CONEXÃO 2.0 - ESTÁGIOS DA FÉ

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TEXTO E CONTEXTO: O chamado e as promessas de Deus para Abraão P. 20

Out-Dez 2021 – Ano 14 no 60

Exemplar: 9,99 – Assinatura: 31,80

ENTENDA. EXPERIMENTE. MUDE

ESTÁGIOS DA FÉ Em qual fase você está do desenvolvimento espiritual e como pode chegar à maturidade? P. 10

REPORTAGEM: A POPULARIDADE DO ESOTERISMO ENTRE OS JOVENS P. 16

IMAGINE SE O OCIDENTE NÃO TIVESSE SE SECULARIZADO P. 26

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LIÇÃO DE VIDA: EDUCADORA, MISSIONÁRIA E YOUTUBER P. 30

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Editor(a)

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Da redação

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Editor Wendel Lima

4 CONECTADO

OPINIÃO DE QUEM SEGUE E CURTE A REVISTA

CICLOS DA VIDA

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2021

8 ENTENDA

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SÉRIES, LIVROS, NÚMEROS E FRASES PARA REFLETIR

O CONFLITO ENTRE AS GERAÇÕES

24 PERGUNTAS

DEUS, CONCENTRAÇÃO NOS ESTUDOS, VOLTA DE JESUS E ESPIRITUALIDADE

32 APRENDA 33 NA CABECEIRA A ESTUDAR A BÍBLIA

O SOLDADO DESARMADO QUE SALVOU DEZENAS DE COMPANHEIROS NUMA BATALHA NO JAPÃO

34 GUIA DE PROFISSÕES

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A PROFISSÃO QUE FACILITA A APRENDIZAGEM DE PESSOAS DE TODAS AS IDADES

16 REPORTAGEM

SAIBA POR QUE O ESOTERISMO TEM SE POPULARIZADO ENTRE OS JOVENS

Foto: Daniel Oliveira

ESCREVO ESTE TEXTO no primeiro dia da primavera no hemisfério sul. Símbolo de renovação, esta estação – talvez mais do que o verão, o outono e o inverno – é um lembrete de que a vida é feita de ciclos. Desde que o mundo é mundo (Gn 1:14), a existência humana é marcada por esses espaços de tempo, nos quais se completa, com certa regularidade, uma sequência de fenômenos ou fatos. É assim na astronomia, na biologia, na acústica, na mecânica, na estatística, na história, na sociologia e na literatura. É assim também nas revistas. Esta edição fecha um ciclo da Conexão 2.0 e da minha história com o periódico. Depois de 11 anos e 45 edições como editor, é hora de passar o bastão. Como todo ciclo, há um período de crescimento e outro de declínio, de acelaração e desaceleração, de altos e baixos. Por isso, ao consultar minha memória, lembro-me de bons e maus momentos. De pautas interessantes, textos bem pesquisados, ilustrações criativas e do feedback entusiasmado dos leitores. Mas também tenho comigo a lembrança de atos falhos, matérias sem muita repercussão e ideias engavetadas. O saldo dessas memórias é um misto de saudade, gratidão e senso de dever cumprido. Saudade porque é realizador conceber um projeto, vê-lo ganhar concretude e depois se tornar história, como ocorreu em julho de 2012, quando a revista passou por uma grande reformulação visual e editorial. Gratidão porque não trabalhei sozinho. Contei com o talento e o compromisso dos editores associados Diogo Cavalcanti, Matheus Cardoso, Eduardo Rueda, Wellington Barbosa, Fernando Dias, André Vasconcelos e Márcio Tonetti; dos designers Marcos Santos, Éfeso Granieri e Renan Martin, além da nossa equipe de apoio na editora e de dezenas de colaboradores freelancers. E senso de dever cumprido porque fiz meu melhor e o que estava ao meu alcance para entregar uma revista bonita, atual, relevante e consistente. Assim como eu, ao longo do tempo, a Conexão 2.0 amadureceu. Nossa equipe trabalhou com a intenção de não subestimar a inteligência dos nossos leitores, mas de oferecer ao público conceitos bíblicos e acadêmicos que servissem de chaves de interpretação do nosso tempo, bem como histórias de pessoas, projetos e instituições que nos inspirassem a viver à altura dos propósitos de Deus. Por essa razão, acredito que construímos (principalmente nos últimos três anos com as edições temáticas) um acervo que deve ser revisitado (conexao.cpb.com.br/arquivos), pois contém reflexões que podem continuar a ecoar por aí. Por fim, agradeço a Deus, à CPB e à Igreja Adventista a confiança depositada em mim. Tive o privilégio de ajudar a escrever um pouco mais de uma década da história das revistas adventistas voltadas para a juventude no Brasil. Uma história marcada por continuidades e descontinuidades, é verdade, mas que tem objetivos nobres e uma longa trajetória. Ela começou em 1936, portanto, há 85 anos (para saber mais, acesse link.cpb.com.br/3797d0). Como se pode ver, vários ciclos terminam nesta edição, mas outros se abrem também a partir de agora. Em 2022, a revista terá novidades e passará por reformulações. Se uma nova estação e um novo ciclo representam a possibilidade de crescimento e renovação pessoal, espero que o mesmo aconteça com esta revista e seus leitores. Até mais!

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... SE O OCIDENTE NÃO TIVESSE SE SECULARIZADO

5 AO PONTO

PUBLICITÁRIA EXPLICA O PERFIL DE CONSUMO DA GERAÇÃO Z

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Revista trimestral – ISSN 2238-7900 Out-Dez 2021 Ano 14, no 60 Ilustração da capa: Renan Martin

CAPA

CASA PUBLICADORA BRASILEIRA

Editora da Igreja Adventista do Sétimo Dia

COMO ALCANÇAR A MATURIDADE ESPIRITUAL?

Casa Publicadora Brasileira Rodovia SP 127, km 106 Caixa Postal 34, CEP 18270-970, Tatuí, SP Fone: (15) 3205-8800 / WhatsApp: (15) 98100-5073 Site: cpb.com.br

LITA A SSOAS

ERISMO O ENTRE

Serviço de Atendimento ao Cliente Segunda a quinta, das 8h às 20h / sexta, das 8h às 15h45 / domingo, das 8h30 às 14h Contato: (15) 3205-8888 Ligação grátis para pedidos: 0800 979-0606 E-mails: sac@cpb.com.br / conexao20@cpb.com.br

20 TEXTO E CONTEXTO

UMA HISTÓRIA BÍBLICA SOBRE ELEIÇÃO E MISSÃO

28 MUDE SEU MUNDO

O PROJETO DE VOLUNTARIADO QUE TEM TRANSFORMADO AS FÉRIAS DE MUITA GENTE

Editor: Wendel Lima Editores Associados: André Vasconcelos e Márcio Tonetti Projeto Gráfico: Éfeso Granieri e Marcos Santos Designers: Renan Martin e Fábio Fernandes Diretor-Geral: José Carlos de Lima Diretor Financeiro: Uilson Garcia Redator-Chefe: Marcos De Benedicto Gerente de Produção: Reisner Martins Gerente de Vendas: João Vicente Pereyra Chefe de Arte: Marcelo de Souza Conselho Consultivo: Ágatha Lemos, Alexander Dutra, Antônio Marcos Alves, Doris Lima, Eder Fernandes Leal, Henilson Erthal de Albuquerque, Ivan Góes, Luiz Carlos Penteado Jr., Raquel de Oliveira Xavier Ricarte, Rérison Vasques, Rubens Paulo Silva, Samuel Bruno do Nascimento e Vanderson Amaro da Costa Assinatura: R$ 31,80 Avulso: R$ 9,99 www.conexao20.com.br

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LIÇÃO DE VIDA

EDUCADORA CONTA COMO É SER MISSIONÁRIA DE AUTOSSUSTENTO NA ALEMANHA

9117/43625 Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sejam impressos, eletrônicos, fotográficos ou sonoros, entre outros, sem prévia autorização por escrito da editora.

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Informação Conectado & Opinião Ao ponto

Globosfera Entenda

CIDADANIA DIGITAL A revista do último trimestre (julhosetembro) está com uma temática bem atual e muito necessária para nossos adolescentes. Gostei de todas as matérias e das imagens da edição. Quando utilizo a revista com os alunos, exploro primeiramente as imagens para depois chegar ao texto. E a última revista ficou perfeita nesse aspecto! Jucileia Alves Natal (RN)

Leio todos os números da Conexão 2.0. Mas a minha percepção é de que a maioria dos assuntos abordados na revista não é para o ensino médio. Por isso, às vezes, preciso usar minha criatividade para trabalhar alguns tópicos. Se possível, gostaria que nas próximas edições fossem abordados temas mais relevantes para essa faixa etária. Os adolescentes já não gostam muito de ler, e se os assuntos não são interessantes para eles, fica mais difícil. Sugiro, por exemplo, que vocês trabalhem conteúdos na linguagem de história em quadrinhos ou mangá e usem jogos, enigmas e desafios. Maria de Lourdes Correia São Paulo (SP)

Olá, Maria de Lourdes! Obrigado por acompanhar nossa revista há tanto tempo! Sobre os temas, cremos que estamos alinhados com as pautas que fazem parte do cotidiano dos adolescentes de hoje, como racismo, desigualdade social, bullying, cultura do cancelamento e justiça punitiva. Em relação ao uso de novas linguagens e tecnologias, sempre tivemos isso no horizonte; porém, para tanto, precisamos ampliar nossa visão sobre a revista e investir mais em recursos humanos e financeiros. RESILIÊNCIA SE APRENDE Quando li o título da entrevista, pensei em muitas coisas que poderiam ser abordadas. Confesso que fiquei um tanto decepcionado. Esse assunto é muito importante para os jovens. Prova disso é que temos trabalhado atualmente na rede educacional adventista com o Projeto de Vida e orientado os alunos 4 |

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sobre autoconhecimento, autorregulação e gestão das emoções. Tópicos, aliás, propostos pela Base Nacional Comum Curricular. Porém, quando li a entrevista, virei a página e vi que não tinha mais conteúdo. Portanto, sugiro que esse tema volte a ser pautado, inclusive a partir de outras perspectivas, como a dos próprios adolescentes. Otávio Soares Belo Horizonte (MG)

Otávio, obrigado por seu comentário. Nossa entrevista é curta mesmo, para fazer jus ao nome da seção: “Ao ponto”. Mas certamente o tema da resiliência é importante, sobretudo para as gerações mais novas e num contexto pós-pandêmico. Contudo, chamo sua atenção para o fato de que temos dado a devida atenção para tópicos como saúde mental/emocional e o desenvolvimento de habilidades socioafetivas. Basta você consultar nossas últimas edições, como a “Montanha-russa das emoções” (abriljunho de 2021) e “Jogo de espelhos” (julho-setembro de 2019). Elas estão disponíveis em nosso acervo digital: conexao.cpb.com.br/arquivos. GLOBOSFERA Essa é a minha seção favorita. Fico sempre aguardando as novidades e sugestões sobre livros, filmes e outros conteúdos. Minha mãe diz que sou “ratazana de biblioteca”. Acho que ela tem razão! Juliana Soares Cachoeira (BA)

PROBLEMAS EM REDE Parabéns pela escolha do tema de capa! Super relevante para o tempo atual. Só achei que a distribuição do conteúdo da matéria ficou meio desconexa e desorganizada. Talvez tenha sido pelo tamanho da reportagem e pelo fato de os depoimentos em destaque terem ficado misturados. Paulo Santana Rio de Janeiro (RJ)

Oi, Paulo! Obrigado pelo seu feedback! Nossa intenção foi trabalhar um pouco

com a linguagem visual das mídias sociais e dos aplicativos de conversação instantânea, algo com que nosso público-alvo (adolescentes) está bem familiarizado. Além disso, as caixas com as respostas dos estudantes e especialistas estão bem próximas dos tópicos correspondentes. Porém, sempre é possível fazer melhor. BULLING NÃO É BRINCADEIRA Existe muita literatura sobre esse assunto, e ele realmente precisa ser tratado. No entanto, destaco que a abordagem utilizada na matéria foi fantástica. É claro que o bullying pode ser praticado em relação a várias caracterísiticas da vítima, mas nunca tinha lido algo sobre um caso de gagueira. Fiquei curiosa somente quanto à formação das autoras da reportagem. Elas são psicólogas? Geneci Medeiros Boa Vista (RR)

Olá, Geneci! Realmente o tema do bullying precisa ser discutido, especialmente em tempos de maior exposição dos adolescentes nas mídias sociais. E tratar esse problema procurando enxergar a escola como um microcosmo da sociedade foi um bom insight mesmo. Sobre a formação dos nossos colaboradores, costumamos não informar, pois nosso projeto gráfico não prevê espaço para isso. Contudo, geralmente os especialistas ficam com os artigos; e os jornalistas, com as reportagens. É o caso dessa matéria sobre o bullying: a Ariany Nascimento e a Thamires Mattos são jornalistas. DUPLA LIBERTAÇÃO Que resenha espetacular! Já recomendei a leitura do livro Tragédia no Paraíso para meus alunos do ensino médio. Muitas vezes compramos um produto pela foto ou propaganda. Com livros também funciona assim: compramos pela apresentação. Por isso, faz diferença uma resenha que dá gosto de ler. Clarice Gomes Vitória (ES)

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Ao ponto

Texto Mairon Hothon Ilustração Gabriel Nadai

CONSUMIDORES

MAIS CONSCIENTES ELA SENTE NA pele como as novas gerações estão cada vez mais conectadas e exigentes. Mãe de duas filhas pequenas, a publicitária Leilaini Holdorf, de 37 anos, é mestre em Marketing Internacional pela BPP University, de Londres, no Reino Unido, e estudou psicologia do consumidor na pós-graduação. Trabalhando há mais de dez anos no gerenciamento de campanhas publicitárias de grandes empresas nacionais e internacionais, ela conversa com a gente sobre como a geração Z (os nascidos entre 1995 e 2010) se relaciona com o consumo e que influência esses jovens têm sobre o mercado.

A geração Z é menos consumista que as demais?

Essa geração é a dos nativos digitais. Quando nasceram, já havia internet e dispositivos móveis; por isso, eles mesmos criam suas próprias formas de ganhar dinheiro e acabam tendo um comportamento de influenciador digital e esperando que tudo esteja disponível sob demanda. Para a geração Z, o consumo vai além da aquisição do produto; tem que ver com responsabilidade social e respeito ao indivíduo. Portanto, não diria que sejam menos consumistas, mas consumidores mais conscientes.

Que impacto esse comportamento tem no mercado?

Os que fazem parte dessa geração gostam de compras e serviços práticos e rápidos,

têm dificuldade de prestar atenção, emitem opinião sobre todo assunto que é tendência e são apáticos a qualquer coisa que não pareça genuína. Logo de cara, essa lista parece negativa, mas seu resultado no mundo dos negócios é o oposto, pois, por causa deles, as marcas tiveram que se tornar mais ágeis, objetivas, argumentativas e transparentes.

responsáveis por transformar a sociedade. Porém, assim como ocorre com as demais gerações, há o perigo de consumir apenas para suprir um vazio existencial ou para encontrar sentido na vida. Isso pode ser ilusório e até autodestrutivo.

ser agilizado, porque a experiência de compra deles é mais emocional do que técnica, e eles se frustram quando são obrigados a esperar.

