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Em qual fase você está do desenvolvimento espiritual e como pode chegar à maturidade?

Interpretação & Reflexão

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MATURIDADE ESPIRITUAL

Saiba quais são os estágios da fé e como desenvolver uma espiritualidade saudável

O QUE VEM à sua mente quando o assunto é saúde? É possível que a primeira coisa que passe pela sua cabeça sejam academias de esporte cheias de gente. Talvez você imagine longas caminhadas e corridas, sessões de terapia com uma psicóloga ou, quem sabe, pratos de comida coloridos por verduras e legumes. Também é provável que você pense na qualidade do seu sono e depois se ajeite na cadeira ao se dar conta de como está sua postura.

Apesar de essas serem imagens recorrentes ao falarmos de bem-estar, saúde vai além disso. Por exemplo: No que você encontra segurança nos momentos de maior instabilidade da vida? Como você mantém a calma quando sua família enfrenta uma grave crise financeira ou mesmo quando seus pais decidem se divorciar? Ter uma postura positiva, conciliadora, resiliente e esperançosa diante dos reveses da existência não é somente para quem cuida do corpo e da mente, mas, principalmente, do espírito.

A ESPIRITUALIDADE SOB ANÁLISE

Você deve estar se perguntando se existe realmente “saúde espiritual” ou se isso é conversa de gente religiosa que tenta justificar a superioridade ou validade da própria fé. Bem, a doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP) Gina Abdala explica que, de fato, o termo “saúde espiritual” não é utilizado nas pesquisas da área. Pelo menos não oficialmente. Em vez disso, são adotadas expressões como “saúde holística” e “saúde integral”, que consideram o ser humano uma unidade completa, integrada, e não um agregado de partes separadas. A pesquisadora destaca ainda que palavras como “espiritualidade” e “religiosidade” também são termos empregados nas pesquisas em saúde.

Ela comenta que há um número enorme de estudos a respeito do assunto. “Existem mais de 110 mil estudos com as palavras-chave ‘saúde integral’ nas bases de dados da Biblioteca Regional de Medicina (Bireme) da Organização Pan-americana de Saúde (OPAS/OMS). Em bases de dados mais abrangentes, esse número excede os 240 mil”, relata Abdala, que também é professora do Mestrado Profissional em Promoção da Saúde do Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP).

Segundo a professora Gina, há vários grupos de pesquisa nacionais e internacionais que estão estudando intensamente a interface entre religião/espiritualidade e saúde. “Em praticamente 80% dos casos, os estudos têm uma relação positiva com a cura de doenças físicas, psíquicas e sociais”, ressalta a pesquisadora. Como exemplos desses grupos, Abdala cita a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), o Programa de Saúde, Espiritualidade e Religiosidade (Proser) do Instituto de Psiquiatria (IPq) da USP e o Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde (Nupes) da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Além, claro, do grupo de pesquisa Religiosidade e Espiritualidade na Integralidade da Saúde (Reis) do UNASP, do qual Gina faz parte. Esse grupo já publicou mais de 50 estudos demonstrando o efeito positivo da dimensão espiritual na saúde e na qualidade de vida.

Quando verificamos a definição de “saúde” dada pela OMS – “estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não só a ausência de doença ou enfermidade” –, não encontramos uma referência explícita à dimensão espiritual do ser humano. Contudo, para parte da comunidade científica, essa definição da OMS é incompleta. Isso porque o crescente número de produções acadêmicas sobre a relação entre saúde e religiosidade reforça a necessidade de incluirmos a espiritualidade em nosso conceito de saúde.

Para se ter ideia desse crescimento, no artigo “Panorama das pesquisas em ciência, saúde e espiritualidade”, publicado em 2016 no periódico Ciência e Cultura (link. cpb.com.br/0d0816), os autores Alexander Moreira de Almeida e Giancarlo Lucchetti apontam que mais de 30 mil pesquisas científicas sobre a interação entre espiritualidade e saúde foram divulgadas entre 2000 e 2015. Estima-se que, a cada dia, pelo menos sete novos estudos sobre o tema sejam levados a público e que, somente na década de 2000, foram publicados mais artigos sobre essa área do que em todos os anos anteriores.

