Imagine
Texto Jessica Manfrim Ilustração Alexandre Gabriel
... se o mundo não tivesse se PLANETA TERRA, 2050. Essa é a data estimada pela ONU para que as cidades abriguem pelo menos 70% da população mundial. Em 2019, chegamos à marca de 55%. Porém, na América Latina, uma das regiões mais urbanizadas do mundo, esses índices são bem mais altos do que a média global. No Brasil, por exemplo, 85% da população vivem em áreas urbanas. Só que juntar esse mundo de gente em poucos lugares demanda cada vez mais infraestrutura. O problema não é novo, na verdade, mas tem se intensificado. Prova disso é que, no início do século 20, a fim de solucionar os problemas da migração do campo para a cidade, surgiu o que conhecemos hoje como urbanismo. A cidade é mais do que prédios, ruas e praças. É um espaço que não é produzido aleatoriamente, mas com base em interesses econômicos e políticos, a partir de relações locais e globais de desigualdade, de sociabilidade, de tensões e conflitos. Mas também é um lugar favorável para a criatividade, inovação e o encontro de diversas culturas. É difícil imaginar o mundo de hoje sem a urbanização, mas é possível pensar criticamente sobre os efeitos desse processo e como ele pode ser melhorado.
26 |
jul-set
2021
urbanizado 1
SEGREGAÇÃO E MAIS EPIDEMIAS
Infelizmente, não é de hoje que as cidades são pensadas para a minoria abastada em vez de para a maioria pobre. Com 1 milhão de habitantes, a antiga cidade de Roma realizou muitas obras de infraestrutura, beneficiando mais os nobres, moradores de casas amplas, do que o povo que morava em prédios apertados de madeira e sem banheiros. Com a dissolução do Império Romano, no 5o século, houve uma ruralização do território antes dominado e o desmonte de aquedutos e outros monumentos para a construção dos feudos e dos castelos medievais. Sem estrutura para água e esgoto, com ruas estreitas e casas sem ventilação, logo a sujeira começou a ser jogada na rua, e as epidemias apareceram. Não foi sem razão que a peste negra (1347-1351) matou um terço da população da Europa. Se a falta de planejamento urbano pode ter resultados drásticos como esse, unido ao descompromisso social, ela gera segregação como efeito colateral. Foi o que aconteceu durante a reforma urbana no Rio de Janeiro, na primeira década do século 20. A população vulnerável e desalojada do centro da cidade e da beirada das praias subiu o morro, formando as favelas. Sem o processo de urbanização moderno, problemas como falta de moradia adequada e crises sanitárias seriam potencializadas ao máximo: conviveríamos muito mais com epidemias e doenças, com circulação comprometida de bens e pessoas, dificuldade de aprimoramento e desenvolvimento técnico e intelectual da população, escassez de bens e de alimentos, aumento da violência e concentração ainda maior da riqueza por poucos.
p p d e e d q c p p id u e e m