Então os jovens acabam associando o consumo à transformação da sociedade?

Já é possível traçar um perfil de consumo da geração alpha, os nascidos a partir de 2010?

Os primeiros dados indicam que essa será a geração mais estudada, com maior acesso à tecnologia digital (eles nasceram quando o iPad foi lançado) e, globalmente, a geração mais rica de todos os tempos. Provavelmente, os influenciadores digitais vão ter maior poder sob os hábitos de consumo dessa geração do que os próprios familiares. O sistema de entrega dos produtos e serviços vai precisar

A geração Z está sendo moldada com alguns princípios interessantes. E penso que é importante que perseverem em valores sólidos e não se encantem com partidarismos, ideologias e militâncias perigosas e até equivocadas. Sugiro que sejam verdadeiros consigo mesmos, lembrem-se da própria essência e de onde vieram: foram criados à imagem e semelhança de Deus. Portanto, precisam entender que a vida tem um propósito e valor que está muito além de qualquer tendência de consumo.

Sim. Apesar de estarem expostos nas mídias sociais, eles vivem em grupos restritos de amigos que influenciam uns aos outros sobre o consumo. Além disso, a geração Z nasceu em meio às discussões sobre discriminação de raça e gênero e aquecimento global; por essa razão, eles se sentem

Que conselho você deixa para os consumidores da geração Z?

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Texto Wendel Lima Colaboradores: Anne Seixas, Ayanne Karoline, Felipe Lemos e Helen Pearson

PARA ASSISTIR, OUVIR E APRENDER

Série O Retorno (2021, sete episódios, 20 min.): A produção apresenta a perspectiva adventista sobre o tempo caótico e de intolerância religiosa que precederá a volta de Jesus. A série conta a história de um homem que procura por sua família em meio à última crise da Terra. O objetivo é explicar profecias bíblicas importantes e gerar despertamento espiritual (feliz7play.com). Testemunho Heróis da Pandemia: Série de reportagens em vídeo que conta como uma aposentada, um médico, um casal de colportores, uma professora e um pastor driblaram as limitações impostas pela pandemia para não deixarem de servir ao próximo (link.cpb.com.br/33d3ff).

Cursos Calebe School: Treinamento com dez aulas em vídeo e um manual escrito para quem deseja dedicar as próximas férias num projeto social-evangelístico (link.cpb. com.br/603c95). Para saber mais sobre a Missão Calebe, leia as páginas 28 e 29.

Feliz7Class: Plataforma on-line de formação de youtubers cristãos está oferecendo 166 videoaulas, divididas em 13 módulos, além de alguns pacotes de aulas extras. As turmas serão abertas periodicamente, e os alunos aprenderão a planejar o próprio canal, a fazer a captação de áudio e vídeo, bem como a divulgar o conteúdo. Lançada em julho, a iniciativa é uma parceria da Igreja Adventista com o Unasp (unasp.br/ lp/7class). Menores de idade também podem fazer o curso, mas é preciso que um adulto realize o pagamento.

Comtexto Bíblico: O site do guia trimestral de estudos da Bíblia para os jovens (18 a 30 anos) produzido pela Igreja Adventista e a editora CPB oferece comentários em texto, vídeo, podcast, videocast e tirinhas sobre a Lição da Escola Sabatina. Esse recurso faz parte de uma grande reformulação editorial, gráfica e comunicacional do guia de estudos, lançada neste ano (comtextobiblico.com.br).

Academia da Bíblia: A Sociedade Bíblica Brasileira (SBB) oferece um curso on-line e gratuito de interpretação da Bíblia com dez ciclos de estudo e mais de 40 aulas. A ideia é dar uma noção sobre línguas bíblicas, a formação do cânon e os princípios de interpretação (academiadabiblia.org.br).

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Um Justo Entre as Nações (CPB, 2021, 296 p.), de Herbert Ford

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K D p A c n C p

PARA LER

Marcas (CPB, 2021, 376 p.), de Júlio Leal e Ailton Arthur

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Adobestock

Filme Tudo Isso e Muito Mais (2021, 1h15min.): Conta a história de Gabriel, filho de uma família humilde, que é perseguido por causa de sua fé pelo seu amargurado professor de filosofia, que o desafia a testemunhar num seminário em sala (feliz7play.com).

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A Cruz de Maria (CPB, 2020, 104 p.), de Maksym Krupskyi


PARA PENSAR Religião não é apenas ensino. Ela está muito ligada à nossa história pessoal. Por isso, as duas perguntas mais importantes a ser feitas são: ‘Quem é seu Deus?’ e ‘quem é você?’ Afinal, nós nos tornamos em quem acreditamos ser. (...) [A fé madura] é uma verdadeira compreensão do Deus da Bíblia, à imagem de quem os seres humanos foram feitos. E os frutos dessa fé Nele são o que o apóstolo Paulo já listou [Gl 5:22, 23]: amor, alegria, paz, tolerância, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio.”

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Adventist Review

PARA SABER

10 pontos

Dos nove países em que vivi, nunca experimentei acolhimento, bondade e generosidade igual. O povo afegão me ensinou a colocar em prática o amor e a não ficar apenas na teoria. [...] Foi algo que jamais poderia ter experimentado ao longo de anos em cultos e programas das igrejas. Muitas vezes, Deus nos tira da nossa zona de conforto para nos ensinar algo que mudará nossa vida.”

foi a queda de aprendizagem em Português e Matemática em 2020; o que significa que o aprendizado foi de apenas a metade do previsto para o ano. Fabiano Franz

Adobestock

Torben Bergland, psiquiatra e diretor associado do departamento de Saúde da sede mundial da Igreja Adventista, numa palestra sobre maturidade espiritual no Newbold College, no Reino Unido, em fevereiro de 2017 (link.cpb.com.br/a5b425).

Karla da Silva Leitzke, publicitária com mestrado em Desenvolvimento Internacional, que há 21 anos trabalha para ONGs e agências humanitárias cristãs, em entrevista à Agência Sul-Americana de Notícias, em 25 de agosto (link. cpb.com.br/ad177a). Além de ter servido à ADRA Afeganistão no início dos anos 2000, ela já passou por países como Camboja, Uzbequistão, Mali e Panamá. Atualmente, trabalha para a União Europeia no Timor-Leste.

Prisioneiro em Cuba (CPB, 2020, 224 p.), de José H. Cortés

Das inúmeras perdas trazidas pela pandemia que são mensuráveis está o impacto da crise sanitária na proficiência dos formandos do ensino médio da rede pública em 2021. Esse déficit de aprendizagem foi estimado a partir de um modelo de simulação com base nos dados do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica). Segundo os pesquisadores, para minimizar esse prejuízo, os alunos precisariam voltar o quanto antes para um modelo híbrido (o que ocorreu neste segundo semestre), e as escolas teriam que promover ações de recuperação e aceleração do aprendizado, além de otimização do currículo.

Perseguido na China (CPB, 2019, 183 p.), de Bradley Booth

20 mil a 40 mil

reais é a perda média de renda que esses estudantes vão ter ao longo da vida profissional.

700 bilhões

de reais é a perda de renda que os estudantes do ensino fundamental e médio da rede pública podem ter ao longo da vida. Fontes: Relatório “Perda de Aprendizagem na Pandemia”, do Instituto ItaúUnibanco em parceria com o Insper, divulgado em 31 de maio (link.cpb.com. br/4e61f6); e plataforma Nexo Políticas Públicas, texto de Bruno Fiaschetti de 28 de julho (link.cpb.com.br/351ed1).

Por Um Fio (CPB, 2015, 192 p.), de Alla Czerkasij e Natalie Lewellen

A Quem Temerei (CPB, 2014, 149 p.), de Ann Vitorovich out-dez

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Entenda

Texto Guilherme Cavalcante Ilustração Paulo Vieira

O conflito entre as

gerações

AFINAL, O QUE É UMA GERAÇÃO?

A CENA É COMUM: os mais velhos reclamam do comportamento e das atitudes “dessa geração” mais nova, enquanto os mais jovens rebatem que os antigos não os entendem e estão presos a tradições sem sentido. O conflito entre gerações abrange desde encontros de família até cortes e parlamentos, podendo dar vazão a situações cômicas ou mesmo violentas. Termos como baby boomers, geração X, millenials, geração Z e geração alpha se tornaram populares na descrição das particularidades de certos recortes etários. Segundo dados da pesquisa Millennials – Unravelling

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No senso comum, ela é entendida apenas como sinônimo de época ou período que abrange algumas décadas. Há também a noção de descendência, algo que aparece na Bíblia, por exemplo. Porém, os estudos acadêmicos apresentam uma ideia um pouco mais complexa sobre o assunto.

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Modo de enxergar a realidade

A característica principal das gerações não é compartilhar um mesmo período de tempo, mas interpretar sua época de forma mais ou menos parecida. Para alguns pesquisadores, é exatamente daí que surge o conflito geracional: gerações que convivem num mesmo período, mas com percepções distintas da realidade.

the Habits of Generation Y in Brazil, encomendada pelo Itaú BBA, 34% da população brasileira são millenials, 26% são da geração X, 24% da geração alpha e 16% são baby boomers. Esse estudo não incluiu as chamadas gerações “grandiosa” (1900-1929) e “silenciosa” (1929-1946), pois elas não estão mais no mercado de trabalho e seu impacto social é menor do que, por exemplo, a geração baby boomer, que ainda interage mais com os adultos e jovens. Mas o que essas gerações representam? O que constitui uma geração? Em qual geração você está? Vamos às respostas.

O conflito nem sempre é ruim

As discussões sobre qual geração é melhor são pouco produtivas. Isso porque as relações intergeracionais são inevitáveis e benéficas para a sociedade. Enquanto as gerações mais antigas trazem o olhar da experiência e o legado de conquistas passadas, as gerações mais recentes – livres dos vícios e falhas de antigamente, mas também com seus pontos cegos – podem, ao mesmo tempo, aprender com as gerações anteriores e propor mudanças na estrutura social.


s

BABY BOOMERS (1946-1964)

vivenciou as tensões da Guerra Fria res da Segunda Guerra Mundial e que . É a geração que nasceu após os horro com mais oportunidades e emprego de recuperação econômica mundial, xto conte num ém eram tamb foi cresc Eles Essa S). (EUA X URS e estabilidade no trabalho. fortemente a busca pela prosperidade Tudo isso fez essa geração valorizar o aumento do consumismo. e al sexu ação liber a, mass de da cultura uma geração marcada pelo avanço

GERAÇÃO X (1965-1979)

rimentou um a e em várias partes do mundo. Expe de ditaduras militares na América Latin al, o aumento sexu ação liber da ço Essa geração cresceu num período avan O des. ualda a, bem como de ampliação das desig as sem supervisão direta dos cenário de incerteza política e econômic fizeram essas crianças serem criad lho traba de das jorna s longa das forte do que na anterior. mais ainda foi no número de divórcios, além ção ricana no estilo de vida dessa gera -ame norte ência influ a , disso Além pais.

MILLENNIALS (1980-1995)

fim das Com a derrocada do comunismo e grandes conflitos em escala global. por causa ente ipalm princ , ismo É a primeira geração a crescer sem otim de , essa geração experimentou gran ente Ocid no os do. men mun pelo o , ” ares lorar ditaduras milit ilidade e interesse em “exp l. Por isso, desenvolveu mais flexib do surgimento da internet comercia religiosas. menos as instituições, inclusive as Destaca-se também por valorizar

GERAÇÃO Z (1995-2010)

nativos digitais, que cresceram história, é formado pelos primeiros Grupo mais etnicamente diverso da cer se comunicando primariamente sas telas. É a primeira geração a cres navegando naturalmente entre diver geração testemunhou crescimento essa il, das mídias sociais. No Bras de forma não presencial, por meio global, por sua vez, foi marcada de e conquista de direitos. Em nível econômico, maior acesso à universida a de 2008. Tudo isso os leva ômic econ crise de 11 de setembro de 2001 e pela também pelos ataques terroristas dívidas do que a geração anterior. causas sociais e preocupados com a ser mais tolerantes, engajados com

GERAÇÃO ALPHA

adolescência. ção está na infância ou entrando na Formada pelos caçulinhas, essa gera ível deduzir poss é nto, eles vão pensar e agir. No enta Por isso, ainda é difícil prever como coisas. das net inter a o com is, digita tas nas ferramen que viverão cada vez mais imersos gamers. e l digita dor encia ade profissões como influ Certamente verão com mais naturalid de dade igual de e is racia is, ienta amb pautas Provavelmente, valorizarão mais ainda e eles. s de um mundo pós-pandêmico sobr gênero. Incertos também são os efeito

Virtudes e vícios

A pandemia atual nos ajuda a enxergar os vícios e virtudes de cada geração. De modo geral, os mais velhos, que passaram por guerras e recessões, mostraram mais compreensão às restrições de prevenção ao vírus. Afinal, eles já experimentaram na pele a importância do sacríficio pessoal em favor do bem comum. Enquanto isso, os jovens encararam essas mesmas medidas sanitárias como um “atentado à liberdade inidividual”. Por outro lado, parece que as gerações mais recentes entenderam melhor a necessidade da promoção de mudanças estruturais na sociedade por causa da pandemia, algo que, naturalmente, encontrou resistência por parte de gerações mais antigas. Reconhecer os vícios e virtudes de nossa geração nos torna mais humildes e compreensivos em relação às outras gerações.