A psicóloga Flávia Zanetti Farah comenta que, para se referir à questão da espiritualidade e/ou religiosidade, a Psicologia usa o termo “quociente espiritual”. Segunda ela, assim como temos o quociente intelectual (QI), que está relacionado ao raciocínio e à lógica, e o quociente emocional (QE), que trata dos nossos sentimentos e emoções, todos temos o quociente espiritual. “Esse quociente espiritual

não é medido pela vinculação religiosa ou frequência a cultos, por exemplo, mas pelo sentido que você encontra para sua vida”, explica Farah, que é doutora em Psicologia pela Universidade São Francisco. Ela afirma que acreditar em Deus, numa força superior ou em algo/alguém que cuida e a quem podemos recorrer em momentos de necessidade ajuda a dar sentido à vida e tem efeitos sobre o bemestar. “Tanto é verdade que várias pesquisas mostram que os pacientes oncológicos que têm uma inteligência espiritual adequada possuem uma chance de melhora 50% maior do que aqueles que não têm essa inteligência espiritual”, exemplifica a especialista. De acordo com a terapeuta Luana Oliveira Amaral, do ponto de vista psicológico, a espiritualidade tem que ver com a motivação e a postura com a qual o indivíduo encara a vida, o que acaba influenciando seu modo de pensar, interpretar e agir. Em outras palavras, é o que dá sentido para a existência do ser humano; por isso, todas as pessoas têm espiritualidade, mesmo as não religiosas. Seguindo essa linha de raciocínio, “saúde espiritual pode ser entendida como o estado de bemestar e contentamento do ser humano com a própria espiritualidade. Esse contentamento é alcançado quando a pessoa encontra significado para sua existência e age de acordo com esse significado”, explica a psicóloga. Porém, ela enfatiza que a busca pessoal do sentido na vida não é algo pontual, mas permanente. “Agir conforme faz sentido na minha existência

RUMO À MATURIDADE

hoje, me aprofundando no que dá significado à minha vida, colabora com meu contentamento pessoal”, salienta Luana.

ETAPAS DO CRESCIMENTO

Acho que até aqui podemos ter uma noção de como os cientistas levam a sério o estudo da espiritualidade. O ponto agora é entender como cuidar bem dessa dimensão da nossa vida. Partindo do pressuposto de que a espiritualidade é um atributo inato do ser humano, ou seja, que nascemos com ela, a questão seguinte é saber como desenvolvê-la de modo saudável. A psicóloga Flávia Zanetti Farah explica que a estrutura da personalidade humana começa a ser construída no nascimento e se consolida mais ou menos no início da adolescência. Segundo ela, na infância é necessário apresentar à criança algo que dê sentido a ela, que a faça olhar não apenas para si, mas para os outros e para as necessidades deles. “Se isso é feito desde o início da vida, é muito mais fácil desenvolver um adulto saudável e equilibrado do ponto de vista psíquico”, sublinha Flávia.

O psicólogo e teólogo norte-americano James Fowler foi um estudioso do desenvolvimento religioso do ser humano. Falecido em 2015, ele ficou famoso ao lançar o livro Estágios da fé (Sinodal, 1992),

Em primeiro lugar, é importante deixar claro que, para James Fowler, a fé não é obrigatoriamente religiosa em seu conteúdo. Por isso, ela pode ser encontrada tanto em alguém vinculado a uma igreja quanto num indivíduo desvinculado de uma instituição. Para o psicólogo norte-americano, “a fé é o modo como uma pessoa ou um grupo penetra no campo de força da vida. É o nosso modo de achar coerência nas múltiplas forças e relações que constituem a nossa vida e de dar sentido a elas” (Estágios da Fé, Sinodal, 1992, p. 15). Partindo desse conceito e a partir de suas pesquisas de campo, ele propôs um processo de desenvolvimento espiritual com base em estágios e relacionado com a idade. Pré-estágio (0-2 anos): A criança possui uma relação de estrita dependência dos adultos e confiança nos pais e/ou cuidadores. Em razão disso, as noções mais iniciais de Deus que a criança tem são ancoradas nessa relação primordial. Estágio 1 – Fé intuitivoprojetiva (2-6 anos): Ainda que se mantenha centrada em si mesma, é nessa fase que a criança começa a tomar consciência das proibições e normas. Ela ainda tem uma fé fantasiosa e que se limita a imitar o que apreende dos adultos. Sua experiência é permeada pela noção de encantamento. Estágio 2 – Fé mítico-literal (7-12 anos): A criança começa a perceber que há outras perspectivas além da sua, mas ainda assume para si as crenças, as histórias e os costumes de sua comunidade. Ela se apropria de forma literal dos símbolos e regras; porém, passa a distinguir fantasia da realidade. Nessa fase, é comum a criança adotar um perfeccionismo rígido ou uma negligência acentuada.

