Confissões de um Cafamântico

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Confiss천es de um

Cafam창ntico



Ricardo Coiro

Confiss천es de um

Cafam창ntico


Copyright © Ricardo Coiro Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma e por qualquer meio mecânico ou eletrônico, inclusive através de fotocópias e de gravações, sem a expressa permissão do autor. Todo o conteúdo desta obra é de inteira responsabilidade do autor. Editora Schoba Rua Melvin Jones, 223 - Vila Roma - Salto - São Paulo - Brasil CEP 13321-441 Fone/Fax: +55 (11) 4029.0326 | 4021.9545 E-mail: atendimento@editoraschoba.com.br www.editoraschoba.com.br

CIP-Brasil. Catalogação na Publicação Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ C636c Coiro, Ricardo, 1986Confissões de um cafamântico / Ricardo Coiro. - 1. ed. Salto, SP : Schoba, 2013. 168 p. ; 21 cm ISBN 978-85-8013-264-9 1. Romance brasileiro I. Título. 13-01099 CDD: 869.93 CDU: 869.134.3(81)-3


AGRADECIMENTOS

À minha mãe e ao meu pai, por terem me ensinado o significado dos sentimentos mais incondicionais que conheço. À cidade de São Paulo, por ter colocado algumas muitas doses de caos em minha ordem natural. Ao velho Bukowski, por ter incitado o “Cafa” que mora no meu demasiadamente romântico ser. Aos blogs “Casal Sem Vergonha” e “Entenda os Homens”, por terem emprestado um palco nobre para minhas confissões sujas de suor e sangue. Aos tantos leitores, também amigos, que aceitaram tragar meus berros, tropeçar em minhas vírgulas e não desistir de mim após meus pontos finais.



Prefácio

A

pertem os cintos. Verifiquem as travas. Esqueçam seus medos. A volta na montanha-russa dos sentimentos e emoções vai começar nas próximas páginas, e quem irá guiá-lo nesse tour é o publicitário e escritor Ricardo Coiro. Não posso garantir se você vai gostar desse passeio, se vai dar aquele frio na barriga ou se você vai vomitar. Mas posso assegurar que se você gosta de adrenalina, há vagões livres. Se você prefere algo mais leve, também há aquelas sem looping e com poucas curvas. Com arrepios ou não, o que você ainda não sabe é que construir uma montanha-russa desse porte não é trabalho pra qualquer um. O projeto exigiu rapidez, agilidade e interação de profissionais que vestem a camisa pelo que fazem e se agarram às oportunidades com unhas e dentes. Essas foram as palavras de ordem durante o processo de publicação de “Confissões de um Cafamântico”. Dividido em 18 blocos, abertos com definições literais dos sentimentos e das emoções, “Confissões” é o pri-


meiro trabalho do Coiro a ser publicado no meio impresso. Grande parte dos textos são inéditos e alguns foram adaptados para compor esse livro. Para que você possa conhecer um pouco da engenharia realizada por trás de tudo isso, algumas ferramentas foram essenciais: 1. Comunicação intensa: reuniões, ligações, trocas de emails constantes e diárias. Tudo isso pra alinhar e viabilizar uma publicação em tempo recorde – menos de 30 dias. 2. Cuidado com o projeto editorial, do começo ao fim: organização diferenciada no sumário; duas revisões ortográficas e gramaticais para lapidar o texto; diagramação clean e capa impecável. 3. Sugestões de melhorias no texto original: alguns textos (bárbaros, por sinal!) foram escritos exclusivamente para o livro, a pedidos do editor. 4. Interação com os leitores do Coiro: a Schoba procurou potencializar o relacionamento que já existia nas redes sociais do autor. Realizamos uma votação para escolher a capa que iria estampar o livro, anunciamos o lançamento e sessão de autógrafos na mais famosa das avenidas, a Paulista, e proporcionamos uma experiência de pré-venda de um livro personalizado, esgotado em menos de 1


hora. Já está atordoado? Então, recomponha-se. É provável que enquanto esteja lendo esse prefácio, outras interações ainda estejam acontecendo ao seu redor. Depois de altos e baixos, ao virar a última página de “Confissões” e dar conta de que a aventura chegou ao fim, e você é mais um sobrevivente, tire os cintos, solte as travas e ponha os pés no chão. Dê um suspiro de alívio, ou de prazer, e decida seu próximo passo: Continuar a descobrir novas emoções em uma mesma montanha-russa ou experimentar outras tantas nas curvas da vida. Ainda que toda volta seja um ciclo semelhante para todos nós, para cada um a sensação se manifesta de um forma diferente, única. Cabe a você, então, escolher a intensidade com que seu vagão irá andar nos trilhos. Mas a certeza que deixo aqui é de que, independente de qual seja sua opção, você jamais sairá indiferente dessa história. Boa leitura! João Lucas Schoba e equipe.