Fontes: jornais e portais de notícias JSTOR Daily (link.cpb.com.br/20dffa); O Tempo (link.cpb.com.br/68e2bb); O Povo (link.cpb.com.br/ee12f9); Correio 24 horas (link.cpb.com.br/275f30); Kasasa (link.cpb.com.br/5bc66b); The New York Times Magazine (link.cpb.com.br/55074d); Purdue University Global (link.cpb.com.br/296950); Universidade Tiradentes (link.cpb.com.br/68cce2); pesquisa “Millennials – Unravelling the Habits of Generation Y in Brazil” (link.cpb.com. br/338dd9); artigo acadêmico “O jovem na literatura acadêmica: elementos para um estado da arte dos estudos da juventude”, de Allan Novaes, na revista Fragmentos de Cultura, v. 28, no 2, 2018 (link.cpb.com.br/2e4175). out-dez

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Interpretação Capa & Reflexão Reportagem

Texto Alysson Huf Ilustrações ©Drawlab19 | Adobe Stock

Texto e contexto Perguntas Imagine

MATURIDADE ESPIRITUAL Saiba quais são os estágios da fé e como desenvolver uma espiritualidade saudável

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O QUE VEM à sua mente quando o assunto é saúde? É possível que a primeira coisa que passe pela sua cabeça sejam academias de esporte cheias de gente. Talvez você imagine longas caminhadas e corridas, sessões de terapia com uma psicóloga ou, quem sabe, pratos de comida coloridos por verduras e legumes. Também é provável que você pense na qualidade do seu sono e depois se ajeite na cadeira ao se dar conta de como está sua postura. Apesar de essas serem imagens recorrentes ao falarmos de bem-estar, saúde vai além disso. Por exemplo: No que você encontra segurança nos momentos de maior instabilidade da vida? Como você mantém a calma quando sua família enfrenta uma grave crise financeira ou mesmo quando seus pais decidem se divorciar? Ter uma postura positiva, conciliadora, resiliente e esperançosa diante dos reveses da existência não é somente para quem cuida do corpo e da mente, mas, principalmente, do espírito. A ESPIRITUALIDADE SOB ANÁLISE Você deve estar se perguntando se existe realmente “saúde espiritual” ou se isso é conversa de gente religiosa que tenta justificar a superioridade ou validade da própria fé. Bem, a doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP) Gina Abdala explica que, de fato, o termo “saúde espiritual” não é utilizado nas pesquisas da área. Pelo menos não oficialmente. Em vez disso, são adotadas expressões como “saúde holística” e “saúde integral”, que consideram o ser humano uma unidade completa, integrada, e não um agregado de partes separadas. A pesquisadora destaca ainda que palavras como “espiritualidade” e “religiosidade” também são termos empregados nas pesquisas em saúde. Ela comenta que há um número enorme de estudos a respeito do assunto. “Existem mais de 110 mil estudos com as palavras-chave ‘saúde integral’ nas bases de dados da Biblioteca Regional de Medicina (Bireme) da Organização Pan-americana de Saúde (OPAS/OMS). Em bases de dados mais abrangentes, esse número excede os 240 mil”, relata Abdala, que também é professora do Mestrado Profissional em Promoção da Saúde do Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP). Segundo a professora Gina, há vários grupos de pesquisa nacionais e internacionais

que estão estudando intensamente a interface entre religião/espiritualidade e saúde. “Em praticamente 80% dos casos, os estudos têm uma relação positiva com a cura de doenças físicas, psíquicas e sociais”, ressalta a pesquisadora. Como exemplos desses grupos, Abdala cita a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), o Programa de Saúde, Espiritualidade e Religiosidade (Proser) do Instituto de Psiquiatria (IPq) da USP e o Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde (Nupes) da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Além, claro, do grupo de pesquisa Religiosidade e Espiritualidade na Integralidade da Saúde (Reis) do UNASP, do qual Gina faz parte. Esse grupo já publicou mais de 50 estudos demonstrando o efeito positivo da dimensão espiritual na saúde e na qualidade de vida. Quando verificamos a definição de “saúde” dada pela OMS – “estado de completo bem­-estar físico, mental e social, e não só a ausência de doença ou enfermidade” –, não encontramos uma referência explícita à dimensão espiritual do ser humano. Contudo, para parte da comunidade científica, essa definição da OMS é incompleta. Isso porque o crescente número de produções acadêmicas sobre a relação entre saúde e religiosidade reforça a necessidade de incluirmos a espiritualidade em nosso conceito de saúde. Para se ter ideia desse crescimento, no artigo “Panorama das pesquisas em ciência, saúde e espiritualidade”, publicado em 2016 no periódico Ciência e Cultura (link. cpb.com.br/0d0816), os autores Alexander Moreira de Almeida e Giancarlo Lucchetti apontam que mais de 30 mil pesquisas científicas sobre a interação entre espiritualidade e saúde foram divulgadas entre 2000 e 2015. Estima-se que, a cada dia, pelo menos sete novos estudos sobre o tema sejam levados a público e que, somente na década de 2000, foram publicados mais artigos sobre essa área do que em todos os anos anteriores. A psicóloga Flávia Zanetti Farah comenta que, para se referir à questão da espiritualidade e/ou religiosidade, a Psicologia usa o termo “quociente espiritual”. Segunda ela, assim como temos o quociente intelectual (QI), que está relacionado ao raciocínio e à lógica, e o quociente emocional (QE), que trata dos nossos sentimentos e emoções, todos temos o quociente espiritual. “Esse quociente espiritual out-dez

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não é medido pela vinculação religiosa ou frequência a cultos, por exemplo, mas pelo sentido que você encontra para sua vida”, explica Farah, que é doutora em Psicologia pela Universidade São Francisco. Ela afirma que acreditar em Deus, numa força superior ou em algo/alguém que cuida e a quem podemos recorrer em momentos de necessidade ajuda a dar sentido à vida e tem efeitos sobre o bem­ estar. “Tanto é verdade que várias pesquisas mostram que os pacientes oncológicos que têm uma inteligência espiritual adequada possuem uma chance de melhora 50% maior do que aqueles que não têm essa inteligência espiritual”, exemplifica a especialista. De acordo com a terapeuta Luana Oliveira Amaral, do ponto de vista psicológico, a espiritualidade tem que ver com a motivação e a postura com a qual o indivíduo encara a vida, o que acaba influenciando seu modo de pensar, interpretar e agir. Em outras palavras, é o que dá sentido para a existência do ser humano; por isso, todas as pessoas têm espiritualidade, mesmo as não religiosas. Seguindo essa linha de raciocínio, “saúde espiritual pode ser entendida como o estado de bem­ estar e contentamento do ser humano com a própria espiritualidade. Esse contentamento é alcançado quando a pessoa encontra significado para sua existência e age de acordo com esse significado”, explica a psicóloga. Porém, ela enfatiza que a busca pessoal do sentido na vida não é algo pontual, mas permanente. “Agir conforme faz sentido na minha existência

hoje, me aprofundando no que dá significado à minha vida, colabora com meu contentamento pessoal”, salienta Luana. ETAPAS DO CRESCIMENTO Acho que até aqui podemos ter uma noção de como os cientistas levam a sério o estudo da espiritualidade. O ponto agora é entender como cuidar bem dessa dimensão da nossa vida. Partindo do pressuposto de que a espiritualidade é um atributo inato do ser humano, ou seja, que nascemos com ela, a questão seguinte é saber como desenvolvê-la de modo saudável. A psicóloga Flávia Zanetti Farah explica que a estrutura da personalidade humana começa a ser construída no nascimento e se consolida mais ou menos no início da adolescência. Segundo ela, na infância é necessário apresentar à criança algo que dê sentido a ela, que a faça olhar não apenas para si, mas para os outros e para as necessidades deles. “Se isso é feito desde o início da vida, é muito mais fácil desenvolver um adulto saudável e equilibrado do ponto de vista psíquico”, sublinha Flávia. O psicólogo e teólogo norte-americano James Fowler foi um estudioso do desenvolvimento religioso do ser humano. Falecido em 2015, ele ficou famoso ao lançar o livro Estágios da fé (Sinodal, 1992),

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RUMO À MATURIDADE

Em primeiro lugar, é importante deixar claro que, para James Fowler, a fé não é obrigatoriamente religiosa em seu conteúdo. Por isso, ela pode ser encontrada tanto em alguém vinculado a uma igreja quanto num indivíduo desvinculado de uma instituição. Para o psicólogo norte-americano, “a fé é o modo como uma pessoa ou um grupo penetra no campo de força da vida. É o nosso modo de achar coerência nas múltiplas forças e relações que constituem a nossa vida e de dar sentido a elas” (Estágios da Fé, Sinodal, 1992, p. 15). Partindo desse conceito e a partir de suas pesquisas de campo, ele propôs um processo de desenvolvimento espiritual com base em estágios e relacionado com a idade. 12 |

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Pré-estágio (0-2 anos): A criança possui uma relação de estrita dependência dos adultos e confiança nos pais e/ou cuidadores. Em razão disso, as noções mais iniciais de Deus que a criança tem são ancoradas nessa relação primordial.

Estágio 1 – Fé intuitivoprojetiva (2-6 anos): Ainda que se mantenha centrada em si mesma, é nessa fase que a criança começa a tomar consciência das proibições e normas. Ela ainda tem uma fé fantasiosa e que se limita a imitar o que apreende dos adultos. Sua experiência é permeada pela noção de encantamento.

Estágio 2 – Fé mítico-literal (7-12 anos): A criança começa a perceber que há outras perspectivas além da sua, mas ainda assume para si as crenças, as histórias e os costumes de sua comunidade. Ela se apropria de forma literal dos símbolos e regras; porém, passa a distinguir fantasia da realidade. Nessa fase, é comum a criança adotar um perfeccionismo rígido ou uma negligência acentuada.

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no qual delineia as sete fases do crescimento espiritual. Alinhada às teorias de desenvolvimento cognitivo e moral de Jean Piaget e Lawrence Kohlberg, a obra é fruto de uma pesquisa empírica com 359 pessoas de várias idades e formações religiosas. Considerando que a fé não é necessariamente religiosa, Fowler dividiu os estágios da fé por faixa etária: de 0 a 2 anos de idade (fé primal); de 2 a 6 anos (fé intuitivo-projetiva); de 7 a 12 (fé mítico-literal); de 12 a 18 (fé sintético-convencional); de 18 a 25 (fé individuativo-reflexiva); após os 25 anos de idade (fé conjuntiva); e, finalmente, a fé universalizante, que não está relacionada a uma idade específica (leia o quadro “Rumo à maturidade”). A teoria do pesquisador causou grande impacto na comunidade científica da época e é estudada até hoje em todo o mundo. Apesar de cada estágio listado merecer aprofundamento, vamos nos concentrar na etapa da “fé sintético-convencional”, pois é a fase que os alunos do ensino médio estão passando. Esse estágio, normalmente vivenciado na adolescência, é caracterizado principalmente pela ampliação da experiência de mundo para além da base familiar.

É nessa fase que a pessoa começa a definir sua identidade e fé pessoal. No estágio da fé sintéticoconvencional, o sujeito reflete sobre os próprios pensamentos e crenças, comparando os valores recebidos até então em casa com as referências com as quais têm contato fora do lar. Nesse processo, ele pesa as diferenças e mescla aquilo que faz sentido para ele, passando a compor uma visão única de mundo. No entanto, o indivíduo nessa fase ainda se submete às convenções de determinado grupo. De acordo com William de Oliveira, psicólogo e professor na Faculdade Adventista da Bahia, a adolescência é um estágio de transição, e os questionamentos nessa fase refletem a necessidade de o indivíduo sintetizar os próprios valores e dar sentido às crenças recebidas. “Embora ainda seja dependente da opinião dos outros e ela seja muito importante nesse período, a passagem por essa fase se dará na direção de chegar à definição de um corpo de crenças e uma fé amadurecida”, explica Oliveira. Quem tem passado por essa experiência e desenvolvido uma fé pessoal é Roberto (pseudônimo),

Fontes: Livro Psicologia da Adolescência, de Samuel Pfromm Netto (Pioneira, 1976); e “A influência da educação escolar adventista na identidade e na fé de adolescentes”, dissertação de mestrado defendida pelo teólogo e educador Adolfo Semo Suárez na Umesp (2005, 199 p.).

Estágio 3 – Fé sintéticoconvencional (12-18 anos): Essa etapa é marcada, sobretudo, pela ampliação da noção de mundo para além da perspectiva familiar. O adolescente não tem ainda uma percepção muito segura de sua identidade; por isso, as expectativas e avaliações externas pesam bastante para ele. É uma fase de exploração e questionamentos.

Estágio 4 – Fé individuativoreflexiva (18-25 anos): Nesse estágio, o jovem reconhece a complexidade da vida e assume a responsabilidade por suas crenças e estilo de vida. A identidade, antes marcada pelos significados dados por outras pessoas, se emancipa, com a consciência de suas limitações e conexões interiores. A reflexão crítica a respeito da própria fé é um traço marcante dessa fase.

Estágio 5 – Fé conjuntiva (após os 25 anos): A pessoa lida melhor com os paradoxos da vida e toma consciência crítica a respeito de si mesma. Há uma busca por integrar as polaridades e por aprender a conviver com o que é diferente. Porém, há certa passividade no exercício da espiritualidade.

Estágio 6 – Fé universalizante (sem idade específica): Atribuída à maturidade, essa etapa é caracterizada pelo engajamento do indivíduo em sua comunidade e pela busca de transformação da realidade. As pessoas nessa fase costumam ser ativas e contagiantes. Fowler entendia que pessoas como Mahatma Gandhi, Martin Luther King Jr. e Madre Teresa de Calcutá haviam chegado a esse estágio.

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um jovem de 16 anos, criado numa família católica. Após assistir a uma aula sobre a Reforma Protestante, ele passou a refletir sobre as críticas feitas pelo teólogo alemão Martinho Lutero à igreja da época e buscou respostas para isso. “Foi um baque para mim, porque comecei a perceber que as coisas em que eu acreditava não condiziam com o que está escrito na Bíblia”, compara. Após um ano estudando o assunto e conversando com diferentes pessoas, o adolescente decidiu se tornar membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia – uma decisão que, a princípio, não agradou a família. As orientações religiosas distintas geraram certo atrito na casa de Roberto. Ele foi questionado e chegou a ser motivo de piada entre os familiares, mas se manteve firme às novas convicções. “Ainda há um pouco de preconceito por parte dos meus familiares, pois é algo novo. Nunca houve outro adventista na família. Mas hoje é de boa. Eles me respeitam, temos harmonia, e isso é importante”, compartilha o estudante, que é aluno de um colégio adventista da região metropolitana de São Paulo. Para ele, a fé tem o poder de definir o futuro de uma pessoa. “Acredito que a religião possa ser uma influência positiva ou negativa. Se interpretamos de maneira coerente e equilibrada a religião, provavelmente chegaremos a ser uma boa pessoa”, analisa. BUSCANDO REFERÊNCIAS Durante a adolescência, passamos a valorizar mais os relacionamentos com pessoas que não pertencem ao círculo familiar. Com isso, as referências nessa

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idade deixam de ser apenas pai, mãe e avós, e os valores familiares são confrontados pelos novos relacionamentos. “Escola, trabalho, colegas, grupos, tribos urbanas e mídia passam a concorrer com a família e a religião como fontes dos seus valores”, comenta o professor William. Por isso, é importante que o indivíduo nesse estágio saiba escolher bem suas referências, a fim de desenvolver uma espiritualidade saudável. O docente universitário destaca que a comunidade religiosa “precisa fornecer orientação consistente quanto à fé diante da diversidade relacional a que o adolescente está sujeito”. Ele acrescenta que a igreja deve saber se comunicar com o adolescente, sintetizando valores e informações que venham a ser a base para a identidade pessoal em formação. Da mesma forma, a família tem um papel a desempenhar nesse período. Ainda que sua influência seja ofuscada pela de outros círculos relacionais, é o lar que oferece as referências que moldam a identidade do adolescente. Por esse motivo, o apoio e o incentivo dos pais ou cuidadores são essenciais para que o jovem se sinta mais seguro ao tomar suas decisões. “Um ambiente de cobrança exagerada por acertos pode resultar em insegurança e problemas relacionais no futuro”, adverte William. A escola é um dos ambientes em que o adolescente passa mais tempo. Em razão disso, os relacionamentos com colegas e professores acabam tendo grande impacto nessa fase de questionamentos e busca por uma consciência autônoma. “Os educadores podem ajudá-los – como figuras de autoridade externas à família e à comunidade religiosa de formação – a filtrar e avaliar as crenças e os valores advindos das influências a que o adolescente está sujeito”, explica o professor e psicólogo. Para Aline (pseudônimo), de 15 anos, o ambiente escolar fez toda a diferença em seu desenvolvimento pessoal e espiritual. Ela conta que, quando tinha nove anos de idade, testemunhou o divórcio dos pais, e esse foi um momento muito difícil para ela. Por ser tão nova naquela época, Aline não sabia muito bem como encarar a situação. “Então, simplesmente lidei com tudo sozinha. Se eu estava triste, ficava quieta”, relembra. Pouco tempo depois, ela entrou numa nova escola. Lá, a estudante fez novos amigos, teve o acompanhamento de uma psicóloga e o apoio de pastores, com quem ela conversou em

