA CIRCULAR COMO UMA FORMA POSITIVA PARA AS EMPRESAS. O OBJETIVO É FORNECER PRODUTOS QUE MELHOREM A SAÚDE E O BEM-ESTAR DAS PESSOAS E COM UM IMPACTO POSITIVO NO MEIO AMBIENTE.
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Autor: Luís Figueiredo, Diretor Geral da VALORMED
Opapel, preocupações e ações que o setor farmacêutico e os seus atores desde sempre colocaram e desempenharam no respeito e preservação do ambiente, em simultâneo com a investigação e desenvolvimento das melhores soluções terapêuticas para o tratamento das populações, têm sido uma constante ao longo das últimas décadas.
A sua missão, particularmente da indústria farmacêutica, tem sido fomentar a inovação de terapêuticas que respondam às necessidades de tratamento e prevenção de novas patologias, disponibilizando medicamentos que promovam a melhoria da saúde e da qualidade de vida dos cidadãos, sempre defendendo elevados padrões éticos e de qualidade, aliados à responsabilidade social e dever de solidariedade.
Desde sempre sujeita a forte regulamentação e habituada a práticas e procedimentos caracterizados pelo rigor, a indústria farmacêutica acumula toda uma experiência em matéria de produção, embalagem e acondicionamento de medicamentos, e desse modo está em condições de especificar, com elevado grau de rigor, os materiais que utiliza para lançar no mercado. A observância dos mesmos níveis de exigência na gestão de resíduos para os utilizados na produção e embalagem dos medicamentos fazem desta indústria, e sem qualquer margem para dúvidas, um exemplo a seguir, atrevendo-me a afirmar que terá provavelmente sido uma das primeiras atividades industriais a estudar e a implementar sistemas de tratamento para os resíduos produzidos na fabricação dos seus produtos, reintroduzindo-os no seu ou noutros ciclos produtivos.
Partindo desde contexto, surge o conceito de transformar este modelo linear num modelo circular de produção, no qual os materiais retornam ao ciclo produtivo ao invés de serem descartados como lixo, por exemplo, através da logística reversa, com a reutilização, a recuperação e a reciclagem de materiais, atingindo o chamado ciclo fechado de produção. Este modelo, defendido e disseminado pelo Mundo, surge como uma oportunidade de emendarmos o “mal” aplicado sobre o planeta Terra.
Há vários estudos que estimaram o impacto económico da inadequada >
utilização dos resíduos sólidos e os números apontados são significativos. Este é, pois, o momento de agir, articular políticas e partilhar obrigações, nomeadamente entre os diversos setores industriais, governos e consumidores sobre a responsabilidade compartilhada de produtos, a implementação de sistemas de logística inversa e gestão de resíduos envolvendo as cidades e empresas.
Num contexto como o atual, em que as matérias-primas são cada vez mais escassas, o setor farmacêutico é um modelo exemplar. Desde sempre apostou na responsabilidade e otimização dos recursos, através da inovação e química verde ou sustentável, assumindo o compromisso que o fabrico de medicamentos seguros e de qualidade se compatibiliza, durante o ciclo de vida, com o respeito pelos valores associados à preservação e conservação do ambiente.
No pressuposto que o melhor resíduo é aquele que não se produz, destaco a permanente proatividade dos laboratórios na aplicação de medidas de ecodesenho nas embalagens e desenvolvimento de planos de prevenção de resíduos. Obviamente que este aspeto tem de ser associado à necessidade de procura de materiais mais seguros, resistentes e leves, que promovam a redução dos custos logísticos, quando sabemos que tem sido objetivo das grandes companhias uma tendência cada vez maior na concentração da sua produção em unidades a partir das quais são distribuídos os seus produtos.
