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IMAGINE SE O MUNDO NÃO TIVESSE SE URBANIZADO

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... se o mundo não tivesse se

PLANETA TERRA, 2050. Essa é a data estimada pela ONU para que as cidades abriguem pelo menos 70% da população mundial. Em 2019, chegamos à marca de 55%. Porém, na América Latina, uma das regiões mais urbanizadas do mundo, esses índices são bem mais altos do que a média global. No Brasil, por exemplo, 85% da população vivem em áreas urbanas.

Só que juntar esse mundo de gente em poucos lugares demanda cada vez mais infraestrutura. O problema não é novo, na verdade, mas tem se intensificado. Prova disso é que, no início do século 20, a fim de solucionar os problemas da migração do campo para a cidade, surg iu o que conhecemos hoje como urbanismo.

A cidade é mais do que prédios, ruas e praças. É um espaço que não é produzido aleatoriamente, mas com base em interesses econômicos e políticos, a partir de relações locais e globais de desigualdade, de sociabilidade, de tensões e conflitos. Mas também é um lugar favorável para a criatividade, inovação e o encontro de diversas culturas. É difícil imaginar o mundo de hoje sem a urbanização, mas é possível pensar criticamente sobre os efeitos desse processo e como ele pode ser melhorado.

urbanizado

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SEGREGAÇÃO E MAIS EPIDEMIAS

Infelizmente, não é de hoje que as cidades são pensadas para a minoria abastada em vez de para a maioria pobre. Com 1 milhão de habitantes, a antiga cidade de Roma realizou muitas obras de infraestrutura, beneficiando mais os nobres, moradores de casas amplas, do que o povo que morava em prédios apertados de madeira e sem banheiros. Com a dissolução do Império Romano, no 5o século, houve uma ruralização do território antes dominado e o desmonte de aquedutos e outros monumentos para a construção dos feudos e dos castelos medievais. Sem estrutura para água e esgoto, com ruas estreitas e casas sem ventilação, logo a sujeira começou a ser jogada na rua , e as epidemias apareceram. Não foi sem razão que a peste negra (1347-1351) matou um terço da população da Europa. Se a falta de planejamento urbano pode ter resultados drásticos como esse, unido ao descompromisso social, ela gera segregação como efeito colateral. Foi o que aconteceu durante a reforma urbana no Rio de Janeiro, na primeira década do século 20. A população vulnerável e desalojada do centro da cidade e da beirada das praias subiu o morro, formando as favelas. Sem o processo de urbanização moderno, problemas como falta de moradia adequada e crises sanitárias seriam potencializadas ao máximo: conviveríamos muito mais com epidemias e doenças, com circulação comprometida de bens e pessoas, dificuldade de aprimoramento e desenvolvimento técnico e intelectual da população, escassez de bens e de alimentos, aumento da violência e concentração ainda maior da riqueza por poucos.

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AUMENTO DA FAVELIZAÇÃO

Uma das consequências da segregação por infraestrutura é a favelização. Isso porque não existem mais terras baratas nos arredores das grandes cidades brasileiras. No centro, por sua vez, os terrenos e prédios desocupados costumam estar envolvidos em entraves burocráticos e especulação imobiliária. São Paulo, por exemplo, está entre as 20 cidades com o metro quadrado mais caro do mundo. Na capital paulista e em outras grandes cidades do globo tem ocorrido o que se chama de gentrificação, processo que torna uma região mais valorizada, expulsando seus antigos moradores para áreas mais distantes e desvalorizadas. Na década de 1990, um programa habitacional tinha a proposta de mudar ou pelo amenizar essa situação em São Paulo. Porém, o projeto Cingapura, uma iniciativa de urbanização de favelas, falhou na análise social. O programa foi inspirado num modelo de moradia popular do país asiático de mesmo nome que, além de prover moradia concentrada em prédios altos e bem localizados, previa a implementação de comércio e áreas de lazer. Na capital paulista, no entanto, o projeto Cingapura falhou em todos esses pontos. Resultado: a iniciativa não trouxe integração social e espacial. Uma sociedade fragmentada por grupos que não se misturam atrasa o processo de desenvolvimento social, econômico e político, pois a solução de problemas e a criação de tecnologias passam pelo diálogo e pela cooperação.

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CRIATIVIDADE EM BAIXA E AUSÊNCIA DE INOVAÇÃO

Mas nem só de mazelas vivem as cidades. São nelas que se concentram o poder, o dinheiro e a criatividade das sociedades contemporâneas. Isso ocorre porque a proximidade geográfica e a possibilidade de encontro com o diferente facilitam a troca de ideias e informações. E isso representa ganho de produtividade principalmente entre os profissionais mais qualificados. A partir de problemas comuns, pessoas com experiências, perspectivas e conhecimentos distintos podem contribuir para a criação de soluções. Tem sido assim desde o Renascimento europeu, nos séculos 14 a 16, quando a circulação de produtos e ideias passou a se intensificar. Mas para que as cidades gerem mais bem-estar, criatividade e inovação, é preciso que o espaço urbano priorize as pessoas em vez dos carros. Dessa maneira, a cidade deixa de ser um espaço para apenas se atravessar, a fim de se tornar um lugar que proporciona encontros, identificação, solidariedade e lazer. É por isso que as cidades são por excelência um laboratório para a economia criativa, ou seja, para as atividades econômicas que encontram na criatividade e na inovação a base para gerar empregos e riqueza. Sem essas trocas e sem a convivência com o novo, faríamos sempre as mesmas coisas da mesma forma, atrasando as possibilidades de mudanças positivas para todos.