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diversas situações. “Quando as coisas ficavam difíceis em casa, na escola eu me encontrava. Era meu momento de paz. Foi uma bênção na minha vida. Foi uma das melhores coisas que aconteceram comigo”, relata a adolescente, colega de Roberto, do mesmo colégio adventista paulista. Dada a importância dos relacionamentos para o desenvolvimento dos adolescentes, o professor William de Oliveira destaca que é necessário haver comunicação sincera e verdadeira, reconhecimento dos limites ou erros, paciência e amor sincero da parte dos educadores, familiares e líderes religiosos. “Relacionamentos significativos e estáveis durante esse período contribuem para dar segurança aos demais relacionamentos que o adolescente construirá, inclusive com Deus”, enfatiza. ESTABELECENDO AS CONEXÕES Em suas pesquisas nas décadas de 1970, James Fowler identificou que alguns dos adultos entrevistados ainda manifestavam uma fé sintético-convencional, ou seja, ainda possuíam uma “mentalidade adolescente” em questões religiosas. Essa falta de amadurecimento espiritual pode levar a problemas em outras dimensões da vida, visto que o ser humano é integral. Segundo a terapeuta Luana Oliveira Amaral, o desenvolvimento saudável da espiritualidade é importante porque é esse processo que acaba direcionando o crescimento nas outras áreas da vida. A psicóloga afirma que, no início, o adolescente não tem “muitas experiências para fundamentar suas escolhas; logo, é muito provável que o jovem tome decisões a partir da própria impulsividade natural”. Portanto, é fundamental que o indivíduo passe por essa fase da vida (e, consequentemente, por esse estágio da fé) de forma que a espiritualidade amadureça. “O bem-estar espiritual significa em que medida ocorre a abertura da pessoa para a dimensão espiritual, de modo a permitir a integração da espiritualidade com as outras dimensões da vida, maximizando seu potencial de crescimento e auto-atualização”, explica Luciana Fernanda Marques, doutora em Psicologia pela PUC-RS, num artigo acadêmico publicado na revista Psicologia: Ciência e Profissão (2003, v. 23, n. 2, p. 56-65), no qual sintetizou alguns dados da sua tese. De acordo com Luciana, a espiritualidade favorece uma perspectiva positiva diante da vida. “Frente às situações perturbadoras e aos eventos traumáticos, a pessoa com bem-estar espiritual proveria significados para essas experiências e as redirecionaria para rumos positivos e produtivos para si e para os outros”, afirma a professora da Faculdade de Educação da UFRGS. “Uma das fontes dessa

ação construtiva é o sentimento de apoio emocional advindo da sua relação significativa com o absoluto (ou, em outros termos, com Deus)”, acrescenta. Por sua vez, a psicóloga Flávia Zanetti Farah ressalta que a maturidade espiritual também pode fazer diferença como elemento competitivo no mercado de trabalho. “Isso porque quem possui esse fator desenvolvido sempre olha para o todo, sempre busca resoluções de problemas que tragam menor impacto e desconforto entre as pessoas”, pontua. Ela explica que pensar no todo, sobretudo numa sociedade cujos indivíduos são acostumados a ter seu olhar voltado somente para si mesmos, é fundamental para manter um ambiente de trabalho harmonioso. “A ideia de ter um funcionário que traz resultados para a empresa, independentemente do que faça para os demais, tem perdido espaço”, comenta. Wiliam Oliveira, que, além de psicólogo e professor universitário também é pastor e mestre em liderança pela Universidade Andrews (EUA), enfatiza que investir em bons relacionamentos é um fator primordial para desenvolver uma espiritualidade saudável. “Para passar bem por essa fase, é necessário o desenvolvimento de relacionamentos significativos com a comunidade de fé e, em especial, com Deus, de forma próxima e pessoal. O Deus dos seus pais precisa se tornar o seu Deus”, exemplifica. Por isso, nutrir hábitos devocionais, sem a necessidade de cobrança da família ou da comunidade religiosa, é importante nesse processo. Isso inclui a leitura individual da Bíblia, uma rotina de oração, serviço ao próximo e testemunho. Investir no bem-estar espiritual durante a adolescência pode render ao praticante frutos que serão colhidos ao longo da vida e da eternidade.

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Reportagem

Texto Ariany Nascimento e Thamires Mattos Design Fábio Fernandes

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As práticas esotéricas se popularizam entre os jovens. Entenda a razão desse interesse e o que isso indica sobre as transformações em curso na religião

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TODO MUNDO TEM sua rotina ao acordar. Há quem fique enrolando na cama por mais alguns minutinhos; há quem levante e rapidamente pule debaixo do chuveiro; existem os fãs de estômago cheio logo cedo e há quem goste de fazer algum tipo de reflexão para começar o dia, seja espiritual ou não. Cássia (pseudônimo), de 26 anos, tem uma rotina corrida. Ela é product owner de uma startup. Só pelo título complicado da profissão, podemos ver que a coisa é séria. Por isso, organização não pode faltar na rotina dela, já no início do dia. Cássia conta que, ainda cedo, escuta um podcast curto. “Ele me faz ter noção das possíveis pedras no caminho que encontrarei durante o dia”, explica. O conteúdo do áudio? Astrologia. A product owner está sempre pensando no futuro e, ao se planejar, leva em consideração o posicionamento dos astros. Semanalmente, ela visita um site específico de astrologia a fim de “entender um pouco melhor a razão dos acontecimentos” e ver o que pode “fazer para evitar problemas maiores”. Além disso, todo primeiro dia do mês, ela consulta outro site. Nesse caso, relacionado à numerologia.

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Cássia enxerga nessas práticas esotéricas milenares ferramentas para aprofundar seu autoconhecimento e se precaver de problemas. No entanto, ela não deixa números e astros ditarem sua vida. “Mesmo que [a previsão] fale que é um perigo fazer X coisa, se for da minha vontade, eu faço; porém, com cautela e prestando mais atenção”, explica. Afinal, “acima de tudo, acredito na minha intuição”. Ela não está sozinha nisso. A astrologia vive um boom, especialmente entre os millennials. Por isso, o papo astrológico está nas reuniões de trabalho, nos memes e nas campanhas publicitárias. Otávio (pseudônimo), um estudante de Psicologia de 27 anos, também utiliza a astrologia como ferramenta para autoconhecimento, mas, hoje, acredita que essas previsões não sejam deterministas. “Por um tempo, isso me influenciava muito. Por exemplo, não ia ao dentista na época de mercúrio retrógrado, pois mercúrio é o planeta da comunicação. Mas, com o tempo, fui desconstruindo essa crença e seguindo mais minha intuição”, explica. Para ele, que já estudou outras práticas esotéricas, como o tarô, e está sempre em contato com a astrologia, esse tipo de previsão não é fatalista; “na verdade, são ferramentas que dão direcionamentos. No fim, são nossas decisões que contam”, expõe. “EU ACREDITO EM DUENDES” A astrologia, as cartomancias (como o tarô), meditação, aromaterapia, feng shui e práticas afins são classificadas como relacionadas ao universo esotérico. Mas o que seria esoterismo? Essa palavra tem como significado central tudo aquilo que é oculto, fechado, escondido da maioria das pessoas e apenas revelado a um grupo seleto. Isso pode parecer, de certa maneira, incoerente com aquilo que é conhecido hoje como esotérico; afinal, Otávio, Cássia e muitos outros falam abertamente e de forma tranquila sobre essas crenças e práticas. Entretanto, vem do século 19 a ideia de que tudo relacionado à dimensão espiritual é oculto, quando os praticantes do esoterismo eram atraídos por esse suposto conhecimento misterioso. “Você tem vários grupos esotéricos do século 19 que falavam que tinham um conhecimento que só aqueles que participassem do grupo poderiam ter acesso”, explica Silas Guerriero, antropólogo e professor da pós-graduação em Ciência da Religião da PUC-SP. Os anos 1800 foram marcados por avanços em todas as áreas na sociedade, principalmente na ciência e filosofia. Por isso, de acordo com Guerriero, o esoterismo dessa época tentava se unir com a ciência, oferecendo cursos e estudos para que os praticantes

adquirissem esses saberes ocultos, a fim de que chegassem a um nível superior de conhecimento. Contudo, isso mudou bastante na década de 1960, com o início do movimento de contracultura, o qual procurava quebrar tabus e ir contra normas e padrões que dominavam naquela época. A partir de então, surge outro movimento religioso: a Nova Era. “Ela surgiu como um movimento anticapitalista, uma tentativa de reação à modernidade, às fronteiras e ao mundo bélico dos anos 1960”, explica Rodrigo Toniol, cientista social e professor adjunto do Departamento de Antropologia Cultural da UFRJ e do programa de pós-graduação em Antropologia da Unicamp. O universo esotérico se transforma com a chegada do movimento Nova Era e passa a atender um público maior, com um propósito longe de ser oculto e muito menos escondido. “O que a gente chama de Nova Era seria uma forma de resgatar o esoterismo e transformá-lo em algo mais secular, mais palatável. A ideia básica da Nova Era é que a verdade está dentro de cada um”, complementa Guerriero. Nas décadas de 1980 e 1990, o que se viu foi o auge do esoterismo em seu formato “Nova Era”, com lojas em shoppings centers vendendo cristais, baralhos de tarô, runas, livros de autoajuda, bruxas, duendes, entre outros produtos. Quem viveu o fim do século 20 talvez até se recorde de ter visto carros na rua com adesivos e inscrições dizendo “eu acredito em duendes”. Porém, de todos esses itens, os livros de autoajuda foram os que mais garantiram a popularidade do movimento Nova Era. Nomes como Linda Goodman e Paulo Coelho se tornaram best-sellers ao redor do mundo e abriram as portas para o esoterismo mainstream. “O mercado editorial foi um dos fenômenos mercadológicos que transformou de fato esse universo esotérico em algo mais próximo daquilo que a gente conhece hoje”, diz Toniol.

FAST FOOD ESPIRITUAL Hoje, no Brasil, continua sendo muito comum ver em postes pelas ruas cartazes anunciando “amarrações para o amor”. E quem nunca viu uma “tia” compartilhar frases de autores esotéricos em mídias sociais? Jornais e revistas continuam a publicar predições astrológicas em suas páginas, e, com a popularização da internet na virada do século 20 para o 21, saber o que seu dia reserva de acordo com o signo está a um clique ou toque. Pode até parecer que nada mudou, mas a verdade é que o esoterismo de hoje não caberia no movimento da Nova Era dos anos 1960 nem dos 1990. Outro ponto contrastante entre o esoterismo Nova Era e o atual é o tipo de capitalismo no qual se vive. out-dez

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Essa alta popularidade do misticismo nos Estados Unidos não é de hoje, como mostrou a edição de 2020 da pesquisa Science and Engineering Indicators. O estudo, que é financiado pela Fundação Nacional da Ciência (National Science Foundation, no original, ou NSF), se propõe a medir o entendimento dos estadunidenses sobre ciência e tecnologia. Desde 1979, questionários trazem perguntas sobre a crença ou descrença dessas pessoas em pseudociências, como a astrologia. O que o levantamento mostra é que a descrença na validade dessas práticas diminuiu levemente na última década: de 62% dos entrevistados em 2010 para 58% na última edição. E são as gerações mais jovens que parecem estar puxando esses índices para baixo: os norteamericanos de 18 a 24 anos são os que menos desacreditam a astrologia (43%); e o índice de adultos de 35 a 44 anos que começou a repensar sua incredulidade na interpretação dos astros caiu 8% na última década. ESOTERISMO E RELIGIÃO Na interpretação de astros e eventos, jovens e adultos se deparam com explicações para seus comportamentos. Mas também, segundo Toniol, o apelo da astrologia tem que ver ainda com um instinto humano: a previsibilidade. E é nesse campo da previsibilidade – liderado muito tempo pelas religiões institucionalizadas, que recorrem aos seus livros sagrados para prever o futuro – que alguns veem uma ameaça da popularidade do esoterismo para o fim das religiões. Contudo, o professor Rodrigo Toniol discorda dessa teoria. Ele acredita que a religião não vai acabar. “O que a gente pode afirmar é que o modelo de relação com o sagrado instaurado pela Nova Era não ficará restrito à Nova Era. Pouco a pouco, ele também vai entrando no próprio universo religioso”, explica o antropólogo. Assim, a ideia de religião se transforma. Com o fácil acesso à informação e a busca pela verdade interior, o indivíduo está se tornando cada vez mais autônomo na construção de suas crenças. Por isso, segundo o professor Silas Guerriero, a oferta esotérica de buscar verdades dentro de si faz muito sucesso no século 21, pois a busca por uma religião institucionalizada é substituída pela busca da espiritualidade. Conforme complementa Toniol, a dispensa de uma mediação institucional na relação com o sagrado reverbera muito mais numa sociedade como a atual, em que o grau de individualismo é bastante exacerbado. EM QUEM CONFIAR? Muitas lideranças cristãs veem como negativo o impacto dessas mudanças sociais na relativização

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Esse sistema econômico norteia a vida humana em diversas frentes, não se limitando ao trabalho e consumo. Quando o mundo é um mercado a ser explorado, ideias, crenças e práticas podem se transformar em produtos. Das camisetas com estampas de signos vendidas pela internet, passando pelos itens esotéricos disponíveis em shoppings centers e chegando aos aplicativos de tarô e astrologia, a lógica é a mesma: a oferta de um fast food espiritual. “Não estamos falando da Nova Era de antes, mas, ao mesmo tempo, é um processo histórico. O que a gente encontra nos anos 2020 é uma exponencialização daquilo que a gente já via nos anos 80 e 90”, afirma Toniol. Esse aumento se dá por conta da era da informação, onde tudo pode ser pesquisado e acessado rapidamente. Para Guerriero e Toniol, a internet, sem dúvida alguma, é a principal ferramenta para o contínuo crescimento do consumo de produtos e práticas esotéricas atualmente. E o que tece o processo histórico dos anos No esoterismo, os 1960 aos dias de hoje é a ideia praticantes encontram central da Nova Era: de que uma espiritualidade a verdade está dentro de cada um de nós. desinstitucionalizada, “Hoje, a ênfase princicentrada no pal é essa ideia de a pessoa autoconhecimento. entrar em contato com ela mesma, com essa verdade Algo atraente para que está dentro dela. Então as sociedades você tem várias ramificações individualistas de hoje. disso”, enfatiza Guerriero. Essa versão do esoterismo parece ganhar força exatamente num contexto de crescimento da autonomia dos indivíduos em relação às instituições religiosas, quando as pessoas tendem a olhar mais para dentro de si em busca de respostas do que para o discurso tradicional. Na astrologia e cartomancia, os praticantes encontram uma espiritualidade desinstitucionalizada, centrada no autoconhecimento. Ainda que contrariando as doutrinas do cristianismo, as crenças esotéricas estão presentes mesmo entre os cristãos. Pelo menos entre os norte-americanos. De acordo com uma pesquisa do Pew Research Center publicada em 2018, seis em cada dez adultos nos Estados Unidos acreditavam em algo relacionado ao esoterismo, como mediunidade, reencarnação, astrologia e energia espiritual localizada em objetos físicos. O que chama a atenção é que, quando os cristãos são separados dos não religiosos, agnósticos, ateus ou praticantes de outras tradições de fé, a média dos que acreditam no esoterismo permanece a mesma.

