MAURÍCIO BORBA FILHO
MODOS
Edições do Prego.
Edições do Prego: Maurício Borba Filho Contato: mauricioborba132@hotmail.com Belém, PA -2016* MODOS, 2013-2014
*Obra contemplada com o 3º lugar no II Prêmio de Poesia Belém do Grão-Pará, 2014
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COLEÇÃO INCERTA: teu cinzel de luz tua palavra do papel carbono passeia teu fantasma – sei que estás longe e que hoje não vens é possível, porém, que agora eu não o sinta.
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À MEIA LUZ
eras um álbum de paisagens – ou o vento mesmo que as percorria. tua mão pedra-fria deitada no horizonte. percebia-te no movimento da noite – das coisas vibrantes entre dois silêncios. a ti não te importa que te veja.
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BUSCANDO O IDIOMA de espera e conclusão da luz que ferve nas coisas aparecidas O idioma final, surdo que exala de ti como um tigre de segredos à espreita na memória sempre mudado e um pouco distante O que confrange tudo num mesmo abismo Buscando o idioma perdido – talvez desista
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ESTE TRAÇO, mas também as árvores que vejo mudadas na noite o vento escuro que mura os prédios o luar que povoa o horizonte dos mistérios são indícios da revelação inconclusa de tua fotografia
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RAIO tomou furtivo os diamantes da noite. hoje saiu à rua, maligno mostrando aos passantes, demente, da bolsa negra o espólio cintilante como se exibisse, obsceno o sorriso de víbora do seu sexo eterno.
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da lixeira furtar o ovo de jasmim. DA ESTREMA DENTADA
recuperá-lo e correr escondê-lo com o sorriso malino a brilhar, de gemas pulsando dentro da boca – brilhando a lembrança de caninos de múmia.
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A PASSANTE mira O ovo de jasmim: Olhinhos-microsc贸pio: Mais intenso o olhar Maior a superf铆cie.
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OUTRO PASSANTE
avistando o ovo de jasmim zomba: cobras lhe decantam em barbas. seus dentes s達o carros que massacram o ar em v達o
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MINHA CARA côncava – face chapada na areia não os moluscos dourados raro tesouro não a ostra dentada marinando o soro da pérola os que povoam a terra rala nada nem mesmo o sabre perfumado do escorpião-marinho só o sorriso que forma e se deforma no velar do vento
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rola cúmplice na surdez áspera das nuvens: O DIRIGÍVEL
prédios se deslocam, mudam de lugar - vejo, na cidade vizinha. aqui revoluciona só o hábito do dia (o forro do pijama esconde a estrela – mas a centelha esquiva me indica a fusão no meu relógio de pulso... sei, daí, que perco o balão de vista) Surdez. migrar de sinos.
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¹BOMBYX MANDARINA em gênese no meu olho duas granadas de seda depositando nascendo das coisas onde pousa ² cheiro a vibração do mar brotando das paredes. as curvas do sol larvas no mar, ‘a seda em cima
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DO BOLSO do palet贸, tirar vest铆gios de lua: tapete de luz reclina na retina: a baleia que passa fazendo sombra no fundo do oceano de sombras:
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há uma presença que cresce incrivelmente :árvore de galhos negros, cílios da noite :touro paciente :vento que bate nas estrelas :um rosto do mar :bigorna recém-fornada à minha frente há essa presença que cresce e que já vai me soterrar À MINHA FRENTE
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aguardo o mergulho da rapina - caveira e carne dura, o disco de cobre lanรงando eterno gesto ENQUANTO
eu gesto: do meu bolso brota a pantera a papoula majestosa com que cobres e perfumas os teus olhos
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a. DE MANHÃ estendes o pavão no varal repara: hiberna, na sala, o pássaro-fosco da tua capa o que mesmo deitado bica a gravidade. b. (a pele que deixas para trás) o que sequestra tua ausência)
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BRONZE – medusa – o cinza rasteja – sonho, guindaste minhas mãos as tuas, sujas de areia seguram rede, coral, prego a cera entre dois poemas
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(NO PÍRES de leite a mosca ) - um véu de gordura me amanhece do sono · * esse olho, só: aranha indomável cosendo sua teia: em tudo, a teia. a presa ele inventa
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NA CAUDA DA PRAIA uma nuvem toca meu rosto. esconde o desagrado do sol na minha boca. atrĂĄs os carros arrepiam na umidade. manhĂŁ de bruma.
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UM CORPO, vê-lo como uma torre. mares de burca em catarata. vê-lo contra um sol: dragão cuspindo sombras
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CORTA
um punhado de cabelo: serpente que se esfumaรงa deslizando entre as conchas de areia baรงa, se abrigando sob a unha da terra cactos
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QUEDA: pedra-em-pele - quem Ê chama? quem o duplo, condutor? à tarde, a tarde: abraço do urso o pedregulho se memora acumulado em teus cabelos. (chove, os sussurros suam dos teus ouvidos molham os teus ombros)
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carregando memória dura, formiga-rainha: conduzem o marajá de dentes de jade, (punhais de jade) à última morada… e o sol a pino na areia. tudo é palácio mausoléu e casa FORMIGAS
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O ELEFANTE, o palácio orgânico, deita-te, branco três pirâmides no crânio: mira os olhos dele: fogem dentro de ti
Mira os olhos do elefante: desesperas e eles choram pó de ouro – não de lamúria mas de riso.
A grande esteira de areia te suspende se miras na terceira: sob teus pés montanhas te escapam entre os dedos.
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O REGISTRO
que pulverizas no chão no derradeiro piche da vigília um espelho: o percevejo que se encrespa no óleo-melaço pra se mirar do casco: no terraço, deitas sem marcar caminho
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em pico sua uma chusma de abelhas: o sol, no quarto, enramado - cortina: A PELE
a poeira, como num golpe de mágica, múmia levitando… arre! que cacete, essa tarde… a chusma de abelhas vem calar na boca esses entulhos, dizeres…
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O POSTE ESTA NOITE
expele vampiros pela boca: seus dedos como estrias de alcaçuz na noite (formas da lua) no capô do carro enquanto o carro passa (tudo perde) cada poste esta noite um caça-níqueis sorteando vapores abissais… rumores em direção ao nada… formas da lua…
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COMO O MAR que acavala os dentes na areia morna, ocultando sua vergonha ou como o avestruz que suga um trilho no piso pra se expelir pelo bico – pelos sulcos do arrebol soltas o filme da noite e pelas fechaduras de estrela te espiam daqui: - “haha�
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