Graças a tais medidas, são permanentemente colocadas no mercado milhões de unidades incorporando uma melhoria ambiental, com redução do seu peso ou incorporação de materiais mais ecológicos. Este êxito deve-se ao esforço do setor e elevado grau de adesão e participação dos laboratórios a planos de prevenção de resíduos, cujo trabalho desenvolvido é prova do interesse da indústria farmacêutica em incorporar a componente ambiental ao longo do ciclo de vida dos seus produtos. Isto, apesar de todas as condicionantes legais, técnicas, económicas e de segurança, as quais, em muitas ocasiões, continuam a limitar a adoção de outras medidas pré-concebidas.
Esta responsabilidade, nomeadamente no ecodesenho da embalagem de um bem necessário para a nossa saúde, determina uma marca de identidade que distingue a indústria farmacêutica: a preocupação pelo bem-estar, com a aplicação de medidas que contribuem para uma sociedade mais sustentável e favorece o avanço rumo a um modelo de economia circular.
A economia circular veio trazer-nos uma abordagem diferente, que nos abre novas e excelentes perspetivas. Neste domínio, há a ideia de que um produto não se torna, num ápice, um resíduo: antes se devem procurar processos de reutilização e reciclagem, que potenciem o seu valor. Com esta nova perceção, de que se pode transformar resíduos sólidos em matéria-prima secundária, este conceito aplicado à gestão de resíduos assenta na política dos quatro R’s: reduzir, reutilizar, recuperar, reciclar.
Verifica-se no setor, de facto, um interesse crescente no modelo de economia circular como uma forma positiva para as empresas, que visa a adopção de programas abrangentes com o objectivo de mudar o seu modelo económico, vinculado directamente à visão essencial que é fornecer produtos que melhorem a saúde e o bem-estar das pessoas e com um impacto positivo no meio ambiente. •
(Continua na próxima edição).
A valorização do farmacêutico através do desenvolvimento profissional contínuo
TODOS OS CIDADÃOS TÊM O DIREITO DE SABER QUE OS FARMACÊUTICOS QUE LHES PRESTAM CUIDADOS PERMANECEM COMPETENTES AO LONGO DE TODA A SUA VIDA PROFISSIONAL. NA PROSSECUÇÃO DESTE OBJETIVO, A SECÇÃO REGIONAL DO SUL E REGIÕES AUTÓNOMAS (SRSRA) PROMOVE DIVERSAS AÇÕES DE FORMAÇÃO.
Autor: Luís Miguel Lourenço, Presidente da Secção Regional do Sul e Regiões Autónomas da Ordem dos Farmacêuticos
As definições, enunciados e princípios de Desenvolvimento Profissional Contínuo (DPC), na literatura, remontam ao século XX. Aliás, o primeiro curso de Formação Médica Contínua (FMC) foi reportado em 1935. Contudo, apenas em 1960, o conceito de DPC passou a ser descrito na literatura de forma concertada e consistente.1
A elevação do conceito de DPC pressupôs que este último incorporasse e reconhecesse a integração não só dos conhecimentos e das competências técnico-profissionais, mas também das competências éticas, sociais e pessoais, num sistema de desenvolvimento e aprendizagem ao longo da vida e de responsabilidade individual e profissional de cada um.2 Em 1997, a Federação Internacional dos Farmacêuticos (FIP) vem reconhecer pela primeira vez a responsabilidade individual e ética dos profissionais em “assegurar competência em cada serviço farmacêutico prestado, através da atualização continuada de conhecimentos e competências”. 3 Atualmente, a Ordem dos Farmacêuticos (OF) define o conceito de DPC como “a responsabilidade individual dos farmacêuticos com a atualização permanente
1.- Grant J. The good CPD guide. A practical guide to managed continuing professional development in medicine. 2nd ed. London:
New York Radcliffe Publishing. 2012 2.- Filipe HP, Silva ED, Stulting AA, Golnik KC. Continuing professional development: best practices. Middle East Afr J Ophthalmol. 2014;21(2):134–141. 3.- International Pharmaceutical Federation. Statement on Professional Standards: Code of Ethics Pharmacists. 1997
e o desenvolvimento sistemático de conhecimentos, competências e aptidões ao longo da sua vida ativa”.