SUMÁRIO

Saudade A falta daquilo que faltou, 19 Achava que bastava café amargo, 21 Vá, mas não demore para voltar, 23 Aquela coisa chamada saudade, 25 Atenção Devia ter prestado mais atenção em você, 31 Morno Proibido ser morno, 37 Alegria A alegria exige sangue, 43 Tesão A cena mais bonita, 49 Nosso melhor clichê, 51 Quais são seus planos para esta noite?, 54


O peso do nosso fogo, 56 Minha invasão no seu corpo, 57 Egoísmo O meu prazer em seu prazer, 63 Padroeiro do egoísmo, 65 Sensibilidade Esqueci como é sentir, 71 Utopia Entre as ruínas da teimosia, 77 Sonho velho, 79 Imperfeição Deixe-me ser o vilão, 85 Gosto de saber que me quer assim, imperfeito, 87 Insignificância Apenas mais um, 93 Detalhes Minúcias que ele talvez não saiba, 99


Mentira Veneno sem antídoto, 105 Paixão Carta de um amigo possuído pela paixão, 111 A paixão morreu de overdose, 113 Enquanto houver paixão, 116 Morte Morro de medo de não estar lá, 121 Enquanto o tiro não vem, 123 Tinha um meteoro no meio do caminho, 126 Amor Eu estarei lá, 133 Minha forma de dizer “eu te amo”, 135 Vaidade O dia no qual a vaidade matou o amor, 141 Matar ou ceder?, 144 Silêncio Dizeres do nosso silêncio, 149


Aceitação Não tenha medo da luz acesa, 155 Partida Cortei para não ser cortado, 161 Saí de fininho, 162




SAUDADE

s.f.

Recordação suave e melancólica de pessoa ausente, local ou coisa distante, que se deseja voltar a ver ou possuir. / Nostalgia. / Zool. Pássaro da família dos cotingídeos, encontrado na Serra do Marinha / Bot. Denominação comum a diversas plantas da família das dipsacáceas e a suas flores; perpétua, suspiro. / Bot. Planta da família das compostas.



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A FALTA DAQUILO QUE FALTOU

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into um bocado de falta da sua boca e de como só ela sabia calar os meus problemas mais gritantes. Sinto um punhado de falta dos seus punhos e de ter que segurá-los para impedir que seu ciúme em forma de tapa espatifasse ardentemente em minha cara. Sinto falta de procurar seus pés frios debaixo daqueles lençóis embolados enquanto compartilhávamos nossas insônias e controlávamos nossa respiração ansiosa, tentando, sem sucesso, fingir que dormíamos. Sinto falta dos seus livros coloridos e inutilmente ancorados em minha estante e de tudo aquilo que deixou não lido em um só instante. Sinto falta das fotos que não tiramos em meio às muitas viagens, que nem sequer fizemos. Sinto falta dos muitos planos que hoje, sem você, nem sentido mais possuem. Sinto falta da casa em que nem chegamos a morar, da lareira que nunca tivemos a chance de acender, do cachorro sonolento que deixamos arranhando aquela vitrine abafada e das tantas coisas que queríamos para nós e 21