no qual delineia as sete fases do crescimento espiritual. Alinhada às teorias de desenvolvimento cognitivo e moral de Jean Piaget e Lawrence Kohlberg, a obra é fruto de uma pesquisa empírica com 359 pessoas de várias idades e formações religiosas.

Considerando que a fé não é necessariamente religiosa, Fowler dividiu os estágios da fé por faixa etária: de 0 a 2 anos de idade (fé primal); de 2 a 6 anos (fé intuitivo-projetiva); de 7 a 12 (fé mítico-literal); de 12 a 18 (fé sintético-convencional); de 18 a 25 (fé individuativo-reflexiva); após os 25 anos de idade (fé conjuntiva); e, finalmente, a fé universalizante, que não está relacionada a uma idade específica (leia o quadro “Rumo à maturidade”).

A teoria do pesquisador causou grande impacto na comunidade científica da época e é estudada até hoje em todo o mundo. Apesar de cada estágio listado merecer aprofundamento, vamos nos concentrar na etapa da “fé sintético-convencional”, pois é a fase que os alunos do ensino médio estão passando. Esse estágio, normalmente vivenciado na adolescência, é caracterizado principalmente pela ampliação da experiência de mundo para além da base familiar.

É nessa fase que a pessoa começa a definir sua identidade e fé pessoal. No estágio da fé sintéticoconvencional, o sujeito reflete sobre os próprios pensamentos e crenças, comparando os valores recebidos até então em casa com as referências com as quais têm contato fora do lar. Nesse processo, ele pesa as diferenças e mescla aquilo que faz sentido para ele, passando a compor uma visão única de mundo.

No entanto, o indivíduo nessa fase ainda se submete às convenções de determinado grupo. De acordo com William de Oliveira, psicólogo e professor na Faculdade Adventista da Bahia, a adolescência é um estágio de transição, e os questionamentos nessa fase refletem a necessidade de o indivíduo sintetizar os próprios valores e dar sentido às crenças recebidas. “Embora ainda seja dependente da opinião dos outros e ela seja muito importante nesse período, a passagem por essa fase se dará na direção de chegar à definição de um corpo de crenças e uma fé amadurecida”, explica Oliveira.

Quem tem passado por essa experiência e desenvolvido uma fé pessoal é Roberto (pseudônimo),

Fontes: Livro Psicologia da Adolescência, de Samuel Pfromm Netto (Pioneira, 1976); e “A influência da educação escolar adventista na identidade e na fé de adolescentes”, dissertação de mestrado defendida pelo teólogo e educador Adolfo Semo Suárez na Umesp (2005, 199 p.).

Estágio 3 – Fé sintéticoconvencional (12-18 anos): Essa etapa é marcada, sobretudo, pela ampliação da noção de mundo para além da perspectiva familiar. O adolescente não tem ainda uma percepção muito segura de sua identidade; por isso, as expectativas e avaliações externas pesam bastante para ele. É uma fase de exploração e questionamentos. Estágio 4 – Fé individuativoreflexiva (18-25 anos): Nesse estágio, o jovem reconhece a complexidade da vida e assume a responsabilidade por suas crenças e estilo de vida. A identidade, antes marcada pelos significados dados por outras pessoas, se emancipa, com a consciência de suas limitações e conexões interiores. A reflexão crítica a respeito da própria fé é um traço marcante dessa fase. Estágio 5 – Fé conjuntiva (após os 25 anos): A pessoa lida melhor com os paradoxos da vida e toma consciência crítica a respeito de si mesma. Há uma busca por integrar as polaridades e por aprender a conviver com o que é diferente. Porém, há certa passividade no exercício da espiritualidade. Estágio 6 – Fé universalizante (sem idade específica): Atribuída à maturidade, essa etapa é caracterizada pelo engajamento do indivíduo em sua comunidade e pela busca de transformação da realidade. As pessoas nessa fase costumam ser ativas e contagiantes. Fowler entendia que pessoas como Mahatma Gandhi, Martin Luther King Jr. e Madre Teresa de Calcutá haviam chegado a esse estágio.