Sabemos que os Farmacêuticos, nas suas diversas áreas de intervenção profissional, têm responsabilidades que incluem garantir as condições de qualidade, eficácia e segurança da terapêutica e do medicamento (responsabilizando-se por todo o seu circuito) e, no limite da sua definição de competências, ser promotores de saúde do cidadão e da população. Ora, todas estas responsabilidades exigem que o farmacêutico se mantenha a par dos desenvolvimentos nas práticas e nas ciências farmacêuticas, nos regulamentos e enquadramentos legais pelos quais se rege o sistema de saúde (e, em particular, o medicamento e todas as áreas de intervenção profissional) e avanços nos conhecimentos, nas técnicas e nas tecnologias. Compreendendo este dever profissional e ético, as entidades reguladoras da profissão farmacêutica, a nível internacional, deram como resposta o desenvolvimento de sistemas de DPC que exigem a demonstração comprovada de participação dos profissionais como pré-requisito para a revalidação do direito à prática do ato farmacêutico.4
Concordando que todos queremos uma saúde mais “centrada na pessoa” e conhecendo as exigências do sistema de saúde, temos de afirmar que todos os cidadãos têm o direito de saber que os farmacêuticos que lhes prestam cuidados permanecem competentes ao longo de toda a sua vida profissional. >
4.- International Pharmaceutical Federation. Statement on Professional Standard: Continuing Professional Development. 2002
Na prossecução deste objetivo e no cumprimento dos desígnios estatutários da OF, a Secção Regional do Sul e Regiões Autónomas (SRSRA) promove diversas ações de formação. Em 2018, foram realizadas mais de 60 ações de formação presencial descentralizadas, que contaram com 1021 participantes, em nove cidades diferentes, localizadas na zona sul de Portugal Continental e Regiões Autónomas. Paralelamente, promoveram-se 26 ações de formação acessíveis a todos os farmacêuticos, através da plataforma de formação à distância (e-learning), que integrou cerca de 400 participantes.
Perspetivando corresponder aos desafios profissionais dos farmacêuticos, foram desenvolvidos 15 novos projetos de formação, graças
Luís Miguel Lourenço, Pesidente da Secção Regional do Sul e Regiões Autónomas da Ordem dos Farmacêuticos
aos contributos de grupos de trabalho, constituídos por profissionais de reconhecido mérito e experiência nas cinco diferentes áreas profissionais ditas tradicionais (Farmácia Comunitária, Farmácia Hospitalar, Indústria Farmacêutica, Análises Clínicas e Distribuição Grossista), fundamentais para a definição de novas temáticas e desenvolvimento e de novas oportunidades de formação.
No final do 1.º semestre de 2019, a
SRSRA conta já com mais de 500 participantes e sete novos temas de formação. Acrescem as oportunidades formativas proporcionadas pelas restantes Secções Regionais e resultado do sistema de creditação de atividades e ações formativas da OF. Há que ressalvar outras atividades da SRSRA, como é o caso do Ciclo de Conferências, do Simpósio Científico, do ActionTalks e do Programa de Capacitação Política, que visam promover competências éticas, políticas, comportamentais e pessoais. “Todas as suas responsabilidades exigem que o farmacêutico se mantenha a par dos desenvolvimentos nas práticas e nas ciências farmacêuticas, nos regulamentos e enquadramentos legais pelos quais se rege o sistema de saúde (e, em particular, o medicamento e todas as áreas de intervenção profissional) e avanços nos conhecimentos, nas técnicas e na tecnologias”
Em suma, o farmacêutico tem como responsabilidade e dever o seu próprio desenvolvimento e valorização. Podemos afirmar que estar inscrito na OF é sinónimo de um contínuo desenvolvimento e valorização pessoal e profissional. No futuro, haverá certamente a identificação de novas oportunidades nas diferentes áreas profissionais, de acordo com necessidades e preferências dos farmacêuticos, e exigências do cidadão, do setor farmacêutico, do sistema de saúde e da sociedade. •