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não deram em absolutamente nada. Sinto falta da geladeira vermelha que nunca foi nossa, dos ímãs bregas que nunca tiveram casa e dos potes de sorvetes que, agora, muito provavelmente já derreteram ou passaram do prazo de validade. Sinto muita falta daquilo que só foi feto, mas nunca nasceu de fato. Sinto falta do tanto que faltou em nossas festas. Dos brigadeiros que nunca enrolamos juntos e das velas que nem chegamos a acender para então, quem sabe, ter a chance imperdível de assoprar. Sinto falta dos amigos que faltaram em nossos jantares, que foram adiados antes mesmo de o salmão descongelar e de a massa da torta resolver crescer. Sinto falta de nós. Sinto falta dos nossos insolvíveis nós. Sinto falta do seu timbre suave em minha voz e de tudo aquilo que abandonamos em nossos passos corajosos lá de atrás. Sinto falta da jabuticabeira carregada de frutos, que não passou de semente em nossa mente, e das mentiras que ficaram enterradas entre nossos dentes manchados de uva fermentada. Sinto falta daquilo que o padre nem disse e do “sim”, que nunca pude gaguejar de cima do altar. Quer saber mesmo? Sinto falta daquilo que nem fizemos e das infinitas coisas que fizemos de conta que faríamos. 22


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ACHAVA QUE BASTAVA CAFÉ AMARGO

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chava que, depois daquele infindável inverno, as coisas finalmente voltariam ao normal e que aquele imenso galho seco, retorcido e cabisbaixo, seria enfim recoberto pela cor das flores amarelas que tanto amávamos elogiar enquanto passeávamos de carro e sem rumo, pelas ruas estreitas da vida. Achava que essa nova estação teria o mágico poder de me deixar bem mais distante das paradas que fizemos no passado e confortavelmente mais longe das lembranças daquilo que trilhamos em nossos vagarosos vagões. Achava que, depois daquele silêncio insuportável, vez ou outra interrompido pelo barulho imaginário do seu falso retorno abrupto, eu poderia enfim voltar os ouvidos para um blues tocado por esse céu aparentemente feito de giz e para o jazz, que ouvíamos enquanto ainda havia ouvidos atentos para nossa paz. Achava que, depois de engolir algumas muitas coxas de moças cujos abraços eram apenas rascunhos malfeitos dos seus abraços, eu finalmente seria capaz de livrar-me do seu gosto, dolorosamente 23


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incrustado em minhas papilas gustativas. Achava que o tempo curaria essa ainda potente abstinência e que, após muitos giros estonteantes no relógio, o ponteiro enfim se transformaria na varinha de condão necessária para que você sumisse de minha cartola e eu, enfim, desgrudasse meu futuro ilusório de sua cola desnecessária. Achava que bastaria trocar você por alguma coisa e que, dia após dia, hora após hora, verão após verão e café amargo após café mais amargo ainda, eu conseguiria fazer com que desentalasse de minha garganta que já não suporta mais essa dificuldade de engolir a sua ausência. Percebi que achava errado e que nosso passado não passa com a vinda de novos passos, e que suas poças, repletas de reflexos de nossos brindes estilhaçados, ainda estão em todo lugar. Mesmo com o tempo a todo vapor, você não evapora nunca do meu suor.

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VÁ, MAS NÃO DEMORE PARA VOLTAR

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gora peço que saia. A porta já está aberta, arregaçada. Vá. Deixe-me aqui sozinho com essa bagunça que fizemos por querer e por não saber como não fazê-la enquanto atritávamos nossos corpos famintos. Vá. Não apenas feche a porta, mas também a bata forte para que eu saiba que você foi de fato. Não espere atrás da fechadura, vá agora e jogue fora a chave que dei para você. Vá. Deixe-me aqui soterrado entre nossas roupas amassadas, conhaque derramado e cinzeiros transbordantes. Vá. Entre no elevador e, dessa vez, não tropece no degrau, pois não estarei lá para impedir que você se machuque. Vá enquanto eu estiver jogando o resto do meu uísque sobre nossas fotos velhas. Vá. Entre no seu carro já e nem pense em ligar o rádio, pois toda música será triste. Controle essa insuportável vontade de olhar para cima e procurar pelo meu vulto estático e quase invisível atrás da mesma janela que um dia permitiu que admirássemos, juntos e eufóricos, o alucinante vazio da madrugada. Controle-se, olhe para 25


