18 DESTAQUE
Rostos do SNS Mafalda Reis
CS Leça da Palmeira – ULS Matosinhos | desde 2005 | Técnica Superior
“A ULS Matosinhos é pioneira em ter cuidados de saúde oral nos cuidados de saúde primários. Agora vamos ter outro gabinete em S. Mamede, mas não é suficiente. O ideal seria ter um médico dentista nos principais centros de saúde do concelho. Os desafios maiores que sinto são os EPI e, nas primeiras consultas, como os utentes não nos veem a cara, o relacionamento utente-médico dentista torna-se mais frio. No entanto, a pandemia trouxe-me a assistente dentária, que foi uma mais-valia muito grande.
Quando tivemos atendimento para todas as pessoas da ULS de Matosinhos, eu fiquei com uma lista de espera de quatro anos. Passámos a ter alguns requisitos de referenciação que limitam a entrada na consulta de medicina dentária e que nos permitem ter uma lista de espera não tão grande. Por isso é que acho que o projeto-piloto devia ter ouvido quem já estava no terreno há muitos anos, porque é impossível dar assistência a todos os inscritos nos
centros de saúde. É um desafio diário em que tentamos ajudar o mais que podemos.”
Margarida Borges
CS S. Pedro da Cova – Gondomar | desde 2020 | Regime de avença
“Tem sido um caminho desafiante, mas muito enriquecedor. Com a pandemia tivemos que suspender as consultas e no verão retomámos com uma lista de espera maior. O mais desafiante é querermos ajudar as pessoas e não conseguirmos fazer muito mais, não conseguirmos dar resposta quando elas querem e precisam. Os nossos utentes são muito carenciados, com uma cavidade oral muito degradada. Normalmente, não
temos pacientes que costumam fazer rotinas, muitos estão a vir ao médico dentista pela primeira vez, e mesmo a nível de higiene, não há uma rotina, pelo que também fazemos esse trabalho de sensibilização. Um médico dentista por centro de saúde era ótimo. Estou muito satisfeita com a minha escolha. No entanto, damos o nosso melhor e depois não somos integrados no SNS, apesar de termos de cumprir um horá-
rio, num determinado local, e todos os parâmetros.
Fátima Agripina
CS Viseu 3 – ACES Dão-Lafões | desde 2000 | Técnica Superior
Com o projeto-piloto não foi colocado nenhum colega no nosso ACES. Estou eu e outra médica dentista, que dá apoio a outros concelhos. No fundo, distribuímos os concelhos de acordo com a densidade populacional. Eu recebo utentes de Viseu, Aguiar da Beira e Sátão. Antes ainda ia um dia por semana prestar apoio a outros concelhos. Quando parei, aloquei esse dia ao horário de Viseu e consegui reduzir a lista de espera. Com a COVID-19, os pedidos diminuíram e foi-se equilibrando. O concelho de Viseu tem bastante densidade populacional e como houve o alargamento do acesso a toda a população, é óbvio que se torna complicado.
omd
Nº49
O perfil de utentes que temos é essencialmente o que está desempregado na faixa etária dos 20, 30, 40 anos, ou com dificuldades económicas. Depois, temos os idosos, que têm aquela necessidade que seria tratar os dentes, extrair as raízes e de futuro colocar próteses, mas sabemos que não temos essa resposta. Com o fim dos critérios de acesso, tentamos fazer a triagem, porque os médicos não têm esse devido cuidado e temos a duplicação de pedidos de utentes que são abrangidos por outros programas. Recebemos tudo o que o médico de família nos encaminhar. A questão da carreira é uma questão
de dignidade e sinto-me triste por não ser reconhecido o trabalho que exercemos. É uma pena estarmos a exercer atos médicos e sermos técnicos superiores.