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s a g o n, s m s e a m s a

das crenças religiosas e no renovado interesse pelo esoterismo. “Essas práticas ocultistas não têm respaldo bíblico nem científico. Mais que isso, a Bíblia as condena fortemente. Por trás delas há um poder maligno. A Bíblia deixa muito claro que somente Deus conhece e pode revelar o futuro. Portanto, experimentar essas práticas é arriscar a própria integridade espiritual”, argumenta o pastor Marcos De Benedicto, pós-doutor em Teologia pela Universidade Andrews (EUA) e editor-chefe da CPB, editora da Igreja Adventista no Brasil. Marcos fundamenta sua forte crítica em diversos textos bíblicos (Lv 19:26, 31; 20:6, 27; Dt 4:19; 17:1-5; 18:9-14; 1Sm 15:23; 2Rs 21:6; Is 8:19, 20; 46:9, 10; 47:13-15; Jr 8:2; 19:13; Ez 8:16-18; Dn 2:10, 11, 27, 28; Am 5:26, 27; Mq 5:12). O teólogo também ressalta que, a partir de uma perspectiva cristã, seria ilusório achar que é possível dispensar todo tipo de organização, pois a igreja tem natureza comunitária e coletiva, além de servir como curadora da verdade revelada e ter sido estabelecida com essas características pelo próprio Cristo. Contudo, apesar de não endossarem necessariamente o esoterismo, outras lideranças religiosas argumentam que esse fenômeno de mais autonomia do sujeito pode resultar em algo positivo, se líderes e adeptos de religiões milenares e institucionalizadas, como o cristianismo, fizerem uma autocrítica. “Uma espiritualidade que não precisa de instituições religiosas como mediadoras da salvação é positiva; afinal, oferece mais autonomia às pessoas. Assim, elas podem buscar a Deus porque querem, e não apenas porque foram coagidas pela família, pelo grupo religioso ou pela sociedade”, explica o pastor adventista Danny Bravo, que também é mestre em Ciências da Religião pela Faculdade Unida de Vitória (FUV). Danny reflete que essa demanda por autonomia na caminhada espiritual não é algo necessariamente novo, ainda que esteja sendo intensificada nas últimas décadas. Na verdade, a Reforma Protestante, movimento religioso do século 16, que teve seu surgimento atrelado ao início da era moderna na Europa, já sinalizava essa busca por autonomia dos sujeitos religiosos. De certo modo, o protestantismo “enfraqueceu” a igreja como instituição e “empoderou” os leigos, ao resgatar o ensino bíblico do sacerdócio de todos os crentes. “Se no pensamento católico a igreja é a mediadora da graça, no pensamento protestante magisterial, de Lutero e Calvino, a igreja é o lugar em que a Palavra é pregada e os sacramentos são corretamente administrados. Lutero rompeu com as amarras salvíficas da Igreja Católica, resgatando a crença bíblica na justificação pela fé, porque, para ele, à luz das Escrituras,

a igreja da época estava corrompida”, contextualiza o pastor Adriani Milli, doutor em Teologia pela Universidade Andrews e coordenador do curso de Teologia do Unasp. Segundo Adriani, a busca de autonomia não era um dos objetivos religiosos dos reformadores, mas acabou sendo um dos efeitos do movimento. “Quando apenas a instituição religiosa e seus líderes tinham acesso ao texto sagrado, era mais fácil exercer controle sobre os membros, ainda que esse controle nunca tenha sido absoluto”, complementa Danny Bravo, ao comentar a revolução que a prensa de tipos móveis gerou na circulação de ideias e na popularização da Bíblia durante a Reforma Protestante. “A partir do momento em que cada pessoa possui sua Bíblia, por exemplo, cada uma também terá uma leitura própria, uma interpretação particular das Escrituras”, complementa Danny. Na visão dele, ao pensar numa realidade ideal, a autonomia dos cristãos no acesso às Escrituras e na interpretação da Bíblia deveria promover o que se chama no cristianismo de “unidade na diversidade”. Em outras palavras, haveria consenso em pontos essenciais, mas espaço para diálogo sobre pontos controversos. No entanto, ele reconhece que o que mais se vê é dissidência, polarização e competição, inclusive nas mídias sociais. Danny e outros pesquisadores enxergam o cenário religioso atual também como um mercado. “Hoje, muitas religiões institucionalizadas vendem um produto. Assim, parece que o ponto central da religião e da espiritualidade não é Deus nem uma força superior, mas o indivíduo, o ‘consumidor’”, analisa. Nesse contexto, ele acredita que fica mais fácil cada um costurar a própria “colcha de retalhos da fé”, ainda que isso inclua esoterismo ou outras crenças e práticas conflitantes com a orientação bíblica. Por fim, Danny entende que muitos desses problemas ou contradições surgem quando deixamos de dialogar e considerar o aspecto comunitário da fé. “Devemos ser autônomos e capazes de tomar nossas decisões, mas a independência pode ser perigosa”, alerta o pastor. Ele defende que, para alguém fazer progresso na espiritualidade, precisa ter um referencial e uma meta. Caso contrário, pode não chegar a lugar nenhum. Falando a partir da perspectiva cristã, Danny entende que essa referência e meta encontra-se no Deus que Se revela por meio da Palavra, no Verbo que Se fez carne e habitou entre os seres humanos (Jo 1:14): Cristo. Para ele, Jesus é o único referencial seguro para a jornada pessoal de autoconhecimento, por ser o novo modelo de humanidade (Ef 2:15) e o Senhor a quem se deve livremente submeter a própria autonomia. out-dez

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Texto e contexto

Texto André Vasconcelos Ilustração Vandir Dorta Jr.

Herdeiros da terra

“Farei de você uma grande nação, e o abençoarei, e engrandecerei o seu nome. Seja uma bênção!” (Gn 12:2)

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IMAGINE A SEGUINTE situação: Deus aparece para você e lhe pede que deixe sua cidade, casa e família para ir a um lugar totalmente desconhecido. No entanto, para amenizar essa decisão angustiante, Ele lhe promete dar uma herança muito valiosa e realizar seu maior sonho. Ainda assim, você confiaria Nele o suficiente para topar essa proposta aparentemente absurda? Acredito que você já deve ter percebido de quem estamos falando, não é mesmo? Não foi fácil para Abraão e Sara deixar tudo para trás a fim de obedecer ao chamado de Deus, assim como não seria para nós. Porém, no caso deles, o cenário era ainda mais dramático, uma vez que as promessas feitas ao casal esbarravam em obstáculos humanamente intransponíveis. A seguir, vamos estudar alguns detalhes dessa história contada em Gênesis 11:27 a 12:9 e extrair dela lições de como as impossibilidades humanas são oportunidades incríveis para o Todo-Poderoso. Pegue sua Bíblia e venha comigo! SEM TERRA E SEM FILHOS A odisseia espiritual de Abrão, posteriormente chamado de Abraão (Gn 17:5), começa com dois elementoschave das histórias dos patriarcas bíblicos: genealogia e deslocamento. Abrão, cujo nome significa “pai exaltado”, é apresentado como um personagem de origem nobre. Segundo os capítulos 5 e 11 de Gênesis, houve dez gerações de Adão até Noé e outras dez de Sem, filho de Noé, até Abraão. Por sua vez, Sarai é introduzida no relato como uma mulher estéril e destituída de ancestralidade, à semelhança de uma árvore que não tem raízes nem frutos. Sua identificação se dá apenas em relação à família do esposo: ela é mulher de Abraão e nora de Tera (Gn 11:29-31), embora haja uma possibilidade de Sarai também ter sido filha ou neta de Tera (comparar Gênesis 11:27-29 com 20:12). Apesar dessa introdução incomum, pois os personagens bíblicos geralmente são apresentados por meio de uma genealogia patrilinear, o nome “Sarai”, que significa “princesa”, não deixa de ser um indicativo da nobreza da futura matriarca. A exemplo do que aconteceu com Abraão, posteriormente Deus trocou o nome de “Sarai” para “Sara” (17:15), que não mudou de significado. Quanto ao deslocamento, o texto bíblico nos diz que, antes de “ir” para Canaã, verbo-chave nessa narrativa, toda a família de Abraão habitava em Ur dos caldeus, uma grande cidade para os padrões do segundo milênio antes de Cristo. A cidade de Ur, conhecida

na antiguidade por sua adoração a Sin, o deus sumério da Lua, era um importante centro do paganismo. Além disso, Ur estava geograficamente sob a influência de Babel, a antiga Babilônia (Gn 11:2 e 9; Dn 1:1 e 2), a nação arqui-inimiga do povo de Deus ao longo de toda a Bíblia. O livro sagrado nos informa ainda que Abraão e sua mulher foram chamados por Deus a sair daquela cidade para abandonar a idolatria (Js 24:2, 3). Aliás, o contexto escriturístico desse chamado é a edificação da torre de Babel, cujos habitantes procuravam tornar célebre o próprio “nome” e descumprir o propósito divino de espalhá-los pela superfície da Terra (Gn 11:4-9). É provável que o chamado de Deus a Abraão tenha sido feito inicialmente na cidade de Ur e depois repetido em Harã, após a morte de Tera. Deus disse a Abraão: “Saia da sua terra, da sua parentela e da casa do seu pai e vá para a terra que lhe mostrarei. Farei de você uma grande nação, e o abençoarei, e engrandecerei o seu nome. Seja uma bênção! […] Em você serão benditas todas as famílias da Terra” (Gn 12:1; 15:7; Ne 9:7; At 7:2-4). Por meio dessa apresentação de Abraão e Sara, a narrativa assume um grau de transitoriedade. Para obedecer à ordem de ir para Canaã, eles deixaram a terra natal sem filhos e sem a possibilidade gerá-los. A esse respeito, é importante destacar o contexto mais amplo de Gênesis, que tem como objetivo estabelecer as bases fundacionais da fé israelita, como a eleição divina da linhagem abraâmica e a legitimidade de sua ocupação da Terra Prometida. TERRA E DESCENDÊNCIA Vimos que o relato de Gênesis 11:27 a 12:9 apresenta dois problemas a ser resolvidos: o desenraizamento de Abraão e a esterilidade de Sara, elementos que são repetidos nas demais narrativas dos patriarcas em Gênesis. O fato de Abraão e Sara deixarem sua terra e não terem descendentes gera naturalmente no discurso uma expectativa de que haja uma intervenção divina. A relação entre esses dois pontos fundacionais da teologia de Israel é forte no texto bíblico e apresenta muitas nuances. Evidência disso é que ela se dá não apenas em nível temático, mas também em termos linguísticos, já que a palavra “estéril”, do hebraico ‘aqarah (Gn 11:30), está intimamente associada com o verbo “desenraizar”, do hebraico ‘aqar (Ec 3:2; Sf 2:4). A teóloga Suzana Chwarts, no livro Uma Visão da Esterilidade na Bíblia Hebraica (Humanitas, 2004, p. 15),

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desenvolve bem essa ideia nesta declaração: “O patriarca errante e a matriarca estéril estão desarraigados tanto da bênção divina ‘crescei e multiplicai-vos’ quanto da punição divina segundo a qual a mulher terá numeroso filhos e o homem trabalhará a terra. No passado ancestral de Israel instaura-se uma nova ordem: a mulher não dá à luz, e o homem não possui nem trabalha a terra.” No parágrafo seguinte, a professora Suzana acrescenta: “A marca distintiva dessa nova ordem é de que as relações naturais são substituídas por relações contratuais, expressas na promessa divina e na aliança celebrada entre Deus e os patriarcas. A essência da promessa que Deus faz a Abraão é: descendência, status e terra. Mas a terra está ocupada; Abraão é estrangeiro e errante; e sua esposa é estéril.” Em outras palavras, é em resposta à condição de esterilidade e desenraizamento desse casal que Deus prometeu dar a eles a terra de Canaã e uma numerosa descendência (Gn 12:2, 7). E, para selar esse compromisso, o Senhor fez uma aliança com Abraão, colocando a própria existência soberana como garantia do cumprimento da promessa (Gn 15:1-21). No decorrer da história, as Escrituras nos sugerem que a promessa divina feita a Abraão tinha um spoiler, algo indicado sutilmente em Gênesis 13:16 (“farei a sua descendência como o pó da terra”) e em Gênesis 15:5 (“olhe para os céus e conte as estrelas […]: assim será a sua posteridade”). O olhar e a esperança de Abraão foram direcionados não apenas para o “pó” da terra, mas também para as “estrelas” do céu. O pai da fé teve que olhar para cima, isto é, para além daquilo que estava a seu alcance e que poderia ser controlado por ele. Parece que o patriarca realizou sua peregrinação sobre o chão empoeirado da Canaã terrestre com a mente concentrada na Canaã celestial (Hb 11:9, 10). Afinal, como os demais heróis da fé, Abraão desejava uma “pátria superior” (v. 16). Não há dúvida de que o patriarca entendeu a amplitude e a transcendência do seu chamado. ELEIÇÃO E MISSÃO Em resposta às duas promessas divinas, Abraão deveria ser um canal de bênção para todas as famílias da Terra. Essa era uma das estipulações da aliança que Deus lhe havia proposto, e Abraão assumiu o compromisso. Por onde passava em suas viagens, o patriarca construía altares para adorar o Senhor (Gn 12:7, 8; 13:18; 22:9). Esses pontos de adoração serviam de bússolas espirituais para os peregrinos que, como ele, aspiravam a pátria celestial.

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Nesses altares, Abraão invocava “o nome do SENHOR” (Gn 12:8; 13:4; ver 21:33), em contraste com os construtores da torre de Babel, que procuravam engrandecer o próprio “nome” (Gn 11:4). Foi por isso que Deus humilhou os habitantes de Babel e prometeu “engrandecer o nome” do futuro patriarca de Israel. O trocadilho do texto bíblico tem um objetivo claro: o cumprimento das promessas divinas na vida de Abraão resultaria na exaltação e na santificação do nome do Senhor. A reversão das impossibilidades humanas se tornaria um símbolo permanente da graça de Deus e alimentaria a esperança de um povo e de todos que se refugiassem Nele. O desenraizado que recebe a terra e a estéril que passa a ser fértil seriam evidências incontestáveis do poder divino. O chamado de Abraão e as promessas de Deus para ele nos ensinam que, na Bíblia, eleição sempre é sinônimo de missão. O Senhor prometeu reverter o desenraizamento e a esterilidade de Abraão e Sara para abençoar toda a humanidade. Havia um propósito global e inclusivo na escolha divina. De fato, Abraão não se tornou somente o progenitor de uma numerosa nação, mas o pai espiritual de todos os que seguem seu exemplo de fé (Rm 4:1-25). Portanto, como herdeiros espirituais de Abraão e das promessas de Deus (Gl 3:29), somos chamados a abandonar a idolatria, o conforto e os prazeres destrutivos de Babel. Em referência à Babilônia espiritual do tempo do fim, o Apocalipse nos adverte: “Saiam dela, povo Meu, para que vocês não sejam cúmplices em seus pecados” (Ap 18:4). Também somos chamados a invocar o nome do Senhor e ser um canal de bênção para todas as famílias ou etnias da Terra (Mt 28:18-20; Ap 14:6-12). Contudo, se quisermos seguir os passos de Abraão em nossa jornada rumo à Terra Prometida e ver a concretização plena das promessas divinas (Hb 11:13-15), inevitavelmente teremos que confiar na palavra de Deus, deixar nossa zona de conforto e participar da missão. Pode ser que Deus não apareça pessoalmente a você, mas o chamado para a missão e a promessa de uma Nova Terra continuam os mesmos. Como você vai responder a esse desafio? Para saber mais

• Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, de Francis D. Nichol (CPB, 2011), v.1. • Patriarcas e Profetas, de Ellen G. White (CPB, 2021). • Uma Visão da Esterilidade na Bíblia Hebraica, de Suzana Chwarts (Humanitas, 2004). • Descobertas dos Tempos Bíblicos, de Alan Millard (Vida, 1999).