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frente, não quero que me veja chorar pela primeira vez. Apenas vá, dirija para bem longe do meu peito e, se puder, só volte quando tudo estiver no devido lugar. Volte só quando tudo estiver dentro das gavetas e os CDs todos estiverem na caixinha certa. Volte quando eu não tiver mais pavor da palavra “casamento”. Volte quando eu aprender a fazer nó de gravata. Volte quando eu parar de tatuar o pouco que resta do meu corpo. Volte quando eu desistir de beber até rodopiar. Volte quando eu deixar de fumar até tossir os alvéolos. Volte correndo, jogue-se no meu colo e rasgue minhas costas com as unhas certamente descascadas pela ansiedade. Volte e novamente bagunce-me todo, tire tudo do lugar e desarrume meu mundo como sempre fez. Derrube meus móveis, descubra meu teto e arranque meu chão. Volte logo, pois não sei se suportarei ter tudo arrumado. Vá e volte, antes que eu ache normal ver tudo no lugar e você fora dele.

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AQUELA COISA CHAMADA SAUDADE

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ada nesse mundo tem mais toneladas do que a saudade, nada. Saudade é uma dor imensurável e sufocante presente em cada hiato. É sentimento abstrato que esmaga o peito como se fosse concreto. A saudade é a vírgula quilométrica enraizada entre dois pontos dos muitos textos que a vida infelizmente pausa por falta de prosa e até pelo excesso de rosas. Saudade afia os ponteiros do relógio, transforma poucas horas em cortes profundos, dominados por flashbacks com ardor de álcool cuspido sobre ferida aberta, aparentemente incicatrizável. A saudade nos afoga com as águas calmas do passado, desfoca o presente e congela o futuro, como faz o frio polar de uma nevasca. A saudade transforma qualquer música em motivo para pensar naquilo que partiu dentro de um avião, que nunca deveria decolar, nem por decreto do Papa. Saudade é emoção indivisível, razão incontestável para relembrar o gosto inesquecível daquela pessoa que mudou nossos passos, gestos e hoje, infelizmente, nos considera gasto, 27


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empoeirado. A saudade é a sombra maldita que não precisa da luz solar para nos seguir por cada calçada da vida. A saudade repousa num banco de passageiros vazio, dorme em nossa insônia, acorda em todo acorde e esconde-se nos presentes que prendemos em caixas lacradas, blindadas, pelo medo de encarar as memórias boas. Ela transforma comercial de televisão em lágrimas reais, faz homem barbado parecer menino ansioso em dia de Natal, como um cachorro que espera o dono todo dia ao pé da porta, mesmo que este nunca mais volte para casa. A saudade enlouquece, embriaga, faz o mundo todo ter uma só cara e nenhuma cura. A saudade é um bar que já saiu da rotina, um prato de risoto que foi comido antes do gozo, um beijo único no meio do olho. É o medo de perder uma peça em meio à multidão e nunca mais encontrar outro alguém que se encaixe tão bem nesse quebra-cabeça. Saudade é temer a vinda do novo e teimar em achar que o velho sempre será a melhor parte dessa obra de arte, chamada vida. A verdade nua e crua é que ninguém nesse palco real está imune ao pesar da saudade, à dor latejante das inevitáveis partidas e aos planejamentos que talvez permaneçam inacabados até o fim da vida, esquecidos numa lista eternamente guardada no fundo da gaveta, mas nunca jogada fora. Desconheço alguém nesse universo grandio28


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so que não tenha perdido o chão, a cabeça, a pose e, até mesmo, a sanidade quando deu de cara com esse tal sentimento com aparência de muralha intransponível e cheiro de fotos velhas. Não existe colete à prova de saudade, nem formas de blindar nossa vida contra os estilhaços daquilo que vai e nem sempre volta. Sendo bem sincero, se não quiser esbarrar com a saudade: recuse toda e qualquer alegria que faça você gargalhar até sentir dor nos músculos da barriga, nunca se envolva com pessoas capazes de colorir seus dias cinzas e chuvosos, coma tudo sem sal e sem tempero, não viaje, não saia de baixo do edredom por nada, não beije, nem na bochecha, não faça sexo e, em hipótese alguma, conheça seus avós se a vida lhe der essa oportunidade imperdível. Sei bem o quanto esse sentimento pesa, mas eu prefiro carregar essas mil toneladas de saudade, ainda que em meio a lágrimas e memórias martelantes, pois só assim terei a certeza de que estou vivo de verdade, sem talvez nem porém. Afinal, saudade é a prova imutável das coisas boas da vida.

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