As cidades são o lugar de habitação dos seres humanos há milhares de anos. Porém, as transformações pelas quais esses espaços estão passando nunca foram tão profundas e influentes para além dos limites urbanos como nos últimos dois séculos. De lá para cá, modelos ou tipos de cidades têm sido reproduzidos em vários momentos históricos e contextos geográficos e culturais : a cidade industrial, informacional, inteligente, sustentável, satélite, global, periférica, além das metrópoles e megacidades.

Cidades são sistemas orgânicos que surgem, crescem, declinam e se renovam de acordo com situações e acontecimentos. Num momento em que o mundo ensaia sair de uma pandemia, novas demandas, tendências e hábitos poderão ter impacto na dinâmica dos centros urbanos. Desde a classe alta que pode se dar ao luxo de migrar para casas de campo ou de praia, até a classe média, que talvez pretenda continuar morando nas metrópoles, mas trabalhando mais perto de casa ou mesmo sem sair dela.

Parece improvável imaginar um futuro que não seja urbano para a humanidade, mas a pergunta que nos cabe fazer é em que tipo de cidades queremos viver. Que tal imaginar espaços mais planejados, justos e sustentáveis?

Fontes: Livros O Que é Urbanismo, de A. J. Gonçalves Jr. e outros (Brasiliense, 2017); Planeta Favela, de Mike Davis (Boitempo, 2006); verbetes “Cidade” e “Roma” do Dicionário Temático do Ocidente Medieval, de Jacques Le Goff e Jean-Claude Schmitt (Edusc, 2006), p. 219-236 e 431-448; artigos acadêmicos “A infl uência das reformas urbanas parisienses no Rio de Janeiro dos anos 20”, de Adriana de Oliveira Tourinho, na Ars Historica, no 5 de 2009 (bit.ly/3oX3zIA); “Economia criativa e espaços públicos: sociedade civil ressignifi cando as cidades a partir de projetos culturais”, de Lucas Guimarães Pinto e outros na 17a Enanpur, São Paulo, 2017 (bit.ly/3i0ODrc); “Sociabilidade urbana de vizinhança: explorando as relações entre perfi s espaciais e padrões sociais no bairro. O caso da Vila Tamandaré, Recife (PE)”, de Marta Roca Muñoza e Circe Maria Gama Monteiro na Revista de Morfologia Urbana, 2019, 7 (bit.ly/34rh0GU); “As reformas urbanas do início da República”, artigo de Elisângela Fernandes no site Nova Escola, em 1o/3/2013; “De Singapura a Cingapura: um conto de dois modelos habitacionais”, artigo de Luiz Eduardo Peixoto no site Caos Planejado, em 22/2/2017. jul-set 2021 | 27

Ação Mude seu mundo Texto Silvia Tápia Fotos ADRA Brasil Lição de vida Aprenda Na cabeceira Guia de profissões

Mãos que acolhem

Conheça quatro projetos da agência humanitária adventista que já ajudaram 60 mil refugiados no Brasil desde o ano passado

de 1% da população global que está em deslocamento. Esse tipo de crise humanitária atinge de maneira mais aguda países como Síria, Afeganistão, Myanmar, Bangladesh e Venezuela. A ADRA (Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais) é uma das 900 insNOS ÚLTIMOS ANOS, o mundo tem tituições parceiras da ACNUR, braço da testemunhado uma das maiores crises mi- ONU voltado para os refugiados. E , no gratórias desde a Segunda Guerra Mundial. Brasil, a agência humanitária adventista Atualmente são 80 milhões de pessoas que tem feito a diferença na vida de 60 mil tiveram que deixar sua casa, pátria e pas- pessoas deslocadas, principalmente nos sado por causa de perseguição, guerra ou últimos dois anos. São quatro projetos da violência. Para sobreviverem, essas pessoas ADRA que respondem a essa demanda. encararam viver num outro país, falando Conheça essas iniciativas a seguir. outra língua e sob outras condições.

O Dia Mundial do Refugiado, lembra- RESPOSTA À EMERGÊNCIA do desde o ano 2000 a cada 20 de junho, A falta de moradia e o acesso ao meré uma oportunidade para homenagear a cado de trabalho são os principais desacoragem, a resiliência e a força de cerca fios enfrentados pelas pessoas que pedem refúgio ao Brasil. No que se refere à reinserção profissional, essas pessoas costumam encontrar dificuldade para conseguir um emprego e , quando conseguem , precisam se submeter a receber baixos salários. Para vários desses refugiados falta qualificação profissional e muitos relatam demora na emissão de documentos. Por isso, as ações da ADRA têm sido pensadas em resposta a esse diagnóstico inicial.