“Abraão, esperando contra a esperança, creu, para vir a ser pai de muitas nações” (Rm 4:18)

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Básica

Texto Adriani Milli Imagem ©Krakenimages.com | Adobestock

Na Bíblia, vemos que Deus é um Ser singular e profundamente pessoal

QUEM É DEUS? Nas Escrituras, Deus não Se revela por meio de uma lista conceitual de temas, como num dicionário ou enciclopédia, mas através de narrativas sobre Seus atos criativos e salvíficos. Pense, por exemplo, no relato da criação, do êxodo (libertação da escravidão do Egito), dos Dez Mandamentos entregues no monte Sinai ou ainda nas parábolas de Cristo nos evangelhos. Por influência do racionalismo moderno, foi criado o pressuposto de que narrativas não têm profundidade de pensamento, mas apenas a abstração de ideias teria valor em si mesma. Nesse sentido, as histórias serviriam somente para ilustrar conceitos, principalmente para as pessoas mais limitadas culturalmente. No entanto, correntes teóricas mais contemporâneas têm contestado essa visão e enfatizado a riqueza e o poder das narrativas. E o resgate dessa percepção é importante para quem lê a Bíblia hoje. Imagine que alguém lhe diga: “Fulano é muito bondoso!” Você entende essa afirmação com base na ideia que tem de bondade. Mas para compreender quanto o fulano é bondoso, você precisa de uma narrativa. Na verdade, só depois de ouvir uma história sobre o fulano, é que você poderá concluir se ele é bondoso ou não. É esse tipo de aprofundamento sobre Deus que encontramos nos relatos bíblicos, quando nossa leitura é feita com oração e guiada pelo Espírito Santo. Na Bíblia, vemos que Deus é um Ser singular e profundamente pessoal. Em realidade, é um Deus em três pessoas (Pai, Filho e Espírito Santo). Ele também é retratado de modo grandioso, como Alguém onipotente, onisciente e onipresente. E as Escrituras ainda nos dizem que Deus tem atributos morais, como amor, integridade, santidade e justiça. Porém, para vislumbrarmos melhor todas essas características Dele, precisamos observar como as narrativas bíblicas O descrevem. Portanto, desenvolver um relacionamento profundo com Deus não tem que ver com especular abstratamente sobre quem Ele é, mas se identificar com Aquele que Se revela na Bíblia por meio de situações concretas com pessoas de carne e osso, como eu e você. Fontes: The Doctrine of God: Introducing the Big Questions, de John Peckham (T&T Clark, 2019); capítulo “Doutrina de Deus”, de Fernando Canale, em Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia (CPB, 2011), de Raoul Dederen (org.), p. 120-179.

Curiosa

Texto Julie Grüdtner

A DISPUTA POR SUA ATENÇÃO Se você quer ser bem-sucedido(a) nos estudos, vá a um lugar silencioso para ler o que tenho a dizer. Esse já é o primeiro passo rumo ao sucesso. E quando falo em sucesso, estou pensando no resultado de seguir com disciplina determinada estratégia para alcançar certo objetivo. Vamos a um exemplo hipotético. Aline tem 24 anos e está determinada a trabalhar como psicopedagoga para auxiliar crianças pobres que foram abusadas sexualmente. Mas para conseguir o cargo que tem em vista, ela precisa passar num concurso bem concorrido. Aline tem um nobre objetivo e um caminho razoável para chegar até ele; porém, alguns pequenos maus hábitos podem sabotá-la. Isso porque estudar tem que ver com concentração, e nunca nossa atenção foi tão disputada. No caso da Aline, o que tira sua concentração é o fato de não estar dormindo bem e comendo muita bolacha enquanto refaz as provas antigas do concurso que vai prestar. Além disso, Aline não tem tomado banho de sol nem água suficiente. Soa um pouco ridículo, né? Aline sabe da importância desses 24 |

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pequenos hábitos, mas ela se distrai facilmente da leitura porque acabou de sair de um relacionamento tóxico. O ponto é que concentração é sinônimo de atenção e foco. Contudo, é difícil se concentrar quando algo disputa sua atenção dentro de você ou ao seu redor. Notificações de mídias sociais, excesso de atividades ao longo do dia, brigas em casa ou na escola, tudo isso não colabora para seu rendimento nos estudos. Portanto, elimine ao máximo os estímulos do seu ambiente de estudo. Se for escutar música, que seja mais calma e instrumental, como a clássica. Se for comer, que seja antes e algo leve. Mas na hora que abrir os livros,

desligue o celular, beba água para hidratar o cérebro e faça pausas regulares. Lembre-se de que, às vezes, o problema não está na sua playlist, mas na agitação do seu coração. Por isso, sábio conselho é aquele que diz para eliminar o que não é essencial, a fim de dedicar força, foco e fé no que vale a pena. Fontes: Essencialismo: A Disciplina Busca por Menos (Sextante, 2015), de Greg McKeown; artigos acadêmicos “Brief and rare mental ‘breaks’ keep you focused: deactivation and reactivation of task goals preempt vigilance decrements”, de Atsunori Ariga e Alejandro Lleras, em Cognition, v. 118, no 3, março de 2011. p. 439-443; “Baroque Classical Music In The Reading Room May Improve Mood And Productivity”, apresentado no congresso anual da American Roentgen Ray Society, divulgado em ScienceDaily, de 26 de abril de 2009.

N c c s v p r

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Ponto de vista

Espiritualidade

JESUS VOLTARÁ SECRETAMENTE?

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Texto Márcio Tonetti

DA ESPIRITUALIDADE À RELIGIOSIDADE

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Tudo ligado

Texto Bruno Flávio Carmo Lopes Imagem © Dimitris | Adobe Stock

Num estalar de dedos, parte da humanidade desaparece, deixando o mundo em caos. A corrente escatológica (visão sobre as últimas coisas) mais popular no cristianismo entende que o retorno de Cristo à Terra será assim – sem aviso e secreto. Contudo, o que dizer de passagens bíblicas que falam sobre a segunda vinda de Jesus como um evento visível, audível e glorioso? Saiba como as principais interpretações sobre o acontecimento mais aguardado pelos cristãos respondem à pergunta: Jesus voltará secretamente?

Sim

As Testemunhas de Jeová entendem como simbólicos os textos que descrevem Cristo voltando em glória (Ap 1:7; Mt 25:31); por isso, concluem que o retorno Dele seria espiritual e invisível. Na verdade, essa denominação acredita que Cristo já voltou em 1914. A leitura que eles fazem de Daniel 4 os leva a entender que Jesus começou Seu reino no início do século 20 e que Sua presença espiritual transformará a Terra num paraíso.

Depende

As denominações que aceitam a interpretação dispensacionalista, a Assembleia de Deus e a maioria das igrejas pentecostais, entendem que a segunda vinda de Cristo se dará em duas fases. A primeira seria secreta e repentina (para arrebatar a igreja), enquanto a segunda seria majestosa e visível (já com a igreja glorificada). Os dispensacionalistas interpretam que os textos que tratam do aspecto repentino do retorno de Cristo (Mt 24:40-42; Mc 13:36, 37; Lc 12:39, 40) se refiram ao primeiro evento: o arrebatamento secreto da igreja. Já os textos que descrevem Cristo voltando em glória com Seus anjos (Mt 26:64, Lc 21:27) se cumprirão no segundo evento. É essa a perspectiva da série de livros e filmes Deixados Para Trás.

Não

Católicos e adventistas discordam sobre muitos aspectos da segunda vinda de Jesus. Eles discordam, por exemplo, sobre a dinâmica da ressurreição final, a respeito do papel dos judeus no tempo do fim e quanto à relação da ceia com o retorno de Cristo. Contudo, ambas as denominações concordam em declarar que a segunda vinda será visível. Eles entendem que Jesus voltará em glória (Mt 25:31; Lc 2 1:27) e de forma visível (Ap 1:7). Além disso, acreditam que os salvos não serão arrebatados secretamente para o Céu, mas trasladados num contexto de grande comoção pública (1Ts 4:15-17; 1Co 15:51-55). Os que defendem essa posição também explicam que os textos que falam sobre o aspecto repentino da volta de Jesus geralmente são acompanhados por previsões de diversos sinais (Mt 24, 2Pe 3:10). Isso indica que o objetivo dessas passagens é levar ao preparo e à vigilância, pois ninguém sabe quando Ele voltará (Mt 24:36). Fontes: Suma Teológica, 9 v., de Tomás de Aquino (Loyola, 2018); Nisto Cremos (CPB, 2018); capítulo “A Segunda Vinda de Jesus”, de Richard Lehmann, em Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia (CPB, 2011); Dispensationalism, de Charles C. Ryrie (Moody Publishers, 2007); Declaração de Fé da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, 2017 (link.cpb.com.br/201f43); Catecismo da Igreja Católica, 2003 (link.cpb.com.br/f22a05); artigo “Do Catholics believe in the rapture?”, de Graham Osborne (link.cpb.com. br/e25f9d); artigos “1914 – um ano significativo na profecia bíblica”, “O que é a vinda de Cristo?”, “Qual é o objetivo da volta de Cristo?” e “O que a presença de Cristo significa para você?” (jw.org/pt).

Está ligada à necessidade humana de encontrar sentido e propósito. Na França do século 17, quando o termo começou a ser popularizado, estava mais associado ao modo pelo qual as pessoas estabeleciam vínculos com a igreja e viviam esses valores no dia a dia. Hoje, no entanto, é vista de maneira mais ampla. Embora a prática da espiritualidade continue sendo ancorada em alguma medida nas tradições religiosas, o conceito contemporâneo é mais fluido, remetendo também à busca individualista pelo transcendente ou jornada para o

Autoconhecimento Palavra que lembra a famosa máxima grega: “Conhece a ti mesmo.” Apesar de o autoconhecimento ser importante, os gurus da autoajuda têm banalizado essa questão ao promoverem técnicas/fórmulas que prometem sucesso e resolução de problemas existenciais por meio do despertamento da “força interior” de cada um. A literatura de autoajuda e a internet contribuíram para popularizar esse tipo de

Crença Ato ou efeito de crer, convicção. No que diz respeito às crenças religiosas, uma pesquisa divulgada recentemente pelo Pew Research mostrou que quase metade dos adolescentes norte-americanos diz manter as mesmas crenças de seus pais. Por outro lado, o estudo relevou a tendência da perda de vínculo com as tradições da família depois que eles atingem a maioridade. Isso não quer dizer que as novas gerações estejam se desconectando completamente das instituições religiosas, mas aponta para um modo mais individualizado de

Religiosidade Forma pela qual a religião se expressa. Numa época em que até mesmo o sagrado foi transformado em simples produto de consumo, temos visto muitas expressões ilusórias de religiosidade, que não respondem verdadeiramente às questões existenciais. Ao contrário, uma religiosidade/ espiritualidade consistente, além de levar ao autoconhecimento e colaborar para o desenvolvimento integral da saúde, ajuda a pessoa a encontrar na crença em Deus um propósito na vida. out-dez

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Texto Jessica Manfrim Design Fabio Fernandes

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... SE O OCIDENTE NÃO TIVESSE SE SECULARIZADO

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“QUAIS SÃO SEUS deuses?” Com essa pergunta os gregos antigos sabiam a que povo, costumes e local alguém pertencia. A religião, como conjunto de crenças, valores e práticas comunitárias de determinado grupo num contexto histórico e cultural específico, vem sendo modificada ao longo do tempo, principalmente nos últimos séculos. A Idade Moderna – com as descobertas marítimas e científicas, o surgimento do protestantismo e posteriormente o advento do Iluminismo e sua ruptura com a religião – é apontada como o período em que ocorreu a secularização do Ocidente. E secularização pode ser definida como processo de perda de espaço da religião, seja nas esferas da vida pública, como o direito, a política, a economia, a saúde e a educação – limitando a religião à vida privada –, seja também pelo declínio das crenças e práticas religiosas. A compreensão da teoria clássica da secularização, que tem sido questionada e revisada nas últimas décadas, é de que vivemos em sociedades secularizadas e que elas darão menos espaço para a religião à medida em que se modernizarem (racionalização da vida, burocracia, capitalismo, ciência e globalização). Mas como seria o Ocidente e, consequentemente, a influência ocidental sobre o restante do mundo se não tivesse ocorrido a secularização na modernidade?

C q p R te fo d b p s ti c a q d p r

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E H c a p C H c s d o d O r a c s p


ESTADOS RELIGIOSOS

Durante séculos, as monarquias da Europa foram sustentadas, entre outros elementos, pela crença na escolha divina do monarca (direito divino) e o poder absoluto a ele concedido. Acreditava-se, por exemplo, que os reis franceses e ingleses podiam curar, por meio do toque, uma doença infecciosa de pele (escrófula). Por ser visto como uma figura sagrada, cabia ao rei proteger o reino, garantir o pão e distribuir justiça. Mesmo já no século 19 (1824), a constituição da monarquia brasileira tinha essa ideia do direito divino logo em sua primeira frase: “Dom Pedro Primeiro, por Graça de Deus e Unânime Aclamação dos Povos, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil.” Na época do Brasil império, a religião oficial era o catolicismo; por isso, os demais cultos religiosos só podiam ser praticados na vida privada. O imperador também era o primeiro entre os crentes e representante máximo da Igreja Católica no país (regime do padroado régio), devendo ser exemplo de devoção religiosa para os súditos. Porém, com o processo de racionalização das instituições políticas e jurídicas, a partir do Renascimento e ao longo da Idade Moderna, a figura do rei/governante foi sendo desvinculada da religião. Por essa razão temos hoje Estados laicos (que não têm religião oficial), confessionais (que possuem uma religião oficial) e teocráticos (que assumem uma religião oficial). Sem o processo de secularização, talvez a paisagem política ocidental seria de Estados confessionais, numa versão mais liberal, e de Estados teocráticos, em sua vertente mais conservadora.

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DIREITO CONFESSIONAL

Curiosamente, a origem do termo “secular” vem de um contexto religioso: quando um membro do clero regular, que ficava nos mosteiros, era transferido para o clero secular, aquele que estava em contato com o povo. Depois da Reforma Protestante, o termo passou a significar a ação de desapropriar terras e bens da Igreja Católica e passar sua posse para o Estado. Também foi a partir do século 16 que a palavra secularização passou a ser usada no direito. Na Europa medieval existiam apenas o direito consuetudinário (com base nos costumes) e o direito canônico (que regia a igreja e os fiéis). Na prática, era a moral cristã católica que determinava as leis consuetudinárias, que poderiam ser mantidas ou retiradas pelo rei. Portanto, quem não fazia parte da cristandade não tinha direitos. Por causa das disputas entre católicos e protestantes, a racionalização do campo do direito ganhou força, dando espaço para o surgimento do direito laico/secular e abrindo caminho para o direito internacional. A redescoberta do direito romano, que previa que os povos conquistados praticassem sua religião de origem, também colaborou para a desvinculação do direito em relação à religião. Com isso, o Estado passou a ter legitimidade própria. É razoável concluir que, sem a secularização político-jurídica, a vida pública seria regulamentada por um “direito confessional”.

INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

Em 1077, vestido com roupas de monge, descalço na neve durante três dias, Henrique IV, imperador do Sacro Império Romano-Germânico, finalmente conseguiu a reversão de sua excomunhão dada pelo papa Gregório VII. Até aquele momento, os imperadores e reis nomeavam os membros do clero para altos cargos eclesiásticos. Mas, para o papa Gregório, somente a Igreja Católica deveria ter esse direito. Como represália, o pontífice excomungou Henrique IV, que perdeu seu trono, seus bens, o direito aos sacramentos e a comunhão com os fiéis na igreja. Naquela época, excomunhão da igreja era sinônimo de exclusão social. Além disso, defensores de ideias heterodoxas, que fossem diferentes ou contrárias aos ensinos da igreja, podiam parar no tribunal da Inquisição. Foi o caso do moleiro Menocchio, de Friuli, na Itália. Em 1583, ele foi acusado pelo Santo Ofício de espalhar ideias heréticas, uma delas era a de que o mundo tinha sua origem no caos. Outra, que incomodava mais, era não reconhecer a autoridade eclesiástica, questionar a riqueza da igreja e dizer que a alma era mortal. Condenado como herege, ele foi para a fogueira por volta de 1600. A liberdade religiosa e de pensamento só foi possível por causa da secularização. Portanto, se esse processo não tivesse ocorrido, nossos laços sociais poderiam até ser mais fortes, mas acabariam silenciando e marginalizando quem pensasse e cresse diferente da maioria.

Nas últimas décadas, a maioria dos sociólogos da religião tem entendido que a secularização não implica necessariamente a extinção da religião, mas a transformação dela. Portanto, é possível observar sociedades secularizadas e ainda com a presença da religião. A diferença é que a religião na modernidade cumpre funções e tem características distintas. O que vemos hoje nas regiões mais secularizadas do mundo é o pluralismo religioso, ou seja, a convivência mais ou menos pacífica de várias tradições de fé. Essa pluralidade traz consigo alguns efeitos. Por um lado, o enfraquecimento das instituições religiosas frente à crescente autonomia dos seus adeptos; e, em contrapartida, o fortalecimento de movimentos reacionários e fundamentalistas.

Fontes: Os Reis Taumaturgos, de Marc Bloch (Companhia das Letras, 2018); O Queijo e os Vermes, de Carlo Ginzburg (Companhia das Letras, 2017); “Sociologia da religião e seu foco na secularização”, de Ricardo Mariano, no Compêndio de Ciência da Religião, de João Décio Passos e Frank Usarski (Paulus, 2013), p. 231-242; verbete “Religião” do Dicionário de Conceitos Históricos, de Kalina Vanderlei Silva e Maciel Henrique Silva (Contexto, 2009), p. 354-358; artigo “Secularização em Max Weber: Da contemporânea serventia de voltarmos a acessar aquele velho sentido”, de Antônio Flávio Pierucci, na Revista Brasileira de Ciências Sociais, v.13, no 37, junho de 1998; artigo “Conflitos entre autoridades religiosas e monárquicas no início do século XI: um debate a partir das relações de poder”, de Rafael Santos Ribeiro, na revista Plêthos, v. 4, no 1, 2014, p. 137-153; “História do Direito na Baixa Idade Média”, artigo de Michel Carlos Rocha Santos, em março de 2011 no site jus.com.br; “Direito Canônico”, artigo de Victor Rigueti para o site jusbrasil.com.br; “Deserdados do cristianismo: a história da excomunhão”, artigo de Álvaro Oppermann para a revista Aventuras na História, de 17 de abril de 2019; série de palestras “O Fracasso da Teoria da Secularização: Seis Teses Sobre o Pluralismo”, do sociólogo e teólogo Peter Berger (link.cpb.com.br/15ea19). out-dez

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Ação Mude seu mundo

Texto Luciana Santana Diniz Fotos: Ivo Mazzo/Comunicação Unob

Lição de vida Aprenda Na cabeceira Guia de profissões

Aprendizado nas férias Estudantes contam o que aprenderam na Missão Calebe, um projeto que desafia os jovens a sair da zona de conforto e a experimentar o voluntariado “SER VOLUNTÁRIA NO projeto Missão Calebe durante a pandemia foi uma experiência transformadora. Hoje dou valor às pequenas coisas e aprendi a viver com menos”, relata Ingrid Amaral, de 30 anos, estudante de Administração. A semana para ela é puxada. Durante o dia, trabalha numa papelaria no centro de Boa Vista (RR); e à noite, dedica-se aos estudos. A jornada da Ingrid como voluntária iniciou nos fins de semana de julho. Mas, hoje, ela define o voluntariado como um novo estilo de vida. Para Ingrid, o melhor momento da sua rotina semanal é quando ela dedica horas para alimentar imigrantes venezuelanos, uma das principais ações sociais da Missão Calebe na capital de Roraima, no extremo Norte do Brasil. “Em apenas um mês, minha vida tomou um novo sentido! Sinto-me útil ao prover alimentação aos que necessitam. Além disso, depois de participar da Missão Calebe, compreendi que valorizava coisas supérfluas, enquanto muitos precisam do básico, algo que nunca me faltou, mesmo no isolamento social. Muitos imigrantes têm apenas uma refeição ao dia”, compara Ingrid. Ela conheceu o projeto social e evangelístico da Igreja Adventista por meio de um grupo de voluntários que foi à papelaria na qual trabalha com o intuito de comprar material para a série de pregações noturnas que estavam realizando. Em Roraima, durante o mês de julho, além das diversas ações sociais, como alimentar e vestir as pessoas em situação de maior vulnerabilidade, os calebes atuaram em 80 pontos de pregação, oferecendo orientação sobre saúde, família e religião. “Fiz parte da equipe da cozinha. Lá, eu lavava e picava legumes, preparava os alimentos, além das marmitas que eram servidas aos imigrantes”, explica Ingrid, que disse sempre ter pensado em maneiras de ajudar o próximo. Depois que acabaram as férias e a Missão Calebe, ela foi integrada a uma equipe do ministério de assistência social de uma igreja adventista próxima da sua casa. Ela continua ajudando a alimentar venezuelanos, mas somente aos fins de semana. 28 |

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m m o p g p p p e

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d d t e o c a p in s lí

d a r c e “ in c c n le

E

d n d M v t c o c t d g p v m


“Essa missão de ajudar os outros mudou minha vida. No início da pandemia, fiquei muito assustada com o vírus e o número de óbitos. Porém, percebi que, por causa do isolamento social, os imigrantes sofreram mais ainda. Por isso, eu precisava fazer algo. Hoje, essa missão faz parte do meu estilo de vida. E o dia mais prazeroso da minha semana é quando eu participo dela”, reforça emocionada. MÃO NA MASSA “A Missão Calebe é a oportunidade de os jovens doarem as férias para ajudar o próximo nos aspectos físico, mental e espiritual. Nesse período, mais que em qualquer outro do ano, eles têm a oportunidade de sair de suas igrejas e colocar em prática seus talentos, como acolher, cantar, pregar e orar. É o espaço para eles protagonizarem a própria fé e influenciarem positivamente outras pessoas”, explica o pastor Marcos Pimentel, líder dos jovens adventistas de Roraima. Raphael Santos, um dos coordenadores da Missão Calebe em Boa Vista, acrescenta que os voluntários perceberam que muitas pessoas estavam precisando ouvir palavras de esperança e encorajamento, inclusive as crianças: “Realizamos um trabalho com o público infantil intitulado Calebes Kids. Muitas crianças sofreram no isolamento social com os mais diversos tipos de abuso, mas nossas palavras e ações de alguma forma levaram alívio e consolo.” ESCOLA DA VIDA Isabelly Alencar, de 13 anos, é aluna do Colégio Adventista de Cidade Nova, na zona norte de Manaus (AM). A estudante conta que seu envolvimento na Missão Calebe fez que ela se desenvolvesse em vários aspectos: vencesse a timidez ao entrar em contato com desconhecidos, fizesse novas amizades com outros voluntários e aprofundasse sua comunhão com Deus por meio da leitura diária da Bíblia. “Durante as noites da série evangelística, presenciei muita gente da minha idade, com conflitos parecidos com os meus, entregando a vida a Cristo. Experimentar tudo isso me fez confirmar minha fé. Agora, ler a

Palavra se tornou um hábito”, complementa a adolescente. A gestora do Colégio Adventista da Cidade Nova, Silvana Paiva, enfatiza que a promoção da Missão Calebe na rede educacional permite que alunos e funcionários experimentem o serviço voluntário. “Aqui em nosso colégio, o projeto mobilizou funcionários e estudantes que fizeram a diferença durante a pandemia na zona norte da capital, participando em feiras de saúde e pontos de pregação. Dessa forma, os alunos aprenderam na prática sobre responsabilidade social e a importância do testemunho”, ressalta Silvana. Luiza Paiva, de 16 anos, é outro exemplo dos benefícios da integração entre o projeto Missão Calebe e a rede educacional adventista. Aluna do segundo ano do ensino médio do Colégio Adventista de Manaus, ela fez das suas últimas férias uma verdadeira aventura missionária. Na área social, a equipe de voluntários da qual fez parte distribuiu cestas básicas, roupas e medicamentos na comunidade ribeirinha da Ilha das Onças. Já a ação evangelística foi realizada numa igreja flutuante. “Eu nunca havia entrado numa igreja que flutua, apesar de serem comuns por aqui as casas flutuantes. Foi uma experiência marcante sair da nossa zona de conforto e observar o esforço de tantas pessoas que desejam pregar e também aprender mais sobre o amor de Deus. Essa ilha fica distante de Manaus, e muitas pessoas remam horas de barquinho para chegar ali e ouvir a mensagem bíblica. Eu realmente voltei valorizando mais minha igreja e meu lar. Tive a oportunidade de compartilhar o amor de Jesus com todas aquelas pessoas que têm as mesmas necessidades dos que moram na cidade grande”, Luiza resume seu aprendizado.

conforto e ir para lugares mais remotos, onde as necessidades sociais e espirituais fossem mais latentes. Por isso, os calebes até o momento tinham se acostumado a dormir em acampamentos, escolas públicas ou centros comunitários. Contudo, a pandemia forçou os organizadores a adaptar a proposta, para reduzir o risco de contágio. “Seguimos medidas de distanciamento, uso de máscara de proteção constantemente e de álcool em gel. Além disso, adotamos as visitas de portão, evitando acesso aos lares. As ações foram realizadas em bairros das cidades, evitando a circulação e as viagens dos voluntários. As reuniões, à noite, seguiram o percentual de capacidade de pessoas recomendadas pelas autoridades locais. E as ações sociais, como distribuição de marmitas, foram organizadas a fim de conter as aglomerações”, detalha o pastor Marcos Pimentel. O ponto é que, tomando os devidos cuidados, voluntários e comunidade foram beneficiados mais uma vez por meio de um projeto que tem um consistente histórico de transformação de vidas e que se mostrou mais relevante ainda no contexto desafiador que estamos vivendo. Para saber mais

adventistas.org/jovens/projeto/missao-calebe

TEMPO DE ADAPTAÇÕES A Missão Calebe nasceu na Bahia, há mais de 15 anos, como uma iniciativa de igreja local. Depois, o projeto foi ganhando corpo e visibilidade, sendo institucionalizado pela Igreja Adventista para todos os seus níveis administrativos. Uma das marcas do projeto sempre foi desafiar os jovens a sair de sua zona de out-dez

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Lição de vida

Texto Lucas Schultz Design Fábio Fernandes

É lu m n c

Papo missionário

d r r o p lo fo v d

Conheça um pouco da Liz Motta, uma educadora brasileira que vive há cinco anos na Alemanha, de onde oferece mentoreamento sobre missão transcultural

D

c b jo o s d s m je c Y

g c p c e c s s q m q s c

MEU NOME É Liz Motta e sou educadora missionária. Não tenho essas “grandes histórias de conversão” e jamais vivenciei aquele momento clássico do “chamado à missão”, em que um evento sobrenatural (ou quase isso) arrebata seus sentidos e você vê a vida gritando com todas as letras: IDE. Comigo não foi assim. Sou mais uma jovem (33 anos ainda é jovem, certo?) que acabou se deparando com os desafios da missão adventista e integrando isso ao caminho que já estava seguindo.

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Ilustração: Paulo Vieira

PRIMEIROS PASSOS E isso porque, pra início de conversa, eu cresci na igreja sem muito contato com esse tema. Não se falava muito a esse respeito. Minha visão sobre isso se limitava à evangelização e plantio de igrejas. Tudo muito local. Era só o que eu conhecia. Sem contar que, no contexto adventista, o Brasil foi entendido por um bom tempo como um campo missionário. Afinal, a mensagem adventista chegou ao nosso país via colportores (vendedores de livros e revistas) e evangelistas vindos da Alemanha e dos Estados Unidos. Por isso, nós brasileiros nos acostumamos a nos enxergar como o fim desse processo, e não o começo dele. Recebíamos missionários, e só.

r te m m d s e c


É relativamente recente essa ideia de “devolução” ou de “pagamento de dívida”, que motiva a organização de expedições missionárias e envio de voluntários para além-mar, como um dia fizeram conosco. Enfim, eu não tinha referência nenhuma de missionários transculturais. Mas tive referências importantes de gente que tinha espírito missionário: meu tio e meu avô. Foi observando o exemplo deles que dei meus primeiros passos em ações missionárias locais, aos 11 anos de idade. E que bom que foi assim! Sempre me envolvi muito com atividades sociais e abracei todas as oportunidades que a igreja me deu.