um jovem de 16 anos, criado numa família católica. Após assistir a uma aula sobre a Reforma Protestante, ele passou a refletir sobre as críticas feitas pelo teólogo alemão Martinho Lutero à igreja da época e buscou respostas para isso. “Foi um baque para mim, porque comecei a perceber que as coisas em que eu acreditava não condiziam com o que está escrito na Bíblia”, compara. Após um ano estudando o assunto e conversando com diferentes pessoas, o adolescente decidiu se tornar membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia – uma decisão que, a princípio, não agradou a família.

As orientações religiosas distintas geraram certo atrito na casa de Roberto. Ele foi questionado e chegou a ser motivo de piada entre os familiares, mas se manteve firme às novas convicções. “Ainda há um pouco de preconceito por parte dos meus familiares, pois é algo novo. Nunca houve outro adventista na família. Mas hoje é de boa. Eles me respeitam, temos harmonia, e isso é importante”, compartilha o estudante, que é aluno de um colégio adventista da região metropolitana de São Paulo. Para ele, a fé tem o poder de definir o futuro de uma pessoa. “Acredito que a religião possa ser uma influência positiva ou negativa. Se interpretamos de maneira coerente e equilibrada a religião, provavelmente chegaremos a ser uma boa pessoa”, analisa.

BUSCANDO REFERÊNCIAS

Durante a adolescência, passamos a valorizar mais os relacionamentos com pessoas que não pertencem ao círculo familiar. Com isso, as referências nessa idade deixam de ser apenas pai, mãe e avós, e os valores familiares são confrontados pelos novos relacionamentos. “Escola, trabalho, colegas, grupos, tribos urbanas e mídia passam a concorrer com a família e a religião como fontes dos seus valores”, comenta o professor William. Por isso, é importante que o indivíduo nesse estágio saiba escolher bem suas referências, a fim de desenvolver uma espiritualidade saudável.

O docente universitário destaca que a comunidade religiosa “precisa fornecer orientação consistente quanto à fé diante da diversidade relacional a que o adolescente está sujeito”. Ele acrescenta que a igreja deve saber se comunicar com o adolescente, sintetizando valores e informações que venham a ser a base para a identidade pessoal em formação.

Da mesma forma, a família tem um papel a desempenhar nesse período. Ainda que sua influência seja ofuscada pela de outros círculos relacionais, é o lar que oferece as referências que moldam a identidade do adolescente. Por esse motivo, o apoio e o incentivo dos pais ou cuidadores são essenciais para que o jovem se sinta mais seguro ao tomar suas decisões. “Um ambiente de cobrança exagerada por acertos pode resultar em insegurança e problemas relacionais no futuro”, adverte William.

A escola é um dos ambientes em que o adolescente passa mais tempo. Em razão disso, os relacionamentos com colegas e professores acabam tendo grande impacto nessa fase de questionamentos e busca por uma consciência autônoma. “Os educadores podem ajudá-los – como figuras de autoridade externas à família e à comunidade religiosa de formação – a filtrar e avaliar as crenças e os valores advindos das influências a que o adolescente está sujeito”, explica o professor e psicólogo. Para Aline (pseudônimo), de 15 anos, o ambiente escolar fez toda a diferença em seu desenvolvimento pessoal e espiritual. Ela conta que, quando tinha nove anos de idade, testemunhou o divórcio dos pais, e esse foi um momento muito difícil para ela. Por ser tão nova naquela época, Aline não sabia muito bem como encarar a situação. “Então, simplesmente lidei com tudo sozinha. Se eu estava triste, ficava quieta”, relembra. Pouco tempo depois, ela entrou numa nova escola. Lá, a estudante fez novos amigos, teve o acompanhamento de uma psicóloga e o apoio de pastores, com quem ela conversou em

diversas situações. “Quando as coisas ficavam difíceis em casa, na escola eu me encontrava. Era meu momento de paz. Foi uma bênção na minha vida. Foi uma das melhores coisas que aconteceram comigo”, relata a adolescente, colega de Roberto, do mesmo colégio adventista paulista.