“Além de atender às emergências, também contamos com projetos contínuos de desenvolvimento humano. Parte desses projetos trabalham diretamente com refugiados. De janeiro de 2020 até maio de 2021, a ADRA atendeu 60.112 refugiados por meio de quatro projetos específicos”, informa Fábio Salles, diretor da agência no Brasil.

Salles destaca que, se o Brasil acolher bem essas pessoas, o benefício não será apenas para elas. “Embora a pandemia da Covid-19 tenha criado grandes dificuldades

Projeto Connect

para continuarmos nosso trabalho com os refugiados, nós seguimos avançando com o objetivo de oferecer mais qualidade de vida para essas pessoas que, em sua maioria, são muito trabalhadoras. Se forem auxiliadas da forma correta, elas podem trazer grandes benefícios ao Brasil”, projeta.

VIDA MELHOR

A venezuelana Esther Govia, que atualmente mora em Porto Alegre (RS), sentiu na pele a crise política, econômica e social que vive seu país. Com dificuldades para trabalhar, Esther, o marido e o filho cruzaram a fronteira da Venezuela com o Brasil em busca de uma nova vida. A família chegou aqui em novembro de 2019 e logo em seguida começou a sentir os efeitos da pandemia. “Ficou complicado arranjar um emprego. Não tinha quem cuidasse do meu filho. Apenas meu esposo trabalhava. A questão financeira estava difícil. Tínhamos apenas o básico, mas alguns alimentos e itens importantes começaram a faltar”, conta Esther.

Quando a situação começou a piorar, a família dela conheceu o projeto Connect Brasil, promovido pela ADRA, que rendeu à Esther soluções para boa parte de seus problemas. O projeto, que ainda está em andamento, conta com a parceria da Organização Internacional para as Migrações (OIM) e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento (USAID). A iniciativa envolve também empresas e inclui a oferta de cursos profissionalizantes e o apoio na elaboração de currículos.

“Quando conheci a ADRA, soube que a agência tinha dois projetos: um para empreendedorismo e o outro para ajudar a encontrar emprego”, complementa Esther, que escolheu o caminho do empreendedorismo. Foi então que ela começou suas aulas de culinária.

A venezuelana confessa que não tinha habilidade para trabalhar na cozinha. Porém, por meio das técnicas que aprendeu no curso, desenvolveu o gosto pela profissão e adquiriu novas habilidades. “Com isso, montei minha empresa e aprendi a fazer bolos e doces. Esse curso teve um impacto muito grande na vida da minha família. No início ganhamos até mesmo os ingredientes. Eu não gastava nada e comecei a ver o lucro. Aquilo me incentivou muito e ajudou a suprir nossas necessidades”, comemora.

Além da ajuda nas finanças da família, empreender rendeu também para a confeiteira outros dividendos. “Sou uma pessoa ativa , e isso foi uma bênção, uma satisfação de poder criar algo com minhas mãos. Me senti útil”, relata emocionada.

Iniciado em agosto de 2020 no Rio Grande do Sul, o projeto Connect Brasil tem apoiado centenas de famílias. Até maio deste ano, a ADRA havia intermediado a contratação formal de mais de 600 imigrantes e contribuído para a formação de 60 microempreendedores individuais.

OUTRAS INICIATIVAS

Em Manaus (AM), o Centro de Apoio e Referência a Refugiados e Migrantes (CARE) funciona desde o ano passado, período em que atendeu 15 mil pessoas. No local, são oferecidos serviços como escuta qualificada, encaminhamento para rede de serviços assistenciais, doações e apoio financeiro para casos de extrema vulnerabilidade, ajuda com a documentação, cursos de língua portuguesa e profissionalizantes.

Por sua vez, o projeto ANA (Acciones Alimentares y No Alimentares), que é realizado em Roraima e no Amazonas, auxiliou 30 mil pessoas, entre imigrantes e refugiados, fornecendo vouchers para a compra de alimentos, kits de higiene, utensílios de cozinha e de utilidade doméstica.

Por fim, a agência humanitária adventista trabalhou também em 2020, em todo o Brasil, com o projeto SWAN (sigla em inglês para Assentamento, Água, Saneamento e Higiene Para Refugiados e Migrantes). A iniciativa foi realizada em parceria com a USAID e socorreu 14 mil venezuelanos. Esse projeto tem como estratégia realocar os imigrantes e refugiados em todo o território nacional, oferecendo um apoio inicial de três meses, que inclui pagamento de aluguel, recarga de celular e doação de kits de higiene, cozinha e alimentação.

Embora a ADRA conte com parcerias importantes, o que inclui dinheiro que vem do exterior, esses projetos precisam de doações mensais feitas por pessoas físicas e jurídicas do Brasil para atingir todos os seus objetivos. E , ainda que pequena, sua doação pode fazer a diferença.

Para saber mais No site adra.org.br você encontra informações sobre os projetos, o link para fazer doações e/ou para se cadastrar como voluntário

Projeto CARE

Projeto ANA

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