Trânsito

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MAURÍCIO BORBA FILHO

TRÂNSITO

Edições do Prego.


Edições do Prego: Maurício Borba Filho Contato: mauricioborba132@hotmail.com Belém, PA -2015*

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ESCRITO pele que embrulha a pedra à altura das palmeiras sem sombra – isto à porta do teu olho, isto fica sendo o teu desejo.

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NÃO CONHECER as estações. Conhecer apenas a alga, as emanações – ciência pura da gralha, ciência de morte, que é a melhor ciência.

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TALVEZ NADA REBATA LUZ,

talvez tudo esteja cansado

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UMA OUTRA cidade além desta – ao sul escombro e sonho outra, crescendo na sombra, pedindo tua pele azul – estivemos nela pisando no vento pesando sobre as bétulas fomos ar da terra

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A TUA MÃO atrás da porta acena ao meu sonho – rente ao teto nuvens vedam luz; meu corpo é o cravo que colhes do respiro no teu peito. Campos altos. Calmaria.

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La nuit tes yeux se perdent pour joindre l’éveil au désir - Nusch, Paul Éluard A NOITE

da tua pálpebra cerrada me encerra brota leões de pedra na areia, que engolem a noite real. a inscrição na tua pálpebra desperta, cripta-águia a furar o ar águias que fogem dali.

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FATIAS DE AREIA E MAR como um turbante envolvem tua cabeça O que resta do teu rosto é o som finíssimo das asas do moleiro sobre o sal Fatias de areia e mar – mergulho, caça, ressaca.

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ABRE a tua mão: há uma cidade. Tua palma é de pedra, branco da memória, quente ao sol No aberto da mão, uma cidade: pela palma corre uma égua desembestada, de estrela, cetro, fogo.

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NA PEQUENA MANHÃ

sentes a antiga paixão atravessar o silêncio como um touro – na pequena manhã, feitiço uma manada terrível te apavora, te leva aos olhos de casas antigas onde não há nada a se fazer, além de vestir-se o fogo. chegado à calada das águas vês o tejo afogar o teu tesouro – é tarde, feitiço: não há nada possível contra o passado, contra a coisa e o seu próprio peso.

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QUEM SABE noutra vida pudera ser um rio a correr silente e perigoso sob o lume do sol posto como a l창mina sigilosa do livro proibido.

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ESTE É O RIO que troa como a patada do tigre: espessa brancura da presa, olhos abertos que brilham, pinçando estrelas. O odor de uma ode abissal sussurra à terra, o odor da poesia abissal cava um oriente no teu colo; o gozo da ode abissal, borbulhando nas gargantas d’água, inunda tua casa. Este é o rio que dorme como a pétala da rosa turca colhida aos ventos do norte – fábula negra, negra.

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“HAD JE ME MAAR” fora de hora escorre dos coretos o musgo do estar a acontecer – o ar do verão é verde, lento, na chuva, e cresce sem parar, cresce como o passado:

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“HAD JE ME MAAR” Quisera eu que o tram-noturno tornasse à tua memória réstia de luz puríssima. Há nesses dias longuíssimos humores dispersos como neblina impregnando a roupa impregnando o quarto. O barulho das árvores respirando: sereias envenenam o ar do verão – o passado é verde, lento quente e cresce

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“HAD JE ME MAAR” AS DUAS IRMÃS de Denis, 1891 Seus rostos emergem nas águas do canal, soprando canoas: tapetes de vento. Had je me maar – semblantes que refletem nos jacintos, nas tulipas. Rutilar de moedas.

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