Dada a importância dos relacionamentos para o desenvolvimento dos adolescentes, o professor William de Oliveira destaca que é necessário haver comunicação sincera e verdadeira, reconhecimento dos limites ou erros, paciência e amor sincero da parte dos educadores, familiares e líderes religiosos. “Relacionamentos significativos e estáveis durante esse período contribuem para dar segurança aos demais relacionamentos que o adolescente construirá, inclusive com Deus”, enfatiza.

ESTABELECENDO AS CONEXÕES

Em suas pesquisas nas décadas de 1970, James Fowler identificou que alguns dos adultos entrevistados ainda manifestavam uma fé sintético-convencional, ou seja, ainda possuíam uma “mentalidade adolescente” em questões religiosas. Essa falta de amadurecimento espiritual pode levar a problemas em outras dimensões da vida, visto que o ser humano é integral.

Segundo a terapeuta Luana Oliveira Amaral, o desenvolvimento saudável da espiritualidade é importante porque é esse processo que acaba direcionando o crescimento nas outras áreas da vida. A psicóloga afirma que, no início, o adolescente não tem “muitas experiências para fundamentar suas escolhas; logo, é muito provável que o jovem tome decisões a partir da própria impulsividade natural”. Portanto, é fundamental que o indivíduo passe por essa fase da vida (e, consequentemente, por esse estágio da fé) de forma que a espiritualidade amadureça.

“O bem-estar espiritual significa em que medida ocorre a abertura da pessoa para a dimensão espiritual, de modo a permitir a integração da espiritualidade com as outras dimensões da vida, maximizando seu potencial de crescimento e auto-atualização”, explica Luciana Fernanda Marques, doutora em Psicologia pela PUC-RS, num artigo acadêmico publicado na revista Psicologia: Ciência e Profissão (2003, v. 23, n. 2, p. 56-65), no qual sintetizou alguns dados da sua tese.

De acordo com Luciana, a espiritualidade favorece uma perspectiva positiva diante da vida. “Frente às situações perturbadoras e aos eventos traumáticos, a pessoa com bem-estar espiritual proveria significados para essas experiências e as redirecionaria para rumos positivos e produtivos para si e para os outros”, afirma a professora da Faculdade de Educação da UFRGS. “Uma das fontes dessa ação construtiva é o sentimento de apoio emocional advindo da sua relação significativa com o absoluto (ou, em outros termos, com Deus)”, acrescenta.

Por sua vez, a psicóloga Flávia Zanetti Farah ressalta que a maturidade espiritual também pode fazer diferença como elemento competitivo no mercado de trabalho. “Isso porque quem possui esse fator desenvolvido sempre olha para o todo, sempre busca resoluções de problemas que tragam menor impacto e desconforto entre as pessoas”, pontua. Ela explica que pensar no todo, sobretudo numa sociedade cujos indivíduos são acostumados a ter seu olhar voltado somente para si mesmos, é fundamental para manter um ambiente de trabalho harmonioso. “A ideia de ter um funcionário que traz resultados para a empresa, independentemente do que faça para os demais, tem perdido espaço”, comenta.

Wiliam Oliveira, que, além de psicólogo e professor universitário também é pastor e mestre em liderança pela Universidade Andrews (EUA), enfatiza que investir em bons relacionamentos é um fator primordial para desenvolver uma espiritualidade saudável. “Para passar bem por essa fase, é necessário o desenvolvimento de relacionamentos significativos com a comunidade de fé e, em especial, com Deus, de forma próxima e pessoal. O Deus dos seus pais precisa se tornar o seu Deus”, exemplifica.

Por isso, nutrir hábitos devocionais, sem a necessidade de cobrança da família ou da comunidade religiosa, é importante nesse processo. Isso inclui a leitura individual da Bíblia, uma rotina de oração, serviço ao próximo e testemunho. Investir no bem-estar espiritual durante a adolescência pode render ao praticante frutos que serão colhidos ao longo da vida e da eternidade.

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