Ilustração: Paulo Vieira

DESCOBERTAS E CASAMENTO Quando conheci os desafios missiológicos do adventismo, meu envolvimento acabou sendo super natural: simplesmente me joguei. Decidi ir para o Uruguai, pois tinha ouvido que era o lugar mais desafiador para se evangelizar na América do Sul. A partir dessa experiência, conversando com pessoas mais vividas, Deus me mostrou que o melhor pra mim seria ir mesmo para projetos missionários transculturais, longe de casa. E qual foi o destino escolhido? Nova York (EUA), em 2013. Pois é: comecei logo por essa metrópole global. Mas acredite, foi um perrengue nada chique. Porque uma das tarefas mais complicadas é a missão urbana. Nos grandes centros, tornar interessante ouvir sobre o evangelho é ainda mais desafiador que de costume, pois as pessoas são muito apressadas e fechadas. E um detalhe importantíssimo – na verdade, não foi um detalhe – é que lá conheci meu marido: o Lukas. Um missionário alemão muito dedicado, com quem aprendi e ainda aprendo muitas coisas. Sabe aquele cara que coloca você pra cima e pra frente? Então... PROFISSÃO E MISSÃO Como boa nerd que sou, comecei a devorar materiais sobre missão transcultural e temas afins. Foi nessa época que conheci os missionários de autossustento, os famosos mas raros tentmakers. Seguindo o modelo de ministério do apóstolo Paulo (At 18), eles são missionários no mercado de trabalho e se viram para arranjar a própria renda e criar laços no lugar em que estão. Enfim…

Porém, preciso adverti-los que optar Fui sentindo que esse poderia ser um caminho sem volta pra mim. Ser uma tentmaker! pela missão vai na contramão de simplesAventureiro, não? Você não viu nada! No mente fazer turismo. Também não é mera meu canal do YouTube e no podcast Papo experiência de intercâmbio pra você increMissionário você encontra mentar seu currículo. Muito boas histórias (lizhermann. menos uma fuga para quem cansou da religiosidade tracom). Aproveita e se increve Não levamos dicional, vinculada a temlá, hein?! Jesus a lugar Quando o Lukas e plos e instituições. É sim nenhum: é Ele um compromisso sério, que eu decidimos nos casar, que nos leva a envolve abnegação e foco planejamos como seria todo lugar. E total na missão de Deus. nossa vida. Decidimos ir como missionários para a O missionário que ama inclusive Ele já Alemanha. Ele tinha um a missão faz de tudo para está nos nossos aprender com os outros. grande desejo de pregar destinos; porém, para pessoas da sua cultura. É sedento por ter contato não da maneira Além disso, estar lá facilicom outra cultura, seja ela que esperamos taria nossa adaptação, porqual for. Ele simplesmente que no início do casamento não tem tempo para preencontrá-Lo a gente precisa de alguma conceitos. Jamais tira sarro estabilidade. Lá nos casade qualquer expressão de mos e começamos a testemunhar junto aos diversidade. Ele sabe que o respeito é o camialemães. Caso você ainda não tenha enten- nho para a conexão, mas também não se dido, nós trabalhamos na Alemanha para esquece das suas raízes. Ele não se esquece nos sustentar e fazemos de nossa própria do seu berço, da teologia e dos princípios. profissão a nossa missão. Cada um conduz Em sua jornada, ele sabe quais bagagens são sua própria empresa: eu sou consultora para pesadas demais para levar sobre os ombros, projetos e organizações sociais em vários quais jamais deveria se dar ao luxo de abrir países, e o Lukas é engenheiro de software. mão e quais terá que se virar para conseE antes que você pergunte: dá super certo. guir ao longo do trajeto. Fui poética aqui, Esse combo tem rendido muitos frutos nos mas tenho certeza de que você entendeu. cinco anos que já estamos na Alemanha. O missionário que ama a missão tem Mas aí você pergunta: “E trabalhar por a consciência de que “levar Jesus para aí não toma seu tempo, atrapalhando sua as pessoas” é uma “motivação” clichê e rotina como missionária?” Claro que sim problemática. Não levamos Jesus a lugar (risos), mas são ônus e bônus, né? Embora nenhum: é Ele que nos leva a todo lugar. seja desafiador estar por conta própria em E inclusive Ele já está nos nossos destioutro país – e o próprio apóstolo Paulo nos; porém, não da maneira que esperalamentou isso (1Co 9:1-12) –, acaba que mos encontrá-Lo. Por fim, o missionário a rotina “normal” junto a outras pessoas que ama a missão ama as pessoas. E faz “normais” oferece pra gente oportunidades isso porque enxerga nelas – independenmuito diferenciadas de criar vínculos e tes- temente de quem sejam – bem mais do temunhar. Em tudo dai graças! (1Ts 5:18) que roupas, gestos, falas e trejeitos diferentes ou exóticos. Ele vê nelas o que de SERÁ QUE ISSO É PRA VOCÊ? fato são: filhos e filhas criados à imagem Lendo minha história, é provável que e semelhança de Deus (Gn 1:26, 27). você esteja sentindo aquela comichão no Se você ainda está com vontade de se torpeito para colocar a mochila nas costas nar missionário(a), algo especial pode estar e sair pelo mundo desenvolvendo seus acontecendo aí dentro de você. Ore e deixe dons, testemunhando do amor de Cristo que Cristo conduza seus próximos passos. e criando boas lembranças, seja durante as Novas situações e pessoas poderão indicar férias, por um ano ou até por toda a vida. o caminho a seguir. Testemunho escrito com base na entreÉ muito bacana quando falo com pessoas vista concedida ao jornalista Lucas Schultz. empolgadas com isso. out-dez

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Aprenda

Texto Ágatha Lemos Design Fabio Fernandes

A estudar a Bíblia VOCÊ GOSTA DE ler a Bíblia? Na verdade, essa é uma pergunta que pode ter várias respostas. Há quem goste, mas compreende pouco; há quem prefira as porções mais fáceis de entender, como os Salmos, Provérbios e livros históricos; há também aqueles que têm curiosidade sobre profecias. Isso ocorre porque as Escrituras reúnem uma variedade de assuntos, os quais podem atender diferentes gostos, interesses e necessidades. O mais importante é não perder a fé de que esse livro é a Palavra de Deus. Se você quer “desbravar” a Bíblia, mas não sabe por onde começar, anote as dicas a seguir.

1

COMECE BEM

2

USE A CABEÇA

3

ESCOLHA A MELHOR VERSÃO

4

ESTUDE COM PROPÓSITO

5

ATENTE PARA OS ELEMENTOS-CHAVE

6

LITERAL X FIGURADO

7

NÃO FORCE A BARRA

À d

Ore pedindo a iluminação do Espírito Santo. O estudo da Bíblia demanda a soma do esforço humano com a atuação divina. Isso porque não se trata de mera compreensão intelectual, mas de força espiritual para obedecer ao que Deus diz.

Deus deseja que usemos toda a nossa capacidade cognitiva para compreendê-Lo, mas isso implica que nossa razão esteja submissa à Sua revelação.

Opte por uma versão que tenha sido traduzida e organizada por especialistas sérios (da Sociedade Bíblica Brasileira, por exemplo), que tenham trabalhado para preservar o sentido original do texto nas línguas bíblicas (hebraico, aramaico e grego). Se for usar uma versão em linguagem mais atual ou paráfrases, compare o texto com as traduções mais formais.

T

Evite ler a Bíblia apenas casualmente. Faça um plano de leitura com base num livro específico, numa passagem difícil, em determinado tema ou biografia. Planeje isso com base em sua necessidade ou curiosidade. O importante é separar tempo regular, de qualidade e com concentração para ler, anotar, refletir e praticar o que está aprendendo.

Procure os pontos principais do texto, como palavras, expressões e conceitos. Sempre há uma ênfase central na passagem lida. No entanto, observe esse mesmo elemento e sua utilização em outras partes da Bíblia. Você pode contar com o suporte de algum material de apoio, como a Lição da Escola Sabatina dos Jovens (comtextobiblico.com.br), dicionários e comentários bíblicos.

Estude o texto dentro do seu contexto histórico e cultural. Analise também como essa passagem se relaciona com as sentenças e parágrafos anteriores e posteriores a ela. Considere ainda a temática mais ampla do livro e os ensinos sobre esse tópico ao longo de toda a Bíblia. Desse modo, você terá mais condições de identificar qual princípio bíblico está em jogo e como você poderá aplicá-lo hoje.

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Fonte: Declaração da Igreja Adventista do Sétimo Dia sobre Métodos de Estudo da Bíblia, de 1986, disponível em link.cpb.com.br/5d4c7a.

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Tente identificar o estilo literário usado pelo autor. Seria essa passagem, por exemplo, uma parábola, um provérbio, uma alegoria, um salmo ou profecia apocalíptica? Além disso, é importante que você observe a estrutura literária do texto, a fim de entender como o autor organizou o fluxo de suas ideias ou narrativas.


Na cabeceira

Texto Rebbeca Ricarte Design Fábio Fernandes

À prova de balas

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Trechos

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“– Nós cremos que devemos guardar todos os Dez Mandamentos. Um deles diz: ‘Não matarás.’ Por isso, não portamos armas [...] – E se todos pensassem assim, jovem? Como iríamos para a guerra? – Se todos pensassem assim, não haveria guerras” (p. 47).

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“O tempo inteiro ele orava: ‘Senhor, ajuda-me a salvar mais um’ [...] Levou cerca de cinco horas, mas Desmond resgatou todos os soldados feridos” (p. 112).

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QUE OBJETO É indispensável para um soldado numa guerra? Não seria demais supor que seja uma arma, certo? Principalmente se o campo de batalha for a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o conflito mais abrangente e letal da história, que vitimou de 50 a 70 milhões de pessoas. O único até hoje a usar armas nucleares. Agora, imagine ser um soldado no front dessa batalha sem portar um revólver sequer e ainda sair vivo dessa história e ser condecorado pelo presidente dos Estados Unidos como um herói de guerra. Impressionante – para não dizer inacreditável! No livro O Soldado Desarmado (CPB, 2016, 174 p.), é possível conhecer de perto a saga desse corajoso combatente da vida real. Desmond Doss foi um jovem voluntário do exército norte-americano que defendeu a bandeira do seu país pela Companhia B, na batalha de Okinawa, no Japão. Na função de paramédico, ele andava alguns metros atrás dos seus companheiros. Doss entrou para a história depois de, sob fogo cruzado, resgatar 75 soldados feridos num único dia. Seu ato heroico inspirou o longa-metragem Até o Último Homem (2016), filme dirigido por Mel Gibson e que levou duas estatuetas do Oscar (montagem e mixagem). No entanto, o filme é um drama adaptado da vida real de Desmond. Já no livro O Soldado Desarmado, escrito pela esposa dele, Frances Doss, encontramos uma biografia rica em detalhes significativos, que nos ajudam a entender as motivações e as escolhas desse soldado adventista do sétimo dia, falecido em 2006, aos 87 anos. As memórias de acidentes e milagres operados por Deus na família de Desmond ao longo de sua infância e adolescência em

Lynchburg, na Virgínia (EUA), explicam um pouco de como Desmond adquiriu uma fé quase inabalável. Tendo a vida poupada em várias situações, ele conheceu as verdades bíblicas ainda na infância e desenvolveu com os pais e irmãos – depois também com a esposa – a convicção de que Deus o protegeria, apesar das dificuldades. Pelo fato de ser um adventista, Desmond se alistou no exército como “objetor de consciência”, título que, em 2007, daria nome a um documentário sobre ele. Por causa de sua escolha, Doss seria desobrigado de portar uma arma. Porém, levaria o peso de não ser considerado tão patriota como seus companheiros de guerra. Quando Desmond entrou para o exército, a guerra já estava acontecendo na Europa e em outras partes do mundo, mas ele ainda passou dois anos em treinamento antes de embarcar para a linha de frente. Durante todo o seu período de preparação e mesmo no campo de batalha, Doss levava consigo sua pequena Bíblia. Ele podia estar sem arma de fogo, contudo, não abria mão do seu escudo: a dependência de Deus. A admirável história de Desmond Doss, que já rendeu livros, documentários e filme, é uma grande lição de confiança e abnegação. Isso porque ele testemunhou que, na trincheira entre a vida e morte, mesmo completamente desarmado, a fé em Deus pode tornar alguém à prova de balas! out-dez

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Guia de profissões

Texto Caroline Belotto Ilustração © ST.art | Adobe Stock

PEDAGOGIA A profissão que facilita a aprendizagem de pessoas de todas as idades

MATRIZ CURRICULAR

As instituições adventistas que oferecem o curso de Pedagogia buscam formar educadores críticos da realidade sociocultural e educacional, procurando equilibrar a formação teórica com a qualificação técnica. Fazem parte da matriz curricular disciplinas como Arte e Corporeidade, Fundamentos Metodológicos da Educação Infantil, Ciclo Didático e Linguagens e Pesquisa. Destaque para a disciplina optativa de Tecnologia Educacional, que passou a ter mais relevância durante a pandemia em função do ensino remoto.

ÁREAS DE ATUAÇÃO

A GRADUAÇÃO EM Pedagogia é uma das cinco mais procuradas no Brasil, de acordo com o Censo Superior de 2018, realizado pelo Inep. Porém, muito antes de se tornar um curso do ensino superior, nos moldes como conhecemos hoje, a pedagogia já dava seus primeiros passos na Grécia antiga, período em que foi cunhada a expressão paidagogia, que significa algo como “direção ou condução da criança”. Contudo, a pedagogia não se limita à instrução de crianças nem ao ambiente escolar. Ela tem como foco o desenvolvimento de pessoas de todas as faixas etárias e em vários contextos. Confira. PERFIL PROFISSIONAL

O pedagogo deve ter a capacidade de se comunicar bem, compartilhar conhecimento e facilitar a aprendizagem de seus alunos. Por sua vez, quem deseja trabalhar na gestão ou coordenação escolar precisa ter um perfil mais analítico, habilidades administrativas e uma visão abrangente sobre a escola e sua relação com a comunidade. Acima de tudo, o profissional da educação deve entender o desenvolvimento humano, nas várias etapas da vida, e compreender o papel transformador da educação na sociedade.

O mercado de trabalho não se limita à docência no ensino fundamental. Inclui também gestão escolar, educação especial, de jovens e adultos, além de pedagogia hospitalar, empresarial, organizacional e social. Pedagogos podem atuar, por exemplo, no desenvolvimento de projetos para ONGs e com consultoria e produção de conteúdo para editoras, plataformas digitais de educação e até para a indústria de brinquedos. Quem deseja a área acadêmica e a docência no ensino superior deve cursar mestrado e doutorado.

REMUNERAÇÃO

O salário varia conforme a região, o nível de ensino (infantil ou fundamental) e se a escola é pública ou privada, mas a média nacional da rede pública para a educação básica é R$ 2.886,24. Fora da sala de aula, funções como designer educacional costumam ter salários mais atrativos (R$ 4.204,00). Por sua vez, professores de dedicação exclusiva em universidades federais podem ganhar até R$ 20.000,00.

ONDE ESTUDAR Faculdade Adventista da Amazônia (Faama) Benevides (PA) R$ 262,00 (licenciatura) Vespertino, oito semestres faama.edu.br Faculdade Adventista da Bahia (Fadba) Cachoeira (BA) R$ 599,00 (licenciatura) Matutino e vespertino, oito semestres adventista.edu.br Faculdade Adventista de Minas Gerais (Fadminas) Lavras (MG) R$ 499,00 (licenciatura) Noturno, oito semestres fadminas.org.br Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP) Campus São Paulo (SP) R$ 588,05 (licenciatura) Noturno, oito semestres unasp.br Campus Hortolândia (SP) R$ 749,00 (licenciatura) Noturno, oito semestres Campus Engenheiro Coelho (SP) R$ 647,00 (licenciatura) Noturno, oito semestres Instituto Adventista Paranaense (IAP) Ivatuba (PR) R$ 838,00 (licenciatura) Noturno, oito semestres iap.org.br Educação Adventista a Distância (EAD) R$ 269,00 (licenciatura) 16 módulos (quatro anos) eadadventista.unasp.br

Fontes: Rebeca Darius, doutora em Educação pela Unesp e coordenadora do curso de Pedagogia do UNASP, campus Engenheiro Coelho; sites guiadacarreira.com.br, querobolsa.com.br, portal.inep.gov.br e proifes